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A história do Campeonato do Mundo (1974-1998)

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1974: e, no final, volta a ganhar a Alemanha

UM NOVO TROFÉU espera o vencedor do torneio alemão, quatro anos depois de o tricampeão Brasil ter ficado de vez com a Jules Rimet.

Fora da fase final está a União Soviética, que se recusa a jogar no Chile, onde um golpe militar substituíra o governo marxista de Salvador Allende e assassinara milhares dos seus apoiantes num estádio de futebol. Os sul-americanos têm direito ao pontapé de saída, correm meio-campo e atiram para uma baliza vazia, garantindo triunfo e apuramento de forma insólita. À conta dos mesmos, Carlos Caszely tornar-se-á no primeiro jogador a ver um cartão vermelho numa fase final.

O exotismo fica a cargo das surpresas Austrália, Haiti e Zaire. Os africanos, debaixo do jugo de Papa Doc Duvalier, defrontam em casa, no último jogo de apuramento, a equipa de Trinidad e Tobago, que vê de forma incrédula quatro golos serem anulados. O árbitro é posteriormente suspenso pela FIFA, e o defesa haitiano Jean-Joseph será o primeiro jogador a falhar um teste anti-doping num Campeonato do Mundo.

A revolução laranja, e a sua antítese

Ainda não se sabe, mas o México 1970 marcara o fim da primeira grande era de domínio brasileiro no futebol mundial. Há uma revolução em curso, em laranja berrante, com os cabecilhas Rinus Michels e Johann Cruijff a gritar as palavras de ordem «Futebol total».

Ao mesmo tempo, consolida-se uma das maiores potências do jogo, a Alemanha (ainda República Federal Alemã), que procura o seu segundo título planetário depois ter.arrecadado o Europeu de dois anos antes. Os clubes também refletem a nova tendência, com Ajax (1970/71, 1971/72 e 1972/73) e Bayern (1973/74; e posteriormente 1974/75 e 1975/76) a somar títulos continentais.

A Mannschaft, a jogar perante o seu público, apresenta-se mesmo como único adversário capaz de travar o carrossel brilhante que ocupa os 11 holandeses irrequietos em campo, sobretudo Johann Cruijff, Johan Neeskens, Ruud Krol e Willem van Hanegem, por muito que o mau arranque tenham alimentado muitas dúvidas. Se a Holanda passeia na primeira fase, a RFA não evita a derrota embaraçosa perante a vizinha República Democrata Alemã e sofre para bater Chile e a estreante Austrália.

Itália e Brasil desiludem, Polónia surpreende

Sem argumentos está o campeão Brasil. Com um futebol pouco fluido, europeizado e desprovido do seu ADN, mas também sem Pelé, Gerson e Tostão, mostra-se dependente do que o talentoso Rivelino ainda acrescenta ao seu ataque. A felicidade que granjeia no encontro perante a azarada Escócia é apenas um exemplo do poder diminuído do «Escrete».

A Itália é a primeira grande baixa do Mundial. Sofre para derrotar o Haiti e perde com a Polónia no último e decisivo jogo do seu grupo. Já os polacos, que tinham deixado a Inglaterra fora da fase final, têm uma equipa muito competente, onde pontuam o defesa Jerzy Gorgon, o médio criativo Kazimierz Deyna e o ala goleador Grzegorz Lato, e prometem a melhor prestação de sempre.

Na segunda fase, a Holanda entra mesmo em velocidade de cruzeiro: 4-0 à Argentina, triunfo tranquilo frente à RDA e a garantia da passagem de testemunho, com Neeskens e Cruijff a mandar o Brasil de volta a casa. Está garantida a final, com a primeira posição numa segunda fase de grupos.

Do outro lado do calendário, RFA e Polónia ultrapassam respetivamente Suécia e Jugoslávia, e decidem o outro finalista no derradeiro embate. É o inevitável der Bomber Gerd Müller quem confere substância ao fator casa e carimba a passagem para a final de Munique.

A coroa do kaiser, e a Holanda que fica para a história

Joga-se mais do que um jogo de futebol. Vítimas da II Grande Guerra, os holandeses estão dispostos a vingar e humilhar os alemães - Willem van Hanegem perdera inúmeros familiares durante a ocupação nazi, e como tal recusa participar no banquete posterior à final.

Durante sete minutos, a Mannschaft é obrigada a correr atrás da bola, até que Cruijff decide partir para a baliza, o seu marcador todo-o-terreno Berti Vogts fica para trás e Uli Hoeness faz o derrube fatal na sua área. Neeskens não perdoa.

Os germânicos reagem, comandados por Beckenbauer. Hoelzenbein cai na outra área, Jack Taylor aponta para os 11 metros e Paul Breitner bate Jan Jongbloed pela primeira vez, aos 25 minutos. Depois, aparece Müller, aos 43, e inesperadamente os da casa estão na frente graças ao instinto de predador do seu ponta de lança.

Tal como 20 anos antes perante a formidável Hungria, a Alemanha prepara-se para bater outra das melhores seleções da história. Neeskens ainda tem duas oportunidades, mas Sepp Maier defende. Depois de perder a final de 1966 e ter ficado em terceiro quatro anos depois, Kaiser Franz Beckenbauer ergue finalmente a taça de campeão do mundo.

RESULTADOS

Alemanha, de 13 junho a 7 julho de 1974
Vencedor: República Federal Alemã (2º título)
Finalista vencido: Holanda
3º lugar: Polónia
4º lugar: Brasil

GRUPO A

14-06 Olympiastadion (Berlim) RFA-Chile, 1-0
14-06 Volksparkstadion (Hamburgo) RDA-Austrália, 2-0
18-06 Volksparkstadion (Hamburgo) RFA-Austrália, 3-0
18-06 Olympiastadion (Berlim) RDA-Chile, 1-1
22-06 Olympiastadion (Berlim) Austrália-Chile, 0-0
22-06 Volksparkstadion (Hamburgo) RDA-RFA, 1-0
 

J V E D GM-GS P
RDA 3 2 1 0 4-1 5
RFA 3 2 0 1 4-1 4
Chile 3 0 2 1 1-2 2
Austrália 3 0 1 2 0-5 1

GRUPO B

13-06 Waldstadion (Frankfurt) Brasil-Jugoslávia, 0-0
14-06 Westfalenstadion (Dortmund) Escócia-Zaire, 2-0
18-06 Waldstadion (Frankfurt) Brasil-Escócia, 0-0
18-06 Parkstadion (Gelsenkirchen) Jugoslávia-Zaire, 9-0
22-06 Waldstadion (Frankfurt) Escócia-Jugoslávia, 1-1
22-06 Parkstadion (Gelsenkirchen) Brasil-Zaire, 3-0

J V E D GM-GS P
Jugoslávia 3 1 2 0 10-1 3
Brasil 3 1 2 0 3-0 3
Escócia 3 1 2 0 3-1 3
Zaire 3 0 0 3 0-14 0

GRUPO C

15-06 Niedersachsenstadion (Hannover) Holanda-Uruguai, 2-0
15-06 Rheinstadion (Düsseldorf) Bulgária-Suécia, 0-0
19-06 Westfalenstadion (Dortmund) Holanda-Suécia, 0-0
19-06 Niedersachsenstadion (Hannover) Bulgária-Uruguai, 1-1
23-06 Westfalenstadion (Dortmund) Holanda-Bulgária, 4-1
23-06 Rheinstadion (Düsseldorf) Suécia-Uruguai, 3-0

J V E D GM-GS P
Holanda 3 2 1 0 6-1 5
Suécia 3 1 2 0 3-0 4
Bulgária 3 0 2 1 2-5 2
Uruguai 3 0 1 2 1-6 1

GRUPO D

15-06 Olympiastadion (Munique) Itália-Haiti, 3-1
15-06 Neckarstadion (Estugarda) Polónia-Argentina, 3-2
19-06 Neckarstadion (Estugarda) Argentina-Itália, 1-1
19-06 Olympiastadion (Munique) Polónia-Haiti, 7-0
23-06 Olympiastadion (Munique) Argentina-Haiti, 4-2
23-06 Neckarstadion (Estugarda) Polónia-Itália, 2-1

J V E D GM-GS P
Polónia 3 3 0 0 12-3 6
Argentina 3 1 1 1 7-6 3
Itália 3 1 1 1 5-4 3
Haiti 3 0 0 3 2-14 0

SEGUNDA FASE

GRUPO 1

26-06 Niedersachsenstadion (Hannover) Brasil-RDA, 1-0
26-06 Parkstadion (Gelsenkirchen) Holanda-Argentina, 4-0
30-06 Parkstadion (Gelsenkirchen) Holanda-RDA, 2-0
30-06 Niedersachsenstadion (Hannover) Brasil-Argentina, 2-1
03-07 Westfalenstadion (Dortmund) Holanda-Brasil, 2-0
03-07 Parkstadion (Gelsenkirchen) Argentina-RDA, 1-1

J V E D GM-GS P
Holanda 3 3 0 0 8-0 6
Brasil 3 2 0 1 3-3 4
RDA 3 0 1 2 1-4 1
Argentina 3 0 1 2 2-7 1

GRUPO 2

26-06 Neckarstadion (Estugarda) Polónia-Suécia, 1-0
26-06 Rheinstadion (Düsseldorf) RFA-Jugoslávia, 2-0
30-06 Waldstadion (Frankfurt) Polónia-Jugoslávia, 2-1
30-06 Rheinstadion (Düsseldorf) RFA-Suécia, 4-2
03-07 Rheinstadion (Düsseldorf) Suécia-Jugoslávia, 2-1
03-07 Waldstadion (Frankfurt) RFA-Polónia. 1-0

J V E D GM-GS P
RFA 3 3 0 0 7-2 6
Polónia 3 2 0 1 3-2 4
Suécia 3 1 0 2 4-6 2
Jugoslávia 3 0 0 3 2-6 0

JOGO DE ATRIBUIÇÃO DO 3º E 4º LUGARES

06-07 Olympiastadion (Munique) Polónia-Brasil, 1-0

FINAL

07-07 Olympiastadion (Munique) RFA-Holanda, 2-1

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Holanda 1974

A laranja das ideias

EM 1974, A HOLANDA protagonizou a última grande revolução táctica no futebol. Rinus Michels foi o ideólogo da colectivização do talento. A imprensa chamou-lhe «futebol total».

O estilo ofensivo e revolucionário da Holanda em 1974 possuía um ideólogo tão carismático como o seu capitão no relvado. À data do Mundial da Alemanha, Rinus Michels tinha 46 anos, ar carrancudo e uma obsessão pelo controlo que lhe valia a alcunha de «General». Apresentava também no currículo a construção do grande Ajax, na viragem da década de 60, transformando uma equipa de segunda linha na maior potência do futebol europeu de clubes.

A imprensa, sempre à procura de rótulos capazes de simplificar as coisas, chamou-lhe «futebol total» e o nome, que diz tudo não dizendo coisa alguma, ficou. O conceito partia de um pressuposto ambicioso: o de que todos os jogadores eram capazes de desempenhar qualquer função em campo sem perda de rendimento. Com modelo táctico num tradicional 4x3x3, o Ajax revolucionou o futebol pela mobilidade. Qualquer um estava autorizado a exceder o seu raio de acção tradicional, desde que tivesse um companheiro capaz de compensar automaticamente a sua ausência, mantendo a equipa equilibrada. Isto obrigava os jogadores a saber pensar antes de saber correr. E implicava uma dinâmica de grupo sem precedentes até aí.

Fora possível fazer isto no Ajax, ao longo de seis anos (1965-71) abençoados pela explosão de um fenómeno chamado Johann Cruijff. Era mais duvidoso que Michels pudesse repetir a receita na selecção holandesa: só em Março de 1974 assumiu o comando, ainda por cima em part-time, acumulando-o com o do Barcelona. Só a 21 de Maio meteu verdadeiramente mãos à obra. Faltava menos de um mês para começar o Mundial. Menos de um mês para transformar 22 jogadores talentosos e inteligentes numa grande equipa.

Além do intocável Cruijff, a selecção era formada com base em dois blocos, do Ajax e do Feyenoord. As duas maiores equipas da Holanda não eram apenas rivais: tinham modelos de jogo profundamente distintos e não aceitavam o sistema do outro. Michels fez tábua rasa das questões particulares e definiu regras claras. No campo, valiam as suas ideias, ou nenhuma. Para os outros temas, as opiniões eram encorajadas e as decisões tomadas em colectivo. Foi assim, por exemplo, que, pela primeira vez num Mundial, se aprovou a presença das mulheres dos jogadores no estágio, medida que ajudou a diminuir tensões e a estabilizar o grupo.

O próprio Cruijff, sempre seguro das suas ideias, foi o primeiro a manifestar espanto sobre aquele milagre de alquimia: «Quando jogámos com o Uruguai, cinco jogadores estreavam posições: o guarda-redes [Jongbloed] nunca tinha sido titular, o líbero [Haan] sempre fora médio, o central [Rijsbergen] nunca jogara nesse lugar, Neeskens jogou no posto que era habitualmente de Janssen e Janssen foi para a vaga deixada por Haan no meio-campo. (…) Quando os jornalistas falavam do nosso bloco homogéneo, nem nós conseguíamos perceber como tinha sido possível», escreveu no rescaldo do Mundial.

Mas Michels conseguira. À vitória clara sobre o Uruguai seguiu-se um empate azarado com a Suécia, duas goleadas festivas (Bulgária e Argentina) e mais duas vitórias claras e sem apelo, frente à RDA e, principalmente, ao Brasil. A Holanda chegava à final com 14 golos em seis jogos e uma capacidade colectiva nunca vista. As camisolas laranja já tinham ganho o Mundial no coração e nas memórias dos adeptos. Continuaram a ganhá-lo mesmo depois da derrota com a Alemanha, fiel à vocação de implacável desmancha-prazeres.

Em apenas três semanas, Rinus Michels pusera todos os seus homens a pensar o jogo da mesma forma, a antecipar as intenções dos companheiros e a reagir instantaneamente às situações criadas pelo movimento permanente. Para os adversários, os focos de desequilíbrio eram incontroláveis: tanto podia aparecer o lateral-esquerdo a finalizar na área como o ponta-de-lança a fazer uma recuperação defensiva junto à sua baliza, ou o central a iniciar um movimento de ataque, pelo meio-campo fora. Era a utopia de qualquer «General», a disciplina absoluta traduzida em movimentos de pura lógica, dando a ilusão de anarquia para quem estava de fora. Aquela Holanda consumara a derradeira revolução táctica no futebol mundial: a colectivização do talento.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

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Cruijff

Um expresso chamado Cruijff

JOHANN CRUIJFF jogou apenas um Mundial, o de 1974. Sete jogos e três golos chegaram para colocá-lo entre os melhores de sempre, apesar da final perdida com a Alemanha.

O primeiro impacto era provocado pela velocidade: jogava como se tivesse um botão de fast-forward nas costas. Mas nem para ser mais veloz do que os adversários Johann Cruijff prescindia da inteligência. «Muita gente confunde rapidez com visão. Se eu começar a correr antes dos outros pareço mais rápido», explicava, cheio de razão. A rapidez era consequência de uma visão de jogo verdadeiramente sobrenatural. E mais invulgar ainda para um homem que, jogando em teoria como ponta-de-lança, comandava todos os sectores do campo.

Sim, aquele holandês magrinho, fumador compulsivo que chegava a acender cigarros no intervalo dos jogos, tinha velocidade, técnica e uma inteligência fulgurante. Mas, acima de tudo, nascera para liderar, como o demonstrava a meteórica ascensão do Ajax, que sob o seu comando se tornara a maior equipa europeia, com três Taças dos Campeões consecutivas entre 1971 e 1973. Nesse ano, seduzido por um camião de pesetas, trocou Amesterdão por Barcelona e tornou-se o ídolo da Catalunha, conduzindo o «Barça» a um título que lhe fugia há 14 anos. Johann tinha o toque de Midas e sabia-o melhor do que ninguém. Mas faltava-lhe o desafio maior: fazer da frágil Holanda, ausente dos Mundiais desde 1938, uma grande selecção.

No Verão de 1974, tendo no bolso o terceiro troféu de jogador europeu do ano, Cruijff chegou à Alemanha para conquistar o planeta e gravar para sempre o número 14 na memória dos adeptos. Estava no auge. Tinha 27 anos nas pernas mas, na cabeça, a sabedoria acumulada de cem anos de futebol. Não marcou qualquer golo na primeira fase, superada com impressionante à-vontade. Mas foi desde o primeiro minuto a grande referência de um conjunto demolidor, a que as camisolas laranja davam um toque de exotismo.

Quando a dificuldade dos jogos aumentou, Cruijff puxou dos galões. Bisou na goleada à Argentina (4-0) e orquestrou, com um golo e uma assistência para Neeskens, a categórica vitória sobre o Brasil (2-0). Nessa noite, o escrete, campeão em título, passou o testemunho a uma equipa em estado de graça, com a marca de Cruijff mais presente do que nunca. A Holanda garantia aí a presença na final e o respeito eterno de todos os que assistiram àquele vendaval de ataque, tão empolgante como o dos mágicos húngaros, vinte anos antes. Em comum com essa Hungria, a Holanda tinha um líder carismático, o estilo e a simpatia dos neutrais. Para sua desgraça tinha também a Alemanha pela frente na final.

A 7 de Julho, no Olímpico de Munique, as coisas não podiam ter começado melhor para os Oranje. No primeiro minuto, Cruijff pegou na bola, ainda no seu meio-campo, e com o botão de fast-forward accionado, só parou na área alemã, derrubado por uma rasteira. Penalty evidente, que Neeskens transformou no golo mais rápido de todas as finais. Com vantagem tão madrugadora, os holandeses hesitaram entre gerir o 1-0 e partir em busca do segundo, que mataria o jogo. A partir daí, acusando a importância do momento, a Holanda passou ao lado do jogo. À imagem do seu capitão, implacavelmente vigiado por Vogts. E, como em 1954, os alemães foram implacáveis: dois golos ainda antes do intervalo, 2-1 no fim dos 90 minutos. Outra vez o favorito do público a ficar à porta do paraíso, vergado pelo pragmatismo de uma equipa incomparavelmente menos sedutora.

Cruijff, vencedor insaciável, despediu-se do seu Mundial no lado vencido. Mas o tempo coloca sempre as coisas na proporção justa: após Munique, como jogador, depois como treinador, crítico e teórico, continuou a mudar, para melhor, a face do planeta-futebol, tornando-se a sua personalidade mais influente nos últimos 40 anos. Jorge Valdano, outro que jogava bem e pensa ainda melhor, resume-o num parágrafo perfeito e definitivo: «Um dia tomávamos um café em Santander, levantámo-nos e dirigimo-nos para a porta de saída. Ele tentou antecipar-se e abri-la, só que eu fui mais rápido. Mas Cruijff nunca perde. No momento em que agarrei o puxador disse-me: “Esta abre para fora”. E assim converteu-se no autor moral da abertura da porta e conseguiu pelo menos um empate. Sempre invencível.»

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

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Franz Beckenbauer

Kaiser com elegância

FRANZ BECKENBAUER foi o único jogador eleito para o onze ideal de três Mundiais. Revelou-se como médio, mas foi a líbero que virou uma página na história do futebol.

Kaiser. A palavra remete para o universo militar e sugere um poder absoluto exercido com mão de ferro. Nesse sentido, poucas alcunhas foram tão pouco ajustadas: Franz Beckenbauer preferia a elegância à força, a inteligência à agressividade. É verdade que a sua liderança em campo entrava pelos olhos do espectador mais distraído, o que servia para alimentar metáforas imperiais. Mas para convencer os outros bastava-lhe aplicar o dom inato de descodificar o jogo, agindo sempre em antecipação, como o xadrezista que planeia movimentos a dez lances de distância.

