A FIGURA: Vardy como Lineker

Mudam os palcos, a lenda continua. Depois da temporada de sonho no Leicester, que culminou com a conquista do título, o ponta de lança prolongou o estado de graça: na sua estreia em grandes torneios de seleções, precisou apenas de 11 minutos para marcar o golo que deu início à primeira e até agora única reviravolta deste Euro, que já leva com nove golos marcados por suplentes. De Vardy se disse que o seu estilo, talhado para o futebol direto, não encaixava bem numa seleção inglesa de passe curto e circulação paciente. Mas contra um ponta de lança em veia (na seleção marcou quatro golos nos últimos cinco remates enquadrados com a baliza), as mais sólidas argumentações caem pela base.E na sequência das exibições desinspiradas do titular Kane, durante jogo e meio, o mais provável é que a lenda tenha mais capítulos em breve. Bónus para fanáticos de curiosidades: o segundo jogador do Leicester, depois de Gary Lineker, a marcar pela Inglaterra em grandes competições estreou-se a jogar com uma proteção no braço, exatamente como o seu antecessor, há 30 anos, no Mundial do México.

O MOMENTO: O golo de McAuley

Desde 1986 que a Irlanda do Norte não chegava a uma fase final, e desde 1982 que não saboreava uma vitória. Neste regresso à elite, a apagadíssima exibição na estreia, com a Polónia (zero remates na baliza), fazia pensar que não seria desta o reencontro com os triunfos. Mas a forte chuvada que se abateu em Lyon, durante o jogo, e o apoio vibrante dos adeptos que pintaram de ver de as bancadas do estádio transfiguraram a equipa. Com a confiança a crescer com o passar do tempo, a festa soltou-se ao minuto 54, quando um cruzamento de Norwood encontrou a cabeça do veterano (36 anos) defesa do West Bromwich Albion, para um remate potente e colocado, sem hipóteses para Pyatov. Desenhava-se aí o primeiro triunfo dos norte-irlandeses num Campeonato da Europa, confirmado por mais um golo de um suplente Mc Ginn, novamente em período de compensações. Depois de Gales e Eslováquia, um terceiro estreante em Europeus ganhava o seu jogo e abria perspetivas de qualificação.

A DESILUSÃO: Yarmolenko

Um remate, três cruzamentos - dos quais só um foi para um companheiro de equipa - zero ocasiões criadas e 3 passes para a frente, dos 31 que efetuou. Para um desequilibrador são números muito fracos, que não explicam tudo o que correu mal à Ucrânia, mas ajudam a entender grande parte. Depois da exibição discreta na derrota com a Alemanha, onde apesar de tudo a equipa deixou alguns sinais interessantes, esperava-se que diante da Irlanda do Norte a estrela do Dínamo Kiev justificasse os créditos e calasse os críticos que o acusam de não render nos grandes palcos. Ao fim de 90 minutos e de uma derrota que deixa os ucranianos como primeira seleção eliminada do Euro, é forçoso reconhecer que talvez os críticos tenham razão. Se ele e Konoplyanka eram as grandes esperanças da Ucrânia em tirar coelhos da cartola, com atuações destas a magia nunca poderia aparecer.

A frase do dia

«Faltou-nos muito no ataque. Não estamos a ser perigosos, temos de melhorar nesse aspeto, porque de outra forma não iremos longe»

Jerome Boateng, central da Alemanha, considerado o melhor em campo no nulo (0-0) com a Polónia.

A IMAGEM: Bale, um bis com pedigree

A foto é do golo de Bale à Inglaterra, de livre direto. Mas podia também ser do golo de Bale à Eslováquia, de livre direto. Juntando-se à lista dos melhores marcadores deste Euro (Payet e Stancu também bisaram), Bale entrou, nesta quinta-feira, num clube bem mais restrito: o dos jogadores que marcaram dois golos de livre direito no mesmo Campeonato da Europa. Os antecessores são ilustres: Michel Platini, em 1984, e Thomas Hassler, em 1992. A este nomes junta-se, como sócio honorário, o de Zinedine Zindane, que marcou também dois livres diretos, mas em edições diferentes (2000 e 2004).

O FACTO: o Europeu do Money-time

Dos 34 golos marcados até agora no Europeu, a grande maioria – 24, mais precisamente – surgiu depois do intervalo. Até aqui, nada de novo, visto que esse é um dado estatístico em todas as grandes competições. O que já não é tão habitual é a percentagem de golos marcados a partir dos 85 minutos: nada menos de dez (!), dos quais seis aconteceram já em período de descontos. A França é a maior especialista nesse particular – marcou três dos seus quatro golos ao cair do pano, mas nesta quinta-feira a Inglaterra tornou-se protagonista, anulando, com o golo de Sturridge nos descontos, a infelidade do golo sofrido no mesmo período, diante da Rússia. Foi a primeira vitória decidida em tempo de descontos (o primeiro golo da França com a Albânia foi ainda antes dos 90), e também a primeira reviravolta deste Euro-2004