A Argentina chega em paz ao Mundial, pela primeira vez em muito tempo. Entusiasmados, mas calmos. O grupo é a sua maior força e isso foi sublinhado uma e outra vez, até porque o coletivo trabalha bem em campo, como uma máquina bem oleada e um jogo vertical sólido. O ciclo atual começou no final 2018, depois do desastroso período de Jorge Sampaoli como selecionador, com a eliminação nos ‘oitavos’ e outros escândalos.
Lionel Scaloni, que fez parte desse corpo técnico, assumiu interinamente por um período breve, até à Copa América 2019. A Argentina foi irregular, por vezes confusa, mas a AFA retificou a decisão e confiou no técnico para orientar a seleção no Qatar 2022. As críticas cresceram com a decisão de deixar de fora velhas glórias de fora, que reclamaram do afastamento.
Contudo, em 2021, a seleção, e especialmente Lionel Messi, afastaram um estigma de quase 30 anos: o de ganhar um grande título. Tudo corre melhor desde a celebração no mítico Maracanã, depois da final da Copa América, frente ao Brasil. Em junho a Argentina venceu a Finalíssima, frente à Itália, por 3-0, em Wembley.
Desde 2019 estão invictos há 35 jogos, dois atrás do recorde da Itália de Mancini (2018-2021). A mudança geracional funcionou e conciliou figuras experientes como Messi, o capitão, a algumas caras novas que desfrutam do jogo e da união. A Argentina quer não só realizar o seu sonho, mas (e acima de tudo) também o de Messi. Muitos acreditam que o futebol deve um Mundial a Messi.
É um ‘outsider’. Embora tivesse experiência no corpo técnico da seleção, nunca tinha sido treinador principal. Aliás, esse foi o facto pelo qual recebeu tantas críticas nos seus primeiros tempos. Contudo, rodeou-se de figuras de outros tempos, como Palo Aimar, Roberto Ayala e Walter Samuel, e criou a sua equipa. A consagração na Copa América fez dele imune. O público adora-o. Gerou identificação com a seleção e tem o trunfo adicional de ter feito Messi sorrir. Os adeptos chamam à seleção de ‘La Scaloneta’, uma espécie de autocarro em que todos vão com ilusão para o Qatar 2022.
É o capitão e emblema da equipa, que aos 35 anos fará o seu quinto Mundial, e vai finalmente tentar concretizar o que lhe tira o sono: conquistar o Mundial. Sem a explosão de outros anos, mas com a aprendizagem do tempo a passar, Leo encontrou o termo certo para si na Argentina, com o qual está feliz e confortável. A Copa América tirou-lhe de cima o peso da história e chegará ao Qatar melhor que nunca.
Durante muitos anos a Argentina não encontrou na defesa quem lhes desse confiança no que toca a defender e enfrentar os avançados mais assustadores do mundo. Até chegar Cristian Romero, ‘El Cuti’, 22 anos, jogador do Tottenham. Foi um dos últimos elementos a chegar à equipa de Scaloni, duas semanas antes da Copa América. Com ele em campo a Argentina não perdeu.
O hino argentino é uma marcha patriótica criada em 1812 e aprovada pela Assembleia Geral de Constituintes em 1813, nos tempos de organização do estado argentino, fonte de inspiração para o poeta e deputado Vicente López y Planes. Terá sido cantada pela primeira vez numa gala política, nesse ano, mas foi publicada em 1847. Remete para os valores de liberdade e rejeição à opressão colonizadora. A música é de Blas Parera e corresponde ao género lírico.
Diego Armando Maradona. ‘Pelusa’ levantou o Mundial no México ’86. Nos quartos de final foi a grande figura, na vitória por 2-1 frente à, Inglaterra, jogo em que marcou a imortal «Mão de Deus» e o golo mais bonito da sua carreira, apenas quatro anos depois da Guerra das Malvinas, entre estes dois países. Diego e o povo compreenderam que essa ferida estava a sarar, mesmo que fosse por uma felicidade desportiva.
Textos de Vanesa Valenti, que escreve para o La Nación.