A temporada que João Félix está a fazer em Espanha não pode ser propriamente uma surpresa para ninguém: afinal de contas os sinais estavam todos lá.

126 milhões de sinais. Uma pressão tremenda.

A transferência para o At. Madrid tornou-se um peso absurdo em cima dele. Cada vez que entra em campo, que toca na bola, que faz um remate, que tenta um cruzamento, que efetua uma receção, aquele número está lá. 126 milhões. Por este valor, espera-se que Félix faça tudo bem.

Mas isso é impossível. Num mundo razoável, isso é impossível.

Vale a pena lembrar, aliás, que em pouco mais de seis meses, João Félix deixou de ser aquilo que ele é: um miúdo que precisa de tempo. Precisa de tentar, errar, voltar a tentar e acertar.

Desde o verão, porém, que está obrigado a não falhar. As expetativas estão altíssimas, a pressão tornou-se brutal. Parece que o enorme talento de João Félix nos autorizou a esquecer que ele só tem 20 anos. Mas não, não autorizou. Por ele, pelo futebol, pela seleção, não autoriza.

João Félix é só um miúdo à procura de evoluir.

Infelizmente para ele, correu tudo mal. Transferiu-se por um valor irresponsável, o que colocou sobre ele uma pressão intolerável. E transferiu-se para uma equipa que é a antítese do futebol que ele tem para dar. Por isso em tudo o que Félix faz em campo parece estar sempre fora de água.

O At. Madrid é uma equipa intensa, física, dura, daquelas que ainda faz a pré-época na montanha, a subir e descer colinas, a correr, correr, correr. É uma equipa com uma filosofia muito própria, que começa por defender bem para depois ganhar coragem para atacar. Uma equipa que se preocupa sobretudo em não se desorganizar e não perder a intensidade. Por isso muitas vezes só consegue criar perigo em lances de bola parada.

Ora isto obriga João Félix a fazer um jogo mais físico do que técnico, a expor-se em demasia e a expor-se mal, apanhando o futebol num nível de fúria no qual ele não sabe jogar.

Soma-se a isto o facto do Atlético desequilibrar poucas vezes no último terço, e por isso João Félix ter poucas bolas por jogo em zona de finalização.

Lá está, o português parece sempre um peixe fora de água.

No meio destes equívocos todos passou um ano: passou um ano desde que João Félix saiu do Benfica e pouco se vê de diferente do que fazia. Em alguns aspetos, como por exemplo a finalização, dá até a ideia de que está pior. O que significa que não evoluiu como se esperava.

Passou um ano e João Félix pouco ou nada progrediu.

E isso, para um jovem com o talento dele, é o pior que lhe podia ter acontecido.