DESTINO: 80's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 80's.
GERALDÃO: FC Porto (1987/88 a 1990/91)
No plantel 2016/2017 do FC Porto, os defesas centrais são Felipe, Marcano, Boly e Chidozie. Muitos analistas consideram este o setor mais pobre do plantel de Nuno Espírito Santo. Como os tempos mudam!
Entre 1987 e 1991, na passagem pelas Antas, Geraldão teve 11 defesas centrais como colegas de posição, quase todos de nível insuspeito. Na conversa com o Destino 80s do Maisfutebol, o antigo central brasileiro, hoje com 53 anos e a viver em Belo Horizonte, aceita falar sobre cada um deles.
Geraldão, na primeira pessoa:
. Paulo Pereira (colega entre 1988 e 1991): «Demorou a impor-se, foi paciente e agarrou o lugar. Era um jogador de luta e raça, forte nas bolas aéreas».
. Fernando Couto (1990/1991): «O meu sucessor. Dedicação extrema, perguntava-me tudo sobre a posição, rapaz maravilhoso e de dedicação extrema».
. Aloísio (1990/1991): «Um cavalheiro, um atleta fenomenal, um senhor em todos os sentidos. Exemplar».
. Morato (1989/1990): «Veio do Sporting e não se adaptou. Tinha boas condições para a posição, qualidade, mas não teve oportunidades».
. Demol (1989/1990): «Era um defesa com olhos para o ataque, adorava sair a jogar. Bom jogador, sem dúvida».
. Zé Carlos (1989/1990): «Muita personalidade, forte fisicamente e nas bolas paradas. Durinho»
. Kongolo (1988/1989): «Chegou do Sp. Espinho e tinha limitações técnicas. Era muito veloz e jogava simples. Cortava e entregava. Infelizmente já faleceu».
. Dito (1988/1989): «Classe, muita classe. Não foi titular, mas jogava com alguma regularidade. Veio do Benfica».
. Eduardo Luís (1987 a 1989): «Uma categoria, muito calmo e cheio de confiança em campo. Cometia alguns erros por causa dessa confiança».
. Celso (1987/1988): «Foi ele que me ensinou tudo quando cheguei ao FC Porto. Devo muito a ele, até na forma como melhorei a bater livres».
. Lima Pereira (1987 a 1989): «Fiz dupla com ele na Taça Intercontinental. Muito bom no ar e na marcação».
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GERALDÃO EM ENTREVISTA
MF - Esteve quatro épocas no FC Porto. Qual foi a sua melhor exibição?
G - Impossível responder. A regra era jogar bem, todos ao meu lado jogavam bem. Alguma vez o João Pinto jogou mal? Alguma vez o Madjer jogou mal? Alguma vez o André jogou mal? Não jogavam. Se tivessem um dia menos bom, o colega do lado compensava isso e disfarçava. Diz dezenas de jogos de grande nível no FC Porto».
MF – Em que zona da cidade do Porto vivia na década de 80?
G – Na rua do Molhe, na Foz. Mais tarde também adquiri uma casa na rua de São João de Brito. Que saudade danada da minha vida em Portugal.
MF – Trabalhou com três treinadores no FC Porto. Gostou de todos?
G – Honestamente, sim. O senhor Tomislav Ivic chegou e deu continuidade à equipa campeã da Europa. Era um cavalheiro, sempre me tratou bem. O Quinito tinha um coração extraordinário, sabia tudo sobre futebol, mas a partir de determinada altura todos no balneário sentiram que era preciso mais alguma coisa. E por isso o Artur Jorge foi novamente chamado.
MF – E com o Artur Jorge como foi?
G – Ele conhecia o clube de trás para a frente e decidiu que era altura de mudar. Limpou o balneário e impôs um regime duro, de punho de ferro. Era um treinador durinho, apostava muito na manipulação psicológica, era curto e grosso. Ninguém lhe pedia satisfações por não jogar. Uma vez, um colega meu – não posso revelar o nome – teve coragem para fazer isso e o Artur foi claro: ‘explicações para não jogares? A semana passada jogaste e não me pediste explicações. Sai da minha frente antes que eu perca a cabeça’. Ninguém brincava com ele (risos)».
GERALDÃO NA LIGA PORTUGUESA
. 1987/88: FC Porto, 24 jogos/2 golos (campeão)
. 1988/89. FC Porto, 25 jogos/2 golos (2º lugar)
. 1989/90: FC Porto, 28 jogos/4 golos (campeão)
. 1990/91: FC Porto, 24 jogos/12 golos (2º lugar)
TOTAL: 101 jogos/20 golos
TÍTULOS: 2 Campeonatos Nacionais, 2 Taças, 1 Supertaça, 1 Taça Intercontinental e Supertaça Europeia
MF – É verdade que assinou um pré-contrato com o Benfica em 1991?
G – Mentira pura! Isso nunca aconteceu, jamais. O que se passou foi isto: eu estive quatro temporadas no FC Porto, quase sempre como titular, e nunca fui aumentado nem convidado para renovar. Só a dois meses do final do contrato é que o presidente Pinto da Costa me fez uma proposta.
MF – E não aceitou?
G – Não. E arrependo-me até hoje. Nesse momento faltou-me cabeça fria ou ter uma conversa tranquila com a direção. Não estive bem com o clube e o FC Porto não merecia, pois sempre fui tratado de forma maravilhosa. De repente surgiu uma proposta do PSG e o senhor Pinto da Costa aceitou. Fiquei a dever aos adeptos e aos meus colegas uma saída de outra forma.
MF – Qual foi o avançado mais difícil que encontrou em Portugal?
G – Domingos e Kostadinov (risos). O que eu sofri nos treinos. Bem, na verdade o Rui Águas era terrível pelo ar. Fiquei aliviado quando o FC Porto o contratou. O Paulinho Cascavel, o Isaías e o Ademir também eram fantásticos.
MF – Se fosse convidado a regressar ao FC Porto, aceitava?
G – Eu ia de graça. Quando estive no Marítimo reencontrei o presidente Pinto da Costa e ficou tudo bem entre nós. O Porto é uma paixão que não se explica.