1984. O F.C. Porto vivia a sua primeira grande história de amor com as competições europeias. Uma história que acabou mal frente a Juventus na final da extinta Taça das Taças. Romances em Zagreb, Glasgow, Donetsk e Aberdeen eclodiram numa triste noite em Basileia.

Voltemos a Donetsk, então parte da antiga URSS. Um jogo épico, com um golo decisivo de Mike Walsh a dar o empate e o apuramento para as meias-finais. Essa é a parte desportiva, para recordar aqui. Nesta peça falamos da aventura dos portugueses numa terra onde a ditadura comunista e as agruras impostas às pessoas eram bem visíveis.

«Olhavam para nós com caras tristes. Sentia-se que passavam claramente por grandes dificuldades», recorda ao Maisfutebol António Sousa. «Faziam filas para ir às compras no supermercado», lembra-se o actual treinador do Trofense.

A falta de liberdade era gritante. Com o exército nas ruas, não era permitido aos ucranianos aproximarem-se dos dragões. «Nem deixavam os miúdos chegar até nós para receber um autógrafo. Éramos nos que nos tínhamos de aproximar desta juventude», explica.

F.C. Porto em Donetsk: como foi há 27 anos?

Outro sinal da ditadura eram as «situações caricatas» nos controlos no aeroporto: «Cada pessoa demorava mais de cinco minutos no controlo. Olhavam para a fotografia do passaporte, depois para a nossa cara e lá confirmavam. Tínhamos de abrir as nossas malas para eles verem tudo. Em média perdia-se entre uma hora e meia, duas horas».

Caricato até ao fim: a obsessão pela segurança «nem deixava levar uma peça de fruta no avião».

Há poucos meses, em entrevista ao nosso jornal, Walsh tinha dito «que as equipas portuguesas não podiam eliminar equipas soviéticas». Apesar desse sentimento, António Sousa não recorda ter sido vitima de pressão: «Não houve provocação. O jogo disputou-se normalmente», assegura.

27 anos depois, com a «democracia» instalada na Ucrânia, será um jogo completamente diferente entre as duas equipas. O F.C. Porto de 2011 quer viver uma noite tão memorável como a de 1984. «Espero que se inspirem na nossa equipa», conclui António Sousa.