Cinco anos é muito tempo. Talvez mais ainda no futebol. Há cinco anos, a Áustria estreou-se no grande palco do futebol feminino, no Europeu dos Países Baixos, e levou o país numa viagem surpreendentemente bem sucedida. Claramente não favorita, chegou às meias-finais, gerando uma onda de entusiasmo em torno da equipa, não só no país, mas também no estrangeiro. A atenção e afeição do público cresceram, e, de repente, nomes como Manuela Zinsberger, Viktoria Schnaderbeck e Sarah Puntigam tornavam-se conhecidos, aparecendo na televisão e em anúncios publicitários.
Antes deste Europeu de Inglaterra alguns dos nomes mudaram, tal como a perceção sobre a equipa. «Os sinais são completamente diferentes agora», disse Carina Wenninger, defesa do Bayern Munique, na preparação para o Euro. «Agora as outras equipas conhecem-nos.»
Para sermos honestos, o entusiasmo depois do último Europeu não durou muito. O futebol feminino pode ter agora maior espaço dentro da Federação, mas a Áustria ainda tem dificuldades para levar as raparigas a jogar futebol. Nesta altura, apenas sete por cento dos jogadores ativos no país são mulheres.
Ainda assim a seleção - agora sob a direção de Irene Fuhrmann, que substituiu Dominik Thalhammer em 2020 -, continua a fazer progressos, e deu recentemente vários passos em frente. Fuhrmann dispõe de uma excelente combinação de experiência e juventude, jogadoras que estão a motivar-se mutuamente para jogar um estilo de futebol refrescante e de sucesso: «O nosso grande trunfo é a nossa versatilidade», diz a selecionadora. «Estamos preparadas para qualquer desafio, como equipa e individualmente.»
A Áustria fez um apuramento notável, empatando em casa com a França e sofrendo apenas três golos ao longo de toda a campanha. Qualificou-se como uma das melhores segundas classificadas e Wenninger, que fez parte da seleção de 2017, diz: «Agora temos uma equipa ainda melhor.»
Irene Fuhrmann tornou-se a primeira mulher a liderar a seleção austríaca, em julho de 2010, quando substituiu o selecionador de longa data, Dominik Thalhammer, que foi treinar a equipa masculina do LASK. Ela recorda as primeiras semanas ao comando da equipa: «Na altura, a maior parte das entrevistas centravam-se no facto de eu ser a primeira mulher como treinadora principal.»
As coisas evoluíram desde então e agora o foco está mais no futebol propriamente dito.
Como jogadora, Fuhrmann foi 23 vezes internacional pela Áustria e como treinadora ela é conhecida por ser muito trabalhadora e uma boa comunicadora. Tendo sido adjunta de Thalhammer, ela conhecia a maioria das jogadoras quando assumiu a liderança da seleção. Mantém-se em forma fazendo longas corridas na floresta.
Lamentavelmente ignorada no Top 100 do Guardian (estamos de olho em vocês), a jogadora natural de Bad-Ischl é uma médio-chave para o Bayern Munique, que atingiu esta época os quartos de final da Liga dos Campeões, assim como para a seleção austríaca. Ela é muito segura com a bola e a excelente capacidade de decisão é evidente em cada momento.
Fora de campo, a jogadora de 29 anos é embaixadora da WePlayStrong.com, uma plataforma de media digital e comunidade dedicada ao futebol feminino. Ela lançou o seu primeiro campo de futebol para raparigas em maio de 2022 e foi a primeira jogadora a assinar um contrato comercial com a Red Bull.
Vem de uma época fantástica com o Eintracht Frankfurt, em que foi uma ameaça real para as adversárias com o seu ritmo, qualidade técnica e remate preciso. Agora com 24 anos, Barbara integrou a seleção no Euro 2017, mas não jogou qualquer minuto. Agora no auge da sua carreira, deu enormes passos em frente, e tem a capacidade para decidir jogos neste verão.
A sua especialidade é driblar uma jogadora (ou várias), antes de desferir um remate-canhão. A sua paixão pelo futebol parece infinita. «Podia jogar futebol o dia todo. Adoro», disse em tempos.
Quando a lendária avançada se retirou, em 2019, havia um grande ponto de interrogação em torno da seleção austríaca: quem marcaria todos os golos? A resposta veio com Nicole Billa, um pouco mais tarde, mas era preciso muito para estar à altura do legado de Burger. Nina marcou 53 golos em 108 jogos pela seleção, e foi uma figura chave na promoção do futebol feminino na Áustria, tendo sido influente na transição de um desporto amador de nicho para aquilo que é hoje.
«Ela foi fundamental para o desenvolvimento do futebol feminino na Áustria», disse o antigo selecionador Dominik Thalhammer, quando Burger se retirou. Nina é atualmente responsável pelo futebol feminino no mais antigo clube austríaco, o First Vienna FC.
A Áustria qualificou-se pela primeira vez para a fase final no último Europeu, em 2017, nos Países Baixos. Nos anos anteriores já tinha deixado a ideia de que estava cada vez mais perto, tendo em conta que, quatro anos antes, tinha ficado em segundo no grupo, para depois perder o playoff com a Rússia. Na Holanda as expectativas eram baixas, mas a Áustria venceu a Suíça e a Islândia no grupo, e ainda empatou com a França. Continuou a caminhada eliminando a Espanha nos quartos de final, nos penáltis, antes de perder para a Dinamarca na meia-final, também nos penáltis. Foi, na verdade, o momento de afirmação do futebol feminino na Áustria.
A principal meta é passar a fase de grupos. A Áustria começa por defrontar a Inglaterra – e pode sentir dificuldades frente às anfitriãs -, pelo que o segundo jogo, frente à Irlanda do Norte, será a chave, antes de um potencial mata-mata com a Noruega. Previsão: quartos de final.
Texto original de Andreas Hagenauer, do Der Standard