Para chegar à fase final, a Bélgica teve de vencer um grupo que incluía a Suíça, a seleção que lhe negou a estreia num Campeonato do Mundo em 2019, ao vencer o play-off graças aos golos fora. Frente às outras seleções do Grupo H – Lituânia, Croácia e Roménia – a Bélgica marcou muitos golos. Tine De Caigny, com 12, foi a maior goleadora da qualificação, enquanto Tessa Wullaert marcou nove.
Tudo iria decidir-se sempre nos dois jogos com a Suíça. Fora de casa, tudo correu mal à Bélgica, que perdeu por 2-1. O último jogo do grupo era frente à Suíça em casa e a Bélgica precisava de vencer em Leuven. De Caigny marcou dois golos antes do intervalo, e uma Bélgica embalada venceu por 4-0, para terminar na frente do grupo pela primeira vez na história e chegar pela segunda vez à fase final do Europeu.
Desde então, elas sofreram derrotas claras com os Países Baixos e a Alemanha em jogos particulares, mas conseguiram uma vitória notável na Pinatar Cup, torneio de oito equipas que decorreu em Espanha em fevereiro, sem contarem com Wullaert, lesionada. A guarda-redes Diede Lemey foi a heroína, depois de a Bélgica levar a melhor nos penáltis tanto na meia-final como na final, após empates sem golos frente a Gales e Rússia, respetivamente.
Ponto assente é que a Bélgica é uma equipa que marca muitos golos – depois de apontar 37 no apuramento para o Europeu, somou até agora 49 na qualificação para o Mundial, 15 deles marcados pela prolífica Wullaert, estando bem encaminhada para assegurar um lugar no play-off deste outono.
A derrota por 0-4 frente à Noruega na qualificação para o Mundial foi no entanto um golpe duro. O selecionador Ives Serneels disse: «Demos o máximo frente a uma equipa com jogadoras 100 por cento profissionais. É aí que temos de progredir.» Um próximo passo na Bélgica será a Federação tentar orientar os clubes para um estatuto pelo menos semiprofissional.
Ives Serneels, de 49 anos, está à frente da equipa desde 2011. Já orientou as Red Flames em mais de 120 jogos. Nos seus dias de jogador, um robusto defesa e médio que representou o Lierse e o Westerlo, ele venceu uma vez o campeonato belga (com o Lierse em 1996/97) e conquistou uma taça em cada um dos clubes.
A carreira de treinador levou-o de volta ao Lierse em 2010 e ao fim de uma época ele foi recrutado pela Federação belga. Tendo liderado a seleção na ascensão do 35º ao 20º lugar no ranking da FIFA, o seu sucesso é indiscutível. Apesar do seu estilo prático, ele é popular entre as jogadoras, a maioria das quais nunca conheceu outro selecionador. Se alguma vez deixar o cargo, a esperança é que continue a trabalhar na Federação belga.
Tessa Wullaert, de 29 anos, é a maior estrela que a Bélgica alguma vez teve no futebol feminino. Rápida e com bons pés, as estatísticas de carreira dela são excelentes e é a melhor marcadora de sempre da Bélgica, com 65 golos em 106 jogos. Nas últimas duas épocas pelo Anderlecht marcou 81 golos e fez 51 assistências.
Na próxima época vai jogar no Fortuna Sittard, nos Países Baixos. É a sua terceira tentativa de afirmação no estrangeiro, depois de passagens pelo Manchester City e pelo Wolfsburgo mais cedo na carreira. Wullaert venceu a Bota de Ouro na Bélgica em 2016, 2018 e 2019. Fora de campo, ela é a diretora executiva da GRLPWR, uma marca de vestuário desportivo, e dirige campos de futebol para meninas, que estão a fazer crescer o futebol feminino na Bélgica.
A defesa de 22 anos é uma jogadora inteligente, rápida e forte. Faz progressos como líder a cada jogo e pode ser alvo de algumas das maiores equipas da Itália, Alemanha e talvez até Inglaterra. Em 2020 trocou o Genk pelo OH Leuven e foi aí que efetivamente tudo começou para ela. Meses mais tarde, Serneels começou a utilizá-la ao lado de Laura De Neve no centro da defesa da seleção.
Ela é professora de neerlandês e de história, mas vai deixar o emprego este verão, para se tornar profissional. Apesar de ter terminado a temporada doméstica lesionada, Tysiak deve estar totalmente recuperada e pronta para desempenhar o seu papel no Europeu.
4x3x3, a não ser que Serneels surpreenda
Nicky Evrard;
Laura Deloose, Amber Tysiak, Laura De Neve, Davina Philtjens;
Julie Biesmans, Justine Vanhaevermaet, Tina De Caigny;
Janice Cayman, Tessa Wullaert, Hannah Eurlings.
Tem de ser uma jogadora desta geração. E se Janice Cayman tem um recorde de 116 jogos pela seleção, por que não ela? Olhando sempre para o lado positivo da vida e sempre disponível, ela contribuiu para tornar o futebol feminino mais popular na Bélgica.
O que a torna realmente única é o facto de ter jogado toda a carreira longe do seu país natal, estando em movimento desde 2009. Jogou nos Estados Unidos e em França e faz parte desde 2019 da melhor equipa da Europa, o Lyon. No clube francês venceu duas Ligas dos Campeões. A Bélgica quer organizar o Mundial feminino em 2027 e não apostem contra a hipótese de Cayman ainda jogar na seleção por essa altura. Cayman para sempre; para sempre jovem.
A única presença anterior da Bélgica numa fase final foi no Euro 2017. Milhares de adeptos viajaram até aos Países Baixos para apoiar a equipa nos jogos em Breda e Tilburg e quase um milhão de espectadores assistiu pela TV aos jogos com a Noruega e os Países Baixos. As Red Flames perderam frente à Dinamarca e Holanda (1-0 e 2-1, respetivamente). Uma semana mais tarde essas duas seleções estavam na final, o que mostra como era difícil o seu grupo.
No entanto, elas conseguiram surpreendentemente vencer a Noruega, depois de Elke Van Gorp marcar o primeiro golo de sempre da Bélgica numa grande competição internacional. A jogadora de 27 anos está agora no Zulte Waregem, mas já não representa a seleção.
A ambição da Bélgica é fazer melhor do que da primeira vez. Não há razão para as Red Flames não poderem terminar à frente da Itália e da Islândia, mas se chegarem aos quartos de final terão de defrontar provavelmente os Países Baixos ou a Suécia… e isso provavelmente quererá dizer “adeusinho” Bélgica.
Texto original de Dirk Deferme, do Het Laatste Nieuws