Em 2002, João Nabeiro fechou as portas ao futebol profissional do Campomaiorense. Rejeitou a vaga na II Liga, depois de um 10º lugar e de afastada a possibilidade de regresso, com uma temporada de intervalo, ao campeonato principal. Quis começar de novo, porque sentia que não havia forma de continuar a pagar aos futebolistas, devido à crise de receitas e à falta de apoios. O mote «Mais que um clube, uma região» e a aposta na galvanização do Alentejo, debaixo de um novo símbolo, caíam por terra.
Fundado em 1926 como filial do Sporting, 1998 seria outra data histórica da vida do clube raiano. As sementes tinham sido lançadas quatro anos antes, com a remodelação do Capitão César Correia. Foram construídas bancadas nos topos Norte e Sul, que aumentavam a lotação para dez mil pessoas, e acrescentado um relvado de apoio. Em Maio de 1998, Nabeiro viu aprovada a mudança de símbolo. Ou melhor, a coexistência do velho e do novo, do leão e do galgo. Ao verde juntavam-se também o amarelo-torrado e o grená como cores da nova imagem.
Meses antes, a direcção preparara a mudança, num folheto distribuído durante os encontros. «Desejamos que 1998 seja o ano da confirmação do Campomaiorense na I divisão nacional e o ano da mudança em termos de símbolo do nosso clube. Vamos todos dar as mãos em torno de uma causa que, a pouco e pouco, a todos nos pertence: a Galgomania. 1998 poderá marcar decisivamente o Campomaiorense, catapultando-o para um lugar simpático dentro do futebol português, mas para isso os campomaiorenses em particular e todos os alentejanos em geral terão de estar unidos à volta de um mesmo símbolo.» No ano seguinte, a presença na final da Taça perante o Beira Mar parecia dar ainda mais colorido ao projecto. Apesar da derrota, o primeiro clube alentejano a chegar ao Jamor conseguira um feito. Estavam em velocidade de cruzeiro.
O fim do profissionalismo
O final do sonho chegaria no final da temporada. Na última jornada, a derrota com o Alverca ditaria a descida. A aposta era voltar logo a seguir e dar continuidade ao que tinha sido feito nas quatro épocas anteriores. Diamantino Miranda foi para o banco, mas a 4ª posição após 14 jornadas não satisfez e os seus serviços foram dispensados.
O espanhol Fabri González substituiu o antigo internacional. Pouco mudou. Seguiram-se processos disciplinares a 14 jogadores. O goleador Paulo Vida saiu do clube. «Têm-se passado coisas caricatas. A minha saída já tinha sido caricata. Um treinador quis abdicar do melhor marcador, sem ter provas concretas de indisciplina. Comigo, saíram mais três colegas. Os problemas continuaram e se calhar não era dos jogadores», disse na altura ao Maisfutebol, Paulo Vida, que um mês depois da dispensa ainda era o melhor marcador do segundo escalão.
O 10º lugar final agudizou a crise. «Admito acabar temporariamente com o futebol profissional. Fechar? Que coisa horrorosa. O Campomaiorense é um clube centenário. Nunca permitiria que fechasse. Prevejo que poderemos ficar fora das competições durante dois anos. Depois teremos de começar nas distritais», afirmava também então João Nabeiro ao Maisfutebol.
Demissionário, o presidente abriu caminho a novas eleições. O primo, Manuel António Nabeiro, não conseguiu por várias vezes formar lista e teve de integrar uma comissão administrativa. O futebol profissional acabou. Seis anos depois, com vinte à frente do Campomaiorense, Nabeiro mantém-se firme nas ideias: «Enquanto for presidente, o clube não sobe dos distritais!»
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