DESTINOS é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINOS.

JORGINHO: V. Setúbal (2001 a 2005); FC PORTO (2005 a 2007); Sp. Braga (2007 a 2009); Rio Ave (2011/12)

MORETTO: Felgueiras (2004); V. Setúbal (2005 a 2006); Benfica (2006 a 2010); Olhanense (2011)

Dia de clássico no Dragão. Dia para colocar frente a frente gente que sabe o que é ganhar um jogo desta dimensão. Convidados deste DESTINOS muito especial? Jorginho pelo lado do FC Porto e Marcelo Moretto pelo lado do Benfica.

Jorginho esteve em quatro clássicos de dragão ao peito e venceu um, empatou um e perdeu dois. A glória do antigo médio brasileiro foi alcançada noutro clássico, contra o Sporting. O Maisfutebol encontra-o em Goiânia, onde está de volta ao futebol depois de um susto apanhado há dois anos.

Moretto tem uma vitória num Benfica-FC Porto. Curiosamente, na única vez em que os dois compatriotas se defrontaram em campo ao serviço destes grandes de Portugal. 26 de fevereiro de 2006, 1-0, golo de Laurent Robert.

Mas os pontos de contacto não acabam aqui. Moretto e Jorginho integraram o plantel do grande Vitória de Setúbal que em maio de 2005 ganhou a Taça de Portugal. 2-1 ao Benfica na final do Jamor.

Risadas, revelações, desabafos, muita cumplicidade. Dois nomes importantes na primeira década do século XXI em Portugal, hoje quarentões. Venha daí ler este encontro de amigos.

Maisfutebol – Olá Jorginho. Podemos começar, enquanto o Moretto não chega?
Jorginho – Grande Moretto. Vamos a isso, para Portugal é sempre um prazer falar.

MF – Aí no Brasil, o Jorginho continua ligado ao mundo do futebol?
Jorginho – Sim, estou ligado ao futebol. Tenho sócios e uma empresa de agenciamento de jogadores. Estamos a tentar colocar atletas interessantes em bons clubes. Infelizmente não posso jogar futebol como jogava antes. Não sei se sabem em Portugal, mas tive um problema no coração. Fez em novembro dois anos tive uma dissecção da aorta.

MF – Teve esse problema a fazer desporto ou estava em casa?
Jorginho – Estava a jogar futevólei com uns amigos. Senti um mal-estar e saí do jogo. Ainda fui tomar banho ao balneário, mas quando voltei para fora sentei-me e só tive tempo de avisar quem estava mais próximo. Desmaiei, não me lembro de mais nada. Fiquei quatro ou cinco dias no hospital, fui operado de emergência e tive de reconstruir a aorta. Devido ao meu passado de atleta, a recuperação foi excelente. É uma coisa que acontece sobretudo a pessoas entre os 60 e os 70 anos, segundo me disseram os médicos. Eu tenho 43 agora.

MF – Não ficou com sequelas?
Jorginho – Não. Só tenho de ter o cuidado de não elevar muito o batimento cardíaco e faço medicação. Pratico desporto sem intensidade. Estive um ano e meio afastado do meio futebolístico por culpa desse problema de saúde, mas voltei bem. Tenho é de evitar episódios de stress.

MF – Teve algum sintoma anterior a essa crise cardíaca?
Jorginho – Não, nunca. Joguei em vários clubes, fiz sempre todos os exames e nunca tive qualquer problema. É impressionante, foi um episódio único. No início disseram que não poderia voltar a fazer desporto, mas felizmente consegui. Já foi uma vitória.

MF – Já saiu de Portugal há quase nove anos. Mantém contacto com as pessoas do FC Porto?
Jorginho – Vou falando com o Helton, que voltou a jogar, não é mesmo? Voltou ao Leiria (risos). E com o Pepe, apesar de já não falar com ele há algum tempo. Ele mudou de número, tenho tentado através das redes sociais, mas ainda não consegui. Outro dia vi a Supertaça entre Porto e Benfica e dei por mim a perguntar ‘como é possível?’. Parece o menino que apareceu no Porto com o Co Adriaanse. A velocidade dele era impressionante. Ele e o Assunção recuperavam tudo. Jogávamos com três defesas, o Assunção e depois seis futebolistas com muita movimentação e ofensivos. Era muito difícil para as outras equipas.

