DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.
EDMILSON: Nacional (1993/94), Salgueiros (1994/95), FC Porto (1995 a 1997), Sporting (1998 a 2001)
Apesar de, no passado recente, os duelos entre Benfica e FC Porto, na Luz, serem bastante divididos a nível de resultado, no passado os triunfos encarnados eram muito mais frequentes. Houve tempos em que era muito difícil ao FC Porto ganhar na Luz e, por isso, aquilo que aconteceu na Supertaça de 1996/97 permanece na história dos dois clubes. Por motivos bem melhores do lado azul e branco, claro.
Não é, assim, de estranhar que Edmílson, convidado desta semana do «Destino: 90’s», não demore muito tempo na conversa a lembrar o jogo. Fala-se do FC Porto de Edmilson, fala-se de ganhar.
«Ganhámos tudo», sublinha. O avançado até passou mais anos no Sporting, mas entende que o associem mais rapidamente ao FC Porto pelo volume de conquistas. «Fui bi e tri campeão. Ganhámos uma Supertaça ao Benfica na Luz, com 5-0…», atira.
Lá está. Os 5-0. Impossível não pedir mais pormenores a quem o viveu por dentro.
«Esse jogo foi inesquecível. Nem nos melhores sonhos pensava ir ao Estádio da Luz e ganhar 5-0. O Benfica tinha grandes jogadores, de seleção brasileira e portuguesa. Correu bem logo de início, o Artur marcou cedo, depois também fiz um golo e sentimos que o Benfica estava a perceber que ia perder. Então tomámos conta do jogo e tudo correu bem, foi o jogo perfeito. Os adeptos do Benfica bateram palmas para nós! Nunca mais uma coisa assim aconteceu na minha carreira entre clubes rivais», descreve.
Os dias seguintes ao jogo foram, também eles, especiais. Na rua recebia agradecimentos, no balneário a alegria contagiava. De jogadores, funcionários, dirigentes...«Valorizamos muito esta vitória. Havia até uma foto dos cinco marcadores dos golos com uma bola na mão, para fazer render esse jogo», recorda.
«Prémio? Sim, houve um prémio especial (risos). Mas não posso dizer qual foi», comenta.
Rejeitou Cruzeiro e Atl. Mineiro para jogar na II Liga
Aqui chegados, convém andar um pouco para trás. A história de Edmilson em Portugal começa bem antes daquele jogo da Luz, claro. Em 1994 aterrou na Madeira, que pouco conhecia, para jogar no Nacional, à época na II Liga.
«Na altura rejeitei propostas do Cruzeiro e do Atlético Mineiro porque tinha o sonho de vir para a Europa. Hoje seria diferente, certamente. Os grandes do Brasil pagam muito bem. Mas o Nacional foi bom para adaptar-me ao país. Fiz grandes amigos e um excelente campeonato», descreve.
A prova é que, no final dessa época, deu logo o salto para a Primeira Liga. Vitória de Guimarães e Gil Vicente tentaram, mas foi o Salgueiros a levar a melhor. «Foi o Ádamo que me convenceu, porque ele tinha uma ligação muito próxima ao Mário Reis. Foi uma escolha muito bem feita. Dei o máximo, fui o terceiro melhor marcador do campeonato e de lá segui para o FC Porto», recorda.
Nas Antas conheceu Bobby Robson e José Mourinho. Mais tarde António Oliveira, um treinador diferente. «Foi jogador, e dos bons, e isso notava-se no trabalho. Sabia como falar connosco no balneário antes de cada jogo. O Robson era diferente, era mais tática, mas tinha um grande trunfo que era o Mourinho, que fazia muito essa parte da motivação», explica.
Chegou, nas suas palavras, «muito quieto». «Sabia que não ia ser fácil ganhar um lugar na equipa. Mas a pré-época ajudou, correu muito bem e quando entrei nunca mais saí. A equipa era cheia de qualidade. Lembro-me que até aquele central que jogou no Chelsea [Ricardo Carvalho] foi emprestado, veja lá bem», sublinha.
«Gostava de tomar os meus copos e sair à noite...»
O balneário do FC Porto estava cheio de referências. Edmilson nem hesita em enumera-las: «Jorge Costa, Vítor Baía, Aloísio...nossa...muita gente mesmo.»
