Antes de começar a escrever passei pelo site do Benfica: nada. Depois fui à CMVM e vi os três últimos relatórios (dois anuais e um trimestral). Procurei «Deyverson» e «Miguel Rosa». Nada. Por fim fui ao site do Belenenses. Aí encontrei qualquer coisa: um comunicado da direção do clube em que remete para a SAD azul explicações sobre a ausência dos dois futebolistas no jogo com o Benfica, na Luz. (ver NOTA no final do artigo)

Antes de emitir opinião sobre o facto, sublinhar esta ausência de explicação. Não aos jornalistas, que para o caso não contam, mas sim aos adeptos dos dois clubes. Sem uma versão oficial, credível, sólida, os dois emblemas permitem que se abram as portas da especulação e da suspeita. Permitem, por exemplo, que seja levado a concordar com Bruno de Carvalho.

O que sabemos é pouco. Deyverson e Miguel Rosa são os melhores jogadores do Belenenses, treinaram toda a semana, foram convocados mas depois ficaram de fora. No caso de Miguel Rosa há antecedentes (veja o que disse o treinador, há um ano), o que leva a acreditar que algo impediu Lito Vidigal, contra sua vontade, de fazer alinhar os dois jogadores.

No final da partida, apenas os treinadores dos dois clubes falaram sobre o tema. Os dirigentes esconderam-se atrás deles, o que é feio. Para dizer o mínimo.

Lito Vidigal disse que os jogadores estavam «condicionados» por se falar disto há um mês. Ou seja, se ninguém tivesse referido o tema os jogadores podiam jogar? Estranha argumentação, pena ter vindo de um treinador sério e respeitável.

Jorge Jesus tentou resolver o assunto com uma daquelas tiradas à DDT (Dono Disto Tudo) que podem marcar pontos numa conversa de café, mas que na sala de imprensa de um clube como o Benfica são lamentáveis.

Percebo que Jesus, inventor do fair-play é uma treta, tenha pouco respeito pelos jogadores dos outros e pela verdade desportiva. Por outro lado, pode ter sido apenas mais uma desatenção do treinador do Benfica. Há uns dias não sabia que a sua equipa já não sairia do último lugar da Champions. Agora desconhecia que Deyverson e Miguel Rosa marcaram onze dos 15 golos do Belenenses na Liga. Ou seja, são apenas os mais importantes do plantel de Lito Vidigal.

Uma vez que os dois jogadores não estão emprestados pelo Benfica ao Belenenses, o que os impediu de jogar na Luz só pode ser um acordo verbal ou um compromisso que permita aos encarnados recomprar os futebolistas ou ter preferência no caso de algum clube manifestar interesse em Deyverson ou Miguel Rosa.

Os dois clubes podem ter jogadores em co-propriedade (comum em Itália, por exemplo) ou algo semelhante. O que não podem é fazer qualquer combinação que impeça um jogador de competir, por razões que talvez apenas Jorge Jesus finja não compreender: afeta gravemente a verdade desportiva. Sim, porque Deyverson e Miguel Rosa ajudaram os azuis a empatar em Alvalade e em janeiro por certo estarão no Dragão.

Uma vez que os dois dirigentes dos dois clubes recusaram dar explicações sobre este caso, compete a quem gere a disciplina no campeonato português investigar. Ao contrário do que sucedeu com o penálti de Tozé no Estoril-FC Porto (e sobre o qual o Nuno Madureira escreveu isto), este caso faz-nos mal à cabeça.

NOTA: escrevi este artigo a meio da tarde de domingo. Entretanto, à noite o presidente da SAD do Belenenses, Rui Pedro Soares, fez declarações à RTP Informação, o que me leva a acrescentar esta nota. Diz que o Benfica tem clásula de recompra estipulada para Deyverson e Miguel Rosa. Se acionar a opção, o contrato entra em vigor. Mas é o emblema azul quem lhes paga. De acordo com RPS, a decisão de não utilizar os jogadores foi «da estrutura» e pergunta: «E se algum deles tivesse sido expulso ou falhasse uma grande penalidade?». As palavras de Rui Pedro Soares são pelo menos alguma coisa. Aparecem no tempo errado (já depois do comunicado da direção do clube, da reação do presidente do Sporting e de milhares de comentários de adeptos nas redes sociais), mas tudo bem, aparecem. Têm é um problema: não defendem a equipa nem os jogadores. É uma forma de tentar resolver a coisa.