MF – Está aí o Moretto também. Tudo bem, Moretto? Aqui está o Jorginho.
Moretto – Ei, Jorginho! Há quanto tempo. Como é que estás, rapaz?

Jorginho – Bem, amigo. Você está mais novo do que antes, bicho (risos).

Moretto – Eu nem sei o que está a acontecer, Jorginho (risos).

MF – Vocês conheceram-se no Vitória de Setúbal?
Jorginho – Isso, eu já estava há uns anos quando o Moretto chegou.

Moretto – Precisamente, eu cheguei em janeiro de 2005 e saí em janeiro de 2006 para o Benfica.

Jorginho – O Moretto agarrou a baliza e fomos juntos até à vitória na Taça de Portugal.

MF - Vejam se se lembram destas imagens.

VÍDEO: o resumo do triunfo do V. Setúbal na final do Jamor (imagens Canal 11)

Moretto – Foi uma grande final.

Jorginho – Este dia é marcante. Foi o mais marcante para mim em Portugal, por ter sido uma surpresa. O Benfica era o favorito e conseguimos dar a volta ao resultado.

Moretto – O ambiente foi maravilhoso. O Vitória era unido, desacreditado por muitos. Unimo-nos muito e fomos buscar esse grande título.

Maisfutebol – 15 anos depois, o que se sente ao ver estas imagens?
Jorginho – Bem, só me lembro de chegar ao Jamor e pensar que o Benfica ia ter a bancada cheia de adeptos e o Vitória só com um pedacinho. Quando subo ao relvado e vejo aquilo… metade verde e branco, metade vermelho. Como é que estava tanta gente de Setúbal lá? Ainda ficámos com mais vontade de ganhar. Foi impressionante, como foi depois a receção em Setúbal.

Moretto – Aliás, os adeptos acompanharam logo desde a saída do Bonfim. Tivemos um apoio inimaginável, a tarde foi linda e só de lembrar fico com pele de galinha. Terei um carinho eterno por esse clube. Fiz um penálti logo no início do jogo, sobre o Geovanni, mas mesmo com esse golo nunca deixámos de acreditar. Estávamos muito focados e fomos premiados com um título sensacional para todos nós.

Maisfutebol – O Vitória desceu de divisão devido a problemas financeiros. Em 2005 já sentiam esses problemas no clube?
Jorginho – O Vitória é muito grande, tem muita história e havia alguns problemas, mas não era nada de mais. Diria que eram coisas normais, pequenos atrasos. Fui surpreendido com a queda do Vitória, é muito triste. Saí do clube com as contas certinhas, não tenho nada a apontar. E sei que a malta do meu tempo também não ficou com nada atrasado.

Moretto – Confirmo, é verdade. Havia algumas dificuldades, mas a direção do Chumbita Nunes nunca nos deixou de lado. Fez sempre um grande esforço e foi cumprindo. Quando saí para o Benfica, o Vitória tinha três meses de salários em atraso. Uns dias depois do meu último jogo, precisamente contra o Benfica, fui à minha conta e o Vitória já me tinha depositado esses três meses. Conversei com o Chumbita e disse-lhe que não era justo só eu ter tudo em dia, porque toda a equipa do Vitória estava a fazer uma campanha fantástica. ‘Se o senhor me está a pagar porque está com medo que vá para a Justiça, fique tranquilo. Nunca colocaria o clube que me abriu as portas da Europa na Justiça’. Só lhe pedi uma coisa: ‘quando eu sair, aproveite o dinheiro da minha venda ao Benfica para colocar em dia todos os salários dos meus colegas do Vitória’. E sei que isso foi feito. Não tenho nada a apontar ao Vitória, apenas agradecimento.

