Hector Cúper aumentou para seis as finais perdidas na carreira de treinador. O argentino foi à decisão do CAN 2017 com o Egito, mas acabou por, mais uma vez, terminar como vencido numa grande competição.

O técnico chegou a várias finais quando estava no campeonato espanhol, quer pelo Maiorca, quer pelo Valência. No entanto, não venceu uma única. Perdeu a Taça do Rei e a Supertaça com os insulares, duas Champions com o Valência, a taça grega com o Aris Salónica e, este domingo, o Campeonato Africano de Nações.

O argentino é caso insólito no futebol. Por exemplo, na Europa, aqueles que mais perderam finais, já ganharam títulos. Alguns dos recordistas de derrotas são, até, grandes campeões.

No entanto, não deixa de ser factual que nas mais variadas modalidades do Desporto há verdadeiros pés frios.

Golo de Aboubakar tramou Cuper em mais uma final perdida pelo treinador argentino

Esta foi uma denominação muitas vezes associada a José Peseiro, por exemplo. O treinador português até acabou com o jejum de títulos do Sp. Braga, quando venceu a Taça da Liga pelos minhotos. Porém, nem esse dado parece ter apagado as derrotas no campeonato de 2004/05, a final da Taça UEFA em Alvalade pelo Sporting ou a da Taça de Portugal com o FC Porto.

O próprio já respondeu a esse rótulo, em entrevista ao Record, e lembrou outros exemplos, a começar por Jorge Jesus. «Também foi pé frio e perdeu três finais», disse José Peseiro.

Tanto um como o outro contam com títulos no currículo e é por isso que José Peseiro afirmou que ser pé frio tinha, no seu caso, a ver com a perceção das pessoas.

Se assim é, vejamos alguns destes casos no futebol, antes de passarmos aos verdadeiros pés frios do desporto mundial.

Ranieri, «o ex-perdedor»

«Loser». Era a ideia que recaía também sobre Claudio Ranieri. Campeão inglês em título, o treinador italiano era visto como um «perdedor».

O currículo de técnico traz anexado Nápoles, Fiorentina, Valência, At. Madrid, Chelsea, Parma, Juventus, Roma, Inter, Mónaco (na Ligue 2) e Grécia.

Uma Supertaça Europeia pelo Valência, uma taça de Itália e uma Taça de Espanha eram os principais marcos da carreira. O nome dos emblemas em relação com a soma de títulos parecia muito pobre para alguém que, no entanto, será sempre lembrado pela conquista épica do título inglês com o Leicester.

Ranieri, o ex-perdedor. Pelo menos assim parece.

Claudio Ranieri como técnico do Inter

Que faz Paolo Maldini aqui?

Sobre Paolo Maldini não existem dúvidas. Um dos maiores jogadores de sempre no futebol a nível mundial, com um currículo recheado de títulos. Um vencedor, portanto. Que faz ele numa lista em que se fala de figuras que perdem muitas vezes?

Vejamos o currículo de Maldini: sete campeonatos de Itália, uma Taça do país, cinco Supertaças italianas, cinco Taças/Liga dos Campeões Europeus, 2 taças Intercontinentais, um Mundial de Clubes.

Uma pausa, agora, para olhar Michael Ballack. Apesar de ter quatro títulos de campeão alemão, o germânico foi segundo na Bundesliga em 2001/02, perdeu a final da Taça da Alemanha e ainda perdeu a da Liga dos Campeões. Para fechar a temporada, seguiu-se nova derrota na final do Campeonato do Mundo, em 2002, com o Brasil.

Final da Champions League: em 2001/02, Ballack perdeu tudo

Na seleção perdeu outra vez uma final em 2008: no Europeu. E depois do sucesso na Bundesliga com o Bayern Munique, mudou-se para o Chelsea. Foi vice no campeonato em 2007/08, perdeu na final da Taça da Liga e, mais relevante, na final da Champions League dessa época.

