DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.

JAMIR: Benfica (1996/97) e Alverca (1998 a 2000)

Apesar de ter representado outros clubes brasileiros na carreira, como Flamengo, Fluminense ou até o América, onde pendurou as chuteiras, é inevitável não pensar no Vasco da Gama quando se fala de Romário.

Foram vários anos, incluindo formação, e várias passagens pelo emblema do Rio de Janeiro que transformaram o «Baixinho» numa lenda do clube. Com um poder que parece inimaginável nos dias de hoje.

Eis um exemplo perfeito. Ninguém tem dúvidas que Helton ou Luisão são homens fortes nos balneários de FC Porto e Benfica, por exemplo. Mas já pensaram se, num dia qualquer, sem dar satisfações a ninguém, aparecessem com um amigo para treinar com o restante plantel? Impossível, não é? Mas Romário é diferente.

A história é contada por Jamir, antigo jogador do Benfica, e convidado da rubrica «Destino 90’s». O médio conheceu Romário no Flamengo, onde jogou por empréstimo dos encarnados em 1998.

Voltaria a Portugal para representar o Alverca durante ano e meio e, depois, ficou sem clube. Estava em Porto Alegre e resolveu ligar ao amigo.

«Liguei-lhe e ele foi logo ‘fala aí Cabeça’, que é o nome pelo qual me tratava. E eu fiz a conversa normal ‘então Baixinho como vai’ e essas coisas. Contei-lhe que estava em Porto Alegre, sem clube e ele disse logo na hora: ‘tem como vir amanhã ao Rio de Janeiro?’», conta Jamir.

O combinado foi encontrarem-se às 15 horas à porta do centro de treinos do Vasco da Gama. Jamir comprou a passagem nesse dia e viajou. Achava que Romário o poderia ajudar mas ainda não tinha percebido a que nível.



Jamir e Romário no Vasco (Foto cedida por Jamir)

« Quando cheguei liguei-lhe. Ele disse que estava a chegar, veio pouco depois, entrei no centro dentro do carro dele. Levou-me por uns corredores, eu cada vez mais curioso (risos), até que entramos no balneário do Vasco. E ele disse: ‘vê aí se a roupa te serve’», atira Jamir, em tom bem disposto.

O ex-benfiquista ficou incrédulo: «Eu só dizia: ‘você está maluco? Não falou com ninguém’. E ele só ria e dizia: ‘fica tranquilo Cabeça. Põe aí a roupa e vamos treinar’».

Jamir anuiu. Equipou-se ao lado de um plantel recheado de estrelas. Além de Romário havia Bebeto, Viola, Juninho Pernambucano, Juninho Paulista, Jorginho, Junior Baiano, o ex-benfiquista Valdir Bigode ou Helton (esse mesmo).

«Subi ao relvado e a imprensa estava louca. Ninguém sabia quem eu era, não estava anunciado qualquer reforço, nem sequer se falava nessa possibilidade», continua Jamir.

No final do treino, Romário foi novamente ter com o companheiro. Levava um papel na mão onde rabiscou um número: «Esse salário está bom?».

«Fui contratado pelo Romário, por assim dizer. É para ver a capacidade dele, a moral que ele tinha dentro da equipa. O Romário é uma pessoa fantástica, nada a ver com aquele estilo arrogante que muita gente pensa. Continuamos bons amigos. É um grande personagem e até como político está a fazer um excelente trabalho», remata Jamir.