Foi a pior derrota de sempre de uma seleção portuguesa em fases finais de Mundiais e Europeus. E a pior derrota dos últimos 31 anos, desde aquele dia gelado em Moscovo. As análises para a terrível tarde na Bahia serão diversas, mas acho que o exercício mais interessante é perceber o que sucederá a seguir.

Paulo Bento foi questionado sobre isso, precisamente. E bem, porque é essa a grande dúvida: depois de perder por 4-0 frente à Alemanha, como deverá a seleção portuguesa jogar frente aos Estados Unidos e o Gana? No primeiro impulso, de resto coincidente com aquilo em que acredita, o selecionador já adiantou parte da resposta: «Reformular tudo? Seria o maior erro que podíamos cometer».

Esta resposta significa, do meu ponto de vista, que Paulo Bento não mexerá no sistema tático. Portugal entrará com três no meio-campo e três na frente.

Também significa que Cristiano Ronaldo começará numa das alas. E que haverá um ponta-de-lança, Postiga ou Éder.

Na baliza, apesar dos erros, manter-se-á Rui Patrício. Mexer no guarda-redes é o maior dos sinais de alarme. O selecionador nunca o puxará.

Paulo Bento já considerou «forçados» o penálti de João Pereira e a expulsão de Pepe. O lateral direito manter-se-á. Na esquerda, o selecionador tem apenas uma opção: André Almeida. Aliás, nesta altura a perspectiva de Portugal é fazer toda a prova com o jogador do Benfica na esquerda. É a consequência das opções tomadas na altura de escolher os 23. Se o leitor está a pensar em Miguel Veloso para a esquerda, esqueça. Nunca fez a posição com convicção e os dias em que por lá andou há muito passaram.

No centro da defesa, a expulsão obriga a optar entre Ricardo Costa, utilizado com a Alemanha, e Neto. É indeferente. Estaremos menos fortes. Resta desejar que o substituto acerte e que Bruno Alves não repita a exibição desastrada da primeira parte.

Face à resposta de Paulo Bento, tudo indica, pois, que Portugal jogará com três médios. Na Bahia, Miguel Veloso não se viu e Raul Meireles não teve influência, com ou sem bola. João Moutinho jogou a um nível poucas vezes visto. A pressão para dar a titularidade a William Carvalho só vai crescer por estes dias. Sinceramente, acho que faz sentido, embora talvez seja Ruben Amorim o médio em melhor forma. A seleção foi incrivelmente frágil no meio-campo e os Estados Unidos são mais uma seleção forte e com gosto pela corrida.

Na frente, Nani não jogou o suficiente para sair. Ronaldo é Ronaldo, mesmo quando está distante de Ronaldo. Éder faria sentido, mas talvez o selecionador chegue à conclusão que o trabalho de ligação que Postiga faz há anos é, afinal, essencial. E por isso o coloque de início.

Tudo somado, acho que ninguém deve esperar de Paulo Bento uma revolução. As equipas estão sempre mais perto de ganhar quando permanecem fieis ao que trabalharam. Simples.

Depois do desastre que foi a exibição frente à Alemanha, mais do que nunca é essencial fazer a melhor análise das forças e fraquezas próprias e da forma de estar do adversário. Sem medo, a doer.  E depois disso tomar as decisões certas. Não se pode ser goleado e achar que tudo está bem. Não está, não pode estar. Mas saber examente o que colocar em causa será a chave numa prova rápida como um Mundial.