Os canadianos estão habituados a torcer por outras seleções em grandes torneios, mas este grupo de jogadores cativou a nação, ao chegar apenas à sua segunda participação de sempre no Mundial, e a primeira desde 1986. Depois de uma desgastante campanha de 20 jogos de qualificação, na qual surpreenderam todos, ao liderar a fase final da qualificação da CONCACAF, o Canadá está num grupo difícil no Qatar, junto de Marrocos e de gigantes europeus que chegaram às meias-finais em 2018, Bélgica e Croácia.
Tiveram imediatamente a preocupação de procurar um adversário que jogasse no mesmo estilo de posse, com estrelas no meio-campp, e em setembro defrontaram o Uruguai, num jogo em que estiveram bem, apesar da derrota por 2-0. «O que os jogadores percebem é que estamos quase lá. Algum do trabalho no ataque não foi clínico o suficiente, mas estamos perto», refletiu depois o selecionador, John Herdman. «Quando olhamos para este jogo frente ao Uruguai, percebemos que não houve uma grande diferença de qualidade, e quando chegarmos ao Mundial e jogarmos contra este tipo de adversários, temos de vencer.»
O que também ficou claro foi o compromisso do Canadá em manter a posse, apesar da melhoria qualitativa dos seus adversários. Na qualificação foram uma grande ameaça nas transições ofensivas, abençoados com jogadores de grande velocidade, o que estará bem presente na análise dos adversários. A forma como criam oportunidades para Alphonso Davies, Jonathan David e Tajon Buchanan ou Cyle Larin, pode ser parte do sucesso no Qatar. Pressionar tão alto os adversários do Mundial como os da qualificação pode ser demasiado arriscado, mas Herdman está convicto de que a sua equipa não vai mudar e recuar demasiado, sendo que o Canadá procura o seu primeiro golo num Mundial
Tornou-se num nome de peso no Canadá quando guiou a seleção feminina a medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos 2012 e 2016. Assumiu a seleção masculina em 2018 e galvanizou mais uma equipa, trazendo propósito e união a um grupo que teve muitas mudanças ao infortuno passado recente. O inglês mudou a mentalidade do grupo, «do mim para o nós», e acreditou antes de qualquer jogador que a qualificação era possível. Taticamente, muda frequentemente de sistema durante o jogo, de um sistema de três defesas com alas para um bloco convencional de quatro.
Depois de falhar sete dos 14 encontros de qualificação, o Canadá aprendeu a vencer sem Alphonso Davies, mas há poucas dúvidas sobre quem é a estrela. Nos primeiros tempos Herdman testou o jogador do Bayern de Munique na sua posição natural de lateral esquerdo, mas Davies deixou claro que quer jogar numa posição ofensiva e fazer a diferença para a sua seleção, e o golo individual apontado ao Panamá mostra que ninguém mais tem o fator estrela.
Davies pode ser o melhor jogador, e Jonathan David o melhor finalizador, mas sem Eustáquio é difícil imaginar o Canadá a chegar ao Mundial. O jogador do FC Porto, eleito médio do mês da Liga em setembro, é um playmaker recuado - ao estilo de Xabi Alonso - que o Canadá esperou anos para produzir. Não há ninguém próximo do perfil de Eustáquio na seleção, com a sua calma em posse, habilidade para avançar no terreno nos momentos cruciais, e cobranças dinâmicas nas bolas paradas.
Garantida a primeira qualificação para o Mundial desde 1986, a maioria das notícias sobre a equipa têm sido sobre as exibições em campo. Os jogadores também têm estado em tensas negociações com a federação sobre o bónus do Mundial, tal como veio a público, e isso tem dominado os ciclos noticiosos à volta da equipa. À medida que o torneio se aproxima, mais as notícias se focam no Qatar, mas o foco do país é a felicidade e alívio de estar finalmente de volta à competição, em que coanfitriões dentro de quatro anos.
Após 100 anos de tradição, «O Canada» tornou-se no hino nacional em 1980, depois de ser composto originalmente em 1880 por Calixa Lavallée. Herdman abraçou os versos do hino e espera que os seus jogadores e staff os cantem apaixonadamente, e pensem profundamente no seu significado:
«O Canada,
Our home and native land!
True patriot love in all of us command.
With glowing hearts, we see thee rise,
The True North strong and free!
From far and wide,
O Canada, we stand on guard for thee.
God keep our land glorious and free!
O Canada, we stand on guard for thee, O Canada, we stand on guard for thee.»
No que toca à popularidade do futebol no Canadá, ninguém está próximo de Christine Sinclair (na foto), uma lenda que levou a seleção feminina à medalha de ouro em Tóquio, no ano passado, e que marcou mais golos do que qualquer atleta na história do futebol internacional. No lado masculino, o antigo guarda-redes da Premier League, tornado jornalista, Craig Forrest, é para sempre recordado como um dos melhores jogadores canadianos, graças, em parte, à incrível prestação na Gold Cup 2000 que o Canadá venceu. Quem marcar o primeiro golo do Canadá no Mundial masculino também terá o seu nome nesta lista especial.
Textos de Kristian Jack, que escreve para a Premier League Canadá e é comentador no OneSoccer.