Revelou-se ao mundo com 20 anos, no Mundial de 1966, ainda como médio, veloz e dinâmico. Marcou quatro golos que ajudaram a Alemanha a chegar à final de Wembley, perdida para a Inglaterra com muita polémica. Quatro anos mais tarde, no México, já era a figura dominante de uma selecção rejuvenescida e goleadora. Ainda como médio, foi determinante na desforra sobre os ingleses nos quartos-de-final.

No papel, cabia-lhe marcar Bobby Charlton, o animador dos ataques da campeã mundial. Mas a sua dinâmica, aliada a uma inteligência de predestinado, que lhe permitia aparecer no sítio certo antes dos outros, inverteu os papéis: foi Charlton quem se desgastou na vigilância ao seu marcador durante 70 minutos. E quando deixou o campo, Beckenbauer explodiu. Marcou o primeiro, empurrou a equipa para o segundo e, depois, para a vitória no prolongamento. Três dias mais tarde, uma derrota dramática com a Itália, no prolongamento, acabou de firmar o seu estatuto: grande entre grandes, até a perder.

Mas o grande contributo para a história do futebol ainda estava para chegar. Entre 1970 e 1974, com menos velocidade e mais lucidez e visão, recuou, colocando-se nas costas da defesa. Sem funções de marcação, adiantava-se quando a equipa ganhava a bola. A capacidade de antecipar os lances e a técnica com que transformava uma recuperação no primeiro passo de um ataque tornavam-no caso único. E permitiam-lhe, primeiro no Bayern, depois na selecção, transformar-se no dois-em-um perfeito, o sonho de qualquer treinador: um defesa quase inultrapassável, que raramente cometia uma falta, e simultaneamente o primeiro avançado de uma equipa que, por força das suas incursões no meio-campo, ganhava sistemática superioridade numérica.

Não era uma ideia nova: esse era o fundamento do catenaccio, idealizado nos anos 60 por Helenio Herrera, no futebol italiano. Mas os líberos desse tempo não tinham a souplesse e a inteligência de Beckenbauer, limitando-se a destruir. Foi o capitão da Alemanha a dar nobreza à função e a demonstrar que, uma vez mais, as revoluções tácticas no futebol criavam novas soluções ofensivas a partir de trás.

No Europeu de 1972 deu-se o ensaio-geral: com Beckenbauer na defesa, a Alemanha sagrou-se indiscutível campeã e tornou-se lógica favorita à vitória no Mundial seguinte, que acolhia nos seus estádios. Um problema, apenas: a liderança em campo no Euro-72 foi dividida com outro craque com vocação para maestro, o número 10 Günter Netzer. Aí sim, Beckenbauer foi Kaiser: deixou claro que só havia espaço para um patrão e Netzer, apesar do seu imenso talento, foi relegado para o banco.

Quando a Alemanha entrou em campo, a 14 de Junho de 1974, para iniciar a conquista do seu segundo título, já ninguém tinha dúvidas: o chefe era aquele senhor com a braçadeira de capitão e o número 5 nas costas, que jogava com uma elegância de galã de cinema. Um Kaiser, sim. Mas com luva de veludo a cobrir-lhe a mão de ferro. Pela primeira vez na História, os miúdos de rua tinham um defesa para elevar à condição de ídolo.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

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Polónia 1974

A melhor Polónia de sempre rima com golos

MARCADORES

7 - Lato (Polónia)
5 - Neeskens (Holanda) e Szarmach (Polónia)
4 - Müller (RFA), Rep (Holanda) e Edström (Suécia)
3 - Houseman (Argentina), Rivelino (Brasil), Breitner (RFA), Cruijff (Holanda), Bajević (Jugoslávia) e Deyna (Polónia)
2 - Yazalde (Argentina), Jairzinho (Brasil), Streich (RDA), Overath (RFA), Sanon (Haiti), Karasi e Šurjak (Jugoslávia), Jordan (Escócia) e Sandberg (Suécia)
1 - Ayala, Babington, Brindisi e Heredia (Argentina), Valdomiro (Brasil), Bonev (Bulgária), Alemada (Chile), Hoffmann e Sparwasser (RDA), Bonhof, Cullman, Grabowski e Hoeness (RFA), De Jong, Krol e Rensenbrink (Holanda), Anastasi, Capello e Rivera (Itália), Bogićević, Džajić, Katalinski, Oblak e Petković (Jugoslávia), Gorgoń (Polónia), Lorimer (Escócia), Torstensson (Suécia) e Pavoni (Uruguai)
Autogolos - Perfumo (Argentina), Curran (Austrália), Krol (Holanda) e Augusto (Haiti)

Total: 97 golos (2,55 de média)
Melhor ataque: Polónia (15 golos)
Austrália e Zaire não conseguiram qualquer golo
49 jogadores marcaram, 6 já o tinham feito em 1970

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A laranja descascada

FICHA DE JOGO

Árbitro: Jack Taylor (Inglaterra)

RFA - Maier; Vogts, Beckenbauer (c), Schwarzenbeck e Breitner; Hoeness, Bonhof, Overath e Grabowski; Müller e Hölzenbein

HOLANDA - Jongbloed; Suurbier, Rijsbergen (De Jong, 69), Haan e Krol; Jansen, Neeskens, Van Hanegem e Rep; Cruijff (c), Rensenbrink (Van de Kerkhof, 46)

Marcadores: 0-1, Neeskens (2 gp); 1-1, Breitner (25 gp); 2-1, Müller (43)

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1978: a ditadura e os papelinhos no Mundial da polémica

DOIS ANOS ANTES do Campeonato do Mundo, a Argentina é alvo de um golpe militar bem sucedido e passa a ser governada por uma junta, que impõe a lei, através da força, da tortura e do encarceramento. Várias equipas ameaçam com o boicote.

Johann Cruijff é muitas vezes associado ao episódio, uma vez que a Holanda não conta com o seu melhor jogador de todos os tempos, mas a ausência nada tem que ver com a situação política do país sul-americano. O antigo avançado contará mais tarde na sua autobiografia (My Turn, 2016) que decide não deixar a família sozinha em Barcelona, depois de esta ter sido alvo de uma tentativa de sequestro. Não está o mítico 14, estão todos os países ameaçaram boicote, incluindo a Oranje. 16 anos depois, o Mundial volta mesmo à América do Sul.

O Argentina-78 é um torneio cheio de controvérsias, e de algumas peripécias. Todos os encontros da seleção das Pampas começam à noite, dando aos locais a vantagem de conhecer os resultados do seu grupo antes de entrar em campo. Para chegar à final, a equipa de César Luis Menotti tem de vencer o Peru por 4-0 e consegue, com «facilidade suspeita», de acordo com alguns comentadores da época, uma goleada por seis golos sem resposta. No meio da alegada conspiração, está o guarda-redes do Peru Ramón Quiroga, nascido na Argentina. Nada é, contudo, provado. O troféu de campeão é um sonho cada vez mais real para os homens liderados por El Flaco.

Uma das estórias que atravessa a história passa-se com a França, que já conta com um muito jovem Michel Platini. Frente à Hungria, os gauleses são obrigados a vestir as camisolas da equipa local Club Atletico Kimberley, uma vez que ambas levaram para o estádio camisolas brancas. É o célebre dia em que o modesto Kimberley joga uma partida de um Campeonato do Mundo.

Um dos eternos favoritos, o Brasil, fica à beira da final, apesar de ter não perdido qualquer encontro. Nos descontos, frente à Suécia, ainda na primeira fase, Zico vê um golo seu, de cabeça, ser anulado pelo árbitro Clive Thomas. O juiz insiste que apitara para o final ainda a bola estava no ar. O encontro acaba com um penalizador 1-1.

Potências fragilizadas

Sem o kaiser Franz Beckenbauer, a República Federal Alemã é uma sombra da poderosa formação que tinha ganho quatro anos antes. Relembre-se que a Holanda também não tem Cruijff, e o Brasil ainda monta o famoso escrete de 82. Tudo somado, a Argentina, liderada pelo goleador veterano Mario Kempes, é mesmo a grande favorita. Menotti dispõe ainda do seu próprio kaiser, Daniel Passarella, o talentoso e disruptivo guarda-redes Ubaldo Fillol e o médio criativo Osvaldo Ardilles, além de Leopoldo Luque, sósia de Kempes no ataque. Maradona, aos 17 anos, ficara de fora da convocatória.

O caminho não é fácil, contudo. A França vende cara a derrota por 2-1, e os argentinos têm depois de bater a Itália para continuar em Buenos Aires. Bettega marca o único golo do encontro, para o conjunto transalpino, e fura as contas de Menotti e companhia.

Também a Holanda sofre para ultrapassar um grupo que será vencido pelo Peru de Teofilo Cubillas. Pela frente, a Oranje tem os super-confiantes escoceses, treinados por um Ally MacLeod a acreditar no título, mas a falhar no relvado: são esmagados pelo Peru e empatam com o Irão. A Escócia precisa de vencer por dois golos de diferença para seguir em frente e chega aos 3-1 através de um slalom lendário de Archie Gemmill. Johny Rep, quatro minutos depois, reserva o bilhete de volta para os britânicos.

Na segunda fase de grupos, Holanda e RFA reeditam a final de Munique. Um golo de Rene van de Kerkhof garante um empate pouco vingativo. Segue-se a Áustria. Ernst Happel sucedera a Jan Zwartkruis, que ficara com o lugar de George Knobel, e este, por sua vez, herdara o legado de Rinus Michels. É um austríaco, portanto, que lidera o atropelamento da Laranja Mecânica ao seu próprio país (5-1). «Dois pontos, senhores!», é o que pede sempre. Mas são bem mais do que dois pontos.

A Itália, de Roberto Bettega e Paolo Rossi, é o maior obstáculo à presença na segunda final consecutiva. Um autogolo de Ernie Brandts coloca o conjunto de Enzo Bearzot na frente, mas o defesa redime-se com o empate, tornando-se o primeiro futebolista da história a marcar a favor e contra em fases finais. Um remate fabuloso de Arie Haan, cheio de efeito e a quarenta metros, garante o triunfo e a presença no jogo mais desejado.

Agora em Rosário, a Argentina passa a forte Polónia com um 2-0 e empata com o arquirrival Brasil. Precisa de vencer por quatro golos o Peru e marca seis sem resposta, alimentando a teoria da conspiração.

O poste que sustenta a festa do regime

A final também não escapa à controvérsia. O pontapé de saída é atrasado perante a preocupação dos argentinos com o pulso fraturado de Van de Kerkhof, algo que levará os holandeses a não esperar no relvado pela entrega da taça, como forma de protesto.

El Toro Kempes é o herói, apesar do forte início de encontro por parte dos rivais. Luque e Ardiles criam a oportunidade em grande velocidade e o avançado não perdoa. O suplente Dirk Nanninga cumpre a promessa que tinha feito antes do encontro e cabeceia para o empate a dez minutos do 90, garantindo que a Holanda não cairá sem luta. E, a um minuto dos noventa, Resenbrink acerta no poste, deixando o seu país, mais uma vez, a um pequeno passo da glória.

O prolongamento é todo de Kempes, que ultrapassa três camisolas laranjas antes de bater Jan Jongbloed para o 2-1 e serve Bertoni, a cinco minutos do fim, para o golo da confirmação. Os papelinhos caem por todo o lado no Monumental, a Argentina é campeã do mundo.

RESULTADOS:

Argentina, de 1 a 25 de junho de 1978
Vencedor: Argentina (1º título)
Finalista vencido: Holanda
3º lugar: Brasil
4º lugar: Itália

GRUPO A

02-06 Estádio Mar del Plata (Mar del Plata) Itália-França, 2-1
02-06 Estádio Monumental (Buenos Aires) Argentina-Hungria, 2-1
06-06 Estádio Mar del Plata (Mar del Plata) Itália-Hungria, 3-1
06-06 Estádio Monumental (Buenos Aires) Argentina-França, 2-1
10-06 Estádio Mar del Plata (Mar del Plata) França-Hungria, 3-1
10-06 Estádio Monumental (Buenos Aires) Itália-Argentina, 1-0

J V E D GM-GS P
Itália 3 3 0 0 6-2 6
Argentina 3 2 0 1 4-3 4
França 3 1 0 2 5-5 2
Hungria 3 0 0 3 3-8 0

GRUPO B

01-06 Estádio Monumental (Buenos Aires) Polónia-RFA, 0-0
02-06 Estádio Rosário (Rosário) Tunísia-México, 3-1
06-06 Estádio Rosário (Rosário) Polónia-Tunísia, 1-0
06-06 Estádio Córdoba (Córdoba) RFA-México, 6-0
10-06 Estádio Córdoba (Córdoba) Tunísia-RFA, 0-0
10-06 Estádio Rosário (Rosário) Polónia-México, 3-1

J V E D GM-GS P
Polónia 3 2 1 0 4-1 5
RFA 3 1 2 0 6-0 4
Tunísia 3 1 1 1 3-2 3
México 3 0 0 3 2-12 0

GRUPO C

03-06 Estádio Mar del Plata (Mar del Plata) Brasil-Suécia, 1-1
03-06 Estádio José Amalfitani (Buenos Aires) Áustria-Espanha, 2-1
07-06 Estádio José Amalfitani (Buenos Aires) Áustria-Suécia, 1-0
07-06 Estádio Mar del Plata (Mar del Plata) Brasil-Espanha, 0-0
11-06 Estádio Mar del Plata (Mar del Plata) Brasil-Áustria, 1-0
11-06 Estádio José Amalfitani (Buenos Aires) Espanha-Suécia, 1-0

J V E D GM-GS P
Áustria 3 2 0 1 3-2 4
Brasil 3 1 2 0 2-1 4
Espanha 3 1 1 1 2-2 3
Suécia 3 0 1 2 1-3 1

GRUPO D

03-06 Estádio Mendoza (Mendoza) Holanda-Irão, 3-0
03-06 Estádio Córdoba (Córdoba) Peru-Escócia, 3-1
07-06 Estádio Mendoza (Mendoza) Holanda-Peru, 0-0
07-06 Estádio Córdoba (Córdoba) Irão-Escócia, 1-1
11-06 Estádio Mendoza (Mendoza) Escócia-Holanda, 3-2
11-06 Estádio Córdoba (Córdoba) Peru-Irão, 4-1

J V E D GM-GS P
Peru 3 2 1 0 7-2 5
Holanda 3 1 1 1 5-3 3
Escócia 3 1 1 1 5-6 3
Irão 3 0 1 2 2-8 1

SEGUNDA FASE

GRUPO 1

14-06 Estádio Monumental (Buenos Aires) Itália-RFA, 0-0
14-06 Estádio Córdoba (Córdoba) Holanda-Áustria, 5-1
18-06 Estádio Córdoba (Córdoba) Holanda-RFA, 2-2
18-06 Estádio Monumental (Buenos Aires) Itália-Áustria, 1-0
21-06 Estádio Monumental (Buenos Aires) Holanda-Itália, 2-1
21-06 Estádio Córdoba (Córdoba) Áustria-RFA, 3-2

J V E D GM-GS P
Holanda 3 2 1 0 9-4 5
Itália 3 1 1 1 2-2 3
RFA 3 0 2 1 4-5 2
Áustria 3 1 0 2 4-8 2

GRUPO 2

14-06 Estádio Mendoza (Mendoza) Brasil-Peru, 3-0
14-06 Estádio Rosário (Rosário) Argentina-Polónia, 2-0
18-06 Estádio Mendoza (Mendoza) Polónia-Peru, 1-0
18-06 Estádio Rosário (Rosário) Argentina-Brasil, 0-0
21-06 Estádio Mendoza (Mendoza) Brasil-Polónia, 3-1
21-06 Estádio Rosário (Rosário) Argentina-Peru, 6-0

J V E D GM-GS P
Argentina 3 2 1 0 8-0 5
Brasil 3 2 1 0 6-1 5
Polónia 3 1 0 2 2-5 2
Peru 3 0 0 3 0-10 0

JOGO DE ATRIBUIÇÃO DO 3º E 4º LUGARES

24-06 Estádio Monumental (Buenos Aires) Brasil-Itália, 2-1

FINAL

25-06 Estádio Monumental (Buenos Aires) Argentina-Holanda, 3-1 ap

8
Kimberley 1978

O Kimberley bate a Hungria

FOI COM AS CORES de um modesto clube argentino, o Kimberley, que a França somou a sua única vitória no Campeonato do Mundo de 1978.

O dia em que o Kimberley ganhou um jogo do Mundial começou por uma grande confusão. A França e a Hungria baralharam as recomendações sobre quem devia apresentar-se em campo com o equipamento de reserva e ambas foram de branco para o estádio de Mar del Plata.

Alguém tinha de trocar. Só que nenhuma das equipas tinha levado camisolas alternativas e as originais estavam a dezenas de quilómetros, onde cada uma das selecções tinha a sua sede.

O impasse resolveu-se de improviso, com a ajuda do clube local: o Kimberley acedeu a vestir uma das equipas. Estava sanada a crise, o jogo podia começar, ainda que com 40 minutos de atraso. A França, que foi considerada responsável pela confusão, equipou então nesse jogo de camisola às riscas verticais verdes e brancas. Os calções azuis e meias vermelhas originais dos «bleus» completavam a indumentária e acrescentaram ao momento o pormenor insólito de Platini e companhia ostentarem números diferentes na camisola e nos calções.

A França ganhou esse encontro da primeira fase do Mundial de 1978 por 3-1, o Club Atlético Kimberley ganhou dimensão global e fez justiça ao nome, que tinha ido buscar a um documentário sobre as minas de Kimberley, na África do Sul.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

9
Argentina 1978

A faena de «El Toro»

MARCADORES

6 - Kempes (Argentina)
5 - Rensenbrink (Holanda) e Cubillas (Peru)
4 - Luque (Argentina) e Krankl (Áustria)
3 - Dirceu e Roberto (Brasil), Rummenige (Áustria), Rep (Holanda) e Rossi (Itália)
2 - Bertoni (Argentina), Nelinho (Brasil), Flohe e D. Müller (RFA), Brandts (Holanda), Bettega (Itália), Boniek e Lato (Polónia) e Gemill (Escócia)
1 - Houseman, Passarella e Tarantini (Argentina), Obermayer e Schachner (Argentina), Reinaldo e Zico (Brasil), Bredoll, Lacombe, López, Platini e Rocheteau (França), Asensi e Dani (Espanha), Abramczik, Hölzenbein e H.Müller (RFA), Nanninga e R. Van de Kerkhof (Holanda), Caspó, A.Tóth e Zombori (Hungria), Danaifar e Rowshan (Irão), Benetti, Causio e Zaccarelli (Itália), Rangel e Vásquez-Ayala (México), Cueto e Velasquez (Peru), Deyna e Szarmach (Polónia), Dalglish e Jordan (Escócia), Sjöberg (Suécia), Dhouleb, Ghammidh e Kaabi (Tunísia)
Autogolos - Vogts (Alemanha), Eskandarian (Irão) e Brandts (Holanda)

Total: 103 golos (2,68 média)
Melhor ataque: Argentina e Holanda (15)
Todas as equipas marcaram
60 jogadores marcaram, seis já o tinham feito em 1974

10

O «quase» laranja, outra vez

FICHA DE JOGO

Árbitro: Sergio Gonella (Itália)

ARGENTINA - Fillol; Olguin, Galvan, Passarella (c) e Tarantini; Ardiles (Larossa, 66), Gallego, Kempes e Bertoni; Luqué e Ortiz (Houseman, 75)

HOLANDA - Jongbloed; Poortvliet, Krol (c), Brandts e Jansen (Suurbier, 73); Neeskens, Haan, W. van de Kerkhof e R. van de Kerkhof; Rep (Nanninga, 59) e Rensenbrink

Marcadores: 1-0 Kempes (38), 1-1 Nanninga (82); 2-1, Kempes (105); 3-1, Bertoni (115)

11

1982: o fim do romantismo, e o renascer da Fénix italiana

A LARANJA PERDE SUMO, e falha a presença no Campeonato do Mundo de 1982, um torneio estendido para 24 equipas, a fim de permitir a qualificação de um maior número de seleções de África e Ásia. Argélia, Camarões, Honduras, Kuwait e Nova Zelândia dão o toque de exotismo ao Mundial espanhol.

