DESTINOS é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINOS.

TONI: FC Porto (1991 a 1994); Sp. Braga (1994); Beira-Mar (1994/1995); Salgueiros (1995 a 1998); Marítimo (1998/1999) 

A festa do golo num sorriso de menino. A rede balançava e Toni corria, corria, camisola agarrada com as mãos da felicidade. E Toni sorria. Campeão do mundo em 1991 por Portugal, bicampeão nacional pelo FC Porto, operário da construção civil no Luxemburgo, assessor do Ministério de Desportos na Guiné-Bissau. Que vida, Toni!

Avançado veloz, incapaz de se consolar com o peso da solidão numa grande área. Toni é amizade, Toni é o abraço do golo. Nado e criado em Bissau, descoberto pelo FC Porto na adolescência, promovido à equipa A no pós-Mundial e quase esquecido nas escolhas dos saudosos Carlos Alberto Silva e Tomislav Ivic.

Pela primeira vez, Toni desabafa em público. Os 47 anos autorizam-lhe o desabar de memórias e o recordar de momentos antigos. Bons e maus. Domingos e Kostadinov taparam-lhe o caminho da titularidade nas Antas, as opções técnicas conduziram-no aos empréstimos [Sp. Braga e Beira-Mar], uma pubalgia estragou-lhe a evolução, o Salgueiros foi o porto de abrigo possível.

A partir de Bissau, numa conversa animada, Toni abre o coração ao Maisfutebol. Um senhor. O título, caro leitor, é a pergunta inconformada do patrão do antigo avançado no Luxemburgo. Um homem que nunca suspeitou que empregava um campeão do mundo. É mais um DESTINO: 90s.

TONI NO CAMPEONATO NACIONAL: 

. 1991/1992: FC Porto, 11 jogos/1 golo (campeão nacional)
. 1992/1993: FC Porto, 12 jogos/1 golo (campeão nacional)
. 1993/1994: FC Porto, 2 jogos (2º lugar) + Sp. Braga, 19 jogos/4 golos (15º lugar)
. 1994/1995: Beira-Mar, 17 jogos/3 golos (17º)
. 1995/1996: Salgueiros, 22 jogos/7 golos (10º)
. 1996/1997: Salgueiros, 27 jogos/4 golos (6º)
. 1997/1998: Salgueiros, 23 jogos/3 golos (8º)
. 1998/1999: Marítimo, 14 jogos/3 golos (10º)
. 1999/2000: Marítimo, 1 jogo (6º)

TOTAL NA LIGA PORTUGUESA: 129 jogos/22 golos

Toni ao lado de Fernando Gomes, o grande ídolo

Maisfutebol –  O Toni continua a trabalhar no Ministério de Desporto da Guiné Bissau?
Toni – Continuo, continuo. Estou a tentar dar um empurrão para ajudar ao desenvolvimento do futebol no país.

Qual é o cenário atual do futebol na Guiné?
Infelizmente, não estou na federação e não consigo ser tão útil como queria. Gostava de expandir todo o potencial do nosso país. Estive muito tempo fora do meu país. As coisas estão muito, muito diferentes. Para melhor ou para pior? Digo para pior porque há mais ferramentas e não somos capazes de utilizá-las. O futebol pode ser uma opção profissional rentável e as pessoas na Guiné ainda não perceberam isso. Os governantes olham para o futebol como um passatempo para os que não têm ocupação. Quero mudar essa mentalidade. Com uma aposta séria no Desporto, a Saúde do país será melhor. Essa é a minha aposta e estou envolvido completamente nesse processo.

Nasceu em Bissau e veio para Portugal com que idade?
Tinha 16 anos. Fui para os juvenis do FC Porto. Fiz um ano nos juvenis, dois nos juniores e três nos seniores.

