1974: e, no final, volta a ganhar a Alemanha
UM NOVO TROFÉU espera o vencedor do torneio alemão, quatro anos depois de o tricampeão Brasil ter ficado de vez com a Jules Rimet.
Fora da fase final está a União Soviética, que se recusa a jogar no Chile, onde um golpe militar substituíra o governo marxista de Salvador Allende e assassinara milhares dos seus apoiantes num estádio de futebol. Os sul-americanos têm direito ao pontapé de saída, correm meio-campo e atiram para uma baliza vazia, garantindo triunfo e apuramento de forma insólita. À conta dos mesmos, Carlos Caszely tornar-se-á no primeiro jogador a ver um cartão vermelho numa fase final.
O exotismo fica a cargo das surpresas Austrália, Haiti e Zaire. Os africanos, debaixo do jugo de Papa Doc Duvalier, defrontam em casa, no último jogo de apuramento, a equipa de Trinidad e Tobago, que vê de forma incrédula quatro golos serem anulados. O árbitro é posteriormente suspenso pela FIFA, e o defesa haitiano Jean-Joseph será o primeiro jogador a falhar um teste anti-doping num Campeonato do Mundo.
A revolução laranja, e a sua antítese
Ainda não se sabe, mas o México 1970 marcara o fim da primeira grande era de domínio brasileiro no futebol mundial. Há uma revolução em curso, em laranja berrante, com os cabecilhas Rinus Michels e Johann Cruijff a gritar as palavras de ordem «Futebol total».
Ao mesmo tempo, consolida-se uma das maiores potências do jogo, a Alemanha (ainda República Federal Alemã), que procura o seu segundo título planetário depois ter.arrecadado o Europeu de dois anos antes. Os clubes também refletem a nova tendência, com Ajax (1970/71, 1971/72 e 1972/73) e Bayern (1973/74; e posteriormente 1974/75 e 1975/76) a somar títulos continentais.
A Mannschaft, a jogar perante o seu público, apresenta-se mesmo como único adversário capaz de travar o carrossel brilhante que ocupa os 11 holandeses irrequietos em campo, sobretudo Johann Cruijff, Johan Neeskens, Ruud Krol e Willem van Hanegem, por muito que o mau arranque tenham alimentado muitas dúvidas. Se a Holanda passeia na primeira fase, a RFA não evita a derrota embaraçosa perante a vizinha República Democrata Alemã e sofre para bater Chile e a estreante Austrália.
Itália e Brasil desiludem, Polónia surpreende
Sem argumentos está o campeão Brasil. Com um futebol pouco fluido, europeizado e desprovido do seu ADN, mas também sem Pelé, Gerson e Tostão, mostra-se dependente do que o talentoso Rivelino ainda acrescenta ao seu ataque. A felicidade que granjeia no encontro perante a azarada Escócia é apenas um exemplo do poder diminuído do «Escrete».
A Itália é a primeira grande baixa do Mundial. Sofre para derrotar o Haiti e perde com a Polónia no último e decisivo jogo do seu grupo. Já os polacos, que tinham deixado a Inglaterra fora da fase final, têm uma equipa muito competente, onde pontuam o defesa Jerzy Gorgon, o médio criativo Kazimierz Deyna e o ala goleador Grzegorz Lato, e prometem a melhor prestação de sempre.
Na segunda fase, a Holanda entra mesmo em velocidade de cruzeiro: 4-0 à Argentina, triunfo tranquilo frente à RDA e a garantia da passagem de testemunho, com Neeskens e Cruijff a mandar o Brasil de volta a casa. Está garantida a final, com a primeira posição numa segunda fase de grupos.
Do outro lado do calendário, RFA e Polónia ultrapassam respetivamente Suécia e Jugoslávia, e decidem o outro finalista no derradeiro embate. É o inevitável der Bomber Gerd Müller quem confere substância ao fator casa e carimba a passagem para a final de Munique.
