Quando, no próximo dia 21, o Sporting entrar em campo no Veltins Arena de Gelsenkirchen, para defrontar o Schalke no primeiro round dos jogos que decidem o seu futuro na Liga dos Campeões, a equipa de Marco Silva terá pela frente, além dos talentos já referenciados de Draxler, Huntelaar, Meyer, Farfán e Boateng, um homem com tudo a provar. Esse homem chama-se Roberto Di Matteo, tem 44 anos e foi nomeado treinador dos «mineiros» nesta terça-feira.

Há quase dois anos que Di Matteo andava afastado dos bancos e das luzes da ribalta. Em novembro de 2012, apenas seis meses depois de ter dado ao Chelsea a primeira (e até agora única) Liga dos Campeões do seu historial, juntando-lhe uma Taça de Inglaterra, o antigo internacional italiano viu Roman Abramovich apontar-lhe a porta de saída, trocando-o por Rafael Benitez.

Poucas vezes um campeão europeu em título terá sido afastado de forma tão sumária, mas a verdade é que Di Matteo é o mais atípico dos treinadores que se sagraram campeões da Europa nos últimos 20 anos. A começar pelo facto de nunca ter orientado uma equipa de I divisão durante uma temporada completa.

Na lista de treinadores que conquistaram a Liga dos Campeões, de 1992 para cá, é quase impossível apontar um nome que não faça parte da mais restrita elite, de Cruijff a Guardiola, de Heynckes a Mourinho, de Ferguson a Van Gaal, passando por Del Bosque ou Ancelotti. A exceção é este ex-internacional italiano, nascido na Suíça, que antes de ser convidado para adjunto de André Villas-Boas, no verão de 2011, tinha levado o WBA de volta à Premier League em 2009/10, para ser despedido a meio da temporada seguinte.

Sabe-se o que aconteceu depois: vítima de resultados inconstantes, e de um balneário que nunca dominou por completo, Villas-Boas foi despedido em março, e Di Matteo nomeado técnico interino. Esperto, conhecedor das dinâmicas de um plantel recheado de estrelas e egos fortes, o técnico italiano apoiou-se nos pesos pesados e, sem ambições ou rasgos táticos, uniu o grupo para uma reta final de temporada com dois sucessos inesperados em provas a eliminar, que serviram para ocultar os maus resultados na Premier League.

No entanto, nem com duas taças no currículo, Di Matteo deixou de ser visto como solução a prazo, pelos adeptos e pelo próprio Abramovich. Agora, dois meses passados sobre o despedimento, Roberto Di Matteo volta a ter quem aposte nele de forma consistente. Não para começar um projeto de raiz, é certo, mas para recolocar o Schalke nos trilhos do sucesso, depois de um início de temporada acidentado.

«Estou firmemente convencido de que Di Matteo vai estabilizar a equipa e atingir os objetivos, tanto na Budesliga como na Champions», afirmou nesta terça-feira o diretor desportivo do Schalke, Horst Heldt. «Mudando de treinador estamos a criar o ímpeto para mudar um desempenho que tem sido muito variável nas últimas semanas», acrescentou, sem explicar por que razão considera o italiano mais capaz de criar estabilidade do que o seu antecessor.

A sucessão é pesada: Jens Keller, o homem que veio substituir, tinha crédito na imprensa e no grupo de jogadores, mas não resistiu à irregularidade na Bundesliga (onde a equipa está num dececionante 11º posto), à eliminação precoce na Taça e ao tropeção caseiro com o Maribor, para a Liga dos Campeões. Pelo meio, Keller tinha conseguido, com um onze muito desfalcado, um valioso empate em Stamford Bridge, diante do antigo clube de Di Matteo que, a 25 de novembro, também vai visitar Gelsenkirchen, depois da dupla jornada com o Sporting. Serão, por isso, os leões de Marco Silva, bem antes dos «blues» de Mourinho, a darem as primeiras respostas à pergunta do momento: terá Di Matteo qualidades para apagar de vez o rótulo de campeão acidental?