A tudo isto, deve juntar-se o facto de Ballack ter ficado no segundo lugar do campeonato em 1998/99, 1999/00 (Leverkusen), 2003/04 (Bayern Munique) e 2006/07 (Chelsea). Ballack foi, portanto, segundo em 12 ocasiões.

Maldini foi mais.

Já reforçámos a ideia do campeão que o italiano foi, mas o facto de ter estado sempre ao mais alto nível levou-o também ao sabor amargo de ficar em segundo numa série de ocasiões:

Na Liga dos Campeões três vezes (1992/93, 1994/95 e 2004/05);

Na Intercontinental/Mundial de Clubes outras tantas (1993, 1994 e 2003);

Em duas ocasiões perdeu a Taça de Itália no último jogo (1989/90 e 1997/98);

Em 1992/93 perdeu a Supertaça Europeia (o Milan jogou após desqualificação do Marselha);

A Supertaça de Itália fugiu-lhe em três anos (1995/96, 1998/99 e 2002/03);

Em 1994 foi vice-campeão do mundo;

Em 2000 vice-campeão europeu;

A terminar, foi vice-campeão de Itália em 1990, 1991 e 2005.

No total, 17 vezes, 14 delas em finais.

Grandes campeões também perdem muito. Ganham é mais vezes.

Maldini perdeu uma final com o Marselha

Ainda por Itália

Maldini perdeu três finais da Liga dos Campeões, mas que dirão os adeptos da rival Juventus? A Vecchia Signora ultrapassou o Benfica em 2014/15 ao tornar-se na equipa que mais vezes perdeu o jogo que decidia o campeão europeu de clubes.

Os encarnados perderam-na em cinco ocasiões, a Juve em seis. Ambos detêm o recorde conjunto de clubes com mais finais europeias perdidas: sete. O Benfica junta as da Taça dos Campeões Europeus a duas da Liga Europa, os italianos juntam uma final da Taça UEFA, nesta orientados por Marcelo Lippi.

Campeão mundial e recorde negativo na Champions

O homem que levou a Itália ao título mundial em 2006 é também o treinador que tem mais finais perdidas nas provas europeias. Três de Liga dos Campeões, uma da Taça UEFA.

Lippi venceu a Champions em 1995/96, mas foi finalista vencido em 1996/97, 1997/98 e 2002/03. Em 1994/95, o Parma ganhou-lhe a segunda prova do calendário europeu.

O único a perder três finais da Champions

Ronaldo, Dean Saunders, Van Hooijdoink… Ibrahimovic!!!

Zlatan Ibrahimovic não é propriamente um pé frio, mas entra aqui com uma enorme curiosidade.

Lembra-se de Dean Saunders? O galês era até 2009 um de cinco jogadores que tinha atuado por quatro clubes campeões europeus (Liverpool, Aston Villa, Nottingham Forest, Benfica) sem nunca ter ganho o título ele próprio.

Os outros eram Laurent Blanc (Barcelona, Marselha, Inter, Manchester United), Ronaldo (PSV, Barcelona, Internazionale, Real Madrid, AC Milan), Zenden (PSV, Barcelona, Liverpool, Marselha) e Pierre van Hooijdoink (Celtic, Nottingham Forest, Benfica, Feyenoord).

A lista aumentou, no entanto. Ruud van Nistelrooy entra nela até, e uma vez que o Chelsea se tornou campeão europeu Zenden passou a ter no currículo cinco emblemas campeões da Europa.

Mas não há como Zlatan Ibrahimovic.

O internacional sueco jogou por Ajax, Juventus, Inter, Milan, Barcelona e Manchester United. Não foi campeão europeu nos cinco primeiros, nem será nos red devils…pelo menos neste ano. Seis clubes campeões continentais e zero Champions. 

Ele continua a tentar.