O formato muda: seis grupos de quatro equipas, que apuram cada um os dois primeiros, divididos depois em outros quatro grupos de três, que, por sua vez, qualificam os dois semi-finalistas. Em caso de empate, a partir daí, decide-se nos penáltis.

Se 1978 tinha sido um Campeonato polémico, o de quatro anos depois não lhe fica atrás. No encontro entre França e Kuwait, os asiáticos protestam contra um golo do adversário, alegando que tinham parado ao ouvir um apito. O xeque Fahid, presidente da federação, invade o relvado e ameaça retirar a equipa de campo. O árbitro muda a sua decisão, o que lhe custará a suspensão, mas a França vence na mesma, por 4-1.

O novo formato não ajuda Inglaterra e Camarões, que vão para casa sem perder um único jogo, e quando República Federal Alemã e Áustria entram em campo para a última partida do seu grupo já sabem que a vitória germânica por um ou dois golos apura ambos. Depois de a Mannschaft adiantar-se cedo no marcador, não surge nova oportunidade de golo nem sequer o esboço de uma tentativa, e a Argélia, que tinha batido a Alemanha no primeiro jogo, é a vítima de um cessar-fogo aparentemente premeditado. Dez anos mais tarde, o capitão argelino Salah Asad será executado durante uma ação de repressão do governo sobre fundamentalistas islâmicos.

Nas meias-finais, é Harald Schumacher o vilão. O guarda-redes alemão deixa a baliza a alta velocidade e atropela o isolado Patrick Battiston, deixando-o com lesões na coluna e dois dentes a menos, inconsciente no relvado. É levado depois de maca e transportado diretamente para o hospital, sem que o Schumacher mostra qualquer sinal de arrependimento.

O «beijo da morte»

Antes, ainda na primeira fase, a Hungria destroça El Salvador com um 10-1 – o suplente Laszlo Kiss marca três golos em oito minutos, um recorde –, mas os heróis são os norte-irlandeses, de volta após 1958, ao vencerem a Espanha em Valência, com um golo de Gerry Armstrong. Norman Whiteside, com 17 anos e 42 dias, é o mais novo de sempre a participar em fases finais.

Já os locais, que tinham arrancado com a humilhação de um empate frente às Honduras, apuram-se para a segunda fase no limite, mas acabam em último no grupo de RFA e Inglaterra, com os britânicos também a regressar a casa de mãos vazias depois de um arranque em grande nível.

O campeão em título Argentina já conta com Diego Maradona e, apesar da derrota na estreia com a Bélgica, consegue chegar ao grupo da morte, que engloba ainda Brasil e Itália. Os canarinhos reúnem a melhor equipa desde 1970, com Falcão, Zico, Sócrates e Éder, e o patinho-feio Serginho a ocupar o lugar do lesionado Careca na frente de ataque. Duas derrotas afastam a Argentina, com o Pelusa, perto de começar a sua curta aventura no Barcelona, a ser expulso por agressão ao brasileiro Batista. No entanto, os favoritos do povo também acabaram por deixar a competição, no Sarriá. Paolo Rossi assina três golos, Sócrates e Falcão marcam dois para os sul-americanos, com Serginho a falhar algumas oportunidades flagrantes. É o fim da era romântica no futebol.

Os milagres de Paolo Rossi

A Itália, depois de uma primeira fase deprimente, vence uma Polónia sem o suspenso Boniek, e chega à primeira final em 12 anos. Rossi, que tinha estado dois anos afastado do futebol por alegado envolvimento no escândalo de apostas Totonero, marca mais dois golos decisivos. É uma verdadeira Fénix renascida.

Na outra meia-final, França e RFA protagonizam um dos melhores jogos de sempre. A França é um carrossel de futebol de ataque, que se consagrará campeã da Europa dois anos mais tarde às custas de Portugal e Espanha. Jean Tigana, Alain Giresse e Michel Platini entendem-se como poucos. Com 1-1 no marcador, os gauleses ficam a saber que o crime compensa. Patrick Battiston é, como se disse, atropelado, sem bola, por Schumacher e o árbitro assinala... pontapé de baliza.

Apesar de ter de voltar a mexer, a França chega mesmo ao 3-1 no prolongamento, com golos de Giresse e Trésor, mas a Alemanha volta a provar que só acaba com o apito final, empatando por Karl-Heinz Rummenigge e Klaus Fischer. Chega o primeiro desempate por penáltis da história. Giresse marca o primeiro, mas Didier Six e Maxime Bossis falham, e Hrubesch não perdoa, fechando a contabilidade dos remates dos 11 metros em 5-4.

A final consagra a Itália. Paolo Rossi e Marco Tardelli dão uma vantagem confortável à azzurra, com a imagem do médio a perpetuar-se no tempo, a correr de braços abertos, em êxtase, para a linha lateral. Altobelli assina o terceiro, e Paul Breitner já só tem direito a um prémio do consolidação, com o segundo golo em finais, oito anos depois de Munique. Aos 40 anos, o guarda-redes Dino Zoff torna-se o mais velho a erguer a taça de campeão do mundo.

RESULTADOS:

Espanha, de 13 de junho a 11 de julho de 1982
Vencedor: Itália (3º título)
Finalista vencido: RFA
3º lugar: Polónia
4º lugar: França

GRUPO A

14-06 Estádio dos Balaídos (Vigo) Itália-Polónia, 0-0
15-06 Estádio Riazor (Corunha) Camarões-Peru, 0-0
19-06 Estádio dos Balaídos (Vigo) Itália-Peru, 1-1
22-06 Estádio Riazor (Corunha) Camarões-Polónia, 0-0
23-06 Estádio Riazor (Corunha) Polónia-Peru, 5-1
23-06 Estádio dos Balaídos (Vigo) Itália-Camarões, 1-1

J V E D GM-GS P
Polónia 3 1 2 0 5-1 4
Itália 3 0 3 0 2-2 3
Camarões 3 0 3 0 1-1 3
Peru 3 0 2 1 2-5 2

GRUPO B

16-06 Estádio El Molinón (Gijón) Argélia-RFA, 2-1
17-06 Estádio Carlos Tartiere (Oviedo) Áustria-Chile, 1-0
20-06 Estádio El Molinón (Gijón) RFA-Chile, 4-1
21-06 Estádio Carlos Tartiere (Oviedo) Áustria-Argélia, 2-0
24-06 Estádio Carlos Tartiere (Oviedo) Argélia-Chile, 3-2
25-06 Estádio Balaídos (Vigo) RFA-Áustria, 1-0

J V E D GM-GS P
RFA 3 2 0 1 6-3 4
Áustria 3 2 0 1 3-1 4
Argélia 3 2 0 1 5-5 4
Chile 3 0 0 3 3-8 0

GRUPO C

13-06 Estádio Camp Nou (Barcelona) Bélgica-Argentina, 1-0
15-06 Nuevo Estádio (Elche) Hungria-El Salvador, 10-1
18-06 Estádio José Rico Pérez (Alicante) Argentina-Hungria, 4-1
19-06 Nuevo Estádio (Elche) Bélgica-El Salvador, 1-0
22-06 Nuevo Estádio (Elche) Bélgica-Hungria, 1-1
23-06 Estádio José Rico Pérez (Alicante) Argentina-El Salvador, 2-0

J V E D GM-GS P
Bélgica 3 2 1 0 3-1 5
Argentina 3 2 0 1 6-2 4
Hungria 3 1 1 1 12-6 4
El Salvador 3 0 0 3 1-13 0

GRUPO D

16-06 Estádio San Mamés (Bilbau) Inglaterra-França, 3-1
17-06 Nuevo Estádio José Zorilla (Valladolid) Checoslováquia-Kuwait, 1-1
20-06 Estádio San Mamés (Bilbau) Inglaterra-Checoslováquia, 2-0
21-06 Nuevo Estádio José Zorilla (Valladolid) França-Kuwait, 4-1
24-06 Nuevo Estádio José Zorilla (Valladolid) Checoslováquia-França, 1-1
25-06 Estádio San Mamés (Bilbau) Inglaterra-Kuwait, 1-0

J V E D GM-GS P
Inglaterra 3 3 0 0 6-1 6
França 3 1 1 1 6-5 3
Checoslováquia 3 1 1 1 2-4 3
Kuwait 3 0 0 3 2-6 0

GRUPO E

16-06 Estádio Luis Casanova (Valência) Honduras-Espanha, 1-1
17-06 Estádio La Romareda (Saragoça) Irlanda do Norte-Jugoslávia, 0-0
20-06 Estádio Luis Casanova (Valência) Espanha-Jugoslávia, 2-1
21-06 Estádio La Romareda (Saragoça) Honduras-Irlanda do Norte, 1-1
24-06 Estádio La Romareda (Saragoça) Jugoslávia-Honduras, 1-0
25-06 Estádio Luis Casanova (Valência) Irlanda do Norte-Espanha, 1-0

J V E D GM-GS P
Irlanda do Norte 3 1 2 0 2-1 4
Espanha 3 1 1 1 3-3 3
Jugoslávia 3 1 1 1 2-2 3
Honduras 3 0 2 1 2-3 2

GRUPO F

14-06 Estádio Sánchez Pizjuán (Sevilha) Brasil-União Soviética, 2-1
15-06 Estádio La Rosaleda (Málaga) Escócia-Nova Zelândia, 5-2
18-06 Estádio Benito Villamarín (Sevilha) Brasil-Escócia, 4-1
19-06 Estádio La Rosaleda (Málaga) União Soviética-Nova Zelândia, 3-0
22-06 Estádio La Rosaleda (Málaga) Escócia-União Soviética, 2-2
23-06 Estádio Benito Villamarín (Sevilha) Brasil-Nova Zelândia, 4-0

J V E D GM-GS P
Brasil 3 3 0 0 10-2 6
União Soviética 3 1 1 1 6-4 3
Escócia 3 1 1 1 8-8 3
Nova Zelândia 3 0 0 3 2-12 0

SEGUNDA FASE

GRUPO 1

28-06 Estádio Camp Nou (Barcelona) Polónia-Bélgica, 3-0
01-07 Estádio Camp Nou (Barcelona) União Soviética-Bélgica, 1-0
04-07 Estádio Camp Nou (Barcelona) Polónia-União Soviética, 0-0

J V E D GM-GS P
Polónia 2 1 1 0 3-0 3
União Soviética 2 1 1 0 1-0 3
Bélgica 2 0 0 2 0-4 0

GRUPO 2

29-06 Estádio Santiago Bernabéu (Madrid) Inglaterra-RFA, 0-0
02-07 Estádio Santiago Bernabéu (Madrid) RFA-Espanha, 2-1
05-07 Estádio Santiago Bernabéu (Madrid) Inglaterra-Espanha, 0-0

J V E D GM-GS P
RFA 2 1 1 0 2-1 3
Inglaterra 2 0 2 0 0-0 2
Espanha 2 0 1 1 1-2 1

GRUPO 3

29-06 Estádio Sarriá (Barcelona) Itália-Argentina, 2-1
02-07 Estádio Sarriá (Barcelona) Brasil-Argentina, 3-1
05-07 Estádio Sarriá (Barcelona) Itália-Brasil, 3-2

J V E D GM-GS P
Itália 2 2 0 0 5-3 4
Brasil 2 1 0 1 5-4 2
Argentina 2 0 0 2 2-5 0

GRUPO 4

28-06 Estádio Vicente Calderón (Madrid) França-Áustria, 1-0
01-07 Estádio Vicente Calderón (Madrid) Áustria-Irlanda do Norte, 2-2
04-07 Estádio Vicente Calderón (Madrid) França-Irlanda do Norte, 4-1

J V E D GM-GS P
França 2 2 0 0 5-1 4
Áustria 2 0 1 1 2-3 1
Irlanda do Norte 2 0 1 1 3-6 1

MEIAS-FINAIS

08-07 Estádio Camp Nou (Barcelona) Itália-Polónia, 2-0
08-07 Estádio Sánchez Pizjuán (Sevilha) RFA-França, 3-3, 5-4 gp

JOGO DE ATRIBUIÇÃO DO 3º E 4º LUGARES

10-07 Estádio José Rico Pérez (Alicante) Polónia-França, 3-2

FINAL

11-07 Estádio Santiago Bernabéu (Madrid) Itália-RFA, 3-1

12
Itália Brasil 1982

Milagre italiano em Sarriá

CAÍDO EM DESGRAÇA no seu país, Paolo Rossi ressuscitou no Brasil-Itália de 1982, com um hat-trick. Contra todas as previsões, os italianos seguiram em frente, rumo à conquista do título.

A eliminação do Brasil em pleno Jalisco foi dramática. Mas, quatro anos antes, um outro estádio ganhou um lugar mais destacado no imaginário maldito dos canarinhos. Sarriá só tinha capacidade para 44 mil espectadores, mas coubessem lá 150 mil e nem uma cadeira teria ficado vaga nesse inesquecível 5 de Julho de 1982.

O Brasil de Telé Santana arrastava multidões com o seu futebol-arte, feito de técnica, criatividade e fantasia. Tinha um dos melhores quartetos de meio-campo de toda a história dos Mundiais (Falcão, Cerezo, Zico e Sócrates). Tinha ainda dois laterais ofensivos (Leandro e Júnior) uma dupla de centrais alérgica a faltas (Óscar e Luisinho) e um extremo-esquerdo (Éder) capaz de remates a quase 200 quilómetros por hora.

Eram tão bons que costumam dar avanço aos adversários: fizeram-no com a URSS (2-1) e com a Escócia (4-1), em dois recitais que trouxeram de volta as memórias intocáveis do México-70. A goleada à Nova Zelândia (4-0) e o fantástico correctivo aplicado à Argentina (3-1), campeã em título com um jovem Maradona anunciado como o novo Messias, acabaram de compor o quadro: todos concordavam que, apesar de um guarda-redes inseguro e um ponta-de-lança limitado, aquela era a melhor equipa do Espanha-82. E poucos duvidavam de que o título a esperava.

Entre esses poucos estava Enzo Bearzot. O seleccionador da Itália era tudo aquilo que Telé Santana não era. Conservador, calculista e sem qualquer intenção de agradar às massas. De cachimbo ao canto da boca, mantinha uma estrutura inalterada em quatro anos, para fúria dos jornalistas italianos, com quem a equipa cedo entrou em conflito. A primeira fase, medíocre, deu razão aos críticos: três empates sem sal nem brilho com Polónia, Peru e Camarões e um apuramento seguro pelos cabelos.

Seguiu-se uma vitória guerrilheira sobre a Argentina (2-1), quando um defesa de espírito carniceiro, Claudio Gentile, trinchou Maradona às postas, a golpes de pitons, cotovelos e puxões de camisola. Com o árbitro romeno Rainea como cúmplice, Gentile ficou em campo os 90 minutos, mesmo cometendo ilegalidades em número suficiente para ser expulso umas quatro vezes.

Mas, descontando o evidente cinismo, alguma coisa tinha mudado: os espectadores descobriam um meio-campo versátil, com a técnica sobredotada de Conti, um malabarista do drible, o fôlego inesgotável de Tardelli e o futebol refinado e geométrico de Antognoni, o maestro. Lá atrás, o veterano Zoff esbanjava segurança do alto dos seus 40 anos, enquanto o líbero Scirea dava o toque de classe a uma defesa implacável.

Só o ataque não funcionava, e aí as críticas a Bearzot subiam ainda mais de tom. Como era possível o seleccionador manter confiança cega num avançado como Paolo Rossi, suspenso dois anos por envolvimento num escândalo de apostas clandestinas e falseamento de resultados? Só voltara à competição em Abril desse ano, somando quatro jogos discretos pela Juventus e mesmo assim para Bearzot era Rossi e mais dez. Mas os golos tardavam e o número 20 da Itália era cada vez mais o homem a abater, o sintoma de tudo o que havia de errado com a squadra azzurra.

Mas, no Sarriá, o mundo assistiu incrédulo à metamorfose mais radical da História do futebol. Não foi o Brasil que desaprendeu de jogar: o escrete foi sublime, como habitualmente. Mas a Itália, patinho-feio de calculadora em punho, tornou-se simplesmente divina. E Paolo Rossi foi o seu improvável profeta, com um hat-trick que anulou os golos fantásticos de Sócrates e Falcão. O público nem ousara pestanejar, tão bem se jogou de parte a parte. Mas o apito final do israelita Klein aí estava, irremediável. A Itália festejava o 3-2 com cânticos de «Il Brasile siamo noi!», os brasileiros recolhiam-se para chorar um segundo Maracanazo, desta vez transmitido em directo para todo o mundo. A maravilhosa equipa de Telé deixava inconsolável uma legião de fiéis, mas ninguém poderia beliscar a justiça da vitória italiana. E os cânticos tinham razão: nessa tarde, os azzurri também foram brasileiros, jogando um futebol de sonho.

Nos dias seguintes, a ressurreição de Rossi continuou a render: mais dois golos à Polónia, na meia-final (2-0), e mais um, decisivo, abrindo o marcador na final com a Alemanha (3-1). Estava encontrado o novo campeão mundial. Estava encontrado, também o melhor marcador de um Campeonato apaixonante. De proscrito inútil a herói absoluto em menos de uma semana, o Bambino d’Oro tinha atingido o ponto mais alto de uma carreira abençoada pelas cachimbadas pensativas de Bearzot, o homem que acreditava em milagres.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

13
Alemanha-Argélia 1982

Quando Madjer driblou o mito

A 16 DE JUNHO DE 1982, a Argélia estreou-se no Campeonato do Mundo com uma surpreendente vitória sobre a Alemanha (2-1).

Às vezes a Alemanha não ganha. Às vezes quando menos espera. Naquela tarde de Junho em Gijón, Madjer e companhia driblaram o mito, surpreenderam o gigante e reescreveram a frase feita. Campo rectangular, bola redonda, onze para cada lado.

A Argélia estreava-se naquele dia no Mundial. O baptismo seria frente à poderosa Alemanha. Duas equipas separadas por um mundo de diferenças. Do ponto de vista germânico, o encontro de Gijón seria só uma formalidade de calendário antes de começarem os assuntos sérios. Ficou célebre a fanfarronice que Jupp Derwall, o seleccionador alemão, teve de engolir: «Se perdermos vou para casa no próximo avião.»

O voo seguinte levou pelo menos essa sobranceria, assente na falta de referências sobre o adversário e na pouca cotação das selecções de África. Afinal, apenas quatro anos antes a Tunísia tinha conseguido ganhar para o continente o primeiro jogo num Campeonato do Mundo. Acontece que, tal como os Camarões de Roger Milla, nesse Espanha-82, a Argélia estava longe de ser o bombo da festa. Era uma equipa com qualidade e alguma experiência, com vários jogadores a actuar na Europa já por essa altura.

Só precisou de se adaptar ao ambiente, passar o período dos cumprimentos e das cerimónias. Depois começou a jogar, mais e melhor que a Alemanha. E marcou. A jogada foi iniciada por outro Zidane, nome próprio Djamel, e terminou em Madjer. O argelino que cinco anos mais tarde havia de dar de calcanhar a Taça dos Campeões Europeus ao F.C. Porto (frente a uma equipa alemã…) marcava o primeiro golo do seu país no Campeonato do Mundo e fazia tremer a Mannschaft, surpreendida do alto dos seus galões de campeã da Europa em título.

