O Sporting vai estrear-se na Liga Europa com o pentacampeão do Azerbaijão, uma equipa que tem nas fileiras o bem conhecido dos leões Simeon Slavchev e o ex-Boavista Vágner.

Se no campeonato azeri, o Qarabag não tem dado hipótese à concorrência, a nível europeu não se tem evidenciado, ainda que na última época tenha empatado duas vezes com o Atlético de Madrid, na fase de grupos da Liga dos Campeões.

Esta época, o conjunto comandado por Qurban Qurbanov voltou a tentar o acesso à liga milionária, mas acabou por cair aos pés do BATE Borisov, já depois de eliminar o Olimpija Ljubljana (Eslovénia) e o Kukesi (Albânia).

Descida para a Liga Europa, onde no playoff o Qarabag superiorizou-se ao Sherriff (Moldávia), apesar da derrota fora de casa na 1.ª mão.

Para os azeris a época já vai longa, com 11 jogos oficiais: cinco vitórias, quatro empates e duas derrotas.

Ao conjunto de Qurbanov chegaram vários reforços, alguns deles diretos ao onze titular, como é exemplo dos dois jogadores supra-mencionados. Aliás, Vágner chegou e superiorizou-se ao também reforço Halldórsson, guarda-redes islandês que parou o penálti de Messi no Mundial 2018 e que apenas fez dois jogos esta temporada, os dois da eliminatória com o BATE.

Onze-base do Qarabag

A equipa azeri organiza-se em 4-2-3-1, mas as dinâmicas ofensivas colocam a equipa quase sempre em 3-4-3.
 

COMO ATACA O QARABAG

Os azeris gostam de ter bola e assumem quase sempre a construção a partir do setor mais recuado.

Até ao momento, foram sempre superiores aos adversários que encontraram e mesmo com o BATE a iniciativa foi sempre do Qarabag, tendo vários erros individuais causado um dissabor na eliminatória. Mas já lá vamos.

Normalmente, em posse de bola, o Qarabag constrói com três atrás, sendo que o central-direito (Guseynov) se coloca como homem mais recuado, com o central-esquerdo (Sadygov) a abrir no lado esquerdo. Do lado direito ou fica o lateral-direito (Medvedev) ou o médio defensivo (Garayev).

Jogo com o BATE Borisov, fora de casa. Lateral Medvedev fica do lado direito, Sadygov, central-esquerdo, abre e permite ao lateral-esquerdo Guerrier subir no terreno.  
Jogo com o BATE Borisov em casa, a mesma situação
Aqui a nuance utilizada no duelo com o Sheriff. Agora é o médio-defensivo, Garayev, a ocupar o lado direito, permitindo a subida do lateral Medvedev. Assim, Slavchev, o médio-centro na imagem, recua e ocupa a posição que antes era de Garayev.
Mal o Qarabag recuperou a bola na esquerda, o médio Garayev abre na direita para a formação a três e Medvedev projeta-se. Não se vê na imagem, mas perante isto o extremo Madatov deixa a faixa para terrenos interiores

Ora, esta nuance no posicionamento permite a projeção do lateral-esquerdo, Guerrier, e no segundo caso também do lateral-direito, Medvedev. Caso, o lateral-direito fique recuado na estrutura de três, alternadamente um dos médios-centro e o extremo-direito ocupam a ala direita.

Assinalado na imagem, o lateral Guerrier é um "autêntico extremo". Com a camisola 5 na imagem, o lateral-direito não se projeta, já que neste jogo fazia parte da defesa a três. A ala direita fica para o extremo.

O objetivo é ter sempre os extremos em terrenos interiores, quer para potenciar a capacidade de remate, já que o canhoto Madatov joga na direita e o destro Zoubir joga na esquerda, quer para lhes dar as rédeas da decisão, já que são os jogadores mais criativos e que mais desequilibram.

Extremo vem dentro e os médios entram no bloco para dar linhas de passe. Pressão quebrada.

Qurbanov pede aos seus jogadores, sobretudo os médios Slavchev e Ozobic/Michel para entrarem no bloco rival, e quase sempre esses dois médios e os extremos estão entre as linhas adversárias à espera dos passes verticais para criar desequilíbrio.

Zoubir (extremo-esquerdo) tem a bola, flete para dentro e tem de imediato um médio, com possibilidade de entrar no bloco, para colocar a bola. O camisola 77 é o lateral-esquerdo e vai novamente arrancar até à linha de fundo
Muitos homens de imediato metidos no bloco à espera do passes frontais quer dos centrais quer do médio mais recuado
Muita gente já dentro do bloco adversário (há ainda mais um jogador à esquerda que não se vê na imagem), mas desta vez longe do portador da bola. Muitas vezes há essa precipitação em entrar no bloco, em vez de dar linha de passe.

Conseguindo ultrapassar as linhas dos rivais, o Qarabag coloca muita gente em zona de finalização e não é estranho ver cinco homens na área.

Cinco homens na área para a finalização. Chegando ao último terço, o Qarabag usa muito este tipo de solução.
Quatro homens para finalizar, a bola é colocada ao segundo poste com o extremo a devolver de cabeça para o centro da área. Apareceu o médio Michel (que substitui várias vezes Ozobic) a fazer o golo.
Três homens na área e mais um a chegar.

Apesar do povoamento na zona ofensiva, o Qarabag tem várias dificuldades em construir no último terço e vive muito das individualidades dos dois extremos e do "n.º10", Ozobic.