A coroa do kaiser, e a Holanda que fica para a história
Joga-se mais do que um jogo de futebol. Vítimas da II Grande Guerra, os holandeses estão dispostos a vingar e humilhar os alemães - Willem van Hanegem perdera inúmeros familiares durante a ocupação nazi, e como tal recusa participar no banquete posterior à final.
Durante sete minutos, a Mannschaft é obrigada a correr atrás da bola, até que Cruijff decide partir para a baliza, o seu marcador todo-o-terreno Berti Vogts fica para trás e Uli Hoeness faz o derrube fatal na sua área. Neeskens não perdoa.
Os germânicos reagem, comandados por Beckenbauer. Hoelzenbein cai na outra área, Jack Taylor aponta para os 11 metros e Paul Breitner bate Jan Jongbloed pela primeira vez, aos 25 minutos. Depois, aparece Müller, aos 43, e inesperadamente os da casa estão na frente graças ao instinto de predador do seu ponta de lança.
Tal como 20 anos antes perante a formidável Hungria, a Alemanha prepara-se para bater outra das melhores seleções da história. Neeskens ainda tem duas oportunidades, mas Sepp Maier defende. Depois de perder a final de 1966 e ter ficado em terceiro quatro anos depois, Kaiser Franz Beckenbauer ergue finalmente a taça de campeão do mundo.
RESULTADOS
Alemanha, de 13 junho a 7 julho de 1974
Vencedor: República Federal Alemã (2º título)
Finalista vencido: Holanda
3º lugar: Polónia
4º lugar: Brasil
GRUPO A
14-06 | Olympiastadion (Berlim) | RFA-Chile, 1-0 |
14-06 | Volksparkstadion (Hamburgo) | RDA-Austrália, 2-0 |
18-06 | Volksparkstadion (Hamburgo) | RFA-Austrália, 3-0 |
18-06 | Olympiastadion (Berlim) | RDA-Chile, 1-1 |
22-06 | Olympiastadion (Berlim) | Austrália-Chile, 0-0 |
22-06 | Volksparkstadion (Hamburgo) | RDA-RFA, 1-0 |
J | V | E | D | GM-GS | P | |
---|---|---|---|---|---|---|
RDA | 3 | 2 | 1 | 0 | 4-1 | 5 |
RFA | 3 | 2 | 0 | 1 | 4-1 | 4 |
Chile | 3 | 0 | 2 | 1 | 1-2 | 2 |
Austrália | 3 | 0 | 1 | 2 | 0-5 | 1 |
GRUPO B
13-06 | Waldstadion (Frankfurt) | Brasil-Jugoslávia, 0-0 |
14-06 | Westfalenstadion (Dortmund) | Escócia-Zaire, 2-0 |
18-06 | Waldstadion (Frankfurt) | Brasil-Escócia, 0-0 |
18-06 | Parkstadion (Gelsenkirchen) | Jugoslávia-Zaire, 9-0 |
22-06 | Waldstadion (Frankfurt) | Escócia-Jugoslávia, 1-1 |
22-06 | Parkstadion (Gelsenkirchen) | Brasil-Zaire, 3-0 |
J | V | E | D | GM-GS | P | |
---|---|---|---|---|---|---|
Jugoslávia | 3 | 1 | 2 | 0 | 10-1 | 3 |
Brasil | 3 | 1 | 2 | 0 | 3-0 | 3 |
Escócia | 3 | 1 | 2 | 0 | 3-1 | 3 |
