A FIGURA: Perisic

O extremo do Inter já tinha brilhado diante da Rep. Checa, marcando o primeiro golo dos croatas, no que parecia destinado a transformar-se numa vitória clara, não fosse o ato de sabotagem dos seus próprios adeptos. Ao terceiro jogo, porém, a fasquia ficou mais alta e Perisic respondeu com uma exibição de gala, coroada com a assistência para o primeiro golo e para o remate decisivo no segundo.

Mesmo com o apuramento garantido, a discussão do primeiro lugar no grupo era importante, por permitir evitar a Itália nos oitavos – e por isso Del Bosque não mexeu uma vírgula no habitual onze da «Roja». Mas, apesar de privada do maestro Modric, e de gerir outros quatro titulares, a Croácia foi capaz de bater a bicampeã em título, algo que já não acontecia em Europeus desde 2004 (ah, aquele golo de Nuno Gomes!).

Coube a Perisic a honra de marcar o golo da reviravolta (apenas a segunda neste Euro), ao cair do pano, beneficiando ainda de um toque feliz na ponta da bota de Piqué. Mas a Croácia mereceu a sorte que teve: soube procurá-la, com as arrancadas do seu ala esquerdo a acentuarem a gradual intranquilidade de uma Espanha que não sofria golos há 735 minutos. A importância deste golo no futuro do torneio poderá só ficar totalmente clara daqui por uns tempos. Para já, desequilibrou por completo uma metade do quadro, atirando Espanha para os braços de Itália, Alemanha e França, e reforçando a ideia de que vai ser preciso levar esta Croácia muito a sério.

O MOMENTO: Ramos falha o penalti

Antes e durante o jogo temia-se que os adeptos croatas repetissem os incidentes da partida com a Rep. Checa, mas o dispositivo de segurança parece, desta vez, ter sido suficiente. Nem sequer quando o árbitro Bjorn Kuipers assinalou um penalti inexistente a favor da Espanha (74 min), por alegada falta sobre David Silva, a contestação excedeu os limites. Quando Sergio Ramos, que já tinha sido réu no golo de Kalinic, tomou balanço para executar o castigo, Kuipers apagou um erro com outro, permitindo a Subasic adiantar-se uns bons passos e deter o remate do capitão espanhol. Depois de Cristiano Ronaldo contra a Áustria, foi apenas o segundo penálti falhado neste Europeu, novamente por um capitão de equipa e por uma figura do Real Madrid.

A FRASE

«Sozinho, poderia ter passado para a frente da lista dos marcadores»

(Thomas Müller, avançado da Alemanha que ainda não marcou neste Euro, comentando as oportunidades falhadas diante da Irlanda do Norte, num jogo em que a Alemanha fez 28 remates e o guarda-redes McGovern efetuou oito defesas)

 

REVELAÇÃO: Kimmich

O adeus à seleção de Philipp Lahm, depois do Mundial 2014, tinha deixado a Alemanha privada de um lateral-direito que acrescentasse dimensão ofensiva ao seu jogo. Talvez o tenha encontrado neste médio de formação, que há apenas um ano estava a participar no Europeu de sub-21 (e a ser goleado por 5-0 pela seleção portuguesa). Com 23 jogos pelo Bayern, na época de estreia, Kimmich cresceu com Lahm e Guardiola, como era inevitável, e parece ter argumentos técnicos e táticos para jogar tanto no meio como na lateral. A sua estreia no Campeonato da Europa não passou despercebida. Terá o número 21 da Alemanha a dimensão de Lahm para ser capaz de fazer bem tantos papeis diferentes? Os próximos jogos ajudarão a responder

FACTO: Irlanda do Norte nos oitavos

Ninguém faz a festa como eles! Nem mesmo submetidos a um dos maiores sufocos deste Europeu, com a Alemanha a bombardear a baliza de McGovern de todos os ângulos possíveis, os adeptos da Irlanda do Norte deixaram de agitar o Parque dos Príncipes com o incontornável cântico «Will Grigg’s on fire». Para cumprir a tradição, o selecionador Michael O’Neill não lançou em campo o avançado mais falado (e menos visto) deste campeonato, mas a confirmação chegou ao fim da noite, com a vitória da Turquia sobre a Rep. Checa: a Irlanda do Norte e os seus adeptos magníficos continuam no Europeu, pelo menos até ao próximo fim de semana. E Will Grigg também. Olhando para estas imagens, alguém ousa dizer que não é merecido?

IMAGEM

Enorme deceção nos dois primeiros jogos, quando foram dominados dos pés à cabeça por Croácia e Espanha, os turcos tiveram uma resposta temperamental, e ultrapassaram a República Checa no terceiro lugar das últimas esperanças. Não só isso, mas os dois golos marcados permitiram-lhes, também, passar a Albânia na corrida a uma vaga entre os melhores terceiros. Ficam agora a torcer por uma ajudinha no grupo E, ou no grupo F. Entre o vendaval de contra-ataque que souberam aplicar, os turcos ficaram a dever a si próprios mais um golo, ou mesmo dois, que poderiam fazer toda a diferença nas contas finais. Mas pelo menos o brio ficou salvo, com uma vitória categórica. Era talento a mais para tão pouco futebol.