Cinco jogadores do Freamunde, todos estrangeiros, estão a dormir nas instalações do Complexo Desportivo do clube desde a noite de sábado para domingo. A crise financeira nos capões não finda e, já depois de a SAD ter sido condenada, em junho de 2018, por salários em atraso, há um novo episódio a abalar o clube do concelho de Paços de Ferreira: a nível desportivo e com implicações humanas.

O caso foi tornado público pelo treinador do clube, Pedro Barroso, à rádio Marcoense FM. Após a derrota ante o Aliados de Lordelo (2-3) no último domingo, em jogo da 18.ª jornada da série 2 da Divisão de Elite da AF Porto, o técnico denunciou que cinco jogadores foram «despejados de casa».

«Três deles tiveram que dormir no meu gabinete. Quem deu o pequeno-almoço a estes jogadores fui eu, no próprio estádio. São coisas que começam a ser ridículas para quem anda no desporto», contou.

Contactada pelo Maisfutebol, fonte oficial da direção do Freamunde, solicitando anonimato, confirmou que a mão cheia de atletas passou as últimas quatro noites nos gabinetes do estádio, a primeira delas antes do jogo com o Aliados. Foram montadas camas para cada um, havendo balneários com chuveiros para banho e água quente.

A mesma fonte nega o despejo referido pelo treinador, frisando que a direção recebeu, sim, uma ameaça de despejo por alegado incumprimento da SAD presidida por Carlos Carvalho - que detém 70 por cento das ações - no pagamento da renda do apartamento onde residiam, até ao último sábado, os cinco futebolistas. A direção recebeu um aviso de que aquela seria a última noite dos atletas na casa e, para evitar consequências maiores, garantem ter adaptado como solução temporária o Complexo Desportivo.

«Se as condições não melhorarem, não temos margem»

No plano desportivo, o Freamunde está estável na classificação, na luta pelo play-off de acesso ao Campeonato de Portugal: ocupa o quinto lugar, com 30 pontos, tendo já perdido seis num caso ligado à FIFA e três por falta de comparência no duelo com o Lousada.

Ainda assim, o treinador admite que, se não existirem melhorias nas condições, a saída do comando técnico é uma hipótese.

«Muitas outras coisas têm sido incríveis. Não gosto de mencionar, mas esta tinha de mencionar, porque no momento em que estão a jogar, é-lhes cobrado o potencial que têm. Gosto muito do Freamunde. Mas se as condições não melhorarem, naturalmente que não temos mais margem», notou Barroso, à Marcoense FM.

Há dois meses de salários por pagar

A mesma fonte da direção, que detém os restantes 30 por cento do Freamunde, admitiu ao nosso jornal que, neste momento, há dois meses de salários por liquidar: novembro e dezembro. Sublinham que parte de setembro e a totalidade de outubro já foi garantida por si, face ao incumprimento da SAD. E que a alimentação dos jogadores também tem estado a seu cargo.

«Mediante tudo aquilo que têm vindo a passar-se, estes jogadores têm sido incrivelmente profissionais e competentes. Tomara eu treinar apenas. Fui contratado para treinar e tenho feito tudo o resto», salientou Pedro Barroso, no último domingo.

A direção escusou-se a comentar, ao Maisfutebol, as declarações do treinador Pedro Barroso, mas a fonte contactada lamenta alguma incoerência do técnico no relato dos acontecimentos e promete um esclarecimento oficial para breve.

O nosso jornal tentou contactar o presidente da SAD, mas sem sucesso até ao momento.