Epopeia clássica, bailado épico num pantanal, beleza contranatura desfiada pelos pés maravilhosos de um ponta-de-lança. Alvalade, 13 de Janeiro de 1996. Relvado pesadíssimo, impróprio para artistas de recorte fino e músculo frágil. Domingos Paciência afronta a mais improvável das probabilidades e decide o Clássico. Para o F.C. Porto.

Pela terceira temporada consecutiva, o actual técnico do Sporting dilacerava as hostes leoninas. Aloísio Alves recorda ao Maisfutebol a tarde de intempérie em Lisboa.

Quando Domingos era o terror de Alvalade

«Só Messi conduz a bola como Domingos»

«Na altura comentava-se muito essa particularidade do Domingos: marcava muitas vezes ao Sporting. Ele tinha essa tendência, mas foi apenas uma coincidência. Os avançados gostam sempre de marcar e ele sabia bem como o fazer. O Sporting que o diga, não é?», diz o antigo defesa do F.C. Porto.

Nesse jogo esteve também Drulovic, o maestro esquerdino. «O relvado estava péssimo, para os dois lados. Vimos aquele relvado, ficámos um pouco impressionados, mas não havia nada a fazer: era jogar e dar o nosso melhor. O F.C. Porto sempre foi muito coeso e portou-se bem nesse jogo. Por jogos como esse, o clube ganha tantos títulos.»

Domingos marcou aos 60 e aos 75 minutos. O Porto foi bicampeão nacional. Aloísio resume com uma definição curiosa o ex-colega de equipa. «O Domingos era um predestinado consciente. Muito bom jogador e, ao mesmo tempo, sempre responsável e sério na carreira. Tenho-o em grande consideração porque me ajudou muito quando cheguei ao F.C. Porto.»

Na baliza do Sporting, vítima acidental, Paulo Costinha. Para o guarda-redes, porém, houve outro duelo ainda mais traumatizante. «O Sporting foi às Antas para a Taça de Portugal e eu fui expulso injustamente, Teve de ir o Oceano para a baliza.» Na origem de tudo isso, claro, Domingos Paciência.

«Ele foi carregado, é verdade, mas pelo Naybet. Era incontrolável.»

Sporting-F.C. Porto, 0-2 (1995/96)