Ricardo, recém-contratado pelo FC Porto, faz parte de uma linhagem de jogadores de futebol. Além de primo de Neto, é sobrinho de Dias Graça, antigo guarda-redes do Benfica nos anos 80, e o próprio pai também jogou muito anos no Varzim, o elo comum a toda a família.

O recente reforço portista parece ter herdado algumas caraterísticas do tio, que sente um misto de emoções quando fala do guardião. «Penso que sim, que ele quis seguir as minhas pisadas», começa por admitir o ex-atleta dos encarnados, «localizado» pelo Maisfutebol na Normandia, França, onde trabalha numa central nuclear.

«No início, chegou a ir comigo ao Estádio da Luz, aos treinos, ele e o meu filho», prossegue o irmão do pai de Ricardo. «Naquela altura tinha apenas seis anos, ainda não dava para perceber se ia ser bom», confessa, de peito inchado:

«É um orgulho, mas se tivesse ido para o Glorioso, ficava mais contente [risos]... mas no Porto vai ter mais hipóteses de jogar, porque o Oblak é um dos melhores do mundo. Além disso, vai para o clube do coração, por isso, é compreensível. Não fiquei chateado com ele, fiquei foi chateado com o meu clube [mais risos]!» 


Dias Graça conhece bem o caráter de Ricardo. «Tem uma mentalidade muito boa, aguentou bastante e, quando a oportunidade surgiu, soube agarrá-la, num momento de grande pressão na Académica», relembra, recordando quando o sobrinho substituiu Peiser, a duas jornadas do final do campeonato de 2011/12, e numa altura em que a equipa estudantil somava 16 jogos seguidos sem ganhar na prova. 

«Fazer 62 jogos seguidos não é para qualquer um, por isso, acho que o Paulo Bento deveria ter dado valor a isso. Se o Mundial fosse daqui a uns meses, com esta transferência, acredito que ele passaria a ser olhado de outra forma», desabafa o antigo guarda-redes, inconformado com a facto de o familiar não estar no Brasil.

«Vai ser titular do FC Porto, de caras»


A confiança de Dias Graça no ex-Académica é tão grande que não tem papas na língua quando lhe perguntamos quem poderá ser o dono da baliza azul e branca na próxima época.

«Desejo-lhe muita sorte e que só pense em trabalhar para ser titular porque há de ter uma hipótese para jogar e, depois, só tem de a aproveitar. Para mim, vai ser titular do FC Porto, de caras. Claro que vai ter de aplicar-se ainda mais, mas não tenho dúvidas. Não é por ser tio dele, mas por que sei do ofício», afiança, revelando ainda que o treinou nos infantis e iniciados no Varzim.

Outro aspeto que pode favorecer o sobrinho é o facto de Lopetegui ter sido guarda-redes quando jogava. «Penso que será a pessoa ideal para melhor o avaliar», acredita, perspetivando ainda algumas boas épocas para o guardião, apesar dos 32 anos.

Washington: «Para continuar a ter o meu respeito, tem obrigação de ser titular»


Nas camadas jovens do Varzim, Ricardo foi treinado por Washington, o pai de Bruno Alves, Geraldo e Júlio Alves, que lhe detetou o talento para jogar entre os postes, numa fase em que não sabia ainda muito bem onde queria jogar.

«Era um jogador ainda de tenra idade, na formação, que andou a saltar de posição em posição. Foi ponta-de-lança, médio, e eu ainda estava a ver qual a melhor forma de tirar o máximo partido das suas qualidades», conta a velha glória.

«Via-se, todavia, pelas caraterísticas, como a envergadura, que iria ser um atleta muito bom. Além disso, vinha de uma família de jogadores e isso dava-lhe como que uma herança genética para o desporto. Também mostrava frieza e agilidade», prossegue. 

 
Ponderados todos os aspetos, Washington resolveu começar a treiná-lo como guarda-redes. Deu-se bem. «O Ricardo soube aproveitar bem o facto de ter andado por outros terrenos e, por isso, joga muito bem com os pés, o que é excelente hoje em dia», sublinha.

O FC Porto contratou um ótimo guarda-redes na opinião do seu (in)suspeito antigo treinador. «Penso que foi uma boa escolha. O Helton é, para mim, o modelo do guardião moderno e ele não foge a essas caraterísticas», analisa.

A rebeldia que o tirou da relva e o atirou para a areia e o pelado

Os excessos da juventude, muito comuns, levaram Ricardo a ser obrigado pelos pais a deixar o futebol. Passou, então, a jogar na praia. «Penso que também com essa modalidade ele acabou por aprender, foi então que o fui buscar para o Fradelos, da distrital, já que estava sem clube. Jogou num pelado, sem luz, mas sempre com toda a disponibilidade. Sei que por onde passe, será sempre eficiente, porque tem humildade e grande vontade de trabalhar», advoga.

O «namoro» dos dragões era antigo, mas só agora foi possível marcar a data do casamento. «Da primeira vez, teve uma rotura muscular, e a transferência gorou-se. Recuperou, esteve outra vez para ir para lá e, novamente, uma lesão acabou por estragar-lhe o sonho», recorda.

Quando regressou ao Varzim, depois do ano sabático, Washington avisou logo que o «seu» guarda-redes não voltaria para ser a terceira opção, atrás de Cândido e Litos, mas seria sim mais um para disputar o lugar, de igual para igual. Por isso, está convencido que o mesmo acontecerá no Dragão.

«O Ricardo vai para o FC Porto não para fazer número, mas sim para ser titular. É quase uma obrigação que ele sente depois de ter sido contratado. Além disso, o FC Porto só contrata jogadores para serem os melhores e não para fazerem número. Aliás, se ele quiser continuar a ter o meu respeito, tem a obrigação de ganhar a titularidade.»