MF – O Moretto em 2021 está ligado ao futebol?
Moretto – Continuo, sim. Em 2013 deixei de jogar e tive dois anos mesmo sabáticos. Tive uma pequena experiência no agenciamento de atletas, mas não sabia se era mesmo isso que queria. Entretanto, mudei-me para Miami, nos EUA, e abri lá uma escolinha de guarda-redes. O país não é fácil, mas o trabalho foi ótimo. Só voltei ao Brasil há quatro meses e entrei mesmo de cabeça nesse mundo de representação de futebolistas. As coisas estão a correr bem. Tenho saudades de Portugal e já tive de adiar dois voos que tinha marcado para ir aí. Acredito que as vacinas nos devolverão à normalidade.

MF – Vamos ao clássico FC Porto-Benfica? Temos aqui umas imagens de um jogo importante para vocês.

VÍDEO: o Benfica-FC Porto de 2006, com Moretto e Jorginho (imagens SIC)

Moretto – Esse foi o meu primeiro jogo contra o FC Porto. 1-0 para nós, golo do Robert.

MF – O Jorginho lembra-se deste jogo na Luz? Foi o único clássico que teve os dois em campo.
Jorginho – Lembro-me, sim. Mas um bocadinho menos porque perdemos (risos).

Moretto – Ao ver isso até me dá vontade de voltar a jogar (risos).

MF – Um FC Porto-Benfica não é um jogo normal, pois não?
Moretto – É diferente, há uma rivalidade enorme. Faz lembrar um pouco a dimensão da Liga dos Campeões, mexe connosco e temos de admitir isso. A semana é diferente e no balneário do Benfica assumia-se isso: ‘Podemos perder contra todos, menos contra o FC Porto’. É um jogo que provoca tensão e que pode levantar a moral ou derrubar uma equipa.

Jorginho – Estes jogos mudam tudo. Porque influenciam outros jogos. O clássico tem de ser para ganhar e esse é o espírito nos balneários. A semana é diferente, todas as pessoas que passam por nós na rua falam disso.

MF – O Moretto faz esse jogo contra o FC Porto, poucas semanas depois de ter preterido o clube. Lembra-se de algum episódio à volta desse clássico de 2006?
Moretto – Curiosamente, o segundo clássico foi pior. E nesse eu fiquei no banco do Benfica. Na bancada até mostraram notas de 500 euros com a minha cara. Todos pensavam que eu ia jogar, mas fiquei no banco. Nesse 1-0, na Luz, a conversa foi muito à volta dos acontecimentos que ocorreram no aeroporto [Vítor Dinis, um conhecido de Moretto queria levá-lo para o FC Porto e envolveu-se em agressões com seguranças do Benfica], fui capa dos jornais, a pressão foi enorme e a verdade é que fiz um bom jogo. As coisas correram-me bem.

MF – Como é que se olhava para o Benfica no balneário do FC Porto, Jorginho?
Jorginho – Era o maior rival, apesar de o Sporting ter lutado connosco até ao fim pelo título na época 2005/06. É como agora. O Sporting está na frente, mas parece que o FC Porto e o Benfica é que fazem a diferença no campeonato. A rivalidade entre FC Porto e Benfica é diferente.

Moretto – É um campeonato à parte, Jorginho.

MF – Moretto, como é que o balneário do Benfica recebeu um atleta que recusou o FC Porto?
Moretto – Eu cheguei a Portugal para jogar no Felgueiras. Quando o avião aterrou em Lisboa, eu vi o estádio do Benfica e disse ‘quero jogar neste clube’. Sempre tive isso comigo. Quando houve a disputa entre Benfica e Porto por mim, o meu coração dizia-me para ir para a Luz. Mas o salário que o Porto me oferecia era bem superior.