Questionamos se sentiu desde logo a exigência que era jogar no FC Porto e Edmilson não evitou os risos: «Muito, muito! Então eu que gostava de tomar os meus copos e sair à noite...Pior ainda. Houve ali alguns problemas, mas nada de muito grave.»
Aliás, na altura Edmilson chegou mesmo a ter um bar na zona da Foz. Por pouco tempo. «Não deu certo. Entreguei, paguei tudo o que tinha a pagar e não quis mais saber daquilo. Serviu de experiência. Até hoje...» atira. Na vida, como no futebol, há dias que correm bem e outros que correm mal.
Em 1997 Edmilson deixou o FC Porto rumo ao Paris Saint-Germain.
«Fizeram um excelente encaixe. Havia a possibilidade do Deportivo, Bordéus e também me falaram em Itália, julgo que Inter ou Milan. Já se sabe que os clubes precisam vender e eu também queria, como qualquer jogador, outros voos e aumentar o meu contrato. Foi bom para todos», garante.
Aliás, a prova de que a saída aconteceu em bons termos está no convite para voltar, meio ano depois, quando ia com 17 jogos e nenhum golo em França. «Não chegamos a acordo. Optei pelo Sporting», conta.
O título no Sporting: segredo foi Inácio
Abre-se, então, novo capítulo. Em 1998 havia uma janela de transferências em março. O Sporting «atacou» Edmilson e garantiu o reforço, convencido por Carlos Manuel e Manuel Pedrosa, que conhecia do Salgueiros e estavam no Sporting na altura. «Foi a escolha certa. Foram três anos e meio também muito bons. Não ganhei tantos títulos como no FC Porto, mas fomos campeões 18 anos depois», lembra.
Um título numa época atípica que não começou nada bem e até teve troca de treinador. «Com a chegada do Inácio começamos a acreditar no título. O Materazzi é um excelente treinador e excelente pessoa mas os seus métodos não deram certo. O Inácio soube unir o grupo. Depois veio aquele jogo contra o FC Porto que ganhámos 2-0 e que virou o campeonato. Foi o jogo chave», admite.
Edmilson não marcou nesse jogo mas já o tinha feito antes ao seu ex-clube. Aliás, logo ao terceiro jogo que fez pelo Sporting teve de enfrentar o FC Porto. «Há que honrar a camisola que vestimos. Gosto muito do FC Porto, mas tenho de defender o clube que me paga. E o Sporting investiu muito em mim, naquela altura, muito mesmo. Foi estranho, claro. Era contra o Oliveira e tinha quase todos os meus ex-colegas do outro lado. Houve algumas bocas, mas mais brincadeira do que provocação», assegura.
A vitória sobre o FC Porto em Alvalade:
Os números de Edmilson em Portugal
1993/94: Nacional (II Liga)
1994/95: Salgueiros (34 jogos, 15 golos)
1995/96: FC Porto (42 jogos, 14 golos)
1996/97: FC Porto (42 jogos, 16 golos)
1997/98: Sporting (11 jogos, 3 golos)
1998/99: Sporting (26 jogos, 10 golos)
1999/00: Sporting (25 jogos, 2 golos)
2000/01: Sporting (15 jogos, 4 golos)
«Jardel? Vou ser sincero, nem olhava para a área a ver se ele lá estava»
Atualmente Edmilson é presidente de um clube no Brasil, o Espírito Santo, em Colatina. Tem como missão encontrar novos talentos e potencia-los. Acredita, até, que em breve terá alguns no mercado português. «Isto é como garimpar ouro. De vez em quando aparece a pedra preciosa, mas não é fácil», assume.
Bem mais fácil é escolher os jogadores que marcaram a sua carreira. «Jardel, Artur, Vítor Baía, Domingos», recorda, falando do FC Porto. Para Jardel, uma menção especial: «Vou ser sincero, muitas vezes nem olhava para a área a ver se ele estava lá. Levantava para lá e ele aparecia para marcar. Agora tecnicamente…bem, fazer ‘um, dois’ com ele não dava. Esquece isso. O negócio dele era marcar golos mesmo.»
Do Sporting também guarda ótimas memórias de vários craques. Lembra João Pinto, André Cruz e Pedro Barbosa. Lembramos que este último é comentador habitual no jornal e programa. «Ele vai ler isto? Então escreva assim: craque! Craque! Dos melhores com quem joguei. Lento? Que nada, falso lento!»
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