DESTINO: 90's é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINO: 90's.

BAMBO: Boavista (1992 a 1994), União Leiria (1994 a 1995), Estrela Amadora (1995/96) e Farense (1996/97), entre outros.

60 internacionalizações pelas camadas jovens da Seleção Nacional e 33 golos. No início da década de 90, Bambo era uma bela esperança do futebol português.

Alto, possante e um jeito próprio de quem tinha raízes africanas. Luís António Soares Cassamá, nome a despontar nos escalões de formação do Boavista, parecia ter um futuro brilhante pela frente.

Bambo, nome de guerra, encerrava ainda uma particularidade: tinha um gosto tremendo por moda e gostava de andar bem vestido. Com classe.

Essa paixão cresceu ao longo dos anos e Bambo dedica-se atualmente à confeção de roupa em Leeds, Inglaterra. Mas já lá vamos.

O avançado andava pelas seleções nacionais desde 1991 e não esquece uma viagem peculiar à Bélgica, onde surpreendeu o grupo com os seus investimentos.

«Sempre gostei muito de moda, porque a minha mãe era costureira, e lembro-me de ir com a seleção à Bélgica, tinha eu 16 anos, e de todos recebermos dinheiro da Federação para gastar no que quiséssemos. Lá fomos para a rua e eu gastei tudo em apenas duas coisas: umas calças Levi’s e um cinto da Diesel. Ou seja, gastei o dinheiro todo da seleção numas calças e um cinto, mas não me arrependo.»

Vestir bem sempre foi importante para o antigo jogador, como reconhece em conversa com o Maisfutebol.

«Quando voltámos, cada um teve de explicar onde gastou o dinheiro e ficaram todos espantados. O Nuno Afonso até estranhou o facto de eu conhecer a Diesel. Olhe, o cinto foi bem caro, é certo, mas o meu irmão está na Alemanha e ainda o usa, está bom e já passaram mais de vinte anos.»



Voltemos ao futebol, deixando essa conversa para depois. Bambo crescia e chegava à seleção sub-20, a um grupo que carregava nos ombros o peso de duas conquistas mundiais. Era o Portugal de 1993, aquele que veio depois dos gloriosos 1989 e 1991.

A equipa lusa, com Agostinho Oliveira no comando técnico, chega ao Campeonato do Mundo da categoria mas perde-se em terras australianas. Três jogos na fase de grupos e igual número de derrotas. Uma despedida sem glória.

«Tínhamos uma geração de qualidade, tínhamos o Litos, o Nuno Afonso, o Poejo, o Porfírio, mas sentimos demasiado a saída de Carlos Queiroz para a seleção principal. Fez um grande trabalho nas camadas jovens de Portugal e isso nunca devia ser esquecido.»

Portugal perde com Alemanha (1-0), Uruguai (2-1) e Gana (2-0). Pela primeira e única vez na história, a seleção nacional termina um Mundial sub-20 sem pontos. E apenas com um golo marcado: por Bambo.

O avançado termina o seu percurso nas camadas jovens da seleção, chegando aos sub-21, enquanto procura espaço no plantel do Boavista. Faz a estreia na Liga em 1992/93, cumpre duas épocas na equipa principal dos axadrezados mas não vai além dos 16 jogos.

«Tive pouca sorte, falta de oportunidades mas também é verdade que nessa altura o Boavista tinha grandes nomes no ataque. Havia o Ricky, o Marlon Brandão, o Nélson Bertollazi, jogadores mais velhos e com mais experiência.»

Bambo segue para a União de Leiria, depois Estrela da Amadora e Farense. São mais de cinquenta jogos no escalão principal de futebol português e poucos golos para acompanhar o crescimento.

«Como disse, não tive muita sorte. Entretanto apareceram as lesões, mas mesmo assim fico feliz pela carreira que tive, consegui coisas bonitas no futebol, sobretudo pela seleção nacional.»

Felgueiras, Nacional, Esposende e Ribeira Brava recebem o avançado antes de uma viagem rumo a França. É em Grenoble que o jogador, já na temporada 2000/01, termina a carreira.

«Estava já com muitos problemas no joelho e tive de parar. Fiquei cinco anos em Grenoble, onde comecei a trabalhar numa loja de roupa, e aí comecei a preparar o que seria o meu futuro. Entretanto, como tinha uma irmã em Leeds, segui o seu conselho e vim para Inglaterra, onde estou até hoje.»

Bambo, agora Luís Cassamá - «só usava o Bambo no futebol» - apresenta-se como designer de moda na cidade inglesa. Tem atualmente 40 anos. Para trás ficaram os jogos. E os golos, muitos, na fase da adolescência.