Entre os muitos jogadores que fizeram a história do Salgueiros, Abílio foi um dos que mais ficou ligado ao clube. O médio vestiu durante sete anos a camisola vermelha, interrompidas apenas por uma passagem pelo Belenenses.
Representou o clube na aventura da Taça UEFA, esteve próximo de se transferir para o Sporting e marcou os melhores anos do clube na década de noventa. Por isso fica com os olhos a brilhar quando se lhe fala do Salgueiros.
«Tenho memórias muito boas», diz. « O Salgueiros foi das coisas mais bonitas que tive na vida. Nunca devia ter acabado, nunca podia ter acabado». Acima de tudo, recorda a mística. «Como as pessoas diziam, e eu não sei explicar, havia ali uma alma especial».
A Taça UEFA, Zidane e o Cannes...
Abílio recorda, por exemplo, a Taça UEFA. Naquela que foi a sua primeira época no clube, vindo do F.C. Porto. «Ainda era muito novo, mas lembro-me que esse ano foi fantástico. Fomos eliminados pelo Cannes, onde jogava o Zidane».
Zidane que na altura dava os primeiros passos. «Ele também ainda era muito novo na altura, mas já se notava que tinha muita qualidade». O Salgueiros acabou por ser eliminado nas grandes penalidades, em França, depois de três horas e meia de futebol na Europa.
A formação de Paranhos tinha vencido por 1-0 em casa (golo de Jorge Plácido) e perdido por 0-1 em Cannes (golo do camaronês Oman-Biyik, aos 85 minutos). Na lotaria das grandes penalidades, a sorte não quis nada com o pequeno Salgueiros orientado por Zoran Filipovic.
Abílio recorda esses tempos com carinho. «Formávamos um grupo muito bom. Não tínhamos condições agradáveis, treinávamos em pelados e no campo do Rio Tinto, mas havia sempre uma alegria enorme, íamos treinar com prazer, era fantástico».
... os almoços até às sete da tarde...
Um bom ambiente que fazia a força do pequeno clube. «Éramos mais do que um grupo de colegas. Lembro-me que todas as sextas-feiras almoçávamos no Zé da Serra, ou no Machado. Eram almoços que começavam às 13 e acabavam às 18 ou 19 horas».
«A massa adepta era pequena, mas muito próxima e gostava muito do clube. As pessoas conheciam-se todas, a claque Alma Salgueirista acompanhava-nos sempre, íamos juntos para todo o lado, havia uma empatia muita grande, éramos praticamente uma família».
Do Salgueiros guarda apenas uma mágoa: quando falhou a segunda presença na UEFA. «Foi na última jornada, em Faro. Eu marcara um golo de livre, o Farense empatou, entretanto o V. Guimarães já tinha ganho ao Sp. Braga, sabíamos que tínhamos que ganhar e no último minuto dos descontos falhei um penalty», conta. «Até chorei».
... e o carácter formador
Abílio lembra também que o Salgueiros era um clube formador. «Nessa altura vendeu o Leão, o Renato, o Nandinho, o Luís Carlos, o Luís Manuel, o Edmilson, o Deco, o Pedrosa, o Sá Pinto. O clube criava jogadores. Chegavam lá e davam nas vistas.
«Por isso custa-me a perceber que o Salgueiros tenha acabado. Era o clube que vendia mais jogadores, tinha um bingo forte, tinha as receitas televisivas, tinha um orçamento muito baixo, por isso custa a perceber como o clube ficou na bancarrota».