26 de Junho de 1983. Final da Taça entre Real Madrid e Barcelona. Minuto 57. Carrasco rouba uma bola a meio -ampo e isola Maradona. O argentino dribla o guarda-redes e toda a gente no estádio pensou que se seguisse um remate para o fundo da baliza. Todos, incluindo o defesa madrileno Juan José que, desvairado, acudiu ao lance.

Maradona, no entnato, guardou uma última maldade. Finta para dentro e José acaba por só encontrar o poste onde julgava que estivesse a bola. Foi golo, como teria sido, provavelmente, sem aquela última finta. Mas, assim, foi inesquecível.

Pormenores. A carreira de um mito não se constrói com pequenas coisas, mas perpetua-se através delas. Em Barcelona, a primeira casa europeia de Maradona, foi assim. Para a posterioridade ficaram momentos como aquela noite, quando o Santiago Bernabéu até aplaudiu o génio argentino.

O lance não só catapultou Maradona, como deixou um pequeno holofote para o lado mais infeliz: Juan José, conhecido em Espanha como o «Sandokan», pelo visual que o tornava, como alguém disse, um dos expoentes máximos do futebol pré-metrossexual . O Maisfutebol falou com Juan José, que confirmou a importância daquele momento na sua carreira.

«Como poderia esquecer? Fui, com toda a boa vontade, tentar cobrir a bola. Ele foi mais inteligente e enganou-me bem. Foi uma boa finta. Ele estava a fazer uma boa época e, claro, como era o Maradona, o público delirou com a jogada. Mas acabou por sobrar um pouco de fama para mim, também», confessa.

«Na hora, apeteceu-me meter a mão à bola»

A leveza de espírito com que «Sandokan» aborda o lance é reveladora. É passado, infeliz, mas não deixa qualquer ressentimento para o antigo jogador. O que não quer dizer que tenha sido assim quando sentiu o poste mais perto que nunca.

«Na hora, apeteceu-me meter mão à bola. Mas acho que nem assim impedia o golo... Hoje é diferente. Não fico nada chateado. Tive a oportunidade de jogar contra o Maradona. Não são assim tantos que o podem dizer», frisou.

Juan José revela que, esporadicamente, ainda lhe falam do lance quando é reconhecido. «Às vezes lembram-se, é verdade...Sobretudo adeptos do Barcelona (risos). Acho que acabou por ser bom para mim também. Para o bem ou para o mal, entrei para a história. É um lance que me marcou para sempre. Ainda hoje se lembram de mim como aquele infeliz que bateu contra o poste enganado pelo Maradona (risos)», conta.

Holofote da fama ilumina um...estaleiro naval

Juan José foi um jogador de média projecção em Espanha. Começou e terminou a carreira no Cadiz, jogou no Real Madrid e foi internacional em quatro ocasiões. Hoje, o holofote da fama extinguiu-se. Como frisou, são poucos os que se lembram da sua participação no lance de génio de Maradona. Mais alguns, no entanto, sabem que jogou futebol ao mais alto nível. Os restantes conhecem-no pelo trabalho actual: num estaleiro naval.

Depois de pendurar as chuteiras, Juan José sentiu as dificuldades financeiras inerentes a quem fica sem o ganha-pão: «Na época não se ganhava como agora, é bom lembrar! Agora, um jogador de futebol, se tiver cabeça, ganha em meia dúzia de anos para toda a vida. Eu não; ganhava pouco mais de três milhões de pesetas. Tive de começar a trabalhar, como qualquer pessoa que tem de meter dinheiro em casa o faz. Não tive problema nenhum com isso e gosto do que faço.»