MF – O coração falou mais alto?
Moretto – Eu ainda estive dois dias na cidade do Porto, fui à SAD, assinei um pré-contrato e fui diretamente para o aeroporto. As pessoas do FC Porto quiseram garantir que eu ia diretamente de férias para o Brasil, sem falar com o Benfica (risos). Foram dois dias agonizantes. Ligava-me o presidente do Benfica, o [José] Veiga, o presidente do V. Setúbal. Não quis falar com ninguém. O Chumbita foi um pai para mim. Entretanto, voei para o Brasil e estava em São Paulo, à espera de um voo de ligação para minha casa. O Chumbita ligou-me. A oferta do Benfica ao Vitória era melhor, mas o salário do FC Porto era superior. ‘Vais jogar onde quiseres. Queres jogar no Benfica? Então o presidente do Benfica vai ligar-te’.

MF – E o presidente do Benfica convenceu-o a assinar.
Moretto – Até essa altura eu não tinha falado com o senhor Luís Filipe Vieira. ‘Olha, tenho uma pergunta: queres jogar no Benfica?’. Eu disse que sim, mas que o salário do Benfica era bastante mais baixo. O Vieira disse para eu não me preocupar, mas havia um pré-contrato assinado entre mim e o FC Porto. ‘Não te preocupes, vais jogar no Benfica’. Fui passar o Natal a casa e a 27/28 de dezembro o Benfica enviou-me um contrato para assinar. Eu disse-lhes que a oferta ainda era muito mais baixa, mas que se o salário igualasse o do FC Porto eu optaria pelo Benfica. Fiquei à espera, viajei para Portugal e na minha escala em São Paulo, no dia 1 de janeiro de 2006, tinha o Luís Filipe Vieira à minha espera.

MF – No primeiro dia do ano?
Moretto – ‘Passei a passagem de ano no avião para te vir buscar, nunca fiz isso por nenhum jogador’, disse-me o senhor Vieira. Imaginem a pressão (risos). Depois houve aquela confusão, mas o Benfica igualou a proposta do FC Porto e ainda me ofereceu mais um ano de contrato. Ainda por cima, o FC Porto queria emprestar-me seis meses ao Standard Liège. Só no verão de 2006, quando o Vítor Baía se reformasse, é que eu iria integrar o plantel ao lado do Helton. Não sei se o Jorginho se lembra disso. Fiz a decisão mais acertada. Tive grandes experiências na Liga dos Campeões contra o Barcelona e o Liverpool.

MF – A transferência do Jorginho para o FC Porto foi mais simples?
Jorginho – Não, não. Quer dizer, foi mais simples do que essa do Moretto (risos). Tive o convite dos três grandes de Portugal quando estava no Vitória. Escolhi o FC Porto. Assinei também um pré-contrato e já sabia o que eu queria. Tinha muita vontade de jogar no FC Porto. Desde a minha chegada. Admirava muito o Deco, as equipas deles e imaginava-me a jogar lá. Antes recebi um convite do Sp. Braga, mas o Vitória não aceitou. Caímos na II Liga, subimos e foi aí que explodi e chamei a atenção dos melhores. Mas falei com o Sporting e tive conversas avançadas com o Benfica. Acertei com o FC Porto e fiz muito bem.

MF – O Jorginho consegue escolher o melhor e o pior momento no FC Porto?
Jorginho – O melhor tem de ser o meu golo em Alvalade, acabou por ser decisivo para o título. O pior… em Guimarães, também nessa época. Eu era titular, o Co Adriaanse apostava muito em mim, mas ficava muita gente boa de fora e havia alguma contestação sobre mim. Em Guimarães o jogo estava apertado, até que tive uma oportunidade flagrante. Adiantei a bola, escorreguei e falhei um golo claríssimo. Eu já andava psicologicamente abalado, por isso imaginem. Nesse mesmo jogo, curiosamente, marquei um golo. O Benni McCarthy toca para mim, tiro um central da frente e faço golo de pé esquerdo. Se não marcasse esse golo, a minha passagem pelo FC Porto acabava ali (risos). Acabei por fazer uma grande época. Só deixei de ser titular com a entrada do Jesualdo Ferreira.

