A última equipa portuguesa que tinha uma ideia antes de ter outra coisa qualquer foi o Boavista de Jaime Pacheco. Uma ideia com a qual sempre embirrei, sim, mas ainda assim uma ideia. Acabou campeão, esse Boavista.

Depois de Jaime Pacheco, outras equipas em Portugal tiveram uma ideia de jogo bem definida. Claro que sim. Só que todas elas tinham melhores jogadores. 

O Boavista de Petit é também uma equipa com uma ideia. Ainda mais radical do que a de Jaime Pacheco, passa por duas coisas simples: correr mais do que o adversário e ganhar todos os duelos. É uma das curiosidades deste campeonato, perceber se uma ideia, quando executada com determinação e rigor, chega para transformar um plantel limitado num grupo que se aguenta entre os melhores.

Mas este artigo não é sobre o Boavista.

Lembrei-me disto na quarta-feira, ao ver o Bayer Leverkusen-Benfica.

O jogo colocou frentre a frente uma equipa com uma ideia definida, o Bayer, e outra sem a mais pequena ideia sobre o que fazer.

A ideia do Bayer é relativamente simples: pressionamos os tipos o mais à frente possível e depois corremos depressa em direção à baliza deles.

No caso dos alemães, não é uma pressão esteticamente atraente como, por exemplo, a do Barcelona de Guardiola. É mais uma pressão estilo enxame, com quase todas as abelhas atraídas para o local onde está a bola.

A ideia de jogo do Bayer é boa e funciona muitas vezes. Pressionados, os adversários perdem a bola. E sobretudo perdem-na muitas vezes ainda no meio-campo que é deles. Dali para a baliza o caminho é curto e muitas vezes os adversários a ultrapassar são poucos.

O que me impressionou não foi a ideia do Bayer. É conhecida. O que me impressionou foi a incapacidade do Benfica para lidar com aquilo.

Não sou treinador, mas creio que não será difícil colocarmo-nos de acordo sobre as formas de ultrapassar aquilo

Jogar longo na frente , por exemplo. Altera a forma de jogar habitual, para anula também parte fundamental do jogo do Bayer.

Sair sempre pelas laterais . Se a bola escapar, pelo menos o caminho para a baliza não será direto.

Esticar menos a equipa , mantendo os jogadores mais juntos. Facilita a troca de bola e permite que exista ajuda se por acaso a bola se perder.

Não fiquei convencido que o Benfica tivesse uma opinião definida sobre a melhor forma de desativar a ideia do adversário. Aliás, o momento do jogo foi aquele grito de Jesus a pedir aos jogadores para não tentarem sair a jogar. E foi esse grito que me intrigou: mas qual a parte do jogo do Bayer que não era previsível?

A forma como o Benfica enfrenta os duelos na Liga dos Campeões é algo que me intriga. Fico muitas vezes com a sensação de que falta a correta avaliação da força do adversário. Como se o treinador da equipa portuguesa acreditasse que nenhuma adaptação é necessária. Estou firmemente convencido do contrário.

Quando enfrentamos uma equipa com uma ideia de jogo muito definida, rotinada, aplicada por jogadores que acreditam, mudar pode tornar-se inevitável. No caso do Bayer, nem sequer estamos a falar de uma ideia assim tão complicada de contrariar. Se nos prepararmos. ( nem de propósito, este sábado o Bayer empatou em casa com o desconhecido Paderborn)

O Benfica foi a equipa portuguesa que sofreu a mais dura derrota na jornada 2, mas o Sporting também não tem razões para sorrisos. Com Rui Patrício num dia normal, e não absolutamente incrível, o regresso de Mourinho a Alvalade poderia ter sido mais doloroso para os portugueses. (a este propósito vale a pena ver o que disse Pedro Barbosa sobre a forma de defender do Sporting)

O FC Porto lidera o Grupo H, sem dúvida um dos mais fracos. Apesar dos erros defensivos, da grande penalidade falhada e da dependência já impossível de esconder de Jackson Martinez, só algo excecional impedirá o conjunto de Lopetegui de se apurar já no duplo confronto com o At. Bilbao. O resultado foi bom, mas não o suficiente para esconder as fragilidades que o FC Porto tem exibido nas últimas partidas. 

Se alguma coisa une nesta altura Benfica, FC Porto e Sporting é a insegurança a defender.