Depois do Adeus é uma rubrica do Maisfutebol dedicada à vida de ex-jogadores após o final das suas carreiras. O que acontece quando penduram as chuteiras? Como passam os seus dias? Confira os testemunhos, de forma regular, no Maisfutebol.

Março de 2003. Face às limitações físicas de Ricardo Rocha e Cristiano, José António Camacho decide convocar Tiago Carvalhinho para o último Benfica-FC Porto no antigo Estádio da Luz.

O lateral esquerdo, então com 18 anos, não chega a sair do banco de suplentes. Repetiu a presença em mais dois ou três jogos, sem nunca fazer a estreia com a camisola principal.

Agosto de 2004. Agora com 20 anos, Tiago Carvalhinho termina contrato com o clube encarnado, depois de uma época no Benfica B. Estuda vários convites, decide-se pelo Oriental para não se distanciar da Licenciatura em Fisioterapia mas toma a decisão final em poucas semanas.

«Fiz apenas a pré-época no Oriental, nem cheguei a jogar. Percebi que não era aquilo que queria para o meu futuro e decidi abandonar o futebol.»

De promessa do Benfica e internacional pelas seleções jovens ao final da carreira profissional com apenas 20 anos.

«Estava no 2º ano do curso, nunca tinha descurado os estudos e senti que ali estava o meu futuro. Tive algumas propostas para ir para o estrangeiro, que recusei por causa do curso, e acabei por optar por me dedicar totalmente a isso.»

Licenciado em Fisioterapia pela Escola Superior de Saúde Atlântica (2007), Tiago Carvalhinho tornou-se ainda Osteopata, após um curso de cinco anos sob tutela da Escuela de Osteopatia de Madrid (2011).

O futebol ficou para trás. Ainda passou pelo Atlético de Cacém, em 2005/06, mas foi apenas um desvio pontual no percurso definido.

«Quando anunciei a decisão penso que ninguém percebeu, à exceção da minha mãe. Atualmente olho para os meus amigos, com quem joguei na formação, e sinto que tomei a decisão correta. Sinto-me feliz e realizado no que faço.»

Tiago Carvalhinho fala com o Maisfutebol a meio de um dia agitado. Trabalha como Fisioterapeuta na área de Neurologia do Hospital Egas Moniz e como Osteopata em duas clínicas de Lisboa. Teve convites para voltar ao mundo do futebol nessas funções mas rejeitou por completo.

«Sou um homem casado, com três filhos, e privilegio o tempo que posso estar com eles, inclusive aos fins-de-semana. Trabalhar ao final da tarde, início da noite, mais sábado e domingo não me cativou. Prefiro ver apenas futebol como um adepto comum.»



A definir prioridades desde a adolescência
 
O antigo lateral esquerdo tem atualmente 31 anos. Percebe-se no discurso que existe uma clara definição de prioridades, alicerçada na educação transmitida pelos pais.
 
«Quando estava no Real, de Massamá, tinha o Benfica e o Sporting interessados em mim. Tinha 12 ou 13 anos. Eles ligavam todos os dias para minha casa, para convencerem os meus pais. Até que certo dia ligaram à hora de jantar, a minha mãe não gostou e disse: ‘o meu filho não está à venda, tem tudo o que precisa’. Aquilo ficou-me gravado na memória.»
 
Tiago Carvalhinho manteve essa lógica de combate às inúmeras tentações do futebol. Jogava por prazer, antes de mais, e perdeu o encanto quando saiu do Benfica. Há coisas mais importantes na vida. A própria vida, por exemplo.
 
«O futebol deu-me amigos para a vida e experiências fantásticas, mas relativizo tudo quando me aparece, como aconteceu recentemente, um rapaz da minha idade, que certamente jogou contra mim, numa cadeira de rodas para receber tratamento. Aí percebes o que é realmente importante.»
 
O antigo lateral esquerdo, aliás, atira uma resposta curiosa quando é questionado sobre os melhores momentos da curta carreira.
 
«Foi fantástico treinar com o plantel principal do Benfica, com Simão ou Zahovic, e estar no último clássico da velha Luz. Mas do que mais tenho saudades é dos escalões jovens, das lutas pelo título com Sporting e FC Porto, de ser campeão, dos amigos que fiz nessa altura e do ambiente que se vivia. Se pudesse voltar atrás, queria voltar a esses momentos, do futebol puro.»


Carvalhinho é um homem feliz e plenamente realizado. Reconhecido pelo seu trabalho e não como uma antiga promessa do Benfica e do futebol português. A fama nunca o cativou.
 
«As pessoas com quem lido atualmente nem sabem que fui jogador, só os meus amigos. Já naquela altura não me seduzia o reconhecimento, embora seja difícil a um jovem com 18 anos ter discernimento para perceber totalmente isso.»
 
Por essa razão, não dá especial importância ao período em que voltou ao contacto com o grande público. Depois das páginas de jornal em 2003, uma colaboração com um programa da SIC em 2013.
 
«Foram cerca de 20 programas, durante alguns meses, por convite de pessoas que conheciam o meu trabalho. Mas não liguei muito a isso, não me motiva o reconhecimento público, foi apenas uma forma de transmitir os meus conhecimentos.»
 
É assim Tiago Carvalhinho, o homem que, com 20 anos, trocou a carreira de jogador pelo futuro como fisioterapeuta e osteopata.

Dicas para as atividades do dia-a-dia!

Posted by Tiago Carvalhinho Osteopata on  Domingo, 16 de Março de 2014