Antes de mais, um aplauso.

O que Luís Filipe Vieira fez esta quinta-feira merece um louvor. O presidente encarnado decidiu encerrar vinte e quatro horas tumultuosas na vida do Benfica com uma conferência de imprensa, na qual deu a cara, respondeu a todas as perguntas e não procurou bodes expiatórios.

O normal nestas situações é, cada vez mais, haver uma declaração sem direito a perguntas. Em casos muito esporádicos jura-se a pés juntos que é tudo mentira e atira-se as culpas para cima dos jornalistas, esses mentirosos compulsivos, dizem eles, que nunca escrevem a verdade.

Luís Filipe Vieira não fez nada disso. Disse que as notícias eram verdadeiras, que Rui Vitória esteve praticamente despedido e que a responsabilidade pelo mortal à retaguarda era dele.

Deu a cara e o peito, ficando agora à espera das balas. Foi corajoso e sério.

Para lá disso, a ideia que fica é que deixou Rui Vitória a queimar em lume brando. Por que esteve ele, afinal, praticamente despedido? Provavelmente porque naquela altura se pensou que já não era um treinador capaz para o Benfica. O que o fragiliza perante jogadores, adeptos e adversários.

Mas há mais.

Luís Filipe Vieira disse que duas das coisas que pensou durante a noite de meditação no Seixal é que, por um lado, se optasse por um treinador interino poderia «chamuscar» esse nome para o futuro e, por outro lado, não é fácil arranjar um treinador para o projeto do Benfica em 48 horas.

Rui Vitória tornou-se, desde esta sexta-feira, uma segunda escolha, portanto.

Ainda que o presidente repita que continua a acreditar nele, que ele continua a ser o homem certo no lugar certo e que Jorge Jesus também esteve com um pé fora do Benfica, nada se torna mais importante do que aquelas palavras em forma de letrinhas pequeninas no final do contrato: as palavras que no final contam, porque não foi possível escondê-las.

Uma coisa é certa, portanto: no final destas vinte e quatro horas de rebuliço e barafunda, sobra a impressão que o Benfica ficou ainda pior.

Nada do que aconteceu nesta narrativa do sai, não sai, se calhar sai mesmo, afinal fica, beneficiou o clube, o ambiente em torno da equipa ou o sentimento de estabilidade que Vieira tanto preza.

O que nos permite regressar à conferência de imprensa para dizer que o presidente encarnado acertou na forma, mas falhou no conteúdo.

O saldo, esse, é negativo.