Têm anos e anos de história, chegaram ao topo, arrastaram muitos adeptos, alguns andaram pela Europa. Todos desapareceram nos últimos anos. Uns acabaram em definitivo, outros começaram tudo de novo. Farense, Felgueiras, Campomaiorense, Marco, Salgueiros, Ac. Viseu, Ovarense, Alverca. Lembra-se? O Maisfutebol publica uma série de reportagens sobre esses clubes que ficaram para trás. Aqui, o declínio do Salgueiros.
O ano de 2005 permanece tatuado na memória de todos os que amam o futebol. Em Setembro a Comissão Administrativa anunciava o fim do futebol profissional no Salgueiros. Para trás ficavam anos e anos de sucessos, simpatia e uma mística muito especial, que permitiram fazer do emblema de Paranhos, fundado em 1911, um clube até europeu.
Na época anterior o Salgueiros competira na II Divisão B com uma equipa formada apenas por juniores. Na sequência de uma descida administrativa por dívidas à Liga. Foi essa situação que permitiu revelar, por exemplo, Pelé, que agora brilha no Inter Milão. O médio foi então roubado pelo Benfica, o que deixou o falido clube sem um tostão.
Mas esse nunca foi verdadeiramente o problema.
O problema foram os sonhos megalómanos, as gestões ruinosas, as receitas não declaradas, os dinheiros desviados. José António Linhares saiu do clube com três exercícios financeiros por fechar. «Mesmo assim deixou em acta que em todos eles o Salgueiros tinha tido um exercício financeiro favorável», diz o presidente Carlos Abreu.
Talvez por isso Linhares se tenha barricado na sede no dia em que a nova Comissão Administrativa iria tomar posse. Naquele que foi mais um episódio triste da história do clube. Como tristes foram, aliás, todos os episódios que levaram à demolição do Estádio Vidal Pinheiro, na esperança de ver nascer um novo recinto em Arca D¿ Água.
Hipoteca, mais hipoteca, mais hipoteca
Ora nesses terrenos sobrou apenas um imenso buraco, que virou local de recreio para pescadores. Agora nem isso. Os três lotes foram executados em hasta pública pelo Estado. Vendeu-se um lote e o direito de construção dos outros dois. O Salgueiros só tem por isso o direito de solo desses dois, mas não o pode utilizar. Está hipotecado.
Nesta altura, que seja dele, o clube não tem quase nada.
Tem apenas a concessão do bingo, que termina em 2010, e um par carrinhas para transporte dos atletas. É todo o património que lhe resta. A sede era alugada e foi entregue ao dono com uma longa dívida. Mesmo o bingo está com receitas hipotecadas. Dá lucro, é verdade que sim, mas todo o dinheiro fica retido para pagar dívidas.
Dívidas que se acumulam. Ao estado, à segurança social, a antigos atletas. «A única coisa que mudou desde 2005, quando esta Comissão tomou posse, foi o abatimento de três milhões de euros de dívidas fiscais da venda dos terrenos de Arca D¿Águas», diz o presidente Carlos Abreu. «O passivo deve andar à volta de 20 milhões de euros».
O emblema e a alma
Sobra por isso o emblema e a alma, que é eterna. Uma alma tão grande que faz com que actualmente ainda existam cerca de mil e quinhentos sócios pagantes. Mil e quinhentos. São eles que, na inexistência de mais fontes de receita, vão fornecendo os trocos com que se alimentam as modalidades que teimam em manter o Salgueiros ainda vivo.
Três modalidades, aliás. Futebol de formação em todos os escalões, desde as escolinhas aos júniores, andebol também apenas de formação e o pólo aquático, o único desporto que mantém a competição de seniores e onde o clube tem longa tradição. «Nesta altura o Salgueiros movimenta cerca de trezentos atletas», garante Carlos Abreu.
Pensar em voltar a ter futebol profissional, diz, é utópico. «Para isso era preciso levantar os impedimentos para inscrever atletas, que se mantêm porque o clube ainda não pagou as dívidas. Gostava muito de voltar a ter futebol sénior, mas pensar nisso é irrealista». Está tudo hipotecado. À espera que o emblema e a alma sejam também hipotecados.