Domingo à tarde é uma nova rubrica do Maisfutebol, que olha para o futebol português para lá da Liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, histórias de vida e futebol.

Foi preciso esperar pela 19.ª jornada do campeonato da 1.ª Divisão Distrital da AF Viana do Castelo para o Vila Fria 1980 alcançar o primeiro ponto da época. Aconteceu no último fim-de-semana, na receção à Associação Desportiva de Campos. Sim, apenas o primeiro ponto de um ano difícil em termos desportivos para o clube vianense que, pesem as dificuldades, promete lutar «taco a taco» com a «prata da casa» até final da época.

14-0, 0-8, 9-0, 1-7, 7-0… e com alguns 6-0 pelo meio. Estes são os registos de alguns jogos em que o Vila Fria 1980 saiu derrotado pelos adversários na atual temporada. Castigo severo para uma equipa que, nas primeiras 18 rondas do campeonato, somava zero pontos, quatro golos marcados e 91 sofridos. Hoje, um pontinho já lá canta.

O suplício terminou no último domingo, 26 de fevereiro. O Vila Fria recebeu a AD Campos, sacou um nulo e um ponto. Quase nove meses depois, voltou a não perder um jogo oficial. Curioso ou não, fora com o mesmo adversário, a 26 de maio de 2016, que o Vila Fria obtivera o último resultado positivo, com um triunfo caseiro (4-1) na última jornada do campeonato.

Para se perceber as dificuldades do Vila Fria em 2016/17, importa olhar à construção do plantel, feito de forma súbita. O antigo treinador, Ricardo Queirós, terminou uma ligação de seis anos ao clube antes do início da temporada. Com ele, parte significativa de jogadores rumaram a um clube rival, o Chafé. A equipa, desfalcada, recorreu, grosso modo, a jogadores que passaram pelas camadas jovens. David Bastos, antigo jogador do Vila Fria e atual treinador nos escalões de formação, assumiu também a equipa principal.

«Sabíamos de antemão que ia ser uma época complicada. O plantel foi formado nas últimas semanas de julho e nas primeiras de agosto. Em cima da hora. Recuperámos jogadores que tinham sido juniores há dois anos. Agora, claro que nenhum de nós imaginava que ia ser tão complicado, apesar de haver equipas fortes como o Vianense, Cerveira, Atlético dos Arcos, Neves…», explica David.

Maria da Luz, 58 anos, é vice-presidente do clube há sete. Enfermeira de profissão, acompanha a equipa sénior a todo o lado. Assume a bilheteira nos jogos em casa e, por isso, quase só assiste com atenção aos últimos dez minutos. No último domingo, vibrou com aquele «ponto importante» que dá «ânimo à equipa» para continuar a competir. «Algum dia os resultados vão aparecer, não é pelos resultados que a gente vai abandonar. Vamos com a prata da casa até ao fim», realça. Mesmo com a descida iminente.

Quase uma semana após o empate, o treinador do Vila Fria salienta a moral e o ambiente positivo que o resultado conferiu ao grupo, cuja média de idades ronda os 22 anos. «Tem sido uma preocupação que o grupo se mantenha unido. Foi um peso que saiu de cima. Um alívio. A equipa precisava. Acredito que vamos fazer mais alguns pontinhos», conta, ao Maisfutebol.

O objetivo conhece novo capítulo já no próximo domingo, na casa do Arcozelo, antepenúltimo da tabela, com 15 pontos. «Temos duas baixas por lesão, mas o plantel tem intenções de pontuar. Digo aos jogadores que temos de dar o melhor, porque os resultados podem interferir na subida e manutenção. Não podemos facilitar», atira David.

E Maria da Luz? Tem esperança em, pelo menos, mais um ponto? «Com certeza. O próximo jogo é taco a taco».

Em Vila Fria, este é o ponto de partida para o que resta da época.

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