DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.

PAULO NUNES (Benfica, 1997/98)

Quando foi confirmada a contratação de Paulo Nunes pelo Benfica, certamente muitos adeptos imaginaram uma dupla letal com João Vieira Pinto, o 'menino de ouro' da Luz naquela altura.

Afinal, o brasileiro que estava a chegar era conhecido, precisamente, pela dupla que fazia com Mário Jardel, agora principal arma do rival FC Porto na hora de fazer golos. Nunes e Pinto poderiam formar sociedade idêntica? O tempo encarregou-se de provar que não. E rapidamente.

Aliás, ainda hoje, em conversas informais, ao recordar Paulo Nunes não é nada estranho ouvir que um dos problemas teria sido a relação com João Pinto, que não seria a melhor. O brasileiro, nesta conversa com o Maisfutebol, desmente cabalmente essa ideia.

«Não sei de onde tiraram isso. Dava-me muito bem com ele. Aliás, com ele e com todos. Na minha passagem pelo Benfica aconteceram muitas coisas que não esperava, mas não tive qualquer problema seja com que jogador for», garante o antigo avançado.

Aliás, diz mesmo que, quando se incompatibilizou com Manuel José, após um jantar que terminou para lá da hora regulamentar, vários jogadores ficaram do seu lado: «Disseram-lhe que eu não sabia a norma. Pediram-lhe para me perdoar.»

«Muitos diziam que eu o João Pinto não podíamos jogar juntos. Mas porquê? Como é que dois craques não podem jogar juntos?», questiona.

Para o antigo internacional português, de resto, Paulo Nunes só tem elogios: «Ele era um tipo que agregava o grupo. Diziam que ele virava, no balneário, uns contra os outros, mas não. Ele tentava juntar o grupo.»

«Ciúmes de mim? Diziam-me muito isso, é verdade, mas sinceramente não acredito. Eu gostava dele, não só pelo futebol, mas pela personalidade forte. Não acredito nisso. Se é verdade ou não, não sei. Mas não acredito porque um ídolo do Benfica não iria pegar assim por uma coisa tão pequena», considera.

Quando questionámos quem eram os principais amigos no tempo que passou na capital portuguesa, o nome de João Pinto é dos primeiros a sair, até.

«Morava no prédio do Nuno Gomes, saía muito com ele, também o João Pinto, o Leônidas… O Gamarra depois foi meu rival, eu estava no Palmeiras e ele no Corinthians. Só falávamos daí: ‘nossa, que país! Que lugar!’. Fazia alguns churrascos em casa, havia uns meninos do Sporting que também vinham, o Carlos Miguel, o Leandro…Era uma vida que tinha tudo para dar certo. Sinto que poderia ter dado muito, muito certo, mas não correu bem», lamenta.

A paixão pelo símbolo da águia, porém, e apesar de tudo, mantém-se: «Amei Lisboa, amei o Benfica. Achava o estádio lindo, o emblema, a águia…Até a cor, que era a cor do rival do Grémio, o Inter, eu achava linda! Fiz muitos amigos e continuo a torcer pelo Benfica porque merece todo o meu respeito.»

Anos mais tarde, de resto, Paulo Nunes poderia ter voltado a Portugal. «Tive uma proposta do Boavista», conta. Recusou, porém. «Estava já na fase final da carreira. Não quis voltar à Europa, preferi ficar perto da família», justifica.

PARTE I: «Benfica? Não recebia e ainda queriam multar-me»

«Jardel tem bom coração, só atrapalha a si próprio

A conversa com Paulo Nunes foi quase toda centrada no período do Benfica, mas houve outro, antes disso, que também diz alguma coisa ao adepto português. O tempo do Grémio de Porto Alegre, de Luiz Felipe Scolari, em que fazia dupla com Mário Jardel.

Paulo Nunes em ação pelo Grémio na final da Taça Intercontinental de 95

«Foi a melhor dupla da minha carreira», confessa o antigo jogador. «Sempre que vou à zona de Porto Alegre vêm ter comigo a falar disso. Somos ainda os maiores ídolos do Grémio. Era uma dupla infernal. Eu caía para os lados, ia para o drible e o Jardel era o finalizador. Um vivia em função do outro», recorda.

E ainda deixa uma mensagem ao antigo colega: «O Jardel é um irmão meu de coração. Torço para que saia dessa situação difícil. É um tipo de coração imenso, coração bom que não atrapalha ninguém, só se atrapalha a si próprio.»

O dia em que desmaiou aos 2,5 km de uma maratona

Paulo Nunes está desligado do futebol a sério. Não quer ser treinador, não quer ser empresário.

«Ser comentador desportivo era a única posição que me poderia interessar mas isso implicaria mudar-me ou para o Rio de Janeiro ou para São Paulo e, sinceramente, não estou interessado. Tenho toda a minha vida em Goiânia», frisa.

Por isso, futebol, hoje em dia, só nas peladas. Participa em alguns eventos beneficentes onde aproveita para matar saudades do jogo e reencontrar velhos amigos. Também é adepto do futevólei, mas o vício maior…é o ginásio.

Um gosto que ganhou depois de um grande susto.

«Quando encerrei a minha carreira, fiquei praticamente um ano sem fazer qualquer tipo de desporto. Acho que é normal nos jogadores, depois de uma vida tão regrada e cheia de treino. Fiquei sem fazer nada muito tempo. Um dia fui fazer uma maratona com uns amigos e cada amigo tinha de fazer quatro ou cinco quilómetros. Para um atleta isso é muito fácil. Mas eu desmaiei com dois quilómetros e meio! Teve de vir ambulância e tudo, fui parar ao hospital», conta.

A conselho do médico, teve de voltar ao ativo. Tinha de encontrar uma nova forma de praticar desporto. «Aí ganhei amor ao ginásio, à musculação. Hoje não consigo ficar sem treinar. É de segunda à sexta e às vezes ao sábado. É uma coisa que me faz bem», conclui.

Paulo Nunes nos tempos atuais