Como é que o FC Porto o descobriu na Guiné-Bissau?
Foi através do empresário Cátio Baldé. Ele já tinha alguns jogadores em Portugal, como o Samuel e o Forbs, e viu-me a jogar naquilo que se chamava Campeonato do Defeso. Gostou do meu futebol, falou com os meus tios – as pessoas que me criaram – e levou-me para Portugal. Eu já tinha alguma simpatia pelo FC Porto em Bissau, muito por culpa do Fernando Gomes, e decidimos aceitar a oferta do clube. Fiquei logo encantado como clube e com a cidade. Aliás, o Porto é a minha primeira cidade até hoje. Primeira.

Ainda visita regularmente o Porto?
Sim, sim, tenho aí a minha filha Andreia Alexandra, que já tem 22 anos. E tenho grandes amigos, claro. O Tulipa, a minha irmã Alice e as pessoas do FC Porto. O senhor Pinto da Costa e o senhor Reinaldo Teles. Mantenho uma grande amizade com eles. Ah, claro, e sempre que vou tenho de comer no mínimo uma francesinha.

Na Guiné-Bissau não se arranja uma boa francesinha?
Não, não. Há uns tempos fui a um restaurante em Bissau de um senhor do Porto, disseram-me que ele fazia lá boas francesinhas. Cheguei lá e avisei-o logo: ‘cuidado, eu conheço bem o Porto e sei o que é uma boa francesinha’. Experimentei e não gostei, não tinha nada a ver com as boas francesinhas.

Voltemos ao futebol. Vamos lá falar sobre o título mundial de 1991.
É o momento alto da minha carreira. Eu cheguei ao FC Porto e fiquei obcecado com títulos. O clube obrigou-me a ser assim. Fui logo campeão nacional de juvenis e de juniores. Na seleção… bem, aquilo mexeu com toda a estrutura do futebol português. Mudou a forma de pensar dos responsáveis do futebol português. Antes dos títulos de Riade e de Lisboa, os estrangeiros é que eram bons e a formação estava em segundo plano. De repente, os santos da casa começaram a fazer milagres (risos). É isso que também quero fazer na Guiné-Bissau. O futebol mexe com tudo, até com a Economia e a auto-estima dos cidadãos. Tive a sorte de pertencer a essa família da seleção e um privilegiado por ter conhecido tanta gente boa.

Essa equipa era muito forte: Figo, Rui Costa, João Pinto, Peixe, Jorge Costa… No balneário a relação era tão boa como a que tinham no relvado?
Rui Bento, Abel Xavier, Nelson, Capucho, Tulipa, Luís Miguel e ainda outros que não foram convocados para o Mundial. Bino, Sá Pinto, Miguel Bruno, Miguel Barros, Zulmiro, Álvaro Gregório, muitos outros. Ainda hoje somos todos amigos. Vou a Lisboa e estou com o Gil e o Cao, vou ao Porto e estou com o Tulipa e com o Canana. A harmonia era perfeita. Nunca tive um grupo de jogadores com uma ligação tão boa. Amizade, camaradagem. Sinto que todos ficamos felizes quando estamos juntos. A alegria de um é a alegria de outro.

A final contra o Brasil na Luz foi o jogo mais marcante para o Toni?
Era a final do Mundial, mas fizemos outras coisas muito bonitas. Fomos vice-campeões europeus em 1994. Só perdemos na final contra a Itália, no prolongamento, e a equipa era praticamente a mesma de 1991. O Mundial foi mais marcante porque foi em Portugal e mexeu com todo o país. Sinceramente, não foi para mim um momento de nervosismo e pressão. A final foi uma tarde de descontração e alegria. Olho para trás e digo com orgulho que participei no processo de mudança do futebol português.

Toni (3º em cima, a contar da esquerda) na final do Mundial de 1991

Essa campanha começou nas Antas contra a Rep. Irlanda.
Sim, 2-0 para nós. Ninguém acreditava que seríamos capazes de chagar ao bicampeonato mundial. Mas o nosso entrosamento era perfeito. Fomos avançando e na final o Rui Costa fez o penálti decisivo. Foi lindo, lindo.

