Luís Filipe Vieira afirmou após a derrota do Benfica na Madeira que ele era o único culpado. Não é nada de novo: foi uma admissão de culpa quase vazia, esmagada logo a seguir pelo habitual discurso de vitimização e pela apologia do caos que significa qualquer conversa com a família.

Há coisas que os anos não mudam e esta estratégia já tem barbas.

Voltando ao essencial, portanto, interessa dizer que Vieira não é o único culpado, mas é o maior seguramente.

Claro que Bruno Lage também possui parte da culpa, há opções difíceis de entender, mas o treinador tem a atenuante de ter sido vítima de uma instabilidade potenciada pelo presidente.

Lage foi incapaz de resolver algumas fragilidades que a equipa do Benfica foi adquirindo, e outras que ele próprio provocou. A incapacidade de substituir João Félix (e Jonas, claro), a alteração constante da frente de ataque, a falta de intensidade defensiva gerada pela entrada de Weigl.

Enfim, Bruno Lage cometeu vários erros, enfraqueceu a equipa e tornou os jogadores mentalmente menos fortes: impressionante o que aconteceu a Ferro, Gabriel, Vinicius ou Seferovic.

Ora tudo isto é verdade, mas não muda o essencial. O principal culpado é Luís Filipe Vieira, que tem feito um trabalho brilhante no clube, mas continua a errar num aspeto essencial: a capacidade de transmitir estabilidade à equipa.

Sobretudo desde a saída de Jorge Jesus, à mínima derrota gera-se a dúvida em torno do treinador. Parece que a sombra de Jesus está sempre presente, ameaçadora, densa e cruel.

Luís Filipe Vieira não costuma ser capaz de afastar essa instabilidade, mas desta vez aumentou-a com a aproximação feita, e tornada pública para toda a gente, ao atual treinador do Flamengo. Não se defende um treinador cobiçando outro. Bem pelo contrário.

Bruno Lage acabou assim por cair num buraco.

No ano passado esteve a perder por 2-0 com o Rio Ave, virou o resultado para 4-2 e arrancou para uma sequência admirável. Este ano esteve a vencer por 2-0 em Portimão e acabou por empatar.

A bola que entra ou não entra criou as primeiras dúvidas e a partir daí gerou-se uma bola de neve. O treinador mergulhou numa crise e Vieira foi incapaz de lhe dar a estabilidade para sair dela. Pelo contrário, parece que o presidente quis sempre manter Bruno Lage em banho maria, até se tornar totalmente incomportável ao treinador continuar no clube.

É um problema recorrente do presidente, que mostra um défice de inteligência emocional para resolver os problemas. Quem não se lembra da luz vista durante a noite com Rui Vitória?

Por isso sim, Luís Filipe Vieira é o maior culpado. E continuará a sê-lo, enquanto não perceber que uma derrota, ou uma época má, não pode colocar em causa um projeto.

Momentos maus todas as equipas têm. A maneira como se lida com eles é que faz a diferença.