MF – E o Moretto? Melhor e pior momento no Benfica?
Moretto – O melhor foi no dia em que assinei pelo Benfica. E os jogos na Liga dos Campeões. Eliminámos o Liverpool e quase que eliminávamos o Barcelona nos quartos-de-final. O pior momento foi contra o PSG, na Liga Europa, já na minha segunda temporada. O jogo foi na Luz. Passei a semana toda com um problema no joelho e havia a dúvida se jogava eu ou o Moreira. Ele era um miúdo da casa, os adeptos gostavam dele e no aquecimento parecia que estava a entrar no Parque dos Príncipes. Metade dos adeptos assobiava-me e metade aplaudia. Nesse jogo saí a uma bola contra o Pauleta, ele entrou de carrinho e lesionou-me no joelho que tinha problemas. Fiquei no chão, cheio de dores e o Estádio da Luz começou a gritar o nome do Moreira. A parte dos adeptos que o apoiavaa. Para mim, o ciclo no Benfica acabou aí. A vontade, a gana, tudo desapareceu. Ganhámos 3-1, mas no balneário o Vieira veio abraçar-me, dizer ‘bom jogo’ e eu disse-lhe isto: ‘presidente, não quero jogar mais no clube’. Essa noite ficou marcada em mim.

MF – E tudo começou bem. O Moretto chegou e foi logo titular.
Moretto – Fiquei muito marcado por esse início. Era ano de Mundial, o Quim estava a jogar bem e a verdade é que eu fiz três treinos e fui para a baliza. O mister Ronald Koeman disse-me isto: ‘Enquanto eu estiver aqui tu és o meu titular’. Isso dentro do grupo não caiu bem, nos líderes do grupo. Eles iam com o Quim para a seleção, enfim. Não vou citar nomes, mas tive problemas com dois ou três colegas. Os ‘cabeças’. Fui para cima deles, se não eu era engolido. E foi assim que ganhei o respeito de todos. Eu tinha personalidade forte. No primeiro treino depois das férias, num treino aberto, um desses jogadores abriu os braços e quis pegar comigo. Peguei nele no vestiário e encurralei-o dentro do cacifo: ‘olha, da próxima vez…’. A partir daí as coisas começaram a correr bem. Podia ter sido diferente se me tivessem dado mais tempo para conhecer o clube. Eu jogava com cinco mil adeptos no Bonfim e passei a ter 60 mil na Luz. Eu era o guarda-redes menos batido na Liga, mas treinei três dias e joguei logo. Qualquer erro meu dava para a imprensa falar durante uma semana. Isso foi-me desgastando, até porque o Quim também era muito defendido na imprensa.

MF – Foi sempre titular com o Koeman, mas com o Fernando Santos não.
Moretto – Eu iria ser o titular do Benfica, mas aconteceu uma coisa na pré-época. Uma coisa que fica entre mim e o clube. Não joguei essa temporada por erro meu. E no ano a seguir pedi para sair para o AEK, na Grécia. O Benfica era um clube muito aberto, nada a ver com o que eu vi nos dois dias que passei no FC Porto. Estive lá dois dias e ninguém soube. No Benfica havia uma reunião no balneário, nós nem nos tínhamos ainda calçado para treinar e a imprensa já sabia de tudo. Havia bufos lá dentro. Agora não é assim. Voltei ao Benfica em 2014 e o clube estava diferente, um absurdo. Uma organização de primeiro mundo, de topo. As pessoas de fora não têm noção de cinco por cento do que se passa dentro de um grande clube. Fui vítima disso. Quiseram criar problemas entre mim e o Quim e isso nunca aconteceu. Não íamos jantar juntos, mas respeitávamo-nos.

MF – Vamos olhar em frente. Como vai ser este FC Porto-Benfica agora?
Jorginho – O FC Porto tem excelentes jogadores e um excelente treinador. O Sérgio retira o máximo de todos os atletas, mas o Jorge Jesus é ótimo também. Vai ser um excelente jogo.

MF – Ser guarda-redes do Benfica encerra sempre muita pressão. Gosta de ver o Vlachodimos na baliza?
Moretto – Como é que eu posso dizer isto? É difícil falar... Não sou fã. É bom guarda-redes, mas não sinto segurança nele, não sinto vibração. Não sei se tem a ver com o estilo dele, parece-me muito frio.

