Em Campo Maior, as imagens misturam-se. O Campomaiorense e a Delta estão ligados há muito tempo, porque os gestores são praticamente os mesmos. João Manuel Nabeiro constrói as direcções com pessoas da sua confiança, que saem da fábrica de café. A empresa é a principal patrocinadora do clube, o seu principal suporte, e também o maior gerador de postos de trabalho para a população. O presidente não tem dúvidas de que as quatro épocas na I Liga teriam sido impossíveis sem esse balão de oxigénio.
«Houve apoios da publicidade e um forte investimento da Delta Cafés. Acho que pensar no passado não nos dá uma resposta coerente. O que está feito, está feito. Faz parte da história, das nossas lembranças. A realidade é que não voltaremos a fazer um despesismo dessa força. Os números pertencem à História, estão entregues à contabilidade. O presidente não se orgulha nem fica triste com essa atitude, não faz propaganda dos valores», explicou, depois de confrontado com o investimento nas instalações e na nova imagem, a do galgo, em 1998.
A sobreposição de funções acabou por ajudar na tentativa de modernizar um clube do Alentejo profundo. Nabeiro acredita que o projecto acabou por ser vítima da interioridade, mas não entende que se tenha precipitado: «O Alentejo tem essa modernidade e essa passividade com o que o rotulam. O meu trabalho no marketing da minha empresa foi semelhante ao que fiz do clube. Essas duas personalidades de gestor e de presidente de um clube eram comuns no Campomaiorense. Acredito que se fosse uma cidade com mais habitantes, os resultados da política teriam sido melhores e proporcionado um capital mais elevado. Mas não acho que tenha tomado uma decisão que não fosse tratada em equipa, reflectida, que não redundasse em benefício da população.»
Já Nuno Travassos, o actual vice-presidente para o futebol, assistiu de perto à mudança radical que o clube viveu em 2002. Uma decisão que esteve longe de ser aceite de bom grado por todos, sobretudo por culpa da história recente e do que tinha sido tão difícil de alcançar. «Na altura não estava ligado ao futebol. Trabalhava na fábrica de café. Compreendi e aceitei a atitude da anterior direcção. O Campomaiorense é um clube que sempre honrou compromissos... Sei que a opinião das pessoas não foi consensual, houve quem não aceitasse, mas cada pessoa tem direito a pensar o que quiser. Mas não houve manifestações, apenas opiniões de café. Troca de opiniões», concluiu.