Sob o pesado manto da lancinante crise, a Ovarense lá conseguiu concluir a temporada de 2005/06 na Liga de Honra.
Por entre salários e mais salários em atraso, rescisões atrás de rescisões e o imbróglio dos terrenos para a frustrada construção de um parque desportivo, a equipa chegou a ter apenas 12 atletas disponíveis para um jogo. Tudo isto num campeonato que se gaba de ser profissional.
À 17ª jornada, o resistente grupo de trabalho da A.D. Ovarense jogava em Aveiro. Manuel Tulipa, técnico da esfrangalhada equipa, não teve dificuldades em escolher o onze inicial. Dos 12 jogadores, três eram guarda-redes. Triagem feita, um foi para a baliza, um para o banco de suplentes e um... para ponta-de-lança.
Uma baliza «mais pequena do que nunca»
Ao Maisfutebol, Tulipa recordou aquele que, por curiosidade, foi o seu primeiro jogo na condição de técnico principal.
«Motivar dois guarda-redes profissionais para que joguem à frente não foi uma tarefa fácil. Na altura mantive o Rui Correia a defender e optei por colocar o Évora na frente. Ele jogava bem com os pés e dos três era o que me dava mais confiança para exercer essa função».
No banco de suplentes ficou Armando. Até aos 60 minutos, altura em que foi chamado a substituir o esgotado Évora. Sem surpresa, o Beira-Mar venceu a partida por 2-0, com Diakité (agora no Boavista) a apontar os dois golos na marcação de livres directos.
«Nas peladinhas mostrava algum jeito e o Tulipa optou por mim», recordou ao Maisfutebol Vasco Évora. «Podia ter feito dois golos logo nos primeiros minutos, mas a baliza pareceu-me mais pequena do que nunca».
Depois de abandonar Ovar com muitos salários em atraso, Évora rumou ao Lusitânia dos Açores. A experiência correu mal e o agora ex-guarda-redes decidiu tirar um curso de Personal trainer. Já fez um estágio no U. Leiria, clube onde se formou, e aguarda um convite para integrar uma equipa técnica.
Armando, o outro ponta-de-lança de ocasião, confessou-nos que apenas pensou em ajudar quando Tulipa o lançou no relvado de Aveiro. «Só podíamos contar connosco. Se não jogássemos era pior, até porque a Liga Vitalis era uma montra importante. Enfim, meti-me no meio dos centrais adversários e dei o meu melhor.»
O ex-guarda-redes da Ovarense ainda tem um processo em tribunal com o emblema vareiro. Nesta altura, defende as cores do Ol. Hospital, já depois de ter passado pela Oliveirense e pelo Nelas.