MF – E o FC Porto vem de quatro vitórias seguidas sobre Benfica. Isso mexe com as cabeças?Moretto – Mexe, mexe. A pressão deve estar no máximo na Luz. Aliás, basta ver a forma como o meu amigo Luisão falou no final da Supertaça aos atletas. A pressão é muito grande, porque os resultados não têm aparecido contra o FC Porto.

MF – O Jorginho gosta de algum atleta do Benfica em particular?
Jorginho – Gosto muito do Everton Cebolinha. Mas está um pouco diferente. Não na posição em campo, mas está um pouco tímido. É um grande jogador e só pode melhorar.

MF – E o Moretto do lado do Porto?
Moretto – Gosto muito do Sérgio Oliveira. A intensidade, a liderança, é um patrão no meio-campo.

MF – Antes das despedidas, pedimos uma história engraçada e uma mensagem para os adeptos dos vossos antigos clubes.
Moretto – Numa viagem de avião para o Dubai, num avião fretado, a primeira classe era toda para nós. Eu, o Petit e alguns brasileiros fomos jogar póquer, assim meio escondidos. Passado um bocado aparece o mister Fernando Santos: ‘O que é isto, pá, vocês têm aqui algum casino? E nem me convidam?’ (risos). Deixou a malta toda a rir. Tenho enorme carinho pelo mister, era um paizão. Envio um abraço grande aos adeptos do Benfica, os únicos que enchem todos os estádios em Portugal, de Norte a Sul.

Jorginho – Bem, a melhor história é aquela de Guimarães, quando falhei um golo escandaloso. Porquê? Porque a malta sabia que eu me queria mostrar e quando eu falhei até vi colegas meus a rirem-se (risos). Mas eles sabiam que eu não era assim. Até o Co Adriaanse se riu de mim (risos). Mas depois marquei e ficou tudo bem. Um abraço enorme aos adeptos do FC Porto, uma gente que apoia a equipa até ao limite. Podem ter a certeza que naquele balneário todos dão sempre o máximo.

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106. Aílton: «Jogar no Benfica custou-me um divórcio doloroso»

107. Demol: «Sair do FC Porto foi o meu maior erro, passei a beber muito»

108. Edílson: «Entrei de pistola e o Amaral quase morria de susto»

 109. Juskowiak: «O Mourinho era o polícia mau no balneário do Sporting» 

110. Lobão: «Tive um 127 porque fui ganhar dinheiro a Portugal, não fui gastar»

111. Jorge Plácido: «Num almoço de seis horas pedi uma casa e assinei pelo Porto»

112. Ricardo Rocha: «Tive sete meses de salários em atraso no Sporting, incrível»

113. Brian Deane: «Benfiquistas viram-me à noite num bar e obrigaram-se a ir para casa»

114. Chippo: «Estava a jejuar e desmaiei no treino, o treinador do FC Porto não sabia»

115. Toni: «'Jogaste com o Rui Costa e andas aqui nas obras? Estás maluco?'»

116. Quevedo: «Em França fui lixeiro e apanhava m...., em Portugal fui campeão»

117: N'Dinga: «Estive mal, saí de Guimarães com a conta bancária a zeros»

118: Aloísio vs Ricardo Gomes: Não há FC Porto-Benfica com mais classe

119. Duílio: «O meu filho estava a morrer, prometi-lhe um golo e ele abriu os olhos»

120. Raudnei: «O técnico não me queria, mas o meu agente convenceu o presidente do Porto»

121. Duda: «Sobrevivi a uma queda de sete metros e esmaguei os nervos da cara»

122. Valdo: «O papel dizia Sport, Lisboa e Benfica. 'Ei, três clubes atrás de mim'» 

123. Paulo Assunção: «Fui rezar a Fátima e três meses depois estava no FC Porto»

124. Milovac: «O Sá Pinto era tão chato que levou uma chapada do Filipovic»

125. João Luiz: «Nunca fui duro, mas no Sporting tive de ser violento com o Maradona»