Este texto pode ser lido de duas maneiras.

Se por acaso conhece a história de Toquero, salte já para o parágrafo anterior ao segundo vídeo. Se não conhece, continue a ler.

Toquero é a prova de que todos nós podíamos ter sido jogadores de futebol. Toquero, avançado basco do Athletic Bilbao, é um dos jogadores comuns de maior sucesso. Dito de outra forma, Toquero é o negativo de Cristiano Ronaldo, mas há dias em que os dois chegam ao mesmo sítio: o estádio canta o nome deles, os adeptos sentem-se preenchidos e as equipas deles vencem. Uma mais do que a outra, é certo.

Toquero provavelmente só podia ter sucesso numa equipa como o Bilbao, um clube de valores únicos que percorre caminhos diferentes de todos os outros.

A história de Toquero começou por ser apenas mais uma . Contou um dia a mãe, Amelia Pinedo, que em pequeno o deixava horas a jogar futebol, muitas vezes ele, a bola e uma parede. À Radio Euskadi, recordou que era um daqueles miúdos bem comportados, a quem só precisamos de dizer as coisas uma vez. Natural de Vitória, no País Basco, quando cresceu um pouco andou pelas escolas da Real Sociedad e por não ser especialmente dotado, saiu dali para clubes mais pequenos.

Estava num desses quando a sua vida se cruzou com a do treinador Joaquin Caparrós, na altura responsável pelo Athletic. As coisas aconteceram como muitas vezes acontecem no futebol: por acaso. O Sestao River Club defrontou o At. Bilbao e Caparrós gostou de Toquero. Lamentavelmente, comentou, era
velho de mais para se transferir.

Na verdade, Toquero tinha apenas 23 anos, mas já era careca. Quando alguém desfez o equívoco, Caparrós contratou-o. Sem espaço entre os melhores, o avançado foi rodar para o SD Eibar , na II B. Esteve lá seis meses, com sucesso, mas quase sem golos. O sucesso, medido em unidades Toquero, atinge-se correndo muito, ajudando e trabalhando sempre em prol da equipa.

O mérito de Caparrós, um deles, foi ter voltado a olhar bem para Toquero. E ao olhar bem percebeu que nem todos os avançados necessitam de ter golos, por estranho que isso possa parecer.

Toquero lá chegou à equipa em Janeiro de 2009. Como só havia a camisola 2, maldita no clube, ficou com essa. Careca, pouco dotado tecnicamente, escassos golos no currículo e com o 2 nas costas. Apesar de tudo isto (ou talvez também por causa disto), Toquero chegou ao coração dos adeptos do At. Bilbao. Estreou-se perante o Espanhol, marcou pela primeira vez em Março. Esse golo ao Sevilha, numa meia-final da Taça do Rei, e um outro logo a seguir, na final, ao Barcelona, fizeram de Toquero algo mais do que apenas um jogador diferente do At. Bilbao.



Quase sempre o futebolista com mais quilómetros por jogo, Toquero coloca em campo a intensidade que só os que correm por gosto conseguem. Por isso escrevi lá em cima que Toquero somos nós, se conseguirmos trabalhar o suficiente. Talvez o maior de todos os méritos de Toquero seja saber exatamente quem é, como ficou claro numa entrevista ao jornal «As», em 2010. « O futebolista que mais admiro é Zidane, porque foi exatamente o contrário do que eu sou hoje: elegância e qualidade. Tenho todos os dvds de Zidane e tenho pena de não ter jogado contra ele. Teria sido um dia especial para mim».

Marc, na altura um catalão de 19 anos estudante de jornalismo, também se deixou apanhar por esta forma de estar no jogo. Diz que mal viu jogar Toquero ficou «acojonado con él» (o leitor que traduza, não é muito difícil), nenhum outro merecia tanto os aplausos da bancada. No Twitter começavam a existir contas que parodiavam jogadores e treinadores de futebol e ele pensou que o avançado basco tinha tudo para dar certo. Começou. Sempre com respeito pelo jogador, que defende: «Se repararem bem, não é assim tão tosco como querem fazer crer», dizia em entrevista ao site Naiz. Este vídeo ajuda a provar o ponto.




(Madjer estava muito mais perto da baliza, só tinha um adversário na frente e ainda hoje se fala nisso. De Toquero, nada)

Em Janeiro de 2012,
Toquero_theboss era seguido por cerca de 60 mil pessoas. O jovem catalão resolveu criar um blogue. Em janeiro de 2014 tem 283 mil seguidores e publica crónicas em sites espanhóis. Marc tornou-se uma figura, embora dê entrevistas com uma máscara. Não saber quem ele é ajuda a tornar a conta especial.

Apesar de Toquero_theboss manter toda a identificação com o avançado basco do At. Bilbao (lá está a foto com o festejo que também o diferencia), a conta é antes de tudo uma forma divertida e mordaz de escrever sobre futebol. Sobretudo o futebol espanhol. O Real Madrid é um dos alvos preferidos, mas, com exceção de Toquero (claro…), ninguém está propriamente a salvo.

Um exemplo.


Outro.


E ainda este.


Segundo contava Marc, em 2012, Toquero conhecia o trabalho produzido nesta conta e encarava a coisa com tranquilidade. O tema seria até motivo de diversão no balneário do At, Bilbao.

Toquero, o verdadeiro, também tem conta de Twitter. Ou pelo menos tinha.

@GaizkaToquero_2 tem 40 mil seguidores, mas apenas 14 tweets. Começou a 10 de julho de 2012, adormeceu a 23 de Abril de 2013, com um tweet sobre futebol e cinema.


Na biografia, Toquero, o verdadeiro, ainda tem apenas 27. Na vida real, Gaizka Toquero Pinedo fará 30 anos a 9 de agosto. Entretanto renovou contrato com o At. Bilbao até 2016. Esta época participou apenas em 11 jogos e, sem surpresa, ainda não marcou um golo. Tal como na época passada, tem jogado de forma irregular, o que não o ajuda a aproximar-se do seu registo de ouro: oito golos, na temporada 2009/10. O valor de mercado baixou, talvez os adeptos já não cantem com a mesma intensidade Gaizka Toquero, mejor que el Kun Agüero.

   

Mas, claro, não é por isso que deixará de ser Toquero, the boss. Pelo menos no Twitter.

Outros exemplos de contas que partem de jogadores e treinadores para escrever sobre futebol. Siga-as no Twitter. Vale a pena.


Dial-up é uma nova secção do Maisfutebol, da responsabilidade de Luís Sobral. Fala sobre tudo o que junte desporto e internet. Se tiver susgestões, envie-as para lsobral@tvi.pt