Provocada, a Alemanha carregou. Rummenigge marcou aos 67 minutos, mas este não era um dia como os outros. O empate não durou mais que 40 segundos, o tempo necessário para Belloumi, melhor jogador africano no ano anterior, bater Schumacher e fixar o resultado final: 2-1, um lugar-comum por terra. A Alemanha não deixou de ser a Alemanha: nesse ano até conseguiu chegar à final. O Mundial é que mostrou, de novo, que o futebol é muito mais do que verdades imutáveis.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

14

Xeque ao futebol

EM 1982, um xeque do Kuwait invadiu o relvado a contestar uma decisão e levou o árbitro a anular o golo que a França acabava de marcar.

«Vou eu aí», gesticulou o xeque lá do alto. E foi. Saiu da tribuna, desceu as escadas do Estádio Zorrilla e entrou relvado dentro. O mundo assistia estupefacto enquanto aquela figura de túnica e turbante vermelho fazia gestos largos a incitar a equipa do Kuwait a sair de campo e convencia mesmo o árbitro a anular o golo que a França acabava de marcar. O xeque Fahid Al-Ahmad Al-Sabah, presidente da Federação e irmão do emir do Kuwait, foi protagonista de uma das histórias mais loucas a que o Mundial já assistiu.

O jogo de Valladolid levava 80 minutos. A França jogava com o equipamento alternativo, branco, que decididamente parecia atrair folclores estranhos. Festejava-se, nesse 21 de Junho, o 27º aniversário de Platini, que antes do intervalo se atribuíra um golo como prenda. Agora, era Alain Giresse quem rematava para o quarto golo da França, que ficava a vencer por 4-1. Os jogadores do Kuwait reclamaram que tinham ouvido um apito e por isso pararam, não acompanhando a jogada.

Da bancada o xeque dava a táctica para os protestos, mas como achava que a mensagem não estava a passar resolveu ir directo ao assunto. O jogo parou, o xeque refilava, rodeado de seguranças e indecisos agentes da polícia. A solução que o árbitro soviético Miroslav Stupar encontrou para resolver o assunto foi decidir que o golo afinal não valia. Os Bleus nem queriam acreditar, mas lá prosseguiram o jogo. Bossis marcou mais um, o resultado final foi mesmo 4-1.

Para o Kuwait não sobrou mais que uma multa de 14 mil dólares. Stupar não teve grande futuro como árbitro. Quanto ao xeque, seria anos mais tarde uma das primeiras vítimas da guerra do Golfo, quando o Iraque invadiu o Kuwait.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

15
Itália-Alemanha, 1982

De proscrito a... «Bambino d'Oro»

MARCADORES

6 - Rossi (Itália)
5 - Rummenige (RFA)
4 - Zico (Brasil) e Boniek (Polónia)
3 - Falcão (Brasil), Giresse (França), Kiss (Hungria) e Armstrong (Irlanda do Norte)
2 - Assad (Argélia), Bertoni, Maradona e Passarella (Argentina), Schacher (Áustria), Eder, Serginho e Socrates (Brasil), Panenka (Checoslováquia), Francis e Robson (Inglaterra), Genghini, Platini, Rocheteau e Six (França), Fischer e Littbarski (RFA), Fazekas, Nyilasi e Pölöskei (Hungria), Tardelli (Itália), Hamilton (Irlanda do Norte) e Wark (Escócia)
1 - Belloumi, Bensaouis e Madjer (Argélia), Ardiles e Diaz (Argentina), Hintermayer, Krankl e Pezzey (Áustria), Coeck, Czerniatynski e Van den Bergh (Bélgica), Júnior e Óscar (Brasil), M'Bida (Camarões), Letelier, Moscoso e Neira (Chile), Juanito, López Ufarte, Saura e Zamora (Espanha), Bossis, Couriol, Girard, Soler e Trésor (França), Breitner, Hrubesch e Reinders (RFA), Laing e Zelaya (Honduras), Szentes, Tóth e Varga (Hungria), Altobelli, Cabrini, Conti e Graziani (Itália), Gudelj e Petrović (Jugoslávia), Al Buloushi e Al Dakhael (Kuwait), Sumner e Woodin (Nova Zelândia), Diaz e La Rosa (Peru), Buncol, Ciołek, Kupcewicz, Lato, Majewski, Smolarek e Szarmach (Polónia), Ramirez (El Salvador), Archibald, Dalglish, Jordan, Narey, Robertson e Souness (Escócia), Bal, Baltacha, Blokhin, Chivadze, Gavrilov, Oganesian e Shengelia (União Soviética)
Autogolos - Barmoš (Checoslováquia)

Total: 146 golos (2,81 média)
Melhor ataque: França (16 golos, marcados por 10 jogadores diferentes, um recorde)
Todas as equipas marcaram
99 jogadores marcaram, incluindo 15 de fases finais anteriores

16

Demolição alemã no Bernabéu

FICHA DE JOGO

Árbitro: Arnaldo Cézar Coelho (Brasil)

ITÁLIA - Zoff; Gentile, Scirea, Collovati e Bergomi; Cabrini, Oriali, Tardelli e Conti; Graziani (Altobelli, 8) (Causio, 88) e Rossi

RFA - Schumacher; Kaltz, Stieleke, K.-H. Förster e B. Förster; Dremmler (Hrubesch, 63), Breitner, Rummenigge (H. Müller, 70); Briegel, Littbarski e Fischer

Marcadores: 1-0, Rossi (57); 2-0, Tardelli (69); 3-0, Altobelli (81), 3-1, Breitner (83)

17

1986: o Mundial de don Diego, o Maradona

A COLÔMBIA É A PRIMEIRA ESCOLHA, mas a situação financeira do país obriga a desistência. Sem que conceda margem de manobra para novo concurso, o presidente da da FIFA João Havelange aponta de imediato para um México que chorará ainda durante o jogo de abertura as 25 mil vítimas do sismo do ano anterior. Na cancha, 16 anos depois da coroação do Brasil, é a vez da Argentina reclamar o ceptro.

É finalmente o Mundial de Maradona, e o Azteca o seu palco de expressão máxima. Entre a Mão de Deus e o Golo do Século, a seleção das Pampas encontra finalmente o D10S que venerará décadas e décadas, até aparecer o vislumbre de um novo Messi(as) em La Masia.

Portugal, por sua vez, tem o seu Vietnam em Saltillo, com jogadores de um lado e os poucos dirigentes presentes do outro. Um comitiva dividida, consequência de um completo caos organizativo e totalitário, personificado por Silva Resende. Com apelos à negociação não correspondidos, os jogadores vão mesmo assim a jogo. Ganham à Inglaterra, com mais um golo do herói de Estugarda Carlos Manuel, mas Bento parte a perna, e Polónia e Marrocos carimbam com desdém o regresso precoce a casa do terceiro classificado do Euro-84.

A segunda fase de grupos transforma-se em eliminatórias, e aí chegam Bulgária e Uruguai sem sequer terem ganho um único jogo. Antes, para a fase final, qualifica-se o Iraque. A guerra com o vizinho Irão não lhe permite disputar um único encontro em casa. O defesa iraquiano Samir Mahmoud será banido pela FIFA depois de ter cuspido num árbitro durante a derrota frente à Bélgica, e é também frente aos belgas que o treinador paraguaio Cayetano Ré invade várias vezes o relvado e é expulso. Torna-se o primeiro técnico a receber ordem de expulsão numa fase final. Já o uruguaio José Batista esteve apenas 56 segundos em campo frente à Escócia, vendo também ele o cartão vermelho. O sangue ferve rápido nos sul-americano, mas desta vez parece mesmo exagero.

Abram alas para o «barrilete cósmico»

Maradona é a magia, a classe, a força de vontade e a liderança que faltava a um grupo apenas competente. Daniel Passarella perde estatuto, é afastado pelo novo capitão e fica doente o torneio inteiro. «Entonces me planté en medio de la reunión (…) y con Passarella presente, conté todo lo que sabía de él y se hizo un silencio profundo… (…) Ahí se rompió todo. Ahí le agarró la diarrea, el mal de Moctezuma, cuando la realidad era que todos meábamos por el culo», conta Maradona na sua autobiografia Yo soy el Diego.

Diego participa em todos os golos durante a primeira fase, contribuindo com a autoria do empate frente à campeã Itália. No entanto, os favoritos do povo são os dinamarqueses, com Michael Laudrup e Preben Elkjaer-Larsen como grandes figuras. A Danish Dynamite destroça o Uruguai (6-1) e ultrapassa a Alemanha (2-0), mas depois capitula perante a Espanha (5-1), com quatro golos de El Butre. Butragueño, o abutre.

A União Soviética é afastada pela Bélgica por 4-3, já Marrocos, carrasco de Portugal, leva a República Federal Alemã ao limite. Os germânicos só garantem o triunfo a três minutos do fim, em Monterrey. A Itália, a oferecer uma pálida imagem do que foi em 82, é despachada facilmente pelos franceses. Les Bleus, talvez últimos representantes do tal futebol-arte, protagonizam batalha épica com o Brasil, já sem o poder artístico de quatro anos antes, em Guadalajara.

Carlos atropela Bruno Bellone e faz lembrar Schumacher e Battiston, Zico falha o penálti que daria a vitória aos brasileiros ainda antes dos 90. O encontro, empatado a um golo, vai para desempate dos 11 metros. Platini atira por cima da barra com os nervos, mas Joel Bats salva o dia para os franceses, ao anular os remates de Sócrates e Júlio César, e Luis Fernandez garante mesmo a qualificação. Segue-se a RFA e, de novo, sente-se o perfume da vingança no ar.

As Malvinas para lá de um jogo de futebol

Os argentinos ultrapassam o Uruguai, e têm a Inglaterra pela frente nos quartos de final. Quatro anos depois da Falkland’s War, a Guerra das Malvinas, o ódio entre sul-americanos e europeus ainda está latente. Bobby Robson é o selecionador de uma equipa britânica contundente no ataque, por culpa de Gary Lineker, e já saboreara um triunfo frente ao também sul-americano Paraguai na segunda ronda. Só que a Argentina não é o Paraguai, nem os guaranís têm o melhor do mundo. Para muitos, o melhor de todos os tempos.

À infame Mão de Deus segue-se o Golo do Século, uma defesa derrubada como dominó por um barrilete cósmico de nome Maradona. É o melhor golo de sempre num Campeonato do Mundo e confere o selo de qualidade à, agora sim, maior favorita a vencer o troféu. A entrada de John Barnes ainda agita a partida, com a assistência para o golo do inevitável Lineker, mas já nada muda na aura da seleção de Carlos Bilardo, el Narigón. Nas meias-finais, o bis de Maradona com a Bélgica confirma o novo status quo.

A França falha a sua vingança, com Bats a perder o estatuto de herói. Um erro num livre de Brehme dá vantagem à Mannschaft, confirmada por Rudi Völler quando Platini e seus pares perseguiam em desespero o empate.

Ator secundário, até desembrulhar a machadada final

Na final, cabe a Lothar Matthäus marcar individualmente Maradona, e Diego assume com naturalidade o papel de ator secundário. Jose Luis Brown, o discreto mas eficaz substituto de Passarella, marca o primeiro após livre de Burruchaga, e Jorge Valdano assina o segundo perante um desesperado Harald Schumacher. Tudo parece perdido para a RFA, mas como acontece quase sempre com os alemães as aparências voltam a iludir. Entram os pesos-pesados Karl-Heinz Rummenigge e Dieter Hoeness e daí até aos 2-2 é um pequeno passo. Rummenigge, mais uma vez limitado fisicamente, é o autor do primeiro, Völler empata.

Só que, como se disse antes, este Mundial é de Maradona. Dois minutos depois do empate, inventa a assistência sublime para a corrida de Burruchaga e resolve um encontro que voltara a ficar difícil. A Argentina conquista o segundo título, e o peso de um único jogador na taça de campeão do mundo nunca sido tão grande.

RESULTADOS:

México, de 31 de maio a 29 de junho de 1986
Vencedor: Argentina (2º título)
Finalista vencido: RFA
3º lugar: França
4º lugar: Bèlgica

GRUPO A

31-05 Estádio Azteca (Cidade do México) Itália-Bulgária, 1-1
02-06 Estádio Olímpico'68 (Cidade do México) Argentina-Coreia do Sul, 3-1
05-06 Estádio Cuauhtemoc (Puebla) Argentina-Itália, 1-1
05-06 Estádio Olímpico'68 (Cidade do México) Bulgária-Coreia do Sul, 1-1
10-06 Estádio Olímpico'68 (Cidade do México) Argentina-Bulgária, 2-0
10-06 Estádio Cuauhtemoc (Puebla) Itália-Coreia do Sul, 3-2

J V E D GM-GS P
Argentina 3 2 1 0 6-2 5
Itália 3 1 2 0 5-4 4
Bulgária 3 0 2 1 2-4 2
Coreia do Sul 3 0 1 2 4-7 1

GRUPO B

03-06 Estádio Azteca (Cidade do México) México-Bélgica, 2-1
04-06 Estádio Bombonera (Toluca) Paraguai-Iraque, 1-0
07-06 Estádio Azteca (Cidade do México) México Paraguai, 1-1
08-06 Estádio Bombonera (Toluca) Bélgica-Iraque, 2-1
11-06 Estádio Bombonera (Toluca) Bélgica-Paraguai, 2-2
11-06 Estádio Azteca (Cidade do México) México-Iraque, 1-0

J V E D GM-GS P
México 3 2 1 0 4-2 5
Paraguai 3 1 2 0 4-3 4
Bélgica 3 1 1 1 5-5 3
Iraque 3 0 0 3 1-4 0

GRUPO C

01-06 Estádio Sergio León (León) França-Canadá, 1-0
02-06 Estádio Revolución (Irapuato) União Soviética-Hungria, 6-0
05-06 Estádio Sergio León (León) França-União Soviética, 1-1
06-06 Estádio Revolución (Irapuato) Hungria-Canadá, 2-0
09-06 Estádio Sergio León (León) França-Hungria, 3-0
09-06 Estádio Revolución (Irapuato) União Soviética-Canadá, 2-0

J V E D GM-GS P
União Soviética 3 2 1 0 9-1 5
França 3 2 1 0 5-1 5
Hungria 3 1 0 2 2-9 2
Canadá 3 0 0 3 0-5 0

GRUPO D

01-06 Estádio Jalisco (Guadalajara) Brasil-Espanha, 1-0
03-06 Estádio Trez de Marzo (Guadalajara) Argélia-Irlanda do Norte, 1-1
06-06 Estádio Jalisco (Guadalajara) Brasil-Argélia, 1-0
07-06 Estádio Trez de Marzo (Guadalajara) Espanha-Irlanda do Norte, 2-1
12-06 Estádio Jalisco (Guadalajara) Brasil-Irlanda do Norte 3-0
12-06 Estádio Tecnologixo (Monterrey) Espanha-Argélia, 3-0

J V E D GM-GS P
Brasil 3 3 0 0 5-0 6
Espanha 3 2 0 1 5-2 4
Irlanda do Norte 3 0 1 2 2-6 1
Argélia 3 0 1 2 1-5 1

GRUPO E

04-06 Estádio La Corregidora (Queretaro) RFA-Uruguai, 1-1
04-06 Estádio Neza'86 (Nezahualcoyotl) Dinamarca-Escócia, 1-0
08-06 Estádio La Corregidora (Queretaro) RFA-Escócia, 2-1
08-06 Estádio Neza'86 (Nezahualcoyotl) Dinamarca-Uruguai, 6-1
13-06 Estádio La Corregidora (Queretaro) Dinamarca-RFA, 2-0
12-06 Estádio Neza'86 (Nezahualcoyotl) Escócia-Uruguai, 0-0

J V E D GM-GS P
Dinamarca 3 3 0 0 9-1 6
RFA 3 1 1 1 3-4 3
Uruguai 3 0 2 1 2-7 2
Escócia 3 0 1 2 1-3 1

GRUPO F

02-06 Estádio Universitario (Monterrey) Marrocos-Polónia, 0-0
03-06 Estadio Tecnologico (Monterrey) Portugal-Inglaterra, 1-0

Portugal - Bento (c); Álvaro, Frederico, Oliveira e Inácio; Diamantino (José António, 83), Jaime Pacheco, André e Sousa; Carlos Manuel, Gomes (Futre, 73)

Inglaterra - Shilton; G. Stevens, Fenwick, Butcher e Sansom; Hoddle, Robson (c) (Hodge, 60), Wilkins e Waddle (Beardsley, 80); Hateley e Lineker

Marcador: 1-0, Carlos Manuel (75)

06-06 Estadio Tecnologico (Monterrey) Inglaterra-Marrocos, 0-0
07-06 Estádio Universitario (Monterrey) Polónia-Portugal, 1-0

Polónia - Młynarczyk; Pawlak, Wójcicki, Majewski e Ostrowski; Matysik, Komornicki (Karaś, 57) e Boniek (c); Smolarek (Zgutczyński, 75), Dziekanowski e Urban

Portugal - Damas; Álvaro, Frederico, Oliveira e Inácio; Diamantino, Jaime Pacheco, André (J. Magalhães, 73) e Sousa; Carlos Manuel e Gomes (c) (Futre, 46)

Marcador: Smolarek (64)

11-06 Estádio Universitario (Monterrey) Inglaterra-Polónia, 3-0
11-06 Estadio Tecnologico (Monterrey) Marrocos-Portugal, 3-1

Marrocos - Zaki (c); Khalifi, El Biaz, Bouyahyaoui e Lemriss (Amanallah, 69); Dolmy, El Haddaoui (Souleymani, 71), Timoumi e Khairi; Bouderbala e Krimau

Portugal - Damas; Álvaro (Rui Águas, 55), Frederico, Oliveira e Inácio; Pacheco, J. Magalhaes, Sousa (Diamantino, 69) e Carlos Manuel; Gomes (c) e Futre

Marcadores: 1-0, Khairi (19); 2-0, Khairi (28), 3-0, Krimau (62), 3-1, Diamantino (90)

OITAVOS DE FINAL

15-06 Estádio Azteca (Cidade do México) México-Bulgária, 2-0
15-06 Estádio Sergio León (León) Bélgica-União Soviética, 4-3 ap
16-06 Estádio Jalisco (Guadalajara) Brasil-Polónia, 4-0
16-06 Estádio Cuauhtemoc (Puebla) Argentina-Uruguai, 1-0
17-06 Estádio Olímpico'86 (Cidade do México) França-Itália, 2-0
17-06 Estádio Universitario (Monterrey) RFA-Marrocos, 1-0
18-06 Estádio Azteca (Cidade do México) Inglaterra-Paraguai, 3-0
18-06 Estádio La Corregidora (Queretaro) Espanha-Dinamarca, 5-1

QUARTOS DE FINAL

21-06 Estádio Jalisco (Guadalajara) França-Brasil, 1-1, 4-3 gp
21-06 Estádio Universitario (Monterrey) RFA-México, 0-0, 4-1 gp
22-06 Estádio Azteca (Cidade do México) Argentina-Inglaterra, 2-1
22-06 Estádio Cuauhtemoc (Puebla) Bélgica-Espanha, 1-1, 5-4 gp

MEIAS-FINAIS

25-06 Estádio Jalisco (Guadalajara) RFA-França, 2-0
25-06 Estádio Azteca (Cidade do México) Argentina-Bélgica, 2-0

JOGO DE ATRIBUIÇÃO DO 3º E 4º LUGARES

28-06 Estádio Cuauhtemoc (Puebla) França-Bélgica, 4-2 ap

FINAL

29-06 Estádio Azteca (Cidade do México) Argentina-RFA, 3-2

18
Argentina Inglaterra 1986

O melhor golo de sempre

A 22 DE JUNHO DE 1986, no Mundial do México, a Argentina ganhou à Inglaterra por 2-1, nos quartos-de-final. O segundo golo de Maradona deixou o mundo de boca aberta.

