Depois do Adeus é uma rubrica lançada no Maisfutebol em junho de 2013 e dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como subsistem aqueles que não continuam ligados ao futebol? Críticas e sugestões para valvarenga@mediacapital.pt.

Nuno Marques anunciou o fim da carreira através do Maisfutebol, em novembro de 2013. Foi a última das suas crónicas Made in Portugal, projeto que levou jogadores e treinadores a relatar experiências, na primeira pessoa, para os nossos leitores.

Nessa altura, o guarda-redes que esteve seis anos na formação do Benfica - entre os juvenis e a equipa B - ia iniciar funções como consultor na Administração do Trabalho e Segurança Social Norueguesa (NAV). Nuno Marques está no país nórdico desde 2004.

O tempo passou e suscitou a curiosidade. Como tem sido a vida do ex-guardião desde que deixou de jogar? Ficar na Noruega, onde representou FC Lyn, Bryne FK e Notodden FK, valeu a pena?

«Sem dúvida. Estou cá há 13 anos e felizmente foi uma grande decisão. Podia ter dado o salto para clubes da primeira divisão mas quis ficar em Nottoden, para ter estabilidade e apostar nos estudos. Isso foi extremamente importante para a vida depois da carreira.»

Nuno Marques trabalha atualmente no Hogskolen i Sorost-Norge (instituto superior do sudoeste norueguês), tem dois filhos nascidos na Noruega, conforto financeiro e segurança. 

«Se sair daqui não será por questões financeiras, seguramente. Aliás, a minha esposa nem teria de trabalhar, mas gosta de o fazer. Estamos muito bem, felizmente. Só um grande projeto fora da Noruega me fará mudar.»

Nuno Marques explica por onde tem andado nos últimos anos, desde que deixou a baliza do Notodden FK.

«Trabalhei de novembro de 2013 a agosto de 2015 na Administração do Trabalho e Segurança Social Norueguesa. A 1 de setembro de 2015 comecei a trabalhar no Hogskolen i Sorost-Norge (instituto superior do sudoeste norueguês), a cerca de 30 quilómetros de casa.»

Formado pelo União de Tomar e o Benfica, o antigo guarda-redes não passou da equipa B dos encarnados. Em 2002 saiu para o Estrela da Amadora e dois anos mais tarde chegou à Noruega, até hoje. Pelo caminho, não descurou os estudos.

«Concorri a este cargo público e, entre 60 candidatos, fui escolhido, também beneficiando do facto de ter sido aluno aqui. É um instituto superior que tem vindo a crescer e será formalmente confirmado como universidade no início do próximo ano. Foi aqui que tirei o bacharelato (na Noruega não há licenciaturas) de três anos em Inovação e Empreendorismo, após dois anos de Direito em Portugal. No ano passado terminei o mestrado em Relações Internacionais.»

Nuno Marques foi conhecendo vários diplomatas ao longo dos últimos anos e esse pode ser um caminho a curto ou médio prazo.

«A minha tese foi sobre política externa da União Europeia após o Tratado de Lisboa de 2009. Graças a isso, vou conhecendo cada vez mais pessoas ligadas à União Europeia. É um tema que me interessa bastante. Vou conhecendo vários diplomatas, muitos deles fanáticos do futebol, e ficam surpreendidos com a minha carreira como guarda-redes, acaba por ser uma boa ponte.»

O interesse por política e relações internacionais tem explicação genética, antes de mais: «Se não tivesse seguido a carreira de jogador, seria este o meu caminho. O meu pai esteve desde sempre ligado à política local, em Tomar, mas eu sempre gostei mais de política internacional.»

«Agora iniciei um mestrado à distância em direito internacional, especialização em diplomacia, na University of Lancaster de Inglaterra, com o apoio da minha universidade», salienta.

O antigo guarda-redes agradece à Hogskolen i Sorost-Norge pelo apoio e vai reforçando a sua presença na universidade.

«Dou aulas de política internacional a 80 alunos no primeiro semestre, que vai de agosto e dezembro. No resto do tempo trabalho em outras funções na universidade. Estou por exemplo envolvido em dois projetos internacionais e a supervisionar projetos de alunos.»

Nuno Marques continua em Notodden, cidade com apenas dez mil habitantes, a pouco mais de cem quilómetros da capital Oslo. Porém, vai acumulando experiências em outras latitudes.

«Na semana passada estive no ISCAC, em Coimbra, e também já estive em cidades como Riga e Bratislava a dar aulas. Tem acontecido tudo muito rápido, as pessoas falam-me cada vez mais da possibilidade de seguir essa via internacional, até porque falo várias línguas, mas vamos ver, para já a minha realidade é a universidade.»

A tese sobre política externa da União Europeia foi o ponto de partida para uma série de relações que o português vai desenvolvendo na Noruega – e não só.

«A embaixadora da União Europeia aqui na Noruega tornou-se uma pessoa próxima e está sempre a perguntar-me quando dou um passo em frente. A dada altura poderei ter essa necessidade de estar num ambiente internacional, de estar junto dos projetos de decisão da União Europeia. Vamos ver se isso um dia se concretiza.»

Bruxelas é o destino ansiado? Nuno Marques sorri e procura deixar outros caminhos em aberto, embora aprecie a via diplomática. «Pode ser em Bruxelas, sim, mas também em organizações internacionais, na UEFA, na FIFA, ou qualquer país da União Europeia, quem sabe até em Portugal.»

«Para além disso, continuo como treinador de guarda-redes do Nottoden FK. Durante a semana saio do trabalho (aqui costumo trabalhar das 8h às 15h30), vou buscar os meus filhos e depois sigo para os treinos às 16h15. É bom para não perder por completo o contacto com o futebol, embora só vá aos jogos em casa, por causa da minha vida profissional.»

Aos 36 anos, Nuno Marques encara o futebol como mero passatempo e uma boa recordação. O presente está na Noruega, o futuro é incerto mas sorri com perspetivas interessantes. De vez em quando, mata saudades das balizas, embora o faça por mera necessidade do clube. O seu objetivo é outro, nesta altura.

«Continuo a treinar e de vez em quando ainda vou à baliza. A última vez pela equipa principal foi em 2015, mas no ano passado tive de o fazer pela segunda equipa. Se for duas ou três vezes por ano faz-se bem. Mas só mesmo por necessidade. Essa carreira foi boa mas já lá vai.»

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