São norte-coreanos e vivem como norte-coreanos. Fala-se aqui da história dos nascidos na Coreia do Norte e que o regime deixou partir para o estrangeiro. Dois foram jogar para a Rússia,dois para a Suíça, um joga na Sérvia e outro na China. Não há registo de mais norte-coreanos, nascidos no país, no estrangeiro.

Voltando atrás, são norte-coreanos e vivem como norte-coreanos. Só falam com a imprensa internacional após autorização dos responsáveis, devem isolar-se e estão proibidos de ver televisão. Todos eles vivem com um membro da Agência Nacional de Segurança, uma espécie de monitor do regime de Kim Jong-il.

«Deficientes não podem viver em Pyongyang», conta desertor

Hong Young Jo joga no FC Rostov. Foi eleito o melhor jogador do país. Na Rússia todos o descrevem como disciplinado, trabalhador e abnegado. Mesmo assim Hong acha que trabalha pouco. «Devia trabalhar mais», disse numa entrevista ao Sport-Express. «O Partido está a fazer uma aposta muito grande em mim.»

Antes de Hong, o primeiro norte-coreano a jogar na Rússia foi Choi Myong Ho. Após dois anos de curta utilização no Krylia Sovetov, não foi inscrito em 2009. Por isso voltou à Coreia do Norte. Para trás ficaram dois anos num quarto pequeno pago pelo clube, que partilhava com o mentor enviado por Pyongyang.

Em 2008 foi alvo de reportagem na Newsweek. Curiosamente as respostas não eram dadas pelo jogador, eram dadas pelo mentor. Que explicou por que não tinham televisão no quarto. «Não precisamos. Só servem para manter as pessoas acordadas, descansarem menos e fazerem piores treinos no dia seguinte.»

Choi era, de resto, proibido de ir jantar com os colegas a um restaurante e tinha todo o contacto com os ocidentais limitado ao mínimo. Uma realidade que não é exclusiva dos norte-coreanos na Rússia. Na Suíça, no FC Wil, joga Kim Kuk-Jin. Chegou em Julho de 2009 e por pouco não se cruzou com o cabo-verdiano Hernâni.

O actual jogador do Penafiel tinha saído no início do ano, mas deixou amigos no clube e tem falado com eles. «Dizem-me que é muito reservado, tenta isolar-se dos colegas e vive com muito medo de desacreditar o regime norte-coreano», conta Hernâni. «Fala mal inglês, quase não convive e futebolisticamente é fraco.»

Kim Kuk-Jin não veio sozinho para a Suíça. Veio com Pak Chol Ryong, ao abrigo de um protocolo entre o Concorde Basel (II Divisão) e a Coreia do Norte. Entretanto o clube abandonou o futebol profissional, Kim Kuk-Jin transferiu-se para o Wil e Pak Chol Ryong regressou ao futebol da Coreia do Norte.

Quando chegaram à Suíça foram apresentados à imprensa. Houve perguntas e respostas: só não eram dos jogadores. Também aqui falava o mentor do partido em nome deles. O presidente do clube, Stephan Glaser, não quis falar ao Maisfutebol. Diz que o acordo já acabou e não querer explicar as razões de tão estranho protocolo.

No início do processo falou. Disse que foi complicado convencer a Coreia do Norte. Conseguiu-o após várias reuniões com o Ministro dos Desportos, no qual teve de conquistar a confiança do responsável. Pelo meio avisou que devia isolar os jogadores. «A Coreia não quer centenas de empresários à volta deles.»

No início desta época, juntou-se mais um emigrante: Yong Lee-Ya joga no Napredak (Sérvia). Também ele levou um mentor para o monitorizar. Ligeiramente vai se notando uma maior abertura de Kim Jong-il em relação ao futebol. «O General quer que cada vez mais possamos competir com os estrangeiros», disse Hong Young.

A lista de norte-coreanos no estrangeiro vai mais além do que isto. Há mais três atletas no Japão e um na Coreia do Sul. São casos diferentes, porém. Trata-se de jogadores nascidos no estrangeiro, educados numa cultura diferente e que por isso não são acompanhados pelo regime. Jogadores livres, enfim.