«…And that is why Maradona is the best player in the world!!!» O narrador da BBC aumentou o tom de voz à medida que a frase se aproximava do fim e a bola se dirigia para a rede. Ganhou fôlego para deixar os pontos de exclamação no ar, o tempo que fosse preciso. Depois calou-se. Apenas as imagens do delírio de mais de 100 mil espectadores. E, acima de tudo, o silêncio, a deixar assentar o peso daquelas palavras definitivas: o melhor jogador do mundo acabara de marcar o melhor golo de todos os tempos. Nunca uma frase misturou tão bem incredulidade, inveja, conformismo e admiração. Nunca um golo se aproximou tanto do divino.

O estádio Azteca já tinha visto muitas coisas de assombrar. Apenas sete dias antes, o mexicano Negrete inventara um golo na horizontal, pairando um metro acima do chão e dos defesas búlgaros. E em 1970 tinham passado por lá umas camisolas amarelas com ilusionistas por dentro e música por fora, antes de a Taça Jules Rimet ganhar dono para sempre. Mas aquilo era outra coisa. Aquilo era a perfeição com um 10 nas costas. Aquilo era o pretexto que justificava, em apenas doze toques de pé esquerdo, cem anos de paixão pelo futebol.

Tudo começou numa recuperação de bola a meio-campo. Enrique recebeu com espaço, levantou a cabeça, viu o patrão marcado por Reid e Beardsley e fez o passe. De costas para a baliza, Maradona rodopiou sobre ele próprio e, em três toques tomou a direcção certa, acelerando a cada passada. Levantou a cabeça, viu Valdano a avançar pelo meio, demasiado longe para a tabelinha. Sempre a acelerar, desviou-se de Butcher que lhe saiu ao caminho e, contrariando as leis da física, ganhou ainda mais velocidade com o desvio. Com o bafo de Peter Reid nas costas, entrou na área, pondo mais um inglês, Fenwick, a correr para o lado errado da história.

A pensar a 300 quilómetros por segundo, teve tempo para se lembrar de um lance parecido, cinco anos antes, em Wembley, quando rematou demasiado cedo, fazendo a bola sair um palmo ao lado do poste. No regresso à Argentina o irmão mais novo, Lalo, dissera-lhe, simplesmente: «Na próxima vez aguenta o remate mais tempo.» Tinha chegado a próxima vez, e Maradona iria fazer-lhe a vontade.

Para um homem de quase 37 anos, o guarda-redes Peter Shilton até foi bastante rápido a sair dos postes. Em menos de três segundos estava fora da pequena área, a tapar todos os ângulos que a lógica permitia descobrir. Mas nesta altura Maradona já só obedecia à sua própria lógica e mais nenhuma. Seguindo o conselho de Lalo, aguentou o remate e puxou a bola para o seu lado direito deixando Shilton sentado no chão a olhar para trás.

Faltava concluir e já não lhe restava muito tempo: Butcher tinha feito meia volta e investia sobre a sua camisola azul como um touro. Por isso, o décimo-segundo e último toque foi feito já em desequilíbrio, com a ponta do pé esquerdo a antecipar-se, numa fracção de segundo, à perna esquerda do central inglês.

Assim que a bola tocou nas redes e o narrador da BBC se calou, Maradona levantou-se, ágil como um gato, e saiu a correr rumo à bandeirola de canto, à sua direita. Não tinham passado sequer 12 segundos desde aquele passe anónimo de Enrique, antes do meio-campo. Nunca, em toda a história da humanidade, alguém construíra uma catedral tão rapidamente. Muito menos usando apenas o pé esquerdo.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

19
Argentina Inglaterra 1986

A mão de Diego

MARADONA USOU O BRAÇO esquerdo para marcar o primeiro golo da vitória da Argentina sobre a Inglaterra (2-1) em 1986. Depois atribuiu-o à «Mão de Deus».

De Diego Maradona a Peter Shilton vão 20 centímetros de diferença e mais um braço esquerdo. Quando os dois saltam no ar, o 10 sobe bem mais alto, o guarda-redes da Inglaterra quase não descola do solo, a natureza dá-lhe vantagem lógica. Mas Maradona sobe, sobe, chega primeiro e faz a bola entrar na baliza.

No estádio, há que admiti-lo, muitos não terão visto muito mais que isto. A começar, parece evidente, pelo árbitro. Mas as imagens e os replays não deixaram dúvidas. Quando Maradona iniciou o arranque para a imortalidade e para o golo mágico à Inglaterra, o planeta ainda não estava completamente refeito do embuste. «Foi mão…»

Foi. Passaram quatro minutos entre um momento e outro, primeiro este grande logro depois o golo de sonho de Maradona, nesse encontro dos quartos-de-final do México-86 que testemunhou dois dos mais memoráveis momentos da História do Mundial.

No fim do jogo Maradona prolongou a trapaça com um trocadilho. Disse que o golo foi dividido entre a mão de Deus e a cabeça dele, Diego. A saída fez sorrir meio mundo e corar de raiva a outra metade. A começar, claro, pelos ingleses, as vítimas da batota. A «Mão de Deus» virou lenda e ajudou a extremar posições sobre Maradona. Divino, infame. Ou as duas coisas juntas.

Voltemos ao estádio Azteca. A Argentina já jogava melhor por essa altura, depois de um início sem grande história, a segunda parte levava seis minutos, o resultado era 0-0. Maradona avança em um-para-um com Valdano, o passe é interceptado por Steve Hodge, que tenta o alívio e faz a bola voar na direcção de Peter Shilton. Maradona não desiste, a bola está no ar e o 10 salta com o guarda-redes da Inglaterra. Agora já sabemos todos que usou o braço esquerdo para chegar primeiro.

O árbitro achou que Maradona tinha marcado de cabeça, o homem da bandeirinha dirigiu-se para o centro, Maradona correu para o público de braço… esquerdo no ar. No campo houve quem percebesse, alguns ingleses protestaram e os jogadores argentinos hesitaram entre os festejos e a dúvida. Maradona conta mais tarde que os chamou e lhes disse para o abraçarem, se não o árbitro não validava o golo.

Também já disse que sim, que foi com a mão e que nunca lá chegaria de cabeça, porque o guarda-redes inglês era muito mais alto. E deu-lhe um gozo tremendo, confessou: «Foi como roubar a carteira aos ingleses.» Mas isso foi quase 20 anos depois. Antes de deixar passar o tempo para assumir finalmente a confissão, Maradona foi deitando sal na ferida, com frases como esta, numa entrevista à BBC: «Foi um golo totalmente legítimo, porque o árbitro validou-o. E eu não sou ninguém para duvidar da honestidade do árbitro.»

Pelo meio disse-se tudo, escreveram-se livros, manifestos e canções. Os protagonistas voltaram àqueles momentos do Azteca, uma e outra vez. Ali Bennaceur, o anónimo árbitro tunisino que naquele dia entrou para a História pela porta dos fundos, tentou dividir culpas. Jura até hoje que o seu assistente, o búlgaro Bogdan Dotschev, lhe garantiu que o golo era limpo. E conta que durante anos recebia pelo Natal um postal de Dotschev, que repetia sempre a mesma mensagem: não houve mão. Bennaceur diz que ainda hoje não sabe se era a brincar.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

20
França Brasil 1986

Epopeia em Guadalajara

EM 1986, franceses e brasileiros protagonizaram um jogo grandioso. A decisão por penalties deixou um grande Brasil fora de competição pelo segundo Mundial consecutivo.

No dia do seu 31º aniversário, Michel Platini estava no México, ocupado a escrever História. Mas não sozinho: ao todo, foram 26 os jogadores que, perante um pouco mais de 65 mil espectadores e um número indeterminado de adeptos de sofá, protagonizaram um dos mais empolgantes jogos de sempre. Local e data: estádio Jalisco, em Guadalajara, 21 de Junho. Frente a frente: França e Brasil, discutindo a primeira vaga nas meias-finais do Mundial de 1986.

Esse Brasil era um regalo para os olhos. Comandado por Telé Santana, um técnico que acreditava no talento como principal factor de desequilíbrio, repetia a receita que deliciara o mundo quatro anos antes mas com menos romantismo. Elzo e Alemão davam consistência ao meio-campo, Sócrates e Júnior alimentavam-lhe as ideias, Careca era o avançado-centro inteligente e oportunista que faltara à equipa de 1982. O golo com que o escrete abriu o marcador, aos 16 minutos, foi de compêndio: Júlio César, Josimar, Sócrates, Alemão, Müller e Júnior combinaram uma série de oito passes, da direita para o meio, sempre em progressão, que libertaram Careca à entrada da área, para um remate preciso e conciso.

Do outro lado, a França, indiscutível campeã da Europa, não se limitava a ver jogar. Tinha Platini, claro. Mas também Tigana, Giresse e Fernandez, formando um meio-campo de sonho. E ainda Amoros, o melhor lateral desse Campeonato. Foi ele a cruzar na direita para uma bola que ficou a meio caminho entre Stopyra e o guarda-redes Carlos. Ao segundo poste, com frieza italiana, o aniversariante Platini apareceu a encostar. Parabéns a você: 1-1 ao intervalo.

Cedendo à pressão das televisões a FIFA marcara as partidas da tarde para o meio-dia local. O sol do Verão mexicano caía a pique sobre as cabeças dos jogadores, mas apesar de uma temperatura superior a 40 graus no relvado, o jogo não tinha paragens. O Brasil dominava: Müller já tinha atirado uma ao poste antes do intervalo, seria imitado por Careca na segunda parte. Pelo meio, o guarda-redes Bats, poeta amador nas horas vagas, sobrevivente a um cancro surgido alguns anos antes, acumulava proezas e milagres. O maior de todos aconteceu aos 79 minutos, detendo um penalty do grande Zico, recém-entrado em campo.

As camisolas amarelas ameaçavam mais, mas os azuis também apareciam muitas vezes na área. Contavam-se pelos dedos da mão os passes errados, era um recital de futebol bem jogado, quase sem faltas e sem qualquer pretexto para o árbitro romeno Ion Igna tirar os cartões do bolso. O prolongamento foi arrasador: a bola parecia nunca parar, as oportunidades sucedendo-se nas duas balizas, Bats continuando a ser a maior figura de um jogo imenso. Quando chegou o apito final, sempre com 1-1 no marcador, apetecia pedir ao árbitro para não acabar com aquilo ou então exigir à FIFA que apurasse as duas equipas. Nada feito: penalties e a certeza de que, fosse quem fosse o derrotado, o Jalisco seria testemunha de uma injustiça.

Decididamente, aquela era a tarde de Bats e dos seus postes amestrados. O guarda-redes francês, em estado de graça, defendeu a paradinha de Sócrates e viu um petardo de Júlio César esbarrar no ferro do seu lado direito. O mesmo ferro onde Bellone acertou, fazendo a bola tabelar nas costas do guarda-redes brasileiro e transpor a linha. Ninguém, nem mesmo o Brasil, podia escapar ileso a tanta falta de sorte. Platini teve o primeiro match point nos pés, mas atirou por cima, à segunda tentativa Fernandez acabou com a maratona e deixou o fantástico Brasil de Telé a chorar uma eliminação prematura pelo segundo Mundial consecutivo.

A melhor geração brasileira pós-Mundial-70 (Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Careca) nunca ganharia o título, mesmo tendo as simpatias de todo o mundo. Quanto à França, voltaria a confirmar o seu destino, sendo afastada pela cinzenta Alemanha na meia-final. Ficava sem efeito o frente-a-frente mais desejado, Maradona contra Platini. Anos mais tarde, o mágico número 10 da França recordou aquela tarde de aniversário com um encolher de ombros conformado: «Éramos mais fortes que a Alemanha e perdemos, éramos menos fortes que o Brasil e ganhámos (…) não há verdade no futebol.»

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

21
Portugal 1986

Equipas com tensão alta

AS PARTICIPAÇÕES EM MUNDIAIS são frequentemente marcadas por momentos de tensão e problemas internos. Saltillo acabou mal, para a Itália em 1982 o conflito terminou bem.

Portugal viajou de Lisboa a Saltillo via Frankfurt, Dallas e Monterrey. A selecção apeou-se no deserto texano ao fim de mais 100 quilómetros de autocarro. Faltava quase um mês para começar o Mundial e o itinerário excursionista era só um prelúdio para a rocambolesca aventura do México em 1986, quando Portugal explicou magistralmente tudo o que não se deve fazer.

A segunda presença portuguesa no Mundial foi garantida com epíteto de «milagre» para o pontapé de Carlos Manuel que garantiu em Estugarda a vitória sobre a Alemanha. Nos convocados, apesar das ausências polémicas de Manuel Fernandes e Jordão, bem como da baixa de última hora de Veloso por um controlo positivo, Portugal levava Futre, então com 20 anos e o futuro pela frente. Mais o entusiasmo do país, embalado pelo «Deixem-me sonhar» do seleccionador José Torres.

A selecção portuguesa treinava num campo que ficava numa encosta, de piso irregular e inclinado. Os portugueses assistiam a saídas frequentes da Inglaterra, que morava no hotel em frente, para realizar jogos de preparação, enquanto eles não encontravam adversários. Finalmente surgiu um treino de conjunto com uma equipa local, mas lá chegados os jogadores encontraram um balneário aberto a quem quisesse entrar e a sessão é cancelada. O primeiro jogo que fizeram foi contra uma equipa formada por empregados de hotel, que acabou aos 11-0.

Fora de campo a vida corria animada, com os relatos do são convívio entre a comitiva portuguesa e as raparigas de Saltillo a chegar a Portugal. Estava-se nisto quando a história azeda. Os jogadores emitiram um comunicado a reivindicar direitos por acertar, como prémios de presença e participação nas receitas de publicidade, recusando-se a jogar o particular seguinte, em Monterrey, se não forem atendidos. Alvoroço geral, reacções, o presidente da federação ausente na Cidade do México, mais comunicados a alimentar o processo de confusão em curso. Ao fim de várias discussões madrugada dentro, os jogadores acabaram por assinar uma trégua.

Foi neste ambiente que começou o Mundial. Chegou o primeiro jogo, com a Inglaterra, e Portugal… ganha. Golo de Carlos Manuel, sorrisos a misturar alegria e incredulidade. Depois, mais complicações. Bento lesionou-se num treino, uma fractura da perna que terminou a sua carreira internacional. Damas foi chamado à baliza para o jogo com a Polónia, que venceu com um golo de Smolarek. A decisão ficou adiada para o segundo jogo, frente a Marrocos. A selecção africana venceu por 3-1 e mandou Portugal para casa, a remoer um processo que deixou marcas durante anos.

Há muitos casos de tensão em redor ou no interior das equipas quando chega o momento de jogar um Mundial. O exemplo mais emblemático foi a Itália, em 1982, no conflito que popularizou a expressão Silenzio Stampa, copiada a partir daí em muitas latitudes e traduzida para um mais universal Blackout. Bico calado para a imprensa.

A ruptura deu-se em Braga. A squadra viajou para a Galiza, onde estagiou para o Mundial, sob uma onda de desconfiança, baseada numa série irregular de resultados recentes e nas críticas às opções do seleccionador Enzo Bearzot. A mais polémica foi a escolha de Paolo Rossi, o avançado que tinha acabado de cumprir uma suspensão por envolvimento num processo de falseamento de resultados. Um jogo de preparação em Portugal frente ao Sporting de Braga, que a Itália venceu com um golo de Graziani, foi a gota de água nas já desgastadas relações entre a equipa, que apoiava Bearzot, e a imprensa. Com os dirigentes a ajudar. «A jogarmos assim, mais vale voltarmos já para casa», dizia o presidente da federação depois da exibição no Minho.

A pressão acentuou-se durante a primeira fase do Mundial, que a Itália passou sem ganhar um jogo: três empates acabaram por chegar, mas não atenuaram as críticas. Por esta altura o grupo estava mais fechado que nunca. Só o guarda-redes Zoff falava para o público. Depois deu-se a metamorfose frente à Argentina e ao Brasil. A Itália e Rossi embalaram até ao título mundial e na final com a Alemanha e os críticos calaram-se.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

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Argentina-Alemanha

A objetividade, segundo Gary Lineker

MARCADORES

6 - Lineker (Inglaterra)
5 - Maradona (Argentina), Careca (Brasil) e Butragueño (Espanha)
4 - Valdano (Argentina), Elkjær-Larsen (Dinamarca), Altobelli (Itália) e Belanov (União Soviética)
3 - Ceulemans e Claesen (Bélgica), J. Olsen (Dinamarca) e Völler (RFA)
2 - Burruchaga (Argentina), Scifo (Bèlgica), Josimar e Socrates (Brasil), Calderé (Espanha), Papin, Platini e Stopyra (França), K.Allofs (RFA), Khairi (Marrocos), Quirate (México). Cabañas e Romero (Paraguai) e Yaremchuk (União Soviética)
1 - Zidane (Argélia), Brown, Pasculli e Ruggeri (Argentina), Demol, Van den Bergh, Vercauteren e Veyt (Bélgica), Edinho (Brasil), Getov e Sirakov (Bulgária), Eriksen, Laudrup e Lerby (Dinamarca), Beardsley (Inglaterra), Eloy, Goicoechea, Salinas e Señor (Espanha), Amoros, Fernandez, Ferreri, Rocheteau e Tigana (França), Brehme, Matthäus e Rummenige (RFA), Détári e Esterházy (Hungria), Amaiesh (Iraque), Choi Sun-hoo, Chung Jung-moo, Kim Jong-boo e Park Chang-sun (Coreia do Sul), Krimau (Marrocos), Flóres, Negrete, Sánchez e Servin (México), Clarke e Whiteside (Irlanda do Norte), Smolarek (Polónia), Carlos Manuel e Diamantino (Portugal), Strachan (Escócia), Alzamendi, Francescoli (Uruguai), Aleinikov, Blokhin, Rats, Rodionov, Yakovienko e Zavarov (União Soviética)
Autogolos - Chong Kwang (Coreia do Sul)

Total: 132 goals (2,54 média)
Melhor ataque: Argentina (15)
Canadá não marcou
80 jogadores marcaram, incluindo 10 que já tinham marcado em fases finais anteriores

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O melhor do mundo em papel secundário

FICHA DE JOGO

Árbitro: Romualdo Arppi Filho (Brasil)

ARGENTINA - Pumpido; Brown, Cuciuffo, Ruggeri e Olarticoechea; Giusti, Batista, Maradona (c) e Enrique; Burruchaga (Trobbiani, 89) e Valdano

RFA - Schumacher; Jakobs, Berthold, K.-H. Förster e Briegel; Matthäus, Brehme, Magath (D. Hoeness, 63) e Eder; K. H. Rummenigge (c), K.K.Allofs (46 Völler)

Marcadores: 1-0 Brown (23); 2-0, Valdano (56); 2-1, Rummenige (74); 2-2, Völler (82); 3-2, Burruchaga (88)

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1990: a consagração de Matthäus na pobreza italiana

O ITÁLIA-90, quase de forma consensual, considerado o Mundial mais pobre da história. Vinte e quatro equipas presentes, com Portugal e as potências europeias dos últimos anos Dinamarca e França a ficar de fora, bem como o México, afastado por ter feito alinhar jogadores acima da idade num torneio sub-20. A pior média de golos de todas as fases finais confirma o parco futebol apresentado.

Há um Diego Maradona limitado por um joelho, que mesmo assim consegue nacionalizar Nápoles para o embate com a Itália, mas a Argentina é bem menos entusiasmante, apoiando-se numa defesa dura e no instinto de um guarda-redes inicialmente suplente para defender penáltis e assim chegar à final. Que perderia, precisamente com um golo da marca dos 11 metros.

