Depois do Adeus é uma rubrica dedicada à vida de ex-jogadores após o final das carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como passam os dias? O dinheiro ganho ao longo dos anos chega para subsistir? Confira os testemunhos, todos os meses, no Maisfutebol.

Jogos Olímpicos de 1996. Portugal leva a representação do futebol aos Estados Unidos. Nuno Afonso, o homem com mais internacionalizações do grupo, fica de fora na última triagem.

O selecionador Nelo Vingada compõe o grupo com Rui Bento, Capucho e Paulo Alves, os três homens com mais de 23 anos. O regulamento assim o permitia.

À última da hora, e de forma já imprevista, o antigo defesa central do Benfica embarca de urgência para Atlanta. Participa nas meias-finais e no jogo de atribuição do 3º e 4º lugares.

NUNO AFONSO: campeão do Benfica é mestre no padel


«O Litos lesionou-se e chamaram-me. Fiz uma viagem louca, cheguei às quatro da manhã e fui para o banco contra a Argentina», narra ao Maisfutebol, a partir de Salamanca onde gere atualmente dois clubes de padel.

«Ainda acusava o efeito do fuso horário e o professor já me mandava aquecer. O Beto magoou-se e entrei aos oito minutos. Fiz uma grande exibição».

Portugal cai por 2-0, morre ali o sonho da medalha de ouro. Hérnan Crespo faz dois golos e Nuno Afonso uma parceria com Rui Bento. Chamot, Sensini, Zanetti, Piojo Lopez e Ariel Ortega estragam os planos para tocar o El Dorado em terras do Tio Sam.



O pior viria depois. Desmoralizada, a Seleção Nacional é goleada 5-0 pelo Brasil. Nuno Afonso faz mais 90 minutos olímpicos e regressa sem a medalha. Bebeto marca três, Ronaldo Fenómeno e Flávio Conceição completam a humilhação.

Nada, de todo o modo, que se compare ao ocorrido nas semanas seguintes. Nuno Afonso fizera uma excelente época no Campomaiorense (23 jogos na 1ª divisão) e acalentava esperanças de um bom contrato após as Olimpíadas.

«Todos os meus colegas, alguns menos credenciados, arranjaram bons clubes. O meu empresário, infelizmente, tomou más decisões. Pus tudo nas mãos do senhor Manuel Barbosa e fiz mal», lamenta, a esta distância, o antigo futebolista.

«Ele tinha várias guerras com clubes e depois os jogadores é que pagavam. O melhor que me arranjou foi uma mudança para a II Divisão espanhola. Os outros iam para os grandes de Portugal e da Europa, eu ia para o Salamanca, um clube que aprendi a amar, mas de pequena dimensão».

No adeus, Nuno Afonso define-se «um homem feliz e realizado» fora do futebol. A vida passa pelo padel e pelo conforto de Salamanca. Em 1996 o sítio pareceu-lhe bem pior.