25 de outubro de 2003. Foi há dez anos, precisamente, que o atual Estádio da Luz abriu as portas ao público pela primeira vez. A mágoa do adeus ao velhinho recinto, casa de tantas memórias, passou a conviver com a alegria de estrear uma nova «Catedral», um palco ao nível do mais moderno que existia na Europa.

Um sentimento transmitido pelas palavras emotivas de Fialho Gouveia, que se destacaram entre os discursos habituais desse dia. A inauguração contou também com a presença de Jorge Sampaio, Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, então Presidente da República, Primeiro-Ministro e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, respetivamente.

Dez anos, dez momentos

O convidado futebolístico foi o Nacional de Montevideu, do Uruguai, e o Benfica venceu por 2-1, com Nuno Gomes em destaque. O avançado não só foi o autor do primeiro golo do novo recinto, como acabou mesmo por marcar os dois golos encarnados. Ele que até esteve em risco de falhar esse encontro, por causa de uma lesão que o fez perder o início de época. O jogo com o Nacional foi apenas o terceiro que disputou nessa época.

«Era um jogo importante para mim também por isso. Era um dos objetivos da recuperação, participar nesse jogo», recorda Nuno Gomes ao Maisfutebol. O avançado recorda «um dia de festa para todos» e «alguma ansiedade para conhecer o novo estádio». «Os jogadores estavam com curiosidade e vontade de pisar o relvado», acrescenta.

«Fiquei muito feliz por ser o primeiro a marcar no novo estádio e fica um carinho especial, mesmo tratando-se de um jogo particular», diz Nuno Gomes, que no entanto não andou a sonhar com isso nos dias anteriores.

«Não me lembro de estar com essa vontade declarada, embora sabendo que, por ser avançado, podia estar mais perto. Mas lembro-me que no dia do jogo vi muitas reportagens à porta do estádio, e perguntavam aos adeptos quem gostavam que marcasse o primeiro golo, e ouvi muitas vezes o meu nome. Fiquei feliz com isso, e ainda mais por marcar», lembra o jogador, dez anos depois.

O processo de mudança do estádio velho para o novo foi relativamente pacífica, junto dos adeptos, e dentro do balneário não foi diferente. «Nos meses anteriores andámos um pouco com a casa às costas, e sabíamos que íamos ter condições melhores, que íamos jogar num estádio magnífico que estávamos curiosos por conhecer», refere Nuno Gomes.

A festa foi bonita, mas depois veio a ressaca

O Benfica tinha agora uma nova casa. Um recinto moderno, que dava todo o conforto aos adeptos e aos jogadores. Um palco inaugurado com pompa e circunstância, numa festa abrilhantada pelo triunfo sobre o Nacional de Montevideu. O pior foi a ressaca, uma semana depois. No primeiro jogo oficial disputado na nova Luz, o Benfica foi derrotado pelo Beira-Mar.

«Foi a primeira vez na sua história que o Beira-Mar venceu fora o Benfica, e ainda mais marcante por ser a estreia oficial do Estádio da Luz. É naturalmente um motivo de satisfação e orgulho, até por não se ganhar ali todos os dias», diz António Sousa, então treinador da formação aveirense, ao Maisfutebol.

O feito do Beira-Mar ganha ainda maior relevância se tivermos em conta que o Benfica até esteve a vencer, com um golo de Simão Sabrosa, mas a equipa visitante conseguiu a reviravolta. «Não é normal. A nossa primeira parte foi negativa. Fomos felizes por estar a perder apenas por um golo ao intervalo. O Benfica não aproveitou algumas oportunidades e a segunda parte foi diferente. Fiz algumas retificações que foram positivas e acabámos por vencer», recorda o técnico.

Nuno Gomes recorda esse «dissabor», esse «balde de água fria» depois da inauguração, mas garante que o problema não foi ansiedade. «Foi um jogo em que não estivemos tão bem. Marcámos primeiro e não soubemos aumentar a vantagem. Depois o Beira-Mar criou perigo sobretudo em contra-ataque, e conseguiu dar a volta ao marcador», diz o avançado.

António Sousa concorda, lembrando a boa exibição das «águias» na primeira parte. «O resultado ao intervalo era lisonjeiro para nós. Após a igualdade é que o Benfica ficou um pouco atrofiado mentalmente. No início não, estava desinibido. Depois começou a gerar-se algum burburinho, dentro e fora do campo, como é normal», acrescenta.

Dez anos depois, Sousa fala numa «marca de registo». «Por algum motivo me estão a ligar, não é?», acrescenta. «É uma vitória que fica gravada nos painéis da memória. Fico satisfeito por fazer parte desse momento, e assim as pessoas continuam a lembrar-se de mim», conclui.

As recordações especiais e mais um momento para a história

A vida de um estádio é mesmo assim, feita de alegrias e tristezas. E embora tenha apenas uma década de vida a Luz já acolheu alguns momentos marcantes. Nuno Gomes que o diga.

«Posso recordar o jogo com o Sporting, do ano do título com Trapattoni. O estádio estava cheio e precisávamos de vencer para ultrapassar o Sporting e ter a possibilidade de assegurar o título frente ao Boavista. Foi a chave do título. Também recordo a festa depois do jogo no Bessa. Chegámos às 3 ou 4 da manhã e o estádio ainda tinha muita gente. E depois destaco também o jogo do título de 2000, com o Rio Ave», escolhe o avançado.

E o Estádio da Luz não tem sido apenas casa do Benfica. Também a Seleção Nacional fez deste recinto o seu «forte», em várias ocasiões. Uma delas, a mais marcante, teve um final infeliz. «Claro que recordo também a final de 2004. Infelizmente perdemos, mas vivi emoções nessa altura que nunca mais vivi», diz Nuno Gomes.

Esta época o recinto lisboeta volta a acolher uma grande final europeia, no caso a decisão da Liga dos Campeões. «Um belo presente para o estádio e para o futebol português», diz o antigo internacional. «Vai dar ainda mais projeção. É sempre bom receber um dos principais eventos do futebol português. Só tem a ganhar, pois vão estar muitos olhos postos na Luz», conclui.