Zaire | 3 | 0 | 0 | 3 | 0-14 | 0 |
GRUPO C
15-06 | Niedersachsenstadion (Hannover) | Holanda-Uruguai, 2-0 |
15-06 | Rheinstadion (Düsseldorf) | Bulgária-Suécia, 0-0 |
19-06 | Westfalenstadion (Dortmund) | Holanda-Suécia, 0-0 |
19-06 | Niedersachsenstadion (Hannover) | Bulgária-Uruguai, 1-1 |
23-06 | Westfalenstadion (Dortmund) | Holanda-Bulgária, 4-1 |
23-06 | Rheinstadion (Düsseldorf) | Suécia-Uruguai, 3-0 |
J | V | E | D | GM-GS | P | |
---|---|---|---|---|---|---|
Holanda | 3 | 2 | 1 | 0 | 6-1 | 5 |
Suécia | 3 | 1 | 2 | 0 | 3-0 | 4 |
Bulgária | 3 | 0 | 2 | 1 | 2-5 | 2 |
Uruguai | 3 | 0 | 1 | 2 | 1-6 | 1 |
GRUPO D
15-06 | Olympiastadion (Munique) | Itália-Haiti, 3-1 |
15-06 | Neckarstadion (Estugarda) | Polónia-Argentina, 3-2 |
19-06 | Neckarstadion (Estugarda) | Argentina-Itália, 1-1 |
19-06 | Olympiastadion (Munique) | Polónia-Haiti, 7-0 |
23-06 | Olympiastadion (Munique) | Argentina-Haiti, 4-2 |
23-06 | Neckarstadion (Estugarda) | Polónia-Itália, 2-1 |
J | V | E | D | GM-GS | P | |
---|---|---|---|---|---|---|
Polónia | 3 | 3 | 0 | 0 | 12-3 | 6 |
Argentina | 3 | 1 | 1 | 1 | 7-6 | 3 |
Itália | 3 | 1 | 1 | 1 | 5-4 | 3 |
Haiti | 3 | 0 | 0 | 3 | 2-14 | 0 |
SEGUNDA FASE
GRUPO 1
26-06 | Niedersachsenstadion (Hannover) | Brasil-RDA, 1-0 |
26-06 | Parkstadion (Gelsenkirchen) | Holanda-Argentina, 4-0 |
30-06 | Parkstadion (Gelsenkirchen) | Holanda-RDA, 2-0 |
30-06 | Niedersachsenstadion (Hannover) | Brasil-Argentina, 2-1 |
03-07 | Westfalenstadion (Dortmund) | Holanda-Brasil, 2-0 |
03-07 | Parkstadion (Gelsenkirchen) | Argentina-RDA, 1-1 |
J | V | E | D | GM-GS | P | |
---|---|---|---|---|---|---|
Holanda | 3 | 3 | 0 | 0 | 8-0 | 6 |
Brasil | 3 | 2 | 0 | 1 | 3-3 | 4 |
RDA | 3 | 0 | 1 | 2 | 1-4 | 1 |
Argentina | 3 | 0 | 1 | 2 | 2-7 | 1 |
GRUPO 2
26-06 | Neckarstadion (Estugarda) | Polónia-Suécia, 1-0 |
26-06 | Rheinstadion (Düsseldorf) | RFA-Jugoslávia, 2-0 |
30-06 | Waldstadion (Frankfurt) | Polónia-Jugoslávia, 2-1 |
30-06 | Rheinstadion (Düsseldorf) | RFA-Suécia, 4-2 |
03-07 | Rheinstadion (Düsseldorf) | Suécia-Jugoslávia, 2-1 |
03-07 | Waldstadion (Frankfurt) | RFA-Polónia. 1-0 |
J | V | E | D | GM-GS | P | |
---|---|---|---|---|---|---|
RFA | 3 | 3 | 0 | 0 | 7-2 | 6 |
Polónia | 3 | 2 | 0 | 1 | 3-2 | 4 |
Suécia | 3 | 1 | 0 | 2 | 4-6 | 2 |
Jugoslávia | 3 | 0 | 0 | 3 | 2-6 | 0 |
JOGO DE ATRIBUIÇÃO DO 3º E 4º LUGARES
06-07 | Olympiastadion (Munique) | Polónia-Brasil, 1-0 |
FINAL
07-07 | Olympiastadion (Munique) | RFA-Holanda, 2-1 |