Não deixa de ser estranha a falta de ambição do histórico Arsenal. Ou de um treinador como Arsène Wenger.

Numa temporada com um Chelsea agonizante, um Manchester United a tentar reconstruir referências sem grande sucesso, a viver com Van Gaal e a sonhar com Mourinho, e um City com aparente falta de identidade, os Gunners vão acabar numa das duas posições mais comuns dos últimos anos: terceiro ou quarto. Atrás do Leicester e do grande rival Tottenham, talvez ainda abaixo do City. A novidade é essa: os que estão à sua frente não são os mesmos de sempre.

Campeão em 2003/04, ainda com nomes como Vieira, Henry, Pires, Ljungberg e Bergkamp como principais figuras, os londrinos foram segundos no ano seguinte, atrás do Chelsea de José Mourinho. Desde então, somaram seis quartos lugares e quatro terceiros, qualificando-se sempre para a Liga dos Campeões como mínimo garantido.

Wenger, tricampeão em 1997/98, 2001/02 e 2003/04, consegue invariavelmente esse primeiro objetivo, que é chegar à fase de grupos da prova continental, com a garantia da entrada de dinheiro nos cofres do Emirates. E isso tem chegado para garantir-lhe o lugar onde se senta há 20 épocas consecutivas.

Os adeptos, percebe-se, têm mais ambição do que a direcção, que mesmo assim vem a público, de tempos a tempos, dizer que há dinheiro para comprar estrelas. Wenger torce o nariz, também de tempos a tempos, diz que não é bem assim e continua na sua.

O treinador francês terá gasto esta época pouco mais 28 de milhões, cerca de 13 em Petr Cech, e mais uns trocos num médio-defensivo egípcio: Elmeny, que cumpriu oito encontros na Premier League. Longe dos 197M€ do Manchester City, 141M€ do Manchester United, 89M€ do Liverpool, 87M€ do Chelsea, 68M€ do Tottenham e 48M€ do Leicester, entre outros.

A falta de ambição do Arsenal continua. No melhor campeonato da Europa, também o mais rico e de poderio renovado com o valor pago pelos direitos televisivos, e que vai reunir na próxima época treinadores como Guardiola, Conte, Klopp e eventualmente Mourinho, a vida promete continuar difícil para os adeptos gunners. Antes eram os tendencialmente mais fortes que levavam a melhor e havia uma espécie de conformismo. Hoje, é o Leicester e o Tottenham, e não há quem os cale.

Retomará o Arsenal, com ou sem Wenger, o gosto pelo risco? Ou também está bem assim?


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LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».