Ozobic tem ainda um grande trunfo: a meia-distância.

O avançado do Qarabag é o suíço Emeghara, que esta época apenas marcou um golo e já falhou uma grande penalidade.

Emeghara é muito forte nos duelos, mas tem tido pouca presença na área. O camisola 7 sai muito das zonas de finalização para procurar tabelas ou decidir individualmente, mas não tem sido feliz.

Ocupa muitas vezes o lado direito do terreno, ou faz diagonais do centro para a esquerda quando o extremo Zoubir pisa terrenos centrais.

Avançado Emeghara recua e os dois médios centro colocam-se logo na área ou à entrada desta
Avançado recua e Slavchev, o médio assinalado na imagem, entra na área.
Avançado recua para tabelar, mas aqui ainda ninguém ocupou o espaço de finalização. Algo raro.

Quando na área, Emeghara procura a zona do penálti para finalizar e pede muitas vezes a bola pelo chão para o remate.

Apesar de ser uma equipa que procura a posse e construir de forma lenta a partir de trás, para depois lá na frente Zoubir, Ozobic e Madatov acelerarem, o Qarabag torna-se letal quando consegue fazer transições rápidas defesa-ataque, explorando a profundidade de Emeghara. Aí ele é fortíssimo, mas esta época tem tido poucas oportunidades para isso.

Exceção à regra foi o duelo com o Kukesi, no qual brilhou e “deu cabo” dos albaneses ao aproveitar os espaços nas costas.

COMO DEFENDE O QARABAG

A estrutura defensiva é um 4-2-3-1, com Slavchev ao lado de Garayev, num duplo-pivot no miolo. Depois, Madatov, Ozobic e Zoubir fazem uma linha de três à sua frente (ver imagem) com Emeghara sozinho a cortar linhas de passe aos centrais.

Emeghara (assinalado com um círculo) tenta evitar o passe para o médio-defensivo

Os azeris têm dois problemas claros: o espaço entre médios e defesa e a transição ataque-defesa.

Com o Sporting, as lacunas na transição ataque-defesa podem não ser tão evidentes porque é expectável que os leões assumam a responsabilidade do jogo e não permitam muita posse e instalação do Qarabag no meio-campo ofensivo, como tem acontecido em todos os jogos esta época.

Em posse, o Qarabag coloca muitos homens no último terço, o que ajuda na reação à perda de bola, mas caso esta não resulte surge um problema muito complicado. Não raras vezes, os azeris ficam em dois para dois ou três para três no reduto defensivo.

Um simples passe do BATE, após roubar a bola à entrada da sua área, deixou no ataque os seus avançados em 2x2. 

Relacionado com esta lacuna está o posicionamento de Guerrier. O lateral funciona como um extremo e nos momentos da perda está quase sempre longe do oponente, ficando o seu espaço muito descoberto. Sadygov tenta ocupar esse espaço, mas é muito lento e quase sempre precipitado na pressão, colocando os colegas em desvantagem numérica ao centro ou com dificuldades em recuperar posições.

O sistema de compensações do Qarabag é muito limitado (ver imagem abaixo de golo sofrido), o que permite aos rivais criar facilmente perigo em situações de transição.

Depois há o problema do espaço entre as linhas. No meio-campo, as marcações não são zonais, mas sim homem a homem, o que faz com que movimentos dos médios rivais criem facilmente espaço para outros jogadores ocuparem.

A marcação homem a homem faz com que os médios desocupem os seus lugares e deixem muito espaço para o adversário jogar
Dois médios atraídos e muito espaço para jogar
O espaço na linha defensiva

Devido a isto, o Qarabag oferece muito espaço em zonas centrais, perfeitas para o remate. Aí Nani, Bruno Fernandes e Raphinha podem decidir.

Há mais uma nota muito relevante para o Sporting.

Os centrais, sobretudo Sadygov, cometem muitos erros na construção e “oferecem” muitas vezes a bola. Dos quatro golos sofridos esta época, dois deles foram assim:

Sadygov faz um mau passe, o adversário vai recuperar e o lance vai acabar em golo. Ver próxima imagem.
Após o erro, Sadygov não ficou na contenção e saiu na pressão, o que abriu espaço nas suas costas e impediu que o médio conseguisse chegar a tempo de acompanhar o rival. O lateral-direito estava muito aberto, o que não permitiu fechar o espaço antes do cruzamento ao 2.º poste, que acabaria em golo.

Veja dois dos quatro golos sofridos pelo Qarabag esta época.

Outro problema é a formação da linha defensiva, novamente com Sadygov a ser um alvo a explorar.

BOLAS PARADAS

Ofensivamente, o Qarabag já ensaiou cantos diferentes. A procura do segundo poste é constante, mas os azeris optam várias vezes pelo canto curto, seguido de cruzamento ou de um lance um para um na linha, consoante o espaço existente.

Há ainda um canto que foi utilizado duas vezes.

Sadygov, assinalado na imagem, vai receber a bola para o remate. Qarabag já utilizou duas vezes este canto.

Uma nota curiosa para os cantos do Qarabag. Muitas vezes é o veterano central Sadygov, a cobrar, com o outro central, Guseynov, a não subir no terreno. São os dois laterais, Guerrier e Medvedev, a subir, sendo que o esquerdino já fez dois golos na sequência destes lances.

Defensivamente, o Qarabag opta por uma marcação homem a homem, tendo apenas um jogador à zona na pequena-área e um jogador em cada poste.