Nas meias-finais com a azzurra, além das grandes penalidades a seleção das Pampas sobrevive ainda a oito minutos de descontos, com o árbitro francês Michel Vautrot a ter-se alegadamente esquecido de olhar para o relógio. No jogo decisivo, com os alemães, Pedro Monzón torna-se no primeiro futebolista a ser expulso numa final de um Campeonato do Mundo, e é logo seguido pelo segundo, 22 minutos depois, o também argentino Gustavo Dezotti. A equipa de Carlos Bilardo é a primeira a não marcar golos numa final. Já Franz Beckenbauer soma o título de campeão de 1974 enquanto capitão ao desse ano, como selecionador. É o primeiro a consegui-lo.

O formato volta a mudar: seis grupos de quatro, que apuram os dois primeiros e os quatro melhores terceiros para os oitavos. Depois, já se sabe, é a eliminar até ao Olímpico de Roma.

O talento não tem idade

Os Camarões são o fenómeno mais interessante de um torneio medíocre. Tornam-se na primeira seleção africana a chegar aos quartos de final de um Mundial, com um futebol perfumado e requintado, que teve no veterano Roger Milla o maior expoente. O avançado é, com 38 anos e 20 dias, o mais velho a marcar em fases finais, batendo o seu próprio recorde, fixado quatro anos antes.

África vive sentimentos mistos. Se o sucesso dos Camarões é a prova do talento efervescente e emergente no continente negro, a morte do nigeriano Samuel Okwaraji, vítima de paragem cardiorespiratória, durante o jogo de qualificação frente a Angola tinha espalhado o luto.

A RFA, que em breve será apenas Alemanha com a reunificação, entra no torneio a toda a velocidade, goleando Jugoslávia (4-1) e Emirados Árabes Unidos (5-1). Lothar Matthäus, que quatro anos antes tentara seguir Maradona para todo o lado, está agora encarregue do ataque. É ele o maestro. Um maestro-bombardeiro, com três golos nesses dois encontros, dando o tom para um Mundial de grande realização pessoal.

A Argentina tem uma seleção mais limitada do que em 1986. No jogo de abertura, a equipa dos Camarões mostra ao que vem e vence a campeã em título, com um golo de Omam-Biyik, mesmo reduzidos posteriormente a nove, depois de várias entradas duríssimas, algumas sobre o futuro avançado do Benfica Claudio Caniggia, o outro craque dessa seleção. Pumpido não escapa à crítica, e perde o lugar. Afinal, grande parte da responsabilidade do golo de Biyik é sua. Os argentinos qualificam-se em terceiro, atrás de Camarões e Roménia, provando que não há razões para grandes euforias.

A Itália, a jogar perante o seu público e liderada pelo novo príncipe do calcio Roberto Baggio – o golo a solo frente à Checoslováquia é um dos melhores momentos do torneio –, e mais dinâmica com a entrada em cena de Salvatore Schilacci, é talvez a maior favorita ao triunfo. Totó mostra veia goleadora surpreendente para adição de última hora, com remates certeiros frente a austríacos e checos.

A campeã da Europa Holanda qualifica-se para os oitavos atrás de Inglaterra e Irlanda – aí chega sem ganhar uma partida –, e é eliminada pelos alemães, que vingam as meias-finais continentais de dois anos antes com um triunfo por 2-1. O incidente entre Frank Rijkaard e Rudi Vöeller, com insultos e cuspidelas, mancha a partida. Também cai o Brasil, aos pés da zurda de Maradona. A Argentina aguenta a pressão e as bolas nos postes até que Diego, rodeado por vários adversários, isola Caniggia para o golo da vitória.

Os Camarões parecem imparáveis. Ultrapassam a Colômbia com a cumplicidade de René Higuita, e mais dois golos de Milla, mas encontram depois a Inglaterra num dos melhores jogos, sendo eliminados no prolongamento (3-2). A Irlanda abate a Roménia no desempate por penáltis em Génova e cai depois, novamente por culpa de Schilacci, perante a Itália. Já a Alemanha bate a Checoslováquia com uma grande penalidade de Matthäus.

Não sofrer e fé em Goycochea

A Argentina continua com exibições cinzentas e cada vez mais dependente de Goycochea entre os postes. É a vez da Jugoslávia dos talentosos Dragan Stojkovic e Robert Prosinecki ser eliminada no desempate por penáltis. Maradona falha, e perde a aposta com Tomislav Ivkovic, guarda-redes do Sporting.

Diego apela, Nápoles corresponde. O San Paolo, palco de tantos truques de magia anos antes por parte do seu 10, está dividido. Schilacci inaugura o marcador para os italianos, Caniggia empata, e os azzurri ficam bloqueados pela agressividade dos sul-americanos. Mais penáltis. Desta vez, Maradona não aposta e marca. Já Roberto Donadoni e Aldo Serena fraquejam, e a Itália chora a eliminação.

Em Turim, também é preciso ir à lotaria dos 11 metros. A estável Inglaterra, que ganha argumentos jogos após jogo, perde com a RFA nos penáltis e depois é afastada pela Itália do pódio.

Na final, os favoritos do povo são os alemães. A caminhada da Argentina, com o seu jogo agressivo, mergulhos teatrais e pressão sobre os árbitros, não colhe grande entusiasmo entre as bancadas. Nem a arte pontuada por Maradona aqui a ali os salva do desprezo generalizado. Aos 85 minutos, Rudi Völler cai na área e o ambidestro Brehme não dá hipóteses a Goycochea. Bilardo fica com nove apenas em campo, Matthäus levanta o troféu e Beckenbauer faz história.

RESULTADOS:

Itália, de 8 de junho a 8 de julho de 1990
Vencedor: RFA (3ª título)
Finalista vencido: Argentina
3º lugar: Itália
4º lugar: Inglaterra

GRUPO A

09-06 Stadio Olimpico (Roma) Itália-Áustria, 1-0
10-06 Stadio Communale (Florença) Checoslováquia-Estados Unidos, 5-1
14-06 Stadio Olimpico (Roma) Itália-Estados Unidos, 1-0
15-06 Stadio Communale (Florença) Checoslováquia-Áustria, 1-0
19-06 Stadio Olimpico (Roma) Itália-Checoslováquia, 2-0
19-06 Stadio Communale (Florença) Áustria-Estados Unidos, 2-1

J V E D GM-GS P
Itália 3 3 0 0 4-0 6
Checoslováquia 3 2 0 1 6-3 4
Áustria 3 1 0 2 2-3 2
Estados Unidos 3 0 0 3 2-8 0

GRUPO B

08-06 Stadio Giuseppe Meazza (Milão) Camarões-Argentina, 1-0
09-06 Stadio San Nicola (Bari) Roménia-União Soviética, 2-0
13-06 Stadio San Paolo (Nápoles) Argentina-União Soviética, 2-0
14-06 Stadio San Nicola (Bari) Camarões-Roménia, 2-1
18-06 Stadio San Nicola (Bari) União Soviética-Camarões, 4-0
18-06 Stadio San Paolo (Nápoles) Argentina-Roménia, 1-1

J V E D GM-GS P
Camarões 3 2 0 1 3-5 4
Roménia 3 1 1 1 4-3 3
Argentina 3 1 1 1 3-2 3
União Soviética 3 1 0 2 4-4 2

GRUPO C

10-06 Stadio Delle Alpi (Turim) Brasil-Suécia, 2-1
11-06 Stadio Luigi Ferraris (Génova) Costa Rica-Escócia, 1-0
16-06 Stadio Delle Alpi (Turim) Brasil-Costa Rica, 1-0
16-06 Stadio Luigi Ferraris (Génova) Escócia-Suécia, 2-1
20-06 Stadio Luigi Ferraris (Génova) Costa Rica-Suécia, 2-1
20-06 Stadio Delle Alpi (Turim) Brasil-Escócia, 1-0

J V E D GM-GS P
Brasil 3 3 0 0 4-1 6
Costa Rica 3 2 0 1 3-2 4
Escócia 3 1 0 2 2-3 2
Suécia 3 0 0 3 3-6 0

GRUPO D

09-06 Stadio Renato Dall'Ara (Bolonha) Colômbia-Emiratos Árabes Unidos, 2-0
10-06 Stadio Giuseppe Meazza (Milão) RFA-Jugoslávia, 4-1
14-06 Stadio Renato Dall'Ara (Bolonha) Jugoslávia-Colômbia, 1-0
15-06 Stadio Giuseppe Meazza (Milão) RFA-Emiratos Árabes Unidos, 5-1
19-06 Stadio Giuseppe Meazza (Milão) Colômbia-RFA, 1-1
19-06 Stadio Renato Dall'Ara (Bolonha) Jugoslávia-Emiratos Árabes Unidos, 4-1

J V E D GM-GS P
RFA 3 2 1 0 10-3 5
Jugoslávia 3 2 0 1 6-5 4
Colômbia 3 1 1 1 3-2 3
Emiratos Árabes Unidos 3 0 0 3 2-11 0

GRUPO E

12-06 Stadio Marc Antonio Bentegodi (Verona) Bélgica-Coreia do Sul, 2-0
13-06 Stadio Friuli (Udine) Espanha-Uruguai, 0-0
17-06 Stadio Friuli (Udine) Espanha-Coreia do Sul, 3-1
17-06 Stadio Marc Antonio Bentegodi (Verona) Bélgica-Uruguai, 3-1
21-06 Stadio Marc Antonio Bentegodi (Verona) Espanha-Bélgica, 2-1
21-06 Stadio Friuli (Udine) Uruguai-Coreia do Sul, 1-0

J V E D GM-GS P
Espanha 3 2 1 0 5-2 5
Bélgica 3 2 0 1 6-3 4
Uruguai 3 1 1 1 2-3 3
Coreia do Sul 3 0 0 3 1-6 0

GRUPO F

11-06 Stadio Sant'Elia (Cagliari) Inglaterra-Irlanda, 1-1
12-06 Stadio Della Favorita (Palermo) Egipto-Holanda, 1-1
16-06 Stadio Sant'Elia (Cagliari) Inglaterra-Holanda, 0-0
17-06 Stadio Della Favorita (Palermo) Egipto-Irlanda, 0-0
21-06 Stadio Sant'Elia (Cagliari) Inglaterra-Egipto, 1-0
21-06 Stadio Della Favorita (Palermo) Holanda-Irlanda, 1-1

SEGUNDA FASE

OITAVOS DE FINAL

23-06 Stadio San Paolo (Nápoles) Camarões-Colômbia, 2-1
23-06 Stadio San Nicola (Bari) Checoslováquia-Costa Rica, 4-1
24-06 Stadio Delle Alpi (Turim) Argentina-Brasil, 1-0
24-06 Stadio Giuseppe Meazza (Milão) RFA-Holanda, 2-1
25-06 Stadio Luigi Ferraris (Génova) Irlanda-Roménia, 0-0, 5-4 gp
25-06 Stadio Olimpico (Roma) Itália-Uruguai, 2-0
26-06 Stadio Marc Antonio Bentegodi (Verona) Jugoslávia-Espanha, 2-1
26-06 Stadio Renato Dall'Ara (Bolonha) Inglaterra-Bélgica, 1-0 ap

QUARTOS DE FINAL

30-06 Stadio Communale (Florença) Argentina-Jugoslávia, 0-0, 3-2 gp
30-06 Stadio Olimpico (Roma) Itália-Irlanda,1-0
01-07 Stadio Giuseppe Meazza (Milão) RFA-Checoslováquia, 1-0
01-07 Stadio San Paolo (Nápoles) Inglaterra-Camarões, 3-2 ap

MEIAS-FINAIS

03-07 Stadio San Paolo (Nápoles) Argentina-Itália, 1-1, 4-3 gp
04-07 Stadio Delle Alpi (Turim) RFA-Inglaterra, 1-1, 4-3 gp

JOGO DE ATRIBUIÇÃO DO 3º E 4º LUGARES

07-06 Stadio San Nicola (Bari) Itália-Inglaterra, 2-1

FINAL

08-07 Stadio Olimpico (Roma) RFA-Argentina, 1-0

25
Camarões 1990

Uma brisa de ar fresco em Itália

OS CAMARÕES, com o veterano Roger Milla como suplente de luxo, tornaram-se em 1990 a primeira equipa africana a chegar aos quartos-de-final de um Mundial.

Roger Milla corre para levar os Camarões mais longe que qualquer equipa africana num Mundial e sorri, antes de convidar a bandeirola de canto para dançar e comemorar um dos golos mais bizarros que o Mundial recorda.

Para trás fica René Higuita, a tentar recuperar a compostura. Segundos antes o guarda-redes da Colômbia deixou a sua área a uma dezena de metros, tabelou com um companheiro e tentou sair a jogar com os pés, como gostava de mostrar que sabia. Estava nisto quando Milla o desarmou e correu em sentido oposto. Higuita perseguiu-o, mas o seu papel nesta história já estava escrito.

Naqueles oitavos-de-final encontraram-se duas equipas que levaram alguma cor a esse Mundial, enredado em jogo defensivo e pouco imaginativo. Seguiram em frente os Camarões, que se tinham estreado em 1982 com três empates. Um aquecimento para a campanha memorável do Itália-90, quando ganharam de vez para o futebol africano espaço no mapa-mundo da bola.

Milla já tinha sido eleito melhor jogador africano de 1976, jogou o Mundial de Espanha e retirou-se em 1987. Mas disse sim quando lhe pediram para voltar à equipa. Aos 38 anos mostrou em Itália o melhor do seu talento, visão de jogo e poder de remate como suplente de luxo, saindo do banco a cada jogo para ajudar a empurrar a equipa um pouco mais em frente. Aquele segundo golo no prolongamento frente à Colômbia foi o quarto que marcou na prova. Ainda voltaríamos a vê-lo quatro anos depois, quando se tornou o mais velho jogador de sempre a marcar num Campeonato do Mundo, frente à Rússia, com 42 anos e mais uns dias.

Os Camarões apresentaram-se com estrondo. A 8 de Junho de 1990, no Estádio Giuseppe Meazza, venceram a campeã Argentina no jogo de abertura, num estilo feito de força e virtuosismo, o golo de François Omam-Biyik, aos 67 minutos, a carimbar a surpresa frente a Diego Maradona e companhia.

Seguiu-se uma vitória frente à Roménia, uma derrota frente à URSS quando já estava assegurado o apuramento e o primeiro lugar no grupo. Os Camarões estavam nos oitavos-de-final perante a Colômbia de Higuita e Valderrama. Milla decidiu, os africanos ganharam.

E ganharam também o coração dos adeptos de todo o mundo na decisão dos quartos-de-final, um jogo que faz parte da História com letra grande dos Mundiais. Inglaterra-Camarões, 3-2 depois de 120 minutos de ambiente fantástico no Estádio San Paolo, em Nápoles. A Inglaterra marcou primeiro, os Camarões chegaram a estar na frente, a Inglaterra recuperou e apurou-se à força de duas grandes penalidades convertidas por Gary Lineker. Milla e os companheiros despediram-se com uma memorável volta de honra ao estádio.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

26
Itália 1990

O Verão louco de Totó

O ITALIANO SCHILLACI foi rei dos marcadores no Mundial de 1990. No início da prova era um ilustre desconhecido. Depois desse Verão, a sua estrela não voltou a brilhar.

A cada novo golo, os olhos abriam-se mais, muito verdes, esgazeados e incrédulos. Não era para menos: Salvatore Schillaci vivia naquele Verão o mais improvável dos sonhos. Se a ressurreição de Rossi, em 1982, é o maior exemplo de que um Mundial pode salvar carreiras em crise, a incrível odisseia de Totó, oito anos depois, foi a prova de que cinco ou seis jogos, escolhidos com timing perfeito, podem chegar para se construir uma lenda.

Começara por surpreender ao integrar os 22 de Azeglio Vicini para a fase final de um Campeonato que a Itália acolhia, acreditando poder reconquistar a taça. Não tinha feito qualquer jogo pela selecção e no seu clube, a Juventus, jogava na sombra do jovem e talentoso Casiraghi. Mas este lesionou-se a poucos dias do Mundial e Vicini decidiu chamar o comparsa discreto, para fazer número entre as opções de ataque.

Os titulares eram Carnevale e Vialli. No banco moravam ainda Serena, Mancini e um jovem fenómeno chamado Baggio. O incrível conjunto de circunstâncias que levam Schillaci à glória começa ao minuto 74 do jogo de estreia, com a Áustria. O empate sem golos devia-se em grande parte à noite desastrada de Carnevale. Com a Itália paralisada pela angústia de falhar, Vicini entende apostar naquele siciliano sem complexos. Quatro minutos depois, golo de Schillaci, a Itália respira de alívio e descobre um talismã.

No jogo seguinte, com os EUA, Vialli falha um penalty e enerva-se. Carnevale também volta a jogar mal e ao ser substituído atira um agastado «Vafanculo!» na direcção do seleccionador. Perde instantaneamente o lugar na equipa, tal como Vialli. A partir daí, a dupla avançada passa a ser formada pelas segundas opções, Baggio e Schillaci. Jogo seguinte, com a Checoslováquia, para decidir o primeiro lugar no grupo: Totó só demora 9 minutos para marcar o primeiro, Baggio espera pelos 78 para apontar o segundo, o mais bonito desse Mundial cinzento.

Vicini não precisava que lhe fizessem um desenho para perceber o filme: Schillaci não sai mais da equipa até final e marca em todos os jogos. Na meia-final frente à Argentina, com Nápoles dividida entre apoiar um ídolo ou um país («Italia nei cori, Maradona nel cuore», escreveu-se nas bancadas), responde ao golo madrugador de Caniggia, mas a Itália é afastada nos penalties. Resta o jogo de consolação, com a Inglaterra. Schillaci procura um golo, um apenas, o derradeiro, que lhe dê o título de melhor marcador. Consegue-o a quatro minutos do fim, num penalty fruto da imaginação delirante do árbitro francês Joel Quiniou. Parte para a bola, marca e pela sexta vez festeja, arregalando os olhos, incrédulo.

A Itália termina em terceiro e atenua as mágoas pelos penalties perdidos do San Paolo. A saga de Totó termina aí: nunca mais voltaria a assinar um lance relevante, em qualquer relvado do planeta. Não era especialmente rápido, tecnicista, poderoso ou oportunista. Era, apenas, um siciliano descomplexado de olhos verdes, com a sorte de estar no sítio certo, à hora exacta.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

27
Inglaterra-Bélgica 1990

O rei sem sangue nobre

MARCADORES

6 - Schillaci (Itália)
5 - Skuhravý (Checoslováquia)
4 - Milla (Camarões), Lineker (Inglaterra), Michel (Espanha) e Matthäus (RFA)
3 - Platt (Inglaterra), Brehme, Klinsmann e Völler (RFA)
2 - Caniggia (Argentina), Careca e Müller (Brasil), Redin (Colômbia), Bilek (Checoslováquia), R. Baggio (Itália), Jozić, Pančev e Stojković (Jugoslávia), Balint e Lăcătuş (Roménia)
1 - Burruchaga, Monzón e Troglio (Argentina), Ogris e Rodax (Áustria), Ceulemans, Clijsters, Degryse, De Wolf, Scifo e Vervoort (Bélgica), Omam Biyik, Ekéké e Kunde (Camarões), Rincón e Valderrama (Colômbia), Cayasso, Flores, González e Medford (Costa Rica), Hašek, Kubik e Luhový (Checoslováquia), Abdel-Ghani (Egipto), K. I. Mubarak, Juma'a EMI, Wright (Inglaterra), Gorriz e Salinas (Espanha), Bein, Littbarski (RFA), Gullit, Kieft, R. Koeman (Holanda), Quinn e Sheedy (Irlanda), Giannini e Serena (Itália), Prosinečki e Sušić (Jugoslávia), Hwang Bo-kwang (Coreia do Sul), Johnston (Escócia), Brolin, Ekström e Strömberg (Suécia), Bengoechea e Fonseca (Uruguai), Caliguri e Murray (Estados Unidos), Dobrovolski, Protasov, Zavarov e Zygmantovich (União Soviética)

Total: 113 golos (2,31 média)
Melhor ataque: RFA (15 golos)
Todas as equipas marcaram
75 jogadores marcaram, incluindo 11 que já o tinham feito em Mundiais anteriores

28

Quem com penáltis fere, com pénaltis é ferido

FICHA DE JOGO

Árbitro: Edgardo Codesal (México)

RFA - Illgner; Augenthaler, Berthold (Reuter, 75), Kohler e Buchwald; Brehme, Hässler, Matthäus (c) e Littbarski; Klinsmann e Völler

ARGENTINA - Goycoechea; Simon, Serrizuela, Ruggeri (Monzón, 46) e Troglio; Sensini, Burruchaga (Calderón, 54), Basualdo e Lorenzo; Dezotti e Maradona (c)

Marcador: 1-0, Brehme (85 gp)

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1994: o terramoto-Maradona, um puro-sangue italiano, e a festa de Romário

O SOCCER MUDA-SE de armas e bagagens para os Estados Unidos, numa decisão da FIFA para tentar converter os locais a outro tipo de football. A medida não escapa a cepticismo, mas mesmo assim a média de assistência nas bancadas bate recordes. Numa cerimónia de abertura em tom hollywoodesco, Diana Ross falha um penálti de forma algo profética. Ainda não é desta que os States ficam convencidos com a modalidade mais popular para quase todo o resto do planeta.

