O Estágio do jogador, projecto promovido pelo sindicato de jogadores profissionais de futebol e que se enquadra numa perspectiva de emprego para jogadores «desempregados», inaugurou esta terça-feira a sua IX edição no Estádio Municipal da Lavandeira, em Vila Nova de Gaia, e contou com a presença de trinta jogadores, dos quais só três foram jogadores profissionais.

Segundo Nandinho, treinador do sindicato, a principal razão para esta fraca afluência de jogadores profissionais é a vergonha: «O jogador profissional sente um bocado de vergonha de vir para o estágio do sindicato, pois sentem que é um desprestígio», mas o treinador opôs-se a esta ideia. «Nós temos exemplos bem recentes de jogadores que passaram por aqui e que hoje estão no topo do futebol português. É o caso do Miguel Garcia, Paulo Santos, Hugo Moraes, que tiveram a humildade de vir estagiar e mostrar o valor deles. Se ficarem em casa à espera que o telefone toque as coisas não acontecem», garantiu.

Um exemplo de que o trabalho compensa é Filipe Cândido que, aos 31 anos, não vive do passado e não tem vergonha de aparecer nestes estágios do jogador. Aos 17 anos, foi contratado pelo Real Madrid, aos 18 estreou-se na então Superliga ao serviço do Vitória de Setúbal. Jogou no Salgueiros, Felgueiras e Leça, foi para Coreia, Bulgária e Grécia.

«Já joguei com o Etoo, Simão Sabrosa, Deco e não consegui chegar ao patamar que eles alcançaram, mas mantenho muita ambição e muita paixão pelo jogo e é isso que me faz estar mais uma vez a dar a cara pelo sindicato», explica Filipe Cândido.

Mas também chegam a estes estágios jogadores com esperanças e sonhos de conseguir aquela hipótese, aquela oportunidade que os fará singrar no mundo profissional de futebol, é o caso de Juninho de 24 anos, que veio do Brasil há quatro anos, com o sonho de jogar futebol e de ajudar a família.

«Vim para jogar no Cabeceirense, da III divisão, mas quando cá cheguei, o clube já tinha o destino traçado da descida. Em clube que desce, geralmente não se olha para os jogadores, pois acham que são fracos», explicou o brasileiro.

Jogou futsal dois anos e na última época representou o Cavez, clube dos distritais de Braga. Sente-se «um bocado» frustrado. «Todos queremos vencer na vida», afirma, ao mesmo tempo que confessa ser complicado ligar para o Brasil e dizer à mãe que está tudo bem. Neste estágio vai «brigar» por um contrato melhor, até porque a «esperança é a última a morrer».

A IX edição do Estagio do jogador decorre até 31 de Agosto em Lisboa e em Vila Nova de Gaia.