Artigo actualizado. No fim. O original foi escrito a 9 de Setembro

O presidente da União de Leiria possui quase tudo o que acho dispensável num dirigente desportivo.

Por isso não vou maçar o leitor com um texto sobre o despedimento do treinador da U. Leiria.

Vou dizer uma coisa ligeiramente diferente.

Sendo justo que os clubes possam contratar e despedir quem muito bem entendem, deveria existir uma forma de a Liga evitar este tipo de atitude.

Eu sei que a minha posição em determinados temas ligados à organização do futebol português tende a aproximar-se do paternalismo. Na maior parte dos dias, se defendo alguma coisa é a existência de menos regras e mais bom senso. Menos leis e melhor aplicação das condições básicas de vida em sociedade. Menos complicação, mais simplicidade.

Mas depois quando penso no futebol português dou por mim a achar algo diferente. Às vezes muito diferente. Sugiro mais normais, mais regras, mais proibições, mais vigilância, sempre mais.

No fundo, estou convencido de que a maior parte dos dirigentes de clubes não gosta de futebol. Está no futebol como podia estar em outro lado. Com a diferença de que se estivesse em outro lado, o futebol provavelmente estaria melhor. E esta ideia agradar-me-ia.

No fundo, acho que o futebol, pelo menos o português, devia ser protegido dos dirigentes que tem.

Eu sei que a coisa é impossível e provavelmente até pouco democrática. Eu não sou assim. Mas o futebol põe-me assim.

No fundo, o que eu queria mesmo é que alguns dirigentes não existissem. Não me interpretem mal. Eles podem existir, claro. Mas não como dirigentes. Não no futebol, onde me transtorna encontrá-los.

No fundo, gostava que o treinador da União de Leiria continuasse a chamar-se Caixinha. Não por o achar espantosamente competente, mas sim por estar convencido que perder 5-2 com o F.C. Porto acontece a toda a gente. E porque vi o jogo e sei que Caixinha quis jogar à bola. E até conseguiu, às vezes. E também não por achar que Vítor Pontes merecia continuar comentador de tv em vez de voltar a vestir o fato.

Nada disso. Gostava que Caixinha fosse o treinador da U. Leiria porque isso significava que o clube tinha um bom presidente. E eu gosto de bons presidentes. Pode não parecer, mas gosto. Pelo menos sei que vou gostar quando conhecer um. Como diria se este texto fosse um comunicado da U. Leiria sobre um despedimento, «tal deve-se apenas e só, à falta de sorte». A minha falta, seguramente.

Até lá, gostava mesmo que estas coisas sem sentido aparente não sucedessem, que existissem regras que auxiliassem as pessoas a respeitar o futebol português. Se não fosse pedir muito.

ActualizaçãoUns dias depois deste texto, o presidente da União de Leiria despediu Vítor Pontes e contratou Manuel Cajuda. Felizmente o texto continuava em destaque na coluna, por isso não sou obrigado a escrever de novo sobre a coisa. Basta actualizá-lo. Se tivesse de escrever, de resto, o leitor não teria oportunidade de ler o texto. Não seria publicável num jornal.