Inglaterra e França ficam em casa. Também Portugal, que não evita novo falhanço na fase de apuramento. O jogo moderniza-se, torna-se mais fashion, ou não fossem os Estados Unidos reis do entertainment. As vitórias passam a valer três pontos em vez de dois, a fim de incentivar as filosofias atacantes, e a média de golos volta a subir quando comparado com o aborrecido Itália-90. Mas há mais. Os cartões acumulados na fase de grupos limpam para os jogos a eliminar. Os árbitros podem deixar o preto e usar equipamentos coloridos, e as camisolas dos jogadores passam a ter o nome de quem as usa por cima do número. O Estados Unidos-Suíça no Pontiac Silverdome é o primeiro encontro jogado em estádio coberto na história dos Campeonatos do Mundo, ainda que em relva.

O Chile fica de fora da fase final, depois de o seu guarda-redes, Roberto Rojas, ter fingido ter sido atingido por uma tocha atirada por adeptos brasileiros, o que cancelara o encontro de qualificação, ainda para o Mundial anterior. As imagens televisivas servem de prova para clarificar o incidente, e atribuir um triunfo por 2-0 ao escrete.

Diego Maradona volta a ser protagonista, mas por maus motivos. Depois de mostrar sinais de estar de volta aos bons momentos – numa Argentina de novo candidata e provavelmente com o melhor plantel até aí –, com um golo de belo efeito à Grécia, acusa a substância estimulante efedrina num controlo antidoping. Diz-se perseguido pela FIFA, retira-se da competição antes de uma decisão do organismo e fica pelos Estados Unidos como comentador. A seleção das Pampas é que já não se reencontra. Após perder com a Bulgária no último encontro do grupo, passa em terceiro e é eliminada pela Roménia nos oitavos.

A Colômbia é uma das primeiras desilusões da prova, ainda mais por ser a aposta de Pelé para ganhar a competição. O defesa Andres Escobar não evita um autogolo na derrota com os Estados Unidos, o que contribui para a eliminação, e no regresso ao seu país, é assassinado por um cartel, por muito provavelmente ter custado milhões aos barões de droga em apostas.

Ainda dentro das polémicas, o alemão Stefan Effenberg é expulso da Mannschaft por Berti Vogts por ter insultado os adeptos quando é substituído frente à Coreia do Sul.

Um «Escrete» preparado para o combate

Depois de dois torneios muito fracos, o Brasil parece de novo mais consistente e com aspirações, muito por culpa do apetite de predador de Romário e da parceria que estabelece com Bebeto. Carlos Alberto Parreira acrescenta lastro, rigor defensivo e força física com a inclusão de Mauro Silva e Dunga no meio-campo, e Rússia e Camarões são de imediato atropelados nos primeiros encontros. O embate com uma Suécia de qualidade confirma a qualificação de ambas as seleções. Contudo, russos e camaroneses não deixam a competição sem recordes. Oleg Salenko marca cinco golos na goleada (6-1) aos africanos, e além do novo máximo num único jogo de uma fase final termina ainda como melhor marcador da competição. Já Roger Milla, aos 42 anos, torna-se no mais velho de sempre a marcar em Mundiais, precisamente nessa partida.

Também a Argentina arranca em grande nível, com uma goleada à Grécia em Boston (4-0). Fernando Redondo e Maradona são os maestros, Batistuta e Caniggia os matadores explosivos. De volta após uma suspensão por uso de cocaína e falsas partidas em Nápoles, Sevilha e no Newell’s Old Boys, Diego marca um golo mágico e festeja como um louco na direção das câmaras de televisão. Uma imagem inesquecível vista por todo o planeta. Com apenas 90 minutos jogados, o grupo de Alfio Basile é já o favorito do povo. Só que a queda será dura.

A Roménia também tem o seu Maradona. Gheorghe Hagi, o Maradona dos Cárpatos. O grupo inclui Estados Unidos e Colômbia, mas os sul-americanos, apesar do futebol rendilhado, são afastados precisamente nos dois primeiros encontros, frente a romenos e norte-americanos. O posterior assassinato de Escobar manchará o futebol colombiano por anos e anos. Entretanto, a Roménia embala para desafios maiores.

A Irlanda de Jack Charlton abate a Itália, em Nova Iorque, com um grande golo de Ray Houghton, mas é eliminada depois pela Holanda, com culpas para Pat Bonner, que tão bem tinha estado quatro anos antes. Os norte-americanos dão luta ao favorito Brasil, mas Bebeto aparecer para salvar o escrete. A Alemanha, uma sombra do que foi em 1990, sofre para ultrapassar a Bélgica, enquanto Il Codino Baggio, um verdadeiro puro-sangue, não só consegue o empate perante a Nigéria do sportinguista Amunike a um minuto do fim como também marca o golo que vale a qualificação dos italianos, de penálti, já no prolongamento. O Argentina-Roménia é o melhor jogo dos oitavos, apesar de ter apenas um Maradona em campo e não o original. Hagi tem, no entanto, talento de sobra e combina com Dumitrescu nos três golos que valem um triunfo por 3-2. Os favoritos argentinos dizem um adeus precoce à competição, mas a notícia de Maradona tivera demasiados danos colaterais.

A boa surpresa Bulgária

É no desempate por penáltis que a Suécia interrompe a caminhada dos romenos nos quartos de final, que contam com outros três jogos bem emocionantes. Um golo do ex-portista Branco garante ao Brasil o triunfo suado sobre a Holanda (3-2); Roberto Baggio volta a decidir, desta vez frente à Espanha e a dois minutos dos 90 (2-1); e (grande surpresa!), a Bulgária de Hristo Stoichkov acaba com as aspirações da Alemanha de Lothar Matthäus (2-1), com um livre direto de Stoichov e um mergulho do careca Letchkov para a história.

O esforço dos búlgaros talvez tenha sido demasiado, e nas meias-finais, Roberto Baggio e a Itália apresentam-se demasiado fortes. O mesmo se passa no duelo entre suecos e brasileiros, com um golo solitário de Romário a ser suficiente no apuramento para o jogo decisivo.

Com tanto talento em campo, a final é uma desilusão. Tanto Roberto Baggio como Romário apresentam-se com limitações físicas, e uma grande exibição defensiva da azzurra, comandada pelo fenomenal Franco Baresi, leva a decisão para os penáltis. Em causa está o quarto título para qualquer uma das seleções, um recorde. Baresi e Márcio Santos falham, e o remate denunciado de Daniele Massaro é defendido por Taffarel.

Dunga marca, e é a vez de Roberto Baggio atirar. Em força. Por cima. Num frame que também ficará para sempre. O recorde é brasileiro.

RESULTADOS:

Estados Unidos, de 17 de junho a 17 de julho de 1994
Vencedor: Brasil (4º título)
Finalista vencido: Itália
3º lugar: Suécia
4º lugar: Bulgária

GRUPO A

18-06 Pontiac Silverdome (Detroit) Estados Unidos-Suíça, 1-1
18-06 Rose Bowl (Los Angeles) Roménia-Colômbia, 3-1
22-06 Pontiac Silverdome (Detroit) Suíça-Roménia, 4-1
22-06 Rose Bowl (Los Angeles) Estados Unidos-Colômbia, 2-1
26-06 Stanford Stadium (San Francisco) Colômbia-Suíça, 2-0
26-06 Rose Bowl (Los Angeles) Roménia-Estados Unidos, 1-0

J V E D GM-GS P
Roménia 3 2 0 1 5-5 6
Suíça 3 1 1 1 5-4 4
Estados Unidos 3 1 1 1 3-3 4
Colômbia 3 1 0 2 4-5 3

GRUPO B

19-06 Rose Bowl (Los Angeles) Suécia-Camarões, 2-2
20-06 Stanford Stadium (San Francisco) Brasil-Rússia, 2-0
24-06 Stanford Stadium (San Francisco) Brasil-Camarões, 3-0
24-06 Pontiac Silverdome (Detroit) Suécia-Rússia, 3-1
28-06 Stanford Stadium (San Francisco) Rússia-Camarões, 6-1
28-06 Pontiac Silverdome (Detroit) Suécia-Brasil, 1-1

J V E D GM-GS P
Brasil 3 2 1 0 6-1 7
Suécia 3 1 2 0 6-4 5
Rússia 3 1 0 2 7-6 3
Camarões 3 0 1 2 3-11 1

GRUPO C

17-06 Soldier Field (Chicago) Alemanha-Bolívia, 1-0
17-06 Cotton Bowl (Dallas) Coreia do Sul-Espanha, 2-1
21-06 Soldier Field (Chicago) Alemanha-Espanha, 1-1
21-06 Foxboro Stadium (Boston) Bolívia-Coreia do Sul, 0-0
23-06 Soldier Field (Chicago) Espanha-Bolívia, 3-1
23-06 Cotton Bowl (Dallas) Alemanha-Coreia do Sul, 3-2

J V E D GM-GS P
Alemanha 3 2 1 0 5-3 7
Espanha 3 1 2 0 6-4 5
Coreia do Sul 3 0 2 1 4-5 2
Bolívia 3 0 1 2 1-4 1

GRUPO D

21-06 Foxboro Stadium (Boston) Argentina-Grécia, 4-0
21-06 Cotton Bowl (Dallas) Nigéria-Bulgária, 3-0
25-06 Foxboro Stadium (Boston) Argentina-Nigéria, 2-1
26-06 Soldier Field (Chicago) Bulgária-Grécia, 4-0
30-06 Foxboro Stadium (Boston) Nigéria-Grécia, 2-0
30-06 Cotton Bowl (Dallas) Bulgária-Argentina, 2-0

J V E D GM-GS P
Nigéria 3 2 0 1 6-2 6
Bulgária 3 2 0 1 6-3 6
Argentina 3 2 0 1 6-3 6
Grécia 3 0 0 3 0-10 0

GRUPO E

18-06 Giants Stadium (Nova Iorque) Irlanda-Itália, 1-0
19-06 RFK Memorial Stadium (Washington) Noruega-México, 1-0
23-06 Giants Stadium (Nova Iorque) Itália-Noruega, 1-0
24-06 Citrus Bowl (Orlando) México-Irlanda, 2-1
28-06 Giants Stadium (Nova Iorque) Irlanda-Noruega, 0-0
28-06 RFK Memorial Stadium (Washington) Itália-México, 1-1

J V E D GM-GS P
México 3 1 1 1 3-3 4
Irlanda 3 1 1 1 2-2 4
Itália 3 1 1 1 2-2 4
Noruega 3 1 1 1 1-1 4

O resultado entre Irlanda e Itália determinou o segundo classificado.

GRUPO F

19-06 Citrus Bowl (Orlando) Bélgica-Marrocos, 1-0
20-06 RFK Memorial Stadium (Washington) Holanda-Arábia Saudita, 2-1
25-06 Citrus Bowl (Orlando) Bélgica-Holanda, 1-0
25-06 Giants Stadium (Nova Iorque) Arábia Saudita-Marrocos, 2-1
29-06 Citrus Bowl (Orlando) Holanda-Marrocos, 2-1
29-06 RFK Memorial Stadium (Washington) Arábia Saudita-Bélgica, 1-0

J V E D GM-GS P
Holanda 3 2 0 1 4-3 6
Arábia Saudita 3 2 0 1 4-3 6
Bélgica 3 2 0 1 2-1 6
Marrocos 3 0 0 3 2-5 0

O resultado entre Holanda e Arábia Saudita determinou o primeiro classificado.

OITAVOS DE FINAL

02-07 Soldier Field (Chicago) Alemanha-Bélgica, 3-2
02-07 RFK Memorial Stadium (Washington) Espanha-Suíça, 3-0
03-07 Cotton Bowl (Dallas) Suécia-Arábia Saudita, 3-1
03-07 Rose Bowl (Los Angeles) Roménia-Argentina, 3-2
04-07 Citrus Bowl (Orlando) Holanda-Irlanda, 2-0
04-07 Stanford Stadium (San Francisco) Brasil-Estados Unidos, 1-0
05-07 Foxboro Stadium (Boston) Itália-Nigéria, 2-1 ap
05-07 Giants Stadium (Nova Iorque) Bulgária-México, 1-1, 3-1 gp

QUARTOS DE FINAL

09-07 Foxboro Stadium (Boston) Itália-Espanha, 2-1
09-07 Cotton Bowl (Dallas) Brasil-Holanda, 3-2
10-07 Giants Stadium (Nova Iorque) Bulgária-Alemanha, 2-1
10-07 Stanford Stadium (San Francisco) Suécia-Roménia, 2-2, 5-4 gp

MEIAS-FINAIS

13-07 Giants Stadium (Nova Iorque) Itália-Bulgária, 2-1
13-07 Rose Bowl (Los Angeles) Brasil-Suécia, 1-0

JOGO DE ATRIBUIÇÃO DE 3º E 4º LUGARES

16-07 Rose Bowl (Los Angeles) Suécia-Bulgária, 4-0

FINAL

17-07 Rose Bowl (Los Angeles) Brasil-Itália, 0-0, 3-2 gp

30
Maradona 1994

A irreverência búlgara, e o goleador de (quase) um jogo só

MARCADORES

6 - Stoichkov (Bulgária) e Salenko (Rússia)
5 - Romário (Brasil), Klinsmann (Alemanha), R. Baggio (Itália) e K. Andersson (Suécia)
4 - Batistuta (Argentina), Răducioiu (Roménia) e Dahlin (Suécia)
3 - Bebeto (Brasil), Camiñero (Espanha), Bergkamp (Holanda), Hagi (Roménia) e Brolin (Suécia)
2 - Caniggia (Argentina), Amin (Arábia Saudita), Albert (Bélgica), Letchkov (Bulgária), Valencia (Colômbia), Goikoetxea (Espanha), Völler (Alemanha), Jong (Holanda), D. Baggio (Itália), Hong Myung-ho (Coreia do Sul), Luis Garcia (México), Amunike e Amokachi (Nigéria), Dumitrescu (Roménia) e Knup (Suíça)
1 - Balbo e Maradona (Argentina), Al-Ghashiyan, Al-Jaber e Owairan (Arábia Saudita), Degryse e Grun (Bélgica), E. Sánchez (Bolívia), Branco, Márcio Santos e Raí (Brasil), Borimirov e Sirakov (Bulgária), Embe, Milla e Omam Biyik (Camarões), Gaviria, Lozano, Beguiristain, Guardiola, Hierro, Salinas e Luis Enrique (Espanha), Matthäus e Riedle (Alemanha), Roy, Taument e Winter (Holanda), Aldridge e Houghton (Irlanda), Massaro (Itália), Hwang Seon-bong e Seo Jung-won (Coreia do Sul), Chamuch e Nader (Marrocos), Bernal e García Aspe (México), Finidi, Siasia e Yekini (Nigéria), Rekdal (Noruega), Petrescu (Roménia), Radchenko (Rússia), Brégy, Chapuisat e Sutter (Suíça), Larsson, Ljung e Mild (Suécia), Stewart e Wynalda (Estados Unidos)
Autogolos - Escobar (Colômbia)

Total: 141 golos (2,71 média)
Melhor ataque: Suécia (15)
Grécia não marcou qualquer golo
80 jogadores marcaram, incluindo 12 que já o tinham feito em Mundiais anteriores

31

Rigor «azzurro» quebrado nos penáltis

FICHA DE JOGO

Árbitro: Sándor Puhl (Hungria)

BRASIL - Taffarel; Jorginho (Cafú, 22), Aldair, Marcio Santos e Branco; Mazinho, Mauro Silva, Dunga (c) e Zinho (Viola, 106); Bebeto e Romário

ITÁLIA: Pagliuca; Mussi (Apolloni, 34), F. Baresi (c), Maldini e Benarrivo; Berti, D. Baggio (Evani, 95), Albertini e Donadoni; R. Baggio e Massaro

Penáltis: (0-0) F. Baresi (para fora), (0-0) Marcio Santos (Pagliuca defendeu), 0-1 Albertini; 1-1, Romário; 1-2, Evani; 2-2 Branco; (2-2) Massaro (Taffarel defendeu); 3-2, Dunga; (3-2) R.Baggio (para fora)

32

1998: Ronaldo de fenómeno a zombie, na consagração de Zidane e de França

O CAMPEONATO DO MUNDO volta à Europa, e cresce de 24 para 32 seleções. A qualificação sul-americana é feita, pela primeira vez, a partir de um único grupo. Já a Austrália fica de fora, depois de seis triunfos, dois empates e zero derrotas, caindo no desempate por golos marcados fora no play-off com o Irão.

É o torneio em que aparece o Golo de Ouro, o tal nome bonito para Morte Súbita – que se estreia com Laurent Blanc e a eliminação do Paraguai, aos 113 minutos, e também aquele que tem tudo para ser a consagração de um verdadeiro Fenómeno, ou Fenômeno. A ideia ganha força até à final, mas Ronaldo é uma sombra do seu verdadeiro eu no Stade de France. O nome do ponta de lança nem consta da ficha de jogo distribuída, apesar de ser incluído no onze pouco tempo antes do pontapé de saída. A sua atitude errante em campo dá conta de não está bem. A coroa não será para si.

60 anos depois, o Mundial volta ao berço, e é um grande sucesso. O Brasil parte como favorito, mais que não seja por ter Ronaldo, no auge da sua forma. Suplente não utilizado por Parreira em 1994, evolui até se tornar o melhor jogador da atualidade, com velocidade, potência muscular, habilidade e instinto matador inigualáveis. Sem Romário, lesionado, todos os holofotes estão em cima do ponta de lança do Inter. O arranque é difícil, frente à Escócia, mas Marrocos acaba despachado com três golos sem resposta. No terceiro jogo, os norugueses Tore Andre Flo e Kjetil Rekdal provocam a primeira derrota do escrete na fase de grupos desde 1966.

A França entra rapidamente em velocidade de cruzeiro, vencendo África do Sul, Arábia Saudita e Dinamarca, mas perde Zidane a meio caminho por culpa de um cartão vermelho. O maestro gaulês agride o saudita Fuad Amin, e o pontapé não passa despercebido ao árbitro mexicano Arturo Brizio Carter. Zizou falha a partida dos oitavos.

Espanha e Alemanha são as desilusões

Roberto Baggio está volta na Itália, que, mesmo com o empate inaugural frente ao Chile do matador Marcelo Salas, apura-se facilmente no seu grupo. Não é só Il Codino que dá o tom de categoria ao futebol azzurro, Christian Vieri apresenta-se em grande forma nas três partidas.

