Não me parece, como se defende em Alvalade, que haja uma perseguição ao Sporting, ou em particular a Ruben Amorim.

A verdade é que antes do clube e treinador serem acusados de fraude, e como o Maisfutebol escreveu na segunda-feira, já o Nacional e Luís Freire, o Académico Viseu e Rui Borges ou o Feirense e Filipe Martins tinham sido alvos precisamente da mesma acusação: fraude, com ameaça de multa, no caso dos clubes, e ameaça de suspensão entre um e seis anos, no caso dos treinadores.

Antes disso, de resto, já Sérgio Vieira, Silas, Pepa, entre vários outros treinadores, tinham justificado da parte da Associação Nacional de Treinadores queixas no Conselho de Disciplina, e só por uma interpretação diferente dos regulamentos não tiveram a mesma acusação.

Ora por isso não se pode falar de uma perseguição ao Sporting.

Mas pode falar-se de uma perseguição aos treinadores: aos jovens treinadores que mostraram ter mais talento para exercer a profissão do que lhes é permitido exibir pelo certificado de habilitações.

E isto sim, é verdadeiramente preocupante.

Em vez de criar culpados, as instituições nacionais – entre as quais, claro, a Associação Nacional de Treinadores de Futebol – deviam preocupar-se com o facto de os treinadores serem vítimas: vítimas de um sistema que os oprime, que os humilha e que os marginaliza.

A verdade é que Portugal é um país de futebol, cria dos melhores jogadores e dos melhores treinadores que existem no mundo, mas obriga os jovens e talentosos técnicos a preocuparem-se com contratempos infantis, questões paralelas, temas incompreensíveis: se podem ou não levantar-se, se devem ou não dar instruções, o que devem responder quando lhes perguntam qual é a função.

Em vez de estarem cem por cento concentrados naquilo que eles fazem bem, e já agora em fazê-lo cada vez melhor, os jovens treinadores têm de dividir a atenção com estas idiotices.

Não dá para ser mais ridículo, pois não?

Enquanto isso, nos últimos dias muita coisa já se disse e se escreveu sobre este tema. A maior parte delas certas, porque é fácil ver de que lado está a razão, de tão evidente que isto se torna.

Não passa, obviamente, pela cabeça de ninguém que treinadores tão promissores como Luís Freire ou Rui Borges, já para não falar de Ruben Amorim, claro, possam ser proibidos de exercer a sua profissão. Isso seria privar o futebol português do talento e seria pura e simplesmente criminoso.

No entanto, e para além disso, não chega. É preciso mais. É preciso que situações destas não se repitam. Se Portugal quer ter um futebol cada vez melhor, cada vez mais forte, cada vez mais profissional, precisa de contar com os melhores a cem por cento.

Precisa que o acesso aos cursos de treinador seja mais fácil, e já agora justo, para os treinadores que de facto precisam dele. Um treinador como Luís Freire, que conta com seis subidas no currículo, entre elas uma à Liga, não pode ser rejeitado duas vezes no acesso ao nível III.

Pura e simplesmente, não pode acontecer: é preciso haver lugar para quem realmente o merece.

Nem que para isso se tenha que reciclar.

Certo é que, dê por onde der, tem que se resolver esta situação. De uma vez por todas. Enquanto isso não acontecer, o futebol português vai continuar a arrastar-se em pântanos da vergonha.

Como por estes dias.