O fim do futebol profissional esvaziou o Salgueiros de interesse. De interesse mediático e de interesse afectivo. O clube movimenta hoje menos gente, tem menos adeptos e tem menos amigos. Pedro Reis foi um dos que ficou. Histórico capitão do clube, treinador adjunto mais tarde, mantém-se no Salgueiros por amor apenas.
Tornou-se o coordenador das camadas jovens por carolice. A ligação ao clube já não tem nada de laboral, Pedro Reis ganha a vida no escritório onde trabalha, mas nem por isso dedica menos ao Salgueiros. Ele e todos os que ficaram, diz. «Com o fim do futebol profissional restam apenas as pessoas que gostam mesmo daquilo».
Pela parte que lhe compete, diz que o clube está bem. «O Salgueiros tornou-se um clube estável e que está no caminho certo: a formação de jovem jogadores». O que não quer dizer que um dia não volte a ter futebol profissional. «Sempre disse que no dia em que não acreditar que o Salgueiros possa voltar a ter séniores, vou-me embora», diz.
«Tenho uma ligação ao Salgueiros de mais de vinte anos, gosto do clube e gosto das pessoas. Estou aqui com prazer, como sempre estive. Mas apesar disso, e embora me custe muito, embora haja aqui muitos miúdos que vi crescer desde muito novos, se não acreditar que o Salgueiros vai voltar a ter futebol profissional, sigo outro caminho».
É esse sonho de ver renascer o Salgueiros, aliás, que o faz perder horas de sono para proporcionar aos jovens as melhores condições de treino dentro de todas as limitações que são conhecidas. O Salgueiros não tem um espaço próprio, pelo que os miúdos andam sempre com a casa às costas. Eles e todos os que com eles trabalham, de resto.
Podem treinar no Campo da Câmara Municipal do Porto, no Complexo Desportivo do Viso, ou no sintético por detrás da estação do Metro onde antes estava o Estádio Vidal Pinheiro. Os jogos fazem-se entre Campanhã, Leça do Balio e Lever, em Gaia. Mesmo assim o clube continua a competir em todos os escalões, das escolinhas aos juniores.
Não o faz com a força de antigamente, mas fá-lo com mais paixão. «Antigamente trabalhava-se menos bem a formação, mas o próprio nome do clube atraía os miúdos. Tínhamos menos atenção aos jovens, mas chamávamos mais gente. Agora trabalhámos melhor a formação, mas temos menos miúdos. Incomparavelmente menos», diz.
«Mas acho que estamos no bom caminho. Aliás, antigamente trabalhávamos em pelados e agora só trabalhamos em sintéticos. É claro que gostaria de ter mais condições. Para movimentar mais gente e fazer um trabalho mais válido teríamos de ter outras condições, mas neste momento é que é possível. Acima de tudo há paixão».