Nem no Barcelona de Messi...Zlatan a zeros em Liga dos Campeões

Os verdadeiros pés frios

É factual que alguns recordes negativos do futebol mundial pertencem a grandes estrelas, mas há casos noutras modalidades em que o pé frio foi mesmo uma realidade pura e dura.

Viktor Lisitsky

Alexandr Dityatin e Mikhail Voronin têm seis medalhas olímpicas de prata e apesar de isso ser recorde ambos conquistaram ouro também. O mesmo não pode dizer Viktor Lisitsky.

Em Tóquio, 1964, o ginasta soviético terminou no segundo lugar do pódio por quatro vezes: no cavalo, no solo, no all-round e por equipas.

Foi campeão europeu em 1965, 1967 e 1969 em algumas das modalidades da ginástica artística, mas em 1968, nos Jogos Olímpicos da Cidade do México voltou a ficar-se pela prata por equipas. A mesma medalha que venceu nos mundiais de 1962 e 1970.

Ser segundo tornou-se hábito fora das provas a nível europeu.

Elgin Baylor

Jerry West é o homem cuja silhueta figura no símbolo da NBA. E ter essa honra deve caber, certamente, a um basquetebolista de elite, campeão entre campeões. Uma meia verdade, pois West venceu apenas uma final das oito em que esteve presente, apesar de ser um dos maiores basquetebolistas de sempre.

No entanto, o recorde não lhe pertence. Esse é de Elgin Baylor, companheiro de vários anos nos Lakers e que perdeu as oito finais em que esteve envolvido!

Baylor é tido como a maior superestrela da NBA a nunca ter ganho um campeonato. O azar foi tanto que, no ano em que West e os Lakers finalmente se sagraram campeões, Baylor sofreu uma lesão e decidiu retirar-se.

A equipa ainda lhe ofereceu um anel de campeão, pois ele fez parte do plantel. Anos mais tarde, Baylord leiloou-o.

Stirling Moss

Mercedes-Benz, Maserati, Vanwall, Rob Walker, Cooper e Lotus. Dez anos de carreira na Fórmula 1.

69 corridas, 16 pole positions. 24 vezes no pódio, 16 vitórias em Grandes Prémios, uma no Porto outra em Monsanto, já agora. 185 pontos conquistados.

E zero campeonatos do mundo.

Stirling Moss foi contemporâneo de Juan Manuel Fangio e quase sempre aquele que viu a traseira do carro do argentino de mais perto. Entre 1955 e 1962, Moss ficou no segundo lugar do mundial de pilotos quatro vezes e foi terceiro em três ocasiões. «The greatest driver never to win the championship» é como é, na maioria das vezes, referenciado.

Raymond Poulidor

Um dos registos mais incríveis na história do desporto. Raymond Poulidor é conhecido em França como «o eterno segundo» e sempre foi um dos ciclistas preferidos do público gaulês. Aquele epíteto ganhou-o graças às classificações no Tour de France. Coincidir com Jacques Anquetil e Eddie Merckx levou «Poupou» aos últimos lugares do pódio em várias ocasiões.

Poulidour participou em 14 Tour de France, terminou 12, por três vezes foi segundo e por cinco foi terceiro. Não usou a camisola amarela um só dia!

Numa ironia da história, foi, isso sim, o primeiro ciclista a ser testado por doping no Tour.

Bufallo Bills

Há equipas que passam longos anos sem vencer. Neste ano, os Chicago Cubs acabaram com uma maldição de 108 anos. Passaram-se gerações entre uma vitória na World Series do baseball norte-americano e outra pela equipa do Illinois.

Já no estado de Nova Iorque há uma outra que detém um incrível registo de quatro finais de futebol americano perdidas…em anos consecutivos!

Os Bufallo Bills foram à decisão em 1990, 1991, 1992 e 1993. E saíram derrotados em todos eles. Os Bills não têm um único Superbowl na vitrina.  

Um pé frio coletivo, portanto.