A Espanha é a primeira desilusão. Depois da derrota frente à Nigéria (3-2), a Roja não vai além de um nulo perante o Paraguai. O 6-1 à Bulgária não evita o adeus precoce, em mais uma performance aquém das expetativas, desta vez sob o comando de Javier Clemente.

No grupo da Alemanha e da Jugoslávia, que terminam naturalmente nos lugares de qualificação, destaque ainda para o confronto entre Estados Unidos e Irão, que enfrentam divergências fora de campo. No relvado do Stade Gerland, em Lyon, os jogadores são bem mais diplomáticos, trocando flores e posando para fotografias em conjunto. Os asiáticos vencem por 2-1.

A sempre favorita Argentina, com Gabriel Batistuta e Ariel Ortega em boa forma na frente de ataque, volta a começar bem, com triunfos frente a Japão, Jamaica e Croácia, e marca embate com a Inglaterra, segunda no seu grupo por culpa de um erro de Graeme Le Saux frente à Roménia. Em Saint-Étienne, os ingleses dão luta aos argentinos, mesmo com David Beckham expulso por agressão a Diego Simeone. Um grande golo de Michael Owen coloca os britânicos a vencer por 2-1, mas a equipa de Daniel Passarella reage, e Javier Zanetti empata ainda antes do intervalo. Nos penáltis, Roa defende mais um remate que Seaman, e a seleção das Pampas segue em frente.

A excitante Nigéria, de Kanu, Oliseh e Okocha, cai perante uma Dinamarca que reúne pela primeira vez em grandes torneios Michael e Brian Laudrup. A Itália afasta a Noruega, com mais um grande golo de Vieri. Já o Brasil elimina o Chile com mais uma demonstração de classe de Ronaldo, enquanto a Holanda bate a Jugoslávia com um golo do pitbull Edgar Davids nos descontos. Sem Zidane, o Golo de Ouro de Blanc é a morte súbita do Paraguai, aos 113 minutos.

Sina italiana nos penáltis

A França tem agora a Itália pela frente nos quartos de final, com a squadra azzurra a aguentar até aos penáltis. Só que à terceira ainda não é de vez. Cai novamente no desempate dos 11 metros (Argentina, em 1990; Brasil, em 1994; e agora França, em 1998). Desta vez, Baggio não falha, é Luigi Di Biagio quem compromete e compra os bilhetes de regresso a casa.

Cabe à estreante Croácia confirmar os sintomas de fragilidade da Alemanha. Christian Wörns é expulso, Jarni inaugura o marcador e Davor Suker e Goran Vlaovic confirmam mais tarde o mais do que justo apuramento.

Um bis de Rivaldo empurra o Brasil para as meias-finais frente à Dinamarca (3-2), e o Vélodrome, em Marselha, assiste à demolição da Argentina perante a Holanda. Patrick Kluivert e Claudio Piojo López abrem as hostilidades, e o que segue é um festival de futebol de ataque, estragado por Ariel Ortega, expulso por acertar um pontapé no queixo do guarda-redes Edwin van der Sar. Com o prolongamento ao dobrar da esquina, Dennis Bergkamp recebe um passe longo, dribla Ayala e fuzila Roa em grande estilo.

A Holanda continua em Marselha e, nas meias-finais, encontra o Brasil. Ronaldo marca o primeiro, Kluivert empata a três minutos dos 90. O prolongamento, sob a ameaça da morte súbita, é bem mais calmo, e a decisão passa para os penáltis. Cocu e Ronald de Boer tremem, e é mais uma vez o Escrete a seguir para o jogo decisivo.

Na outra meia-final, em Saint Denis, dois golos de Lilian Thuram acabam com o sonho croata, que até marca primeiro, mais uma vez por Suker. O conjunto de Miroslav Blazevic contentar-se-á com o terceiro lugar, às custas dos holandeses (2-1).

Um «zombie» chamado Ronaldo na festa de Zizou e companhia

Ronaldo não faz parte das fichas de jogo distribuídas aos jornalistas, está lá Edmundo. As primeiras notícias especulam sobre problemas num joelho, depois surge a história de um distúrbio grave durante o sono, com o companheiro de quarto Roberto Carlos a alertar os médicos e a desencadear as consequentes preocupações sobre possíveis danos cerebrais no avançado. Sedado, terá sido obrigado a jogar pelos patrocinadores. Seja esta ou não a verdade, Ronaldo é um verdadeiro zombie em campo, alguém que apenas fisicamente está presente. Sem o seu melhor jogador no pleno uso das suas capacidades, o Brasil inteiro ressente-se e sucumbe aos pés de um adversário forte, empurrado pelo seu público no seu estádio de eleição.

Nem a ausência de Laurent Blanc, expulso frente à Croácia, ou o vermelho visto por Marcel Desailly por entrada duríssima sobre Cafú aos 75 minutos fazem tremer a defesa gaulesa, perante um Brasil incapaz de provocar dano. Dois cantos de Emmanuel Petit oferecem dois golos idênticos a Zidane, e o próprio Petit marca o terceiro e coloca o nome da França, pela primeira vez, na lista dos vencedores. A festa dura até ao nascer do dia nos Campos Elísios. Os sonhos do Brasil terão ficado no quarto de hotel de Ronaldo.

RESULTADOS:

França, de 10 de junho a 12 de julho de 1998
Vencedor: França (1º título)
Finalista vencido: Brasil
3º lugar: Croácia
4º lugar: Holanda

GRUPO A

10-06 Stade de France (Saint Denis) Brasil-Escócia, 2-1
10-06 Stade de la Mosson (Montpellier) Noruega-Marrocos, 2-2
16-06 Stade Lescure (Bordéus) Escócia-Noruega, 1-1
16-06 Stade Atlantique (Nantes) Brasil-Marrocos, 3-0
23-06 Stade Vélodrome (Marselha) Noruega-Brasil, 2-1
23-06 Stade Geoffroy-Guichard (Saint Étienne) Marrocos-Escócia, 3-0

J V E D GM-GS P
Brasil 3 2 0 1 6-3 6
Noruega 3 1 2 0 5-4 5
Marrocos 3 1 1 1 5-5 4
Escócia 3 0 1 2 2-6 1

GRUPO B

11-06 Stade Lescure (Bordéus) Itália-Chile, 2-2
11-06 Stade Municipal (Toulouse) Áustria-Camarões, 1-1
17-06 Stade Geoffroy-Guichard (Saint Étienne) Áustria-Chile, 1-1
17-06 Stade de la Mosson (Montpellier) Itália-Camarões, 3-0
23-06 Stade de France (Saint Denis) Itália-Áustria, 2-1
23-06 Stade Atlantique (Nantes) Chile-Camarões, 1-1

J V E D GM-GS P
Itália 3 2 1 0 7-3 7
Chile 3 0 3 0 4-4 3
Áustria 3 0 2 1 3-4 2
Camarões 3 0 2 1 2-5 2

GRUPO C

12-06 Stade Felix Bollaert (Lens) Dinamarca-Arábia Saudita, 1-0
12-06 Stade Vélodrome (Marselha) França-África do Sul, 3-0
18-06 Stade de France (Saint Denis) França-Arábia Saudita, 4-0
18-06 Stade Municipal (Toulouse) Dinamarca-África do Sul, 1-1
24-06 Stade Felix Bollaert (Lens) França-Dinamarca, 2-1
24-06 Stade Lescure (Bordéus) Arábia Saudita-África do Sul, 2-2

J V E D GM-GS P
França 3 3 0 0 9-1 9
Dinamarca 3 1 1 1 3-3 4
África do Sul 3 0 2 1 3-6 2
Arábia Saudita 3 0 1 2 2-7 1

GRUPO D

12-06 Stade de la Mosson (Montpellier) Bulgária-Paraguai, 0-0
13-06 Stade Atlantique (Nantes) Nigéria-Espanha. 3-2
19-06 Parc des Princes (Paris) Nigéria-Bulgária, 1-0
19-06 Stade Geoffroy-Guichard (Saint Étienne) Espanha-Paraguai, 0-0
24-06 Stade Felix Bollaert (Lens) Espanha-Bulgária, 6-1
24-06 Stade Municipal (Toulouse) Paraguai-Nigéria, 3-1

J V E D GM-GS P
Nigéria 3 2 0 1 5-5 6
Paraguai 3 1 2 0 3-1 5
Espanha 3 1 1 1 8-4 4
Bulgária 3 0 1 2 1-7 1

GRUPO E

13-06 Stade Felix Bollaert (Lens) México-Coreia do Sul, 3-1
13-06 Stade de France (Saint Denis) Bélgica-Holanda, 0-0
20-06 Stade Lescure (Bordéus) Bélgica-México, 2-2
20-06 Stade Vélodrome (Marselha) Holanda-Coreia do Sul, 5-0
25-06 Stade Geoffroy-Guichard (Saint Étienne) Holanda-México, 2-2
25-06 Parc des Princes (Paris) Bélgica-Coreia do Sul, 1-1

J V E D GM-GS P
Holanda 3 2 1 0 7-2 7
México 3 1 2 0 7-5 5
Bélgica 3 0 3 0 3-3 3
Coreia do Sul 3 0 1 2 2-9 1

GRUPO F

14-06 Stade Geoffroy-Guichard (Saint Étienne) Jugoslávia-Irão, 1-0
15-06 Parc des Princes (Paris) Alemanha-Estados Unidos, 2-0
21-06 Stade Felix Bollaert (Lens) Alemanha-Jugoslávia, 2-2
21-06 Stade Gerland (Lyon) Irão-Estados Unidos, 2-1
25-06 Stade de la Mosson (Montpellier) Alemanha-Irão, 2-0
25-06 Stade Atlantique (Nantes) Jugoslávia-Estados Unidos, 1-0

J V E D GM-GS P
Alemanha 3 2 1 0 6-2 7
Jugoslávia 3 2 1 0 4-2 7
Irão 3 1 0 2 2-4 3
Estados Unidos 3 0 0 3 1-5 0

GRUPO G

15-06 Stade Vélodrome (Marselha) Inglaterra-Tunísia, 2-0
15-06 Stade Gerland (Lyon) Roménia-Colômbia, 1-0
22-06 Stade de la Mosson (Montpellier) Colômbia-Tunísia, 1-0
22-06 Stade Municipal (Toulouse) Roménia-Inglaterra, 2-1
26-06 Stade de France (Saint Denis) Roménia-Tunísia, 1-1
26-06 Stade Felix Bollaert (Lens) Inglaterra-Colômbia, 2-0

J V E D GM-GS P
Roménia 3 2 1 0 4-2 7
Inglaterra 3 2 0 1 5-2 6
Colômbia 3 1 0 2 1-3 3
Tunísia 3 0 1 2 1-4 1

GRUPO H

14-06 Stade Municipal (Toulouse) Argentina-Japão, 1-0
14-06 Stade Felix Bollaert (Lens) Croácia-Jamaica, 3-1
20-06 Stade Atlantique (Nantes) Croácia-Japão, 1-0
21-06 Parc des Princes (Paris) Argentina-Jamaica, 5-0
26-06 Stade Lescure (Bordéus) Argentina-Croácia, 1-0
26-06 Stade Gerland (Lyon) Jamaica-Japão, 2-1

J V E D GM-GD P
Argentina 3 3 0 0 7-0 9
Croácia 3 2 0 1 4-2 6
Jamaica 3 1 0 2 3-9 3
Japão 3 0 0 3 1-4 0

OITAVOS DE FINAL

27-06 Stade Vélodrome (Marselha) Itália-Noruega, 1-0
27-06 Parc des Princes (Paris) Brasil-Chile, 4-1
28-06 Stade Felix Bollaert (Lens) França-Paraguai, 1-0
28-06 Stade de France (Saint Denis) Dinamarca-Nigéria, 4-1
29-06 Stade de la Mosson (Montpellier) Alemanha-México, 2-1
29-06 Stade Municipal (Toulouse) Holanda-Jugoslávia, 2-1
30-06 Stade Lescure (Bordéus) Croácia-Roménia, 1-0
30-06 Stade Geoffroy-Guichard (Saint Étienne) Argentina-Inglaterra, 2-2, 4-3 gp

QUARTOS DE FINAL

03-07 Stade de France (Saint Denis) França-Itália, 0-0, 4-3 gp
03-07 Stade Atlantique (Nantes) Brasil-Dinamarca, 3-2
04-07 Stade Vélodrome (Marselha) Holanda-Argentina, 2-1
04-07 Stade Gerland (Lyon) Croácia-Alemanha, 3-0

MEIAS-FINAIS

07-07 Stade Vélodrome (Marselha) Brasil-Holanda, 1-1, 4-2 gp
08-07 Stade de France (Saint Denis) França-Croácia, 2-1

JOGO DE ATRIBUIÇÃO DO 3º E 4º LUGARES

11-07 Parc des Princes (Paris) Croácia-Holanda, 2-1

FINAL

12-07 Stade de France (Saint Denis) França-Brasil, 3-0

33
Zidane 1998

De Platini a Zidane

A FRANÇA foi o último país [ndr: este texto foi escrito antes do Mundial 2010, por isso na verdade foi a Espanha o último e a França o penúltimo] a juntar-se ao clube de elite dos campeões mundiais. Mas foi Platini a começar nos anos 80 a obra concluída por Zidane e companhia em 1998

O fiasco da França em 2002 causou sensação em todo o planeta. Mas vinte anos antes os franceses nem sequer tinham cartão de passageiro frequente, muito menos estatuto de primeira classe. Exclamações como «Oh! La la!» e «Bon Dieu!» tinham deixado de fazer parte do léxico futebolístico desde o terceiro lugar da selecção de Kopa e Fontaine, em 1958. A França tinha uma sólida cultura, os melhores teóricos e algum do melhor jornalismo desportivo do mundo mas as suas equipas não iam além da mediania, nos melhores casos. Esse estado de coisas começou a mudar no Verão de 1982 quando um grupo talentoso deu razão de ser ao crónico chauvinismo do seu povo.

Em 1978 já tinha passado sem glória pela Argentina, deixando, ainda assim, um rasto de futebol tecnicista e um punhado de jogadores talentosos. O melhor deles todos tinha 23 anos, ascendência italiana e chamava-se Platini. Apesar de jogar com o número 15 exibia a classe e a visão de jogo de um verdadeiro 10 e o que fez em Mar del Plata e Buenos Aires despertou a cobiça de meia Europa.

Quatro anos depois, de malas feitas para a Juventus, o número 10 nas costas já era sintoma de um estatuto à parte: os criativos tinham superado os avançados como principais estrelas das respectivas equipas. Era um tempo rico em maestros a esbanjar talento. Só nesse Mundial, havia Zico no Brasil, um jovem e sobredotado Maradona na Argentina e, disfarçando a grandeza com um 9 na camisola, um luminoso Antognoni na Itália.

Mas Platini, mesmo com um princípio de pubalgia, foi tão bom como os melhores, conduzindo uma equipa tecnicista e elegante à meia-final, frente à Alemanha. Depois de 120 minutos lendários, a melhor equipa acabou eliminada, como é frequente acontecer quando os alemães entram na conversa. Mas a França descobriu nessa noite, em Sevilha, que tinha identidade própria. Ela girava em torno das características do número 10: técnica, elegância e eficácia goleadora refinada pela experiência no calcio.

Quatro anos mais tarde, no México, a selecção francesa, já com um título europeu, estava mais madura, à imagem do líder e capitão. Foi sem surpresa que chegou novamente às meias-finais, deixando pelo caminho Itália e Brasil, com golos decisivos de Platini. E foi novamente sem surpresa que ficou à porta da consagração, outra vez afastada por uma Alemanha inferior.

Aos 31 anos, com três Mundiais nas pernas, o maior jogador francês do século XX estava condenado a passar ao lado da consagração suprema. Mas tinha deixado escola: depois dele, o futebol francês nunca mais foi o mesmo. E quando, em 1998, um marselhês de ascendência argelina, maestro indiscutível da selecção e da Juventus, carimbou com duas cabeçadas certeiras o primeiro e único título mundial para a França, foi como se tivesse sido feito um acto de justiça tardia. Dos pés de Platini à cabeça de Zidane ficou concluída a estrada que colocou La France entre os grandes do Mundial. Sempre com talento como senha, sempre com a magia de um 10 como referência, reabilitando os «Oh! La la!», os «Putain!» e os «Bon sang!» que os fazem felizes.

Texto retirado do Livro «O Essencial dos Mundiais Para Ler em 90 Minutos», Maisfutebol, Livros d'hoje, 2014

34
Davor Suker

Golos com muito (a)Suker

MARCADORES

6 - Šuker (Croácia)
5 - Batistuta (Argentina) e Vieri (Itália)
4 - Ronaldo (Brasil), Salas (Chile), Hernández (México)
3 - Bebeto, César Sampaio e Rivaldo (Brasil), Henry (França), Bergkamp (Holanda), Bierhoff e Klinsmann (Alemanha)
2 - Ortega (Argentina), Wilmots (Bélgica), Prosinečki (Croácia), Brian Laudrup (Dinamarca), Shearer e Owen (Inglaterra), Hierro, Kiko e Morientes (Espanha), Petit, Thuram e Zidane (França), Ronald de Boer, Cocu e Kluivert (Holanda), Roberto Baggio (Itália), Whitmore (Jamaica), Komljenović (Jugoslávia), Bassir e Hadda (Marrocos), Pelaez (México), Ilie (Roménia), Bartlett (África do Sul)
1 - Lopez, Pineda e Zanetti (Argentina), Al Jaber e Al Tunian (Arábia Saudita), Herzog, Polster e Vastic (Áustria), Nilis (Bélgica), Kostandinov (Bulgária), Nyanka e Mboma (Camarões), Sierra (Chile), Preciado (Colômbia), Jarni, Stanić e Vlaović (Croácia), Helveg, Jørgensen, Michael Laudrup, Møller, A. Nielsen, Rieper e Sand (Dinamarca), Anderton, Beckham e Scholes (Inglaterra), Luis Enrique e Raúl (Espanha), Blanc, Djorkaeff, Dugarry, Lizarazu e Trézeguet (França), Möller (Alemanha), Davids, van Hooijdonk, Overmars e Zenden (Holanda), Estili e Mahdavikia (Irão), Di Biagio (Itália), Earle (Jamaica), Nakayama (Japão), Mihajlović, Stanković e Stojković (Jugoslávia), Ha Seok-ju e Yoo Sang-chul (Coreia do Sul), Hadji (Marrocos), Blanco e García Aspe (México), Adepoju, Babangida, Ipkeba, Lawal, Oliseh e Oruma (Nigéria), Eggen, H. Flo, T.A. Flo e Rekdal (Noruega), Ayala, Benitez e Cardoso (Paraguai), Petrescu (Románia), McCarthy (África do Sul), Burley e Collins (Escócia), Souayah (Tunísia) e McBride (Estados Unidos)
Autogolos - Mihajlović (Jugoslávia), Chippo (Marrocos), Issa (África do Sul) e Boyd (Escócia)

Total: 171 golos (2,67 média)
Melhor ataque: França (15 golos)
Todas as equipas fizeram golos
108 jogadores marcaram, incluindo 14 jogadores que já o tinham feito em Mundiais anteriores

35

Zizou ao quadrado, e um Fenómeno a ver tudo a andar à roda

FICHA DE JOGO

Árbitro: Said Belqola (Marrocos)

FRANÇA - Barthéz; Desailly, Lizarazu, Thuram e Leboeuf; Deschamps (c), Petit, Zidane e Karembeu (Boghossian, 56); Djorkaeff (Vieira, 74) e Guivarc'h (Dugarry, 66)

BRASIL - Taffarel; Cafú, Baiano, Aldair e Roberto Carlos; César Sampaio (Edmundo, 57), Leonardo (Denilson, 46), Dunga (c) e Rivaldo; Ronaldo e Bebeto

Marcadores: 1-0, Zidane (27); 2-0 Zidane (45); 3-0, Petit (90)

Disciplina: Desailly expulso (68)

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