Benfica e FC Porto perderam, e do jogo da Madeira já falei AQUI.

O lado positivo para a equipa de Jesus é que apenas desperdiçou parte da vantagem que tinha para o Sporting. Seis pontos de avanço sobre os dragões continuam a ser distância confortável, tal como os sete obrigam Marco Silva a ter de fazer muitas contas em Alvalade.

Pensando exclusivamente em si, o Benfica tem de evitar, para seu bem, que este se torne o momento de viragem do campeonato. É esse desafio que enfrenta nesta altura.

Jesus tem, obviamente, razão. Não podia ter perdido em Paços de Ferreira. Depois da derrota do FC Porto, o empate até era resultado aceitável. Aumentaria a diferença para os homens de Lopetegui e sempre podia ser vendido, para dentro e para fora, como um ponto num campo complicado.

Ao cair na Mata Real, o que muda é sobretudo o ânimo dos rivais. Os dragões passaram de equipa derrotada de manhã para adversário de fé renovada à noite. E o dérbi, daqui por duas semanas, em Alvalade, ganha o estatuto de encontro da temporada para Sporting e Benfica (e também FC Porto).

Se nada acontecer de anormal na Luz e em Arouca, os sete pontos correm o risco de tornar-se quatro (e três para os portistas, se vencerem este mesmo Paços e Moreirense) com um caminho ainda muito longo e cheio de perigos pela frente.

O Benfica tem duas missões importantíssimas e imediatas: vencer o Boavista num reencontro que será certamente duro e muito intenso, e pelo menos não perder em Alvalade. Se o conseguir, o desaire na Mata Real terá sido tão o tal acidente de percurso.

Em Paços, os encarnados terão misturado algum excesso de confiança com a ansiedade natural de ter de matar o campeonato.  Talvez a ideia de que o golo ia acabar por aparecer – como sempre tinha aparecido nos 81 jogos anteriores na Liga – tenha passado a certa altura pela cabeça dos jogadores. E, desta vez, ter jogado depois dos rivais não ajudou. Deu-lhes uma pressão-extra que fez tombar a balança.

Entraram bem, não marcaram ao fim de meia-hora e, depois, não foram capazes de fazer reset à máquina e encontrar um plano B para voltar a inclinar o jogo a seu favor. Nessa altura, o Paços já tinha encontrado antídoto para Salvio, Maxi e quem mais aparecia por aí.

Houve algum azar sim, com um penálti (para mim, algo discutível) e mais duas bolas à trave – noite não de Lima, que anda muito irregular esta época –, e falharam-se golos que normalmente não se falham. Sentiu-se a falta de Gaitán, já para não falar de Enzo, mas esse já não lá mora.

É sempre mais fácil falar depois, mas fica a ideia de que Ola John e Talisca – que continua a jogar sensivelmente o mesmo antes, mas agora sem marcar – jogaram minutos a mais, e Derley continua a ser curto para alterar alguma coisa no decorrer do jogo.

Cabe a Jesus provar, sobretudo aos seus adversários, que foi mesmo só uma noite má e mostrar saúde já no que aí vem.

Nota 1: Inconcebível a bronca de Jesus a Eliseu no final do encontro. O treinador tem o balneário para isso, se tiver mesmo de fazê-lo. Dessa forma também evitaria a pergunta dos jornalistas e a desculpa algo esfarrapada, que só poderá fazer sentido para quem não viu as imagens.

Nota 2: Bruno Paixão e o seu auxiliar (aquele que acompanha o ataque do Paços de Ferreira) não podem não ver aquele penálti no final, do qual não há dúvida alguma. O seu movimento na direção contrária à baliza denuncia que nada iria ser assinalado se não tivesse havido uma comunicação vinda do outro lado do campo (o juiz olha para lá, e depois aponta para a marca). Para bem do jogo, alguém viu.

Luís Mateus é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no Twitter.