Domingo à tarde é uma rubrica do Maisfutebol que olha para o futebol português para lá da Liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, histórias de vida e de futebol.

Zé Pedro é um dos homens do momento no Vilaverdense, equipa do Campeonato de Portugal (CP) com ambições de II Liga e que tem duelo agendado com o Sporting na Taça de Portugal.

Sete golos em 15 jogos fazem do avançado de 25 anos o melhor marcador daquele que é o ataque mais concretizador do terceiro escalão. O emblema de Vila Verde soma 29 golos, marca acentuada pelo desfecho do último domingo. Na receção ao Câmara de Lobos, vitória por 8-0: a maior dos campeonatos nacionais esta época. Zé Pedro contribuiu com um bis e aponta ao topo.

«Um ponta de lança vive de golos, quando marco fico muito feliz. A vitória é o mais importante. Dá-nos confiança para o resto dos jogos, a semana corre sempre melhor. A equipa, estando confiante e unida, tem tudo para subir de divisão», acredita.

Chegado esta época ao clube, oriundo do Ac. Viseu, Zé Pedro optou pela mudança para jogar com regularidade. «Senti que não havia confiança em mim. Podia não somar muitos minutos. Gosto de jogar, não de estar na sombra. O Vilaverdense era um projeto aliciante de subida de divisão, ficava mais próximo de casa e podia continuar os estudos», justifica.

Apesar do bom momento pessoal, o jogador, natural de Ponte de Lima, aponta primeiro à liderança na série A do CP, da qual o Vilaverdense, terceiro com 21 pontos, dista oito para o Vizela. «Não estamos no primeiro lugar, que corresponderia aos objetivos. Mas ainda falta muito campeonato e queremos chegar ao fim em primeiro. Nesta fase é o objetivo», frisa.

O início no Limianos e o regresso que despertou a Liga

FC Porto, Boavista, Pasteleira, Sp. Braga. Em comum? Todos fizeram parte da formação de Zé Pedro. Vamos ao início. Deu os primeiros pontapés na bola no clube da terra, o Limianos, com sete anos, antes de uma «crise» na formação levar o jogador a um ano no Vianense. Aí, surgiu o interesse dos dragões. «Fui para lá em infantis e estive dois anos», tempo ao fim do qual a falta de espaço ditou uma ida para o Boavista, com 14 anos. No Bessa, «não estava contente» e ainda rumou ao Pasteleira, mas foi em Braga que se afirmou durante quatro temporadas.

Zé Pedro iniciou a formação no Limianos e passou dois anos pelo FC Porto (Fotos cedidas por Zé Pedro)

O final da formação nos arsenalistas despertou a atenção de Domingos Paciência, que o chamou para o jogo decisivo dos quartos de final da Liga Europa - edição da qual os minhotos foram finalistas - contra o Dínamo de Kiev. «Estive presente no banco. Olhando para a qualidade do plantel na altura, fiquei orgulhoso, devido ao trabalho nos juniores», recorda.

Pela falta de espaço no plantel principal, estreia adiada como sénior. Em 2011, rumou à II Divisão B – atual CP – para dois anos no Tourizense. Um projeto «para jovens», importante para «somar muitos minutos». Isto até 2013. Ano do bom filho à casa torna: ao Limianos. Duas épocas no clube do coração, a última das quais como figura de proa. Dez golos em 30 jogos causaram interesse do Rio Ave. E portas abertas para a Liga. «Dar um salto do clube da minha terra para um clube com ambições europeias, é motivo de orgulho», atira.

Em Vila do Conde, contrato rubricado por quatro anos e o dia 13 de setembro de 2015 para mais tarde recordar. No jogo com o Sporting, o treinador Pedro Martins lançou o jovem a jogo para os últimos minutos. Era a estreia no principal escalão. «Estávamos a perder 2-1 com o Sporting e o mister apostou em mim. Esse momento marca, são sentimentos que não dão para descrever. O Pedro Martins marcou-me, deu a oportunidade, mas também tive outros [treinadores] importantes para a minha formação», lembra.

Contudo, Zé Pedro só atuou em mais um jogo pelos rioavistas – na Taça de Portugal – e acabou emprestado no mercado de inverno ao Ac. Viseu. Na segunda metade da época de 2015/16, «com altos e baixos» e «três treinadores», o avançado foi decisivo na manutenção. E assinou em definitivo pelos viseenses. «No último jogo, precisávamos da vitória. Ganhámos 2-0 e fiz os dois golos [ao Sp. Covilhã]. Fez com que as pessoas me quisessem no ano seguinte», refere.

Marcar ao Sporting? «Se for chamado, vou fazer tudo para que aconteça»

O Vilaverdense é uma das quatro equipas do terceiro escalão ainda na Taça. Nos «oitavos», o Sporting na rifa. Em Alvalade, a 13 de dezembro, Zé Pedro não descarta manter a veia goleadora. «Era a cereja no topo do bolo marcar um golo em Alvalade. Se for chamado, vou fazer tudo para que aconteça», antevê. Isto após ter sido decisivo na anterior eliminatória: marcou um golo no tempo regulamentar e um penalti no desempate com o Vizela.

Zé Pedro estreou-se na Liga pelo Rio Ave, contra o Sporting, em 2015 (Foto cedida por Zé Pedro)

«O nosso objetivo na Taça é ir o mais longe possível e, de preferência, apanhar um grande. Isso aconteceu, resta desfrutar do jogo. Mas para já estamos concentrados no campeonato», afirma, sem esconder ambição de repetir a façanha de tomba-gigantes, após o Boavista na terceira eliminatória. «No futebol, tudo é possível, vamos lá para ganhar o jogo», remata.

Dos relvados aos livros

Aquando da passagem pelo Rio Ave, Zé Pedro lançou-se numa licenciatura em Treino Desportivo no ISMAI. A ida para Viseu tirou possibilidade de continuar devido à distância geográfica, mas o ingresso no Vilaverdense facilitou a retoma. Hoje, joga e treina no meio dos estudos. Porquê o investimento? «O objetivo é acabar o curso sem pressas, para no fim da minha carreira como jogador, começar uma como treinador e ter alicerces para isso», justifica.

Para já, no primeiro ano e apenas com duas disciplinas, consegue «conciliar». «À segunda-feira treino de manhã, almoço e vou para a faculdade. Na terça-feira, é folga e torna-se mais fácil», relata.

Nos relvados, bater o recorde de dez golos numa só época é objetivo. Está a apenas três, com mais de metade da época por cumprir. «Espero o quanto antes. Não tenho meta, prometo golos e o máximo para ajudar», refere. Isso e o desejo de voltar à I Liga, sem olhar a clubes. «Trabalho todos os dias para isso. Quero é chegar à I Liga. Claro que o Rio Ave me marcou, mas não tenho preferência».