Antes de mais abro parêntesis (o FC Porto ainda pode ganhar a Taça), mas mesmo que tiremos a ressalva de dentro dos mesmos e mudemos o condicional para o presente não lhe salvará a época.

Mesmo que conquiste a Taça de Portugal perante um Sp. Braga sempre muito competitivo e que irá apostar grande parte das últimas forças nesse troféu, isso não quebra um ciclo de três épocas horríveis, de investimento feito, e que poderá ter ainda mais consequências negativas a curto prazo. Festejar no Jamor terá sempre um paladar muito insosso para os portistas.

Com a derrota em casa com o último da tabela, o Tondela, que afasta virtualmente (e não matematicamente) os dragões do título, o FC Porto coloca em risco ainda o apuramento direto para a Liga dos Campeões.

A sete pontos do Sporting, o mais provável é que os dragões entrem no play-off – os nove de vantagem para o Sp. Braga serão à partida mais do que suficientes para segurar o terceiro lugar, desde que não entrem em espiral negativa – e, embora venham a ter mais do que provavelmente o estatuto de cabeça de série, não está garantido que cheguem à fase de grupos.

Os milhões à-cabeça, isto é no caso do segundo lugar como mínimo e apuramento direto, seriam importantes para levar a cabo um dos grandes desafios do presente. Tornar o plantel competitivo e estruturado o suficiente para lutar pelo título com dois rivais atualmente mais fortes (o Benfica com novo fôlego depois de ter retomado o caminho que leva há já várias épocas, e o Sporting dinamizado por Jesus).

O FC Porto vai precisar de investir e, muito provavelmente, forte. Pode o clube arriscar mais uma época assim?

O plantel, que não era tão bom como se apresentava nem tão mau como agora parece, tem sim desequilíbrios em vários setores, como já foi aqui escrito – centrais permeáveis, ainda mais fragilizados com a saída de Maicon, um meio-campo muito igual, com pouca criatividade e capacidade de desequilíbrio e rotura, e a falta de um matador, que apesar da boa vontade e de ter disfarçado bastante ao início, não é Aboubakar.

Por não existir um rumo bem marcado há vários anos, e que as conquistas de Vítor Pereira conseguiram disfarçar, e depois por ter apostado tudo em Lopetegui, quase a fundo perdido, entregando-lhe toda a responsabilidade durante o tempo em que esteve no Dragão, o FC Porto tem agora de montar uma equipa praticamente nova, e da que resta até final da época praticamente não sobram referências. Alguém que reúna a equipa à sua volta.

É talvez o que mais faz falta a este plantel: uma ou duas referências.

E se tiver de comprá-las, esses jogadores costumam ser ainda mais caros do que os outros.

Não sei se José Peseiro será ou não para continuar. Poderá a Taça aí sim ter um papel importante, pelo menos para apagar este final de época agonizante, sob o seu comando?

Aí depende do que o clube quiser fazer, e o nível de investimento que está disposto a realizar. Temos de admitir que a sua chegada já era um long shot para substituir Lopetegui, e somada aos resultados ainda piores do que os atingidos pelo antecessor o cenário para o técnico não é animador.

Pode o clube entender que o problema passa pelos jogadores. Ou mais uma vez pelo treinador. Ou achar que tem de deitar tudo abaixo para começar de novo. Parece-me que o problema é mais estrutural do que apenas uma parcela da equação, mas são os dirigentes que criam ou gerem as expetativas, e são estes que têm de tomar decisões.

Não vejo o problema do FC Porto como um problema de filosofia, como já li. Não é por ser mais ofensivo que sofre mais golos. É sobretudo por não ser uma equipa bem estruturada e equilibrada. E que se debate com a Lei de Murphy fim de semana após fim de semana. É muito mais profundo do que jogadores menos bons, um treinador menos feliz ou a filosofia errada.

O desafio que se avizinha é grande. Os riscos aumentam de época para época, e talvez seja a altura-limite para reagir. Amanhã já será tarde, porque parece ter batido no fundo.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».