A história está cheia de regressos a casa com a camisola errada: a camisola do rival. Mas todas elas são como se fosse a primeira vez, arrastam uma enorme sensação de rivalidade. Yannick volta esta segunda-feira a Alvalade, agora com a camisola do Benfica: antes dele dezenas já o viveram.
«É uma sensação estranha. Custou-me muito voltar lá e acredito que ao Yannick também vai custar. O estádio parece-nos igual, mas os sentimentos que nos invadem são diferentes. Senti que estava a voltar a uma casa que ajudei a construir mas que já não era minha», conta o antigo extremo Amaral.
O campeão do mundo de Riade foi formado no Sporting, cresceu no clube do coração, até que foi dispensado. Seguiu para o Benfica e deixou parte dele em Alvalade. «E os assobios e os apupos... custam tanto. Na altura entristecia-me muito ouvir os adeptos a assobiar-me», acrescenta
«Assobiava-me a Juve Leo atrás da baliza, os sócios mais antigos na central e os sócios mais recentes na outra bancada. Na altura, no calor do jogo, tentava não pensar nisso. No final do jogo e no dia seguinte é que doía mais a sério. Pensava que era uma ingratidão. Sempre fui sportinguista.»
Yannick Djaló: o filho mal-amado regressa a Alvalade
Ora é bom que Yannick Djaló esteja preparado para ouvir assobios: é difícil imaginar outra receção. O antigo extremo-esquerdo Pacheco, no entanto, reage mal perante a ingratidão. «Se houver assobios não serão para o Yannick, serão para dirigentes que dispensaram o jogador no plantel.»
O esquerdino que perdeu a bota uma série de vezes na final dos Campeões Europeus, recorde-se, foi figura de destaque no Benfica. No verão quente de 1993, porém, rescindiu com os encarnados para assinar pelo Sporting. Rescindiu unilateralmente, argumentando ter ordenados em atraso.
«Foi muito difícil. Passaram-se várias coisas que ultrapassaram os limites. Na altura também foi diferente, fui o primeiro jogador da história do Benfica a rescindir unilateralmente para ir parar ao clube rival e houve algum aproveitamento desse facto dos dirigentes do Sporting», lembra.
«Fui quase ostentado como um troféu pelo Sporting. Por isso a minha vida pessoal passou por momentos complicados. Acredito que hoje seja diferente, passaram vinte anos, a mentalidade das pessoas mudou, mas sobretudo há outra proteção dos clubes relativamente aos jogadores.»
Pacheco tenta por isso colocar-se na pela de Yannick Djaló e imaginar o que lhe passa agora pela cabeça. «Fácil continuará a não ser, mas acredito que agora é bem menos complicado», sublinha. «Comigo aconteceu há vinte anos e na altura ficávamos praticamente entregues a nós próprios.»
«Hoje as coisas são muito diferentes, há uma preparação para isso, há um trabalho psicológico que é feito com os jogadores e há uma predisposição dos jogadores para essa realidade. Acredito que será muito diferente.» Tem a palavra Yannick, claro, e os adeptos: o filho mal-amado está de volta.