Inesquecível é também a forma como o Toni celebrava os golos, abanando a camisola.
Era bonito (risos). Eu explico. Na Guiné nunca fui ponta-de-lança. Era o número dez, organizador de jogo e jogava bem com os dois pés. Fazia muitos golos, mas não era avançado. Quando cheguei ao FC Porto, o mister Augusto Inácio quis apostar em mim como ponta-de-lança. No FC Porto estava outro guineense que eu adorava, o Lay, Esse sim, era um goleador. O Lay é que festejava dessa forma os golos. Marcava e corria a abanar a camisola. Eu era mais novo do que ele e comecei a imitá-lo. O Lay e o Fernando Gomes foram os meus ídolos. O Lay por ser goleador e o Gomes por ser um avançado fino. E goleador, claro (risos). O abanar da camisola representava a união da equipa, o amor pela camisola de todos. Fico emocionado sempre que vejo essas imagens.

Qual é a história mais engraçada do Mundial de Sub20 em 1991?
O mais engraçado é que quase perdia o autocarro para chegar à Luz na final (final).

Como assim?
Estava no quarto do hotel com o Gil e havia uma hora de saída marcada, como sempre. Estávamos com a televisão ligada. Eu estava longe, a pensar, distraído, noutro mundo. De repente começo a ver nas imagens os meus colegas a entrar no autocarro, mas pensei que fosse uma reportagem antiga, uma gravação (risos). Só me lembro de ver o Gil a pegar no saco e a sair disparado do quarto. Passados uns minutos, estava eu ainda deitado, vejo o Gil na televisão a entrar no autocarro e aí bateu-me (risos). ‘Eh pá, isto é em direto, que horas são?’. Lá fui eu a correr, fui o último a entrar no autocarro.

O Gil era o seu melhor amigo?
Era e é um grande amigo, mas a jogar o montinho [ou rouba-monte] era um batoteiro (risos). O Gil ganhava sempre, mas mais tarde descobrimos o truque. Quisemos que ele nos devolvesse o dinheiro todo (risos).  

O Mundial acaba e o Toni entra logo no plantel do FC Porto em 1991, com o treinador Carlos Alberto Silva. Ele gostava de si como se dizia?
Só aparentemente. Ele dizia isso em público, mas era para inglês ver. Ele foi contratar o Jorge Andrade num ano e o Paulinho Mclaren no outro, dois avançados. Depois o Mihtarski. Eu sofria uma grande pressão da parte dele. A dada altura, o senhor Carlos Alberto proibiu-me de jogar com o pé esquerdo. ‘Mas porquê, mister?’. Ele afastou-me de vários treinos por causa disso, acreditam? Eu jogava de vez em quando, ia fazendo uns golos [oito golos nas duas épocas com CAS] e lá fui ficando. Havia o Kostadinov e o Domingos numa forma espetacular. Eles é que faziam a diferença e não os jogadores que o treinador pediu à direção. Fomos bicampeões nacionais, felizmente. Depois veio o senhor Ivic e ainda foi pior para mim.

Porquê?
Ele não me conhecia de lado nenhum. Na primeira vez em que me viu, no hall de entrada do departamento de futebol, disse-me logo: ‘Vou ser o teu pesadelo’. Eu estava com o Aloísio, lembro-me bem. Enfim, continuei a treinar e ele sempre em cima de mim. Um dia veio ter comigo e disse-me que me queria emprestar ao Rio Ave. ‘Tens de ir, é lá que tens os teus amigos, não sei quê’. Chegámos a um ponto em que ele tinha mesmo de me tirar do FC Porto. O problema é que pouco depois ele também saiu. A gota de água foi quando ele adaptou o Paulo Pereira, o defesa central, a ponta-de-lança. Muitas vezes eu não estava no banco porque ele dizia que podia meter o Paulo a avançado. Esse foi o limite e senti que tinha mesmo de sair.

Os mais velhos como o João Pinto ou o Jaime Magalhães não ajudaram o Toni?
Havia respeito e ninguém se queria meter no trabalho do treinador. Se bem se lembram, o senhor Ivic já tinha afastado o Fernando Gomes. Ao lado do Gomes, quem era o Toni? No treino sempre dei o máximo. Até o Mihtarski e o Vinha ficaram muitas vezes fora das convocatórias porque o senhor Ivic achava que era melhor ter o Paulo Pereira no banco. E o Mihtarski era muito bom jogador. Nunca percebi o que ele realmente pretendia para a equipa. Gostando ou não, toda a gente trabalhava bem, porque o FC Porto estava acima de tudo. Nunca falei destas situações publicamente, é a primeira vez. Os meus colegas sabiam, claro. O Kiki, o Semedo, o Jaime Magalhães, o Domingos, todos eles falavam comigo para eu ter calma e aceitar. E fui aceitando.

