Os direitos televisivos foram tema forte em duas campanhas eleitorais. Primeiro na Liga, depois no Benfica. É provável que Mário Figueiredo e (sobretudo) Luís Filipe Vieira vencessem sem prometer rutura nesta área. Mas a verdade é que o fizeram e ganharam.
Aparentemente, diversos clubes e milhares de associados do maior emblema português querem mudar. Os dirigentes da Liga e do Benfica querem mudar e querem também mais dinheiro. Em ambos os processos, o alvo foi a empresa de Joaquim Oliveira, há décadas detentora dos direitos televisivos dos clubes e dona da SportTV.
No caso do Benfica, Vieira joga com a ideia feita de que Joaquim Oliveira é alguém próximo do F.C. Porto. Fazer algo que soe a ataque à Olivedesportos gera aplausos na Luz e, viu-se, dá votos. Será também racional?
O presidente dos «encarnados» diz há muito tempo a mesma coisa: o clube merece receber mais pelos direitos. Oliveira já ofereceu mais, mas o líder benfiquista não acha suficiente. Pode ser estratégia negocial, legítima, ou início de revolução.
Aparentemente, Mário Figueiredo vai na mesma direção: quer centralizar a venda dos direitos televisivos para conseguir mais dinheiro e distribuí-lo. Também neste caso o alvo é Joaquim Oliveira.
Mas é aqui que os caminhos se separam. Se Vieira quer ficar com os seus jogos na Benfica TV, como anuncia, então isso significa o princípio do fim da ideia de centralização. Até porque esse movimento dos «encarnados», a concretizar-se, provará que a queixa da Liga não faz sentido. A concorrência aparece é do sítio mais inesperado, os próprios clubes.
Os próximos tempos serão, pois, fascinantes. Os clubes e a Liga estão a mexer no coração das receitas, no ponto fundamental do negócio. Com os riscos que isso acarreta, numa altura em que o mercado publicitário decresce a um ritmo assustador, as televisões compram muito menos e as tecnologias trazem novas oportunidades e desafios. Para muitos emblemas, a dependência da tv ronda os 70 por cento. Pode ser que tudo acabe por ficar na mesma, apenas mais caro para a Olivedesportos. Mas também pode mudar, com consequências que ninguém consegue verdadeiramente antecipar.
A hipótese de passar jogos na Benfica TV, a concretizar-se, obrigará também a rever a utilização que é feita das imagens televisivas em diferentes instâncias do futebol, da disciplina à arbitragem. Digo eu.
O
Maisfutebol levantou o tema na
última sexta-feira. Do meu ponto de vista, a Liga e a Federação estão obrigadas a olhar com lupa para os regulamentos de competições e disciplinar. Deixará de ser legítimo utilizar as imagens de jogos para tomar decisões, pelo simples facto de que o olhar deixará de ser neutro, distante, frio, igual para todos. Eu sei que a minha opinião não será partilhada por muitos leitores. Mas também sei que já fiz mais transmissões de futebol do que a esmagadora maioria de quem me lê. E sei como se faz e conheço quem faz. Também sei que nada na prática atual dos clubes portugueses me leva a acreditar que algum dia poderão ser fontes justas e isentas. É contra a sua natureza, viciados em colocar o emblema antes do futebol.
Valia a pena começar a pensar sobre isto. É impensável que uma televisão de clube transmita jogos de uma liga profissional e os regulamentos e práticas não se alterem.
Opinião
29 out 2012, 22:36
Direitos televisivos: é como mexer no coração
Será esta a altura certa para um movimento que ninguém sabe como terminará?
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