Não percebi a questão do Carlos Alberto Silva e do pé esquerdo. Afinal, qual era o problema de usar o seu pé esquerdo, Toni?
Ele não gostava de me ver a jogar com o pé esquerdo. Dizia que eu não era esquerdino. Mas aquilo era instintivo, não era controlável. Ele embirrou comigo, ponto final.

Nos três anos de seniores do FC Porto, qual foi o momento mais feliz do Toni?
Na Madeira, contra o Marítimo. Se perdêssemos esse jogo, a situação ficava difícil. Eu estava no banco e o Carlos Alberto Silva não queria que eu entrasse. Queria meter outro jogador. Depois lá se decidiu a meter-me em campo e queria que eu jogasse a médio. Foi o senhor Reinaldo Teles que me disse ‘olha, o teu pai está lá fora, vê se o fazes feliz’. ‘Entra e faz o que tiveres que fazer para ganharmos o jogo’. Bem, entrei e decidi o jogo com um golo aos 90 minutos [0-1 para o FC Porto, 2 de janeiro de 1993]. Recebi a bola, fintei dois, passei para o Domingos na esquerda e ele cruzou para eu marcar. Foi o jogo mais feliz que tive no FC Porto. No aeroporto estava a falar com o Aloísio e o Fernando Couto e lá apareceu o Carlos Alberto Silva. ‘Estás contente, não é? Olha que não é suficiente!’ (risos). Para ele nunca chegava, ele era assim. Era muito exigente e isso era bom. Mas a exigência não correspondia ao meu trabalho e às oportunidades que ele me dava.

VÍDEO: o golo decisivo de Toni no Funchal

No balneário do FC Porto havia muitas brincadeiras?
Claro. A mais famosa era a brincadeira do balde. O balde ficava em cima de uma porta entreaberta e quando abriam a porta o balde caía. A vítima maior era o Octávio Machado (risos). E depois havia as coisas com a roupa. Quem ficava mais tempo a tomar duche estava tramado. A única forma de escapar às brincadeiras era ser próximo do Fernando Couto e do Jorge Couto (risos). Se não fossemos amigos deles, a nossa roupa ia estar suja, molhada ou outra coisa qualquer.   

O Toni acaba por ser emprestado ao Sp. Braga a meio da terceira época no FC Porto.
Não havia espaço para mim com o Ivic. Todos os dias havia algum problema. O mister António Oliveira convidou-me para ir para o Sp. Braga e aceitei. Fiz seis meses em Braga [19 jogos/4 golos] e salvámos o clube da descida por pouco. Ainda fui emprestado ao Beira-Mar e foi aí que comecei a ter problemas graves com uma pubalgia. Depois do Beira-Mar, três anos no Salgueiros.

Nunca mais teve oportunidade para fazer uma pré-época e voltar ao FC Porto?
Depois do Sp. Braga fiz a pré-época com o senhor Bobby Robson, mas já muito limitado pela pubalgia. Fui emprestado ao Beira-Mar e depois assinei em definitivo pelo Salgueiros.

O Pinto da Costa nunca lhe explicou essas opções do clube?
Não, porque as opções foram sempre técnicas. Com o senhor Pinto da Costa tenho uma grande relação até hoje. O lado desportivo nunca beliscou a nossa amizade. Soube sempre separar as coisas. Mesmo aqui no trabalho aqui na Guiné, se tiver alguma dúvida ou necessidade a primeira instituição a quem telefono é ao FC Porto.  

Toni mantém ligação próxima a Pinto da Costa

E os três anos no Salgueiros foram bons?
Gostei muito, aquilo era praticamente a equipa que eu tive nos juniores do FC Porto. Jorge Silva na baliza, Cao, Tulipa, Abílio, Vinha, Poças, Álvaro Gregório, Álvaro Maciel, Bino, Miguel Bruno, Renato, Miguel Barros… era uma equipa de amigos, um ‘pequeno Porto’. Fizemos três anos de grande nível e o treinador Carlos Manuel até foi contratado pelo Sporting. Levou com ele o Renato e o Leão.

Depois de jogar no Marítimo, no Leça e no Vilanovense vai para o Luxemburgo. Tinha 35 anos. Porquê o Luxemburgo?
A proposta era boa. Disseram-me que a equipa estava nas competições europeias, o dinheiro era bom, mas quando cheguei lá ao RM Hamm Benfica foi um choque. Tudo o que estava apalavrado não foi cumprido. Decidi ficar por lá, fui acumulando o futebol com outras atividades e acabei por constituir lá família. Estive parado uns tempos e aceitei voltar a jogar para ajudar a subir o Tétange à primeira divisão luxemburguesa. Foi aí que parei em definitivo, já tinha três filhos e não era fácil conciliar tudo. Guardei durante muitos anos essa história para mim. Aprendi a ser mais cauteloso. Infelizmente, o senhor que me levou para o Luxemburgo só pensou do lado dele. Mais tarde perguntou-me porque não reagi bruscamente. Eu disse-lhe que cada um pensa em si e não devia ser assim. Temos de encontrar o equilíbrio em todas as opções. É a vida. Estou bem na Guiné e com saúde. Como dizia o grande João Pinto, ‘há quem esteja pior’.

No Luxemburgo chegou a trabalhar nas obras, na construção civil?
É verdade, trabalhei nas obras. Um amigo meu benfiquista, o sr. Valdemar, um senhor de Chaves, organizava uma equipa de futebol de amigos, amadores. Ele reconheceu-me e convidou-me para jogar com eles. Em cada fim-de-semana que eu aparecia para jogar, o sr. Valdemar dava-me 50 euros, 75 euros, 100 euros. Um dia perguntei-lhe: ‘sr. Valdemar, está a dar-me dinheiro porquê? O senhor assim está a criar um parasita’ (risos). Foi aí que ele me perguntou o que sabia eu fazer profissionalmente. Eu respondi-lhe que tinha mãos, pés e que podia aprender tudo como as outras pessoas e podia ir para as obras. O sr. Valdemar lá me levou para uma empresa de um senhor belga. Disse que eu era mestre de construção (risos). Eu não falava francês, mas percebi alguma coisa. ‘Não sou mestre de nada, não sei fazer nada, tenho é vontade de aprender’. Disse-lhe que tinha jogado à bola e que queria aprender. Ganhei uma família fantástica. Os meus irmãos também trabalharam lá. Sou amigo do dono até hoje.

Os seus amigos do futebol sabiam que o Toni trabalhava nas obras?
No início não, mas depois a SIC foi lá fazer uma reportagem para o Perdidos e Achados. O meu patrão falou com eles e soube nessa altura que eu tinha sido campeão do mundo e jogador do FC Porto. Ele adorava o Rui Costa. ‘Jogaste com o Figo, com o Rui Costa e estás aqui? Estás maluco?’. Eu sabia quando te vi que havia alguma coisa diferente em ti. És tão educado, com boas maneiras, a malta que trabalha aqui não costuma ser assim’.

E a reportagem fez-se?
Sim, o meu patrão queria que au ficasse no gabinete para não aparecer na televisão a trabalhar nas obras. Mas eu disse que não. Se fosse para ficar no gabinete, era para ficar sempre no gabinete (risos). Foi assim que muitos amigos meus ficaram a saber. Não me arrependo, mostrei o que era e aceitei aparecer para despertar consciências. Temos de ter recursos para sobreviver condignamente. Não podemos mendigar ou entrar na vida do crime só por não termos alcançado o que queríamos. A Geração de Ouro não é só para dentro de campo. É mostrar que podemos dar a volta. A Geração de